domingo, 29 de abril de 2007

Ainda o Silêncio

Não há nada mais reconfortante. Por isso, nunca me canso de ouvir o silêncio...

O Silêncio

Há dias em que faltam as palavras. As ideias surgem em catadupa mas não há forma de as traduzir porque o compartimento das palavras está fechado e não sei onde meti a chave para abri-lo e começar a dar-lhe forma.
Então, o melhor de tudo é o silêncio, silêncio absoluto, coisa impossível, porque os ruídos que chegam aos meus ouvidos são imensos. São carros, cães, pássaros, insectos, electrodomésticos, as pessoas, coisa insuportável. Quando parece que tudo se apercebeu da minha necessidade de ouvir o silêncio sou eu que não me calo. O coração bate e rebate, o resfolegar dos pulmões aumenta de volume e até o cérebro parece movimentar-se ruidosamente numa actividade incessante.
Perante isto, que fazer?
Calem-se as palavras!

quarta-feira, 25 de abril de 2007

25 de Abril

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade


Há 33 anos, a idade com que, dizem, morreu o judeu Jesus Cristo, o País acordou a ouvir estas estrofes, superiormente interpretadas pelo saudoso Zeca Afonso.
Era uma amanhecer diferente, carregado de dúvidas e incertezas, principalmente no interior esquecido e ostracizado.
Sem formação política, apenas nos limitávamos a tecer tímidos comentários e recordo-me de ter proferido, num restrito número de amigos, o seguinte: Isto é bom... é como o sol depois da tempestade...
Hoje há quem defenda o 25 de Abril e há quem teça loas ao antigo regime que nessa data foi deposto. Muitos destes até nem viveram nesse tempo... o que não deixa de causar alguma estupefacção porque não sabem do que estão a falar.
Sei que nem tudo foi positivo mas, passados estes anos todos continuo a pensar que foi, realmente, uma lufada de ar fresco que varreu as consciências entorpecidas.
Assim
Venham mais cinco, duma assentada que eu pago já
Do branco ao tinto, se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no a andar

Não me obriguem a vir para a rua, gritar
Que já é tempo de embalar a trouxa, e zarpar

A gente ajuda, havemos de ser mais, eu bem sei
Mas há quem queira, deitar abaixo o que eu levantei

A bucha é dura, mais dura é a razão que a sustém
Só nesta rusga, não há lugar para os filhos da mãe

Não me obriguem a vir para a rua, gritar
Que é já tempo de embalar a trouxa, e zarpar

Bem me diziam, bem me avisavam, como era a lei
Na minha terra quem trepa no coqueiro é o rei

A bucha é dura, mais dura é a razão que a sustém
Só nesta rusga, não há lugar para os filhos da mãe

Não me obriguem a vir para a rua, gritar
Que é já tempo de embalar a trouxa e zarpar


terça-feira, 17 de abril de 2007

Combarro

“Galicia é un país habitado por homes e mulleres
de carne e oso pero tamén por seres que bulen
nun mundo fantástico ou encantado, pero tan real
coma o outro...”

http://www.galiciaencantada.com/index.asp?rsl=1024

A Galiza fascina-me. Pela proximidade, pela fantasia, pela história, pela gastronomia, pelos usos e costumes, pela beleza…
Tenho dito e repetido que a fronteira entre o Minho e a Galiza foi apenas um artifício político, porque na realidade não existem outras diferenças entre as duas regiões que pudessem dar azo a qualquer fractura territorial.
A gente passa a “fronteira” e nem sequer se apercebe que já está num País estrangeiro. Lembro-me bem do tempo em que o Rio Minho era uma barreira intransponível, com guardas armados de um e de outro lado a impedir o trânsito das pessoas e das mercadorias, tudo sujeito a procedimentos burocráticos extremamente rigorosos como se do outro lado estivesse o inimigo que nos habituaram a ver através de uma História muito mal contada…
Há alguns anos, no Monte Aloia, sobre a magnífica localidade raiana de Tui, estava eu com alguns amigos a preparar um suculento e apetitoso churrasco, ao lado de uma família galega que também preparava uma bela posta de bacalao assado na brasa. Fomos unânimes em concluir que havia menos de uma dúzia de anos tal cenário era impensável e inimaginável. O Mundo muda muito rapidamente…
Mas hoje o tema é Combarro.

Combarro é uma pequena localidade situada em pleno traçado da Estrada que liga Pontevedra a Sanxenxo, junto à Ria de Pontevedra e vale a pena lá parar e apreciar uma forma de preservação do património que deveria servir de exemplo a todos os responsáveis pelo esbanjamento dos dinheiros públicos.
Ali tudo é harmonia: a paisagem, as construções, as pessoas.
O aglomerado urbano forma um conjunto arquitetónico de uma beleza impressionante, onde pontificam os horrios, espécie de espigueiros ou canastros do norte de Portugal mas de dimensões superiores e construídos com uma qualidade artística excepcional.
Eram construções onde os habitantes guardavam as colheitas de batata, milho, feijão e outros produtos agrícolas.

No comércio local pontifica a restauração e o artesanato e neste as “meigas”, bruxas que enfeitiçam quem por lá passa.
Eu fiquei mesmo enfeitiçado por aquele local.
Quem quiser saber como … vá lá…


Coimbra, 17 de Abril de 2007


domingo, 15 de abril de 2007

Costa Vicentina

Na rua da padaria
Faz-se pão em forno a lenha
Com a perícia algarvia
E a graça que Deus tenha.

Sei que não é uma obra-prima da literatura mas saiu e... aí está. Bonito mesmo é o painel de azulejos com a designação da rua.
Portugal é um País muito lindo e rico em coisas pequeninas... Não sinto um grande orgulho em ser português mas estou cada vez mais apaixonado por este pedaço de terra...
É assim...

Depois da Páscoa

A culpa é da vontade


A culpa não é do sol
Se o meu corpo se queimar
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te abraçar

A culpa não é da praia
Se o meu corpo se ferir
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te sentir

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim

A culpa é da vontade

A culpa não é do mar
Se o meu olhar se perder
A culpa é da vontade
Que eu tenho de te ver

A culpa não é do vento
Se a minha voz se calar
A culpa é do lamento
Que suporta o meu cantar

A culpa é da vontade
Que vive dentro de mim
E só morre com a idade
Com a idade do meu fim

A CULPA É DA VONTADE!
(António Variações)