quarta-feira, 23 de julho de 2008

Pais???

O Mundo está de pernas para o ar. De França chega esta notícia terrível, numa altura em que por cá tanto se fala do arquivamento do célebre "Caso Maddie" e da tese defendida pelo polícia que conduziu as investigações numa primeira fase.
"Una niña de tres años murió ayer tras haber pasado el día en el interior del coche, aparcado al sol, debido a un olvido de su padre(...) Es la segunda vez en menos de una semana que se produce un drama de este tipo en Francia".
Em comentário à notícia alguém escreveu uma magnífica oração, numa língua morta, cuja leitura me evoca sons que ouvia em pequeno quando assistia às missas dominicais...
PATER NOSTER, QUI ES IN CAELIS, SANCTIFICETUR NOMEM TUUM, ADVENIAT REGNUM TUUM, FIAT VOLUNTAS TUA, SICAT IN CAELO ET IN TERRA.
PANEM NOSTRUM SUPERSUBSTANTIALEM DA NOBIS HODIE, ET DIMITTE NOBIS DEBITA NOSTRA, SICUT ET NOS DIMITTIMUS DEBITORIBUS NOSTRIS, ET NE NOS INDUCAS IN TENTATIONEM, SED LIBERA NOS A MALOS, AMEM
...
... e com razão. Em vez de criticar mais vale rezar... para que não se repita!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Do Rio Tua ao Rio Pinhão - Operação "CGD"

Soou o alarme no Posto. Era da dependência da Caixa Geral de Depósitos. O seu accionamento por descuido costumava ocorrer ao iniciar os trabalhos ou então após o encerramento, quando a senhora da limpeza passava tudo a panos. Mas àquela hora só podia ser um assalto. Eram quase treze horas, um período do dia propício para uma acção daquelas pois era quando o movimento e afluência do público se tornava mais reduzido. ..
Além disso era uma hora ainda pior para uma acção policial com vista a deter ou pelo menos afugentar os eventuais assaltantes porque os Guardas também almoçam. Mas naquelas circunstâncias não se podia deixar de corresponder com os meios que estivessem disponíveis. Eu próprio, que tinha ficado a ultimar alguns assuntos pendentes, ordenei ao Apoio ao Plantão que fosse buscar a viatura, um "veloz" Jeep Land Rover, peguei a Pistola Metralhadora Stayer M/42 que se encontrava permanentemente pronta a usar por detrás da porta onde permanecia o Plantão e depressa nos metemos a caminho dispostos a tudo.
A PM Stayer M/42 já só existe na memória dos mais velhos. Tratava-se de uma arma ligeira, calibre 9mm, parecida com uma pequena espingarda. Era a arma que o comandante de posto de outros tempos carregava ao ombro nas rondas pelas localidades e na polícia de feiras e romarias.

E impunha respeito... Dizia-se que disparava metralha por todos aqueles buraquinhos de arrefecimento que existiam na manga que protegia o cano em toda a sua extensão... um mito nunca desmentido porque fazia jeito aquela fama terrível!!!
A abordagem ao local onde se situava a dependência não era difícil mas era preciso tomar algumas precauções... Fomo-nos aproximando devagar perscrutando todos os movimentos nas imediações mas verificava-se uma calma estarrecedora. Ao longo de toda a Avenida não se divisava vivalma e também não havia viaturas suspeitas. Estávamos a cerca de cem metros da improvisado barracão onde funcionava a dependência bancária e entre a nossa viatura e aquelas instalações interpunha-se apenas o novo edifício em construção que a iria acolher dentro de pouco tempo. Então, ordenei ao motorista que parasse e que ficasse atento a qualquer movimento suspeito enquanto eu, de Pistola Metralhadora em riste, efectuei uma manobra de envolvimento pelas traseiras do edifício novo, passei igualmente pelas traseiras do barracão e espreitei com todas as cautelas pelo esquina do lado direito da porta de entrada.
Nada. Não se ouvia barulho, não se via ninguém e a porta estava entreaberta. Confirmava-se. Só podia ser um assalto. Olhei em frente e vi o Jeep na rua... pelo menos a rua estava desimpedida e já tinha alguma cobertura... Mas como sair daquele impasse?
Avancei para a porta, sempre colado à parede, pronto para reagir a qualquer acção vinda do interior, espreitei, vi à minha direita o balcão de lés a lés completamente vazio, daquele lado não havia nada mas o ângulo da porta meio fechada não me deixava ver o que se passava à esquerda e era deste lado que ficava o escritório do gerente e o cofre provisório que só servia para guardar os valores durante o horário de funcionamento. Era ali que eles estavam... só podia ser. E tinham os funcionários como reféns enquanto enchiam os sacos com o dinheiro...
Com o cano da arma empurrei a porta devagarinho e a minha suspeita confirmava-se. Ninguém à vista. O que significava que estavam mesmo no escritório.
Foi então que ouvi um sussurro vindo daquele lado. Parecia uma conversa cordial e nada que se assemelhasse àqueles gritos histéricos que se vêm nos filmes. Avancei até ao balcão que me garantia protecção e fui tomando posição para ver quem estava lá dentro... as vozes dirigiam-se para a minha direcção e apontei a arma sobre o balcão pronto para limpar o sebo ao primeiro que resistisse. Contudo, qual não é o meu espanto quando vejo sair lá de dentro, perfeitamente descontraídos, o gerente e o subgerente... O meu e o deles, que ao me verem naquela posição quase se cagaram de medo...
Desfeitas as dúvidas expliquei-lhes o sucedido e o susto que me pregaram com aquela atitude desleixada e o gerente pediu mil desculpas pelo sucedido. Saímos.
Só então verifiquei que, sobre o muro da Escola Secundária, ao lado do barracão da Caixa, uma pequena multidão de alunos tinha estado a observar a operação especial que ali se desenvolvera.
O que eles não se terão divertido...
Só alguns dias mais tarde constatei que aquela maravilhosa arma tinha o mecanismo de retenção do carregador partido e que, provavelmente, apenas me serviria para dar umas cajadadas nos meliantes.

Diversificação

Face ao domínio das grandes superfícies, o pequeno comércio tem de se bater contra o seu poder asfixiante com criatividade e imaginação.
Como?
Vejam um exemplo...
Imagem: http://www.lavanguardia.es/

domingo, 20 de julho de 2008

Espanha Aterriza, Portugal Navega!

"Hay en Portugal una revalorización de lo propio, de lo exclusivo, de manera que vuelve a ser hora de los jabones de la marca de la mariposa, de las conservas de atún de las Azores, de las sardinas enlatadas de Motosinhos, de la pasta con la que los heterónimos de Fernando Pessoa se lavaban los dientes, de las pastillas para la tos del Dr. Bayard, y de los lápices de colores que separaban Mozambique de Rhodesia, el Transvaal y Tanganika en los mapas del África colonial".
Costuma-se dizer que "de Espanha nem bom vento nem bom casamento". Mas o que diz o Senhor Enric Juliana no artigo publicado no diário La Vanguardia enche de orgulho o peito lusitano. É que num mundo globalizado é possível arranjar estratégias de resistência, como o senhor da pequena papelaria do Largo do Calhariz.
E é o mesmo espanhol, cuja opinião, pelos vistos, não foi muito apreciada lá pelos seus lados, que indica a fórmula para sair da crise, como se pode ver no resumo transcrito acima.
Já não é a primeira vez que sucede. O povo português é capaz de contornar os obstáculos mais difícies, como comprova a nossa história. É só deixá-lo trabalhar. Porque a globalização é boa para encher os bolsos das grandes multinacionais mas o povo fica apenas com as migalhas.
"Quanto mais alto se sobe, maior é o trambolhão", mais uma vez o povo, sempre ele, cheio de razão. O grupo espanhol Martinsa y Fadesa, ligado especialmente à construção civil, voou alto, muito alto, e o resultado está à vista.
Por tudo isto, ainda acredito que Portugal é um País viável. É só os "Senhores da Guerra" descerem à terra e perceberem que a solução para a crise reside cá, no nosso povo.
Deixem-nos trabalhar!

O Tesouro Encantado (V)

Mesmo assim não esmoreceram. Repetiram os satânicos rituais duas, três, cinco vezes. Por fim pareceu-lhes pressentir o solo a tremer sob os seus joelhos. Uma negra nuvem ofuscou o luar e uma rajada de vento apagou os frouxos luzeiros das velas. Do cimo do penedo que ficava sobranceiro à fonte elevou-se majestosamente um gigantesco pássaro, lançando no ar um lancinante grito que ecoou por montes e vales, desaparecendo célere nas imensas trevas.
Foi o suficiente para fazer soçobrar a ténue réstia de coragem que ainda retinha ali o fatigado grupo. Instintivamente puseram-se em pé e desataram numa arrebatada corrida pela serra abaixo, cada qual por onde podia e o instinto o orientava, a qual só terminou pouco mais de meia hora depois na localidade de onde tinham partido, secretamente, algumas horas antes.
No dia seguinte, uma súbita e estranha doença reteve no leito quatro dos cinco jovens, ninguém sabia que moléstia os acometera mas parecia coisa má a avaliar pelo aspecto que apresentavam. Do quinto não havia notícia mas poderia ter saído de casa cedo sem dizer nada à família, já não era a primeira vez.
No final do dia um pastor relatou a descoberta de um estranho e macabro espólio junto da Fonte do Seixo mas não se atreveu a mexer no que quer que fosse. Nunca tantos e tão intrigantes casos se tinham verificado na pacata aldeia. Até parecia coisa de bruxas. Depois de falarem com o Padre Bernardino houve quem sugerisse que se denunciassem os factos às autoridades.

sábado, 19 de julho de 2008

Cumpra-se a Lei!

A avaliar pelo alarido dos comentários, está a causar indignação a notícia publicada no Correio da Manhã de hoje que dá conta da difusão, pelo Comando Geral da Guarda Nacional Republicana, de uma ordem que proíbe os seus agentes de disparar as armas de que são detentores durante as perseguições automóveis – a não ser que os próprios agentes estejam em risco ou que a vida de terceiros possa ser afectada pelo comportamento dos fugitivos.
Não conheço o teor do artigo na sua totalidade (não tenho t€mpo para comprar a edição impressa) e também não conheço o despacho nem o contexto em que essa ordem possa ter sido difundida.
A ser verdadeira a sua existência é porque o Comandante-Geral entendeu que, para o cumprimento da missão, não são suficientes os limites legais impostos à acção dos agentes policiais.
Parece que está na moda emitir ordens para reforçar o que está contemplado na lei mas, sinceramente, acho que é um desperdício de tempo.
Sobre o tema do uso das armas pelos elementos das Forças de Segurança já eu me debrucei em tempos, a propósito de um acidente decorrente de uma perseguição policial de que resultou a morte do condutor de um oficial da GNR por causa de um disparo da arma deste. A minha opinião mantém-se inalterada e as disposições do Decreto Lei n.º 457/99, de 05 de Novembro, também.
Mas não é só este diploma legal que limita o uso das armas.
Entre outros, citamos aqui o Código Deontológico do Serviço Policial que, no artigo 8.º, 3, diz " (...) só devem recorrer ao uso de armas de fogo, como medida extrema, quando tal se afigure absolutamente necessário, adequado, exista comprovadamente perigo para as suas vidas ou de terceiros e nos demais casos taxativamente previstos na lei".
Para mim basta. É que o Código Deontológico do Serviço Policial, que não é lei, foi um documento produzido com a participação das organizações sócio-profissionais da GNR e da PSP e, como se refere no preâmbulo, é uma forma de adesão voluntária aos princípios de actuação e de conduta consagrados na Lei. A grande aposta terá que ser na formação e no treino.
Por isso, cumpra-se a Lei!

O Estatuto do Trabalhador-Estudante

"O ministro da Defesa, Nuno Severiano Teixeira, homologou a 11 de Julho um parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República que defende que todos os militares podem pedir o estatuto do trabalhador-estudante, e não apenas os do regime de voluntariado e contrato".
Há anos que um Oficial do Exército português se vem a debater numa "guerra" sem tréguas contra uma série de "moinhos de vento" para fazer valer um direito consagrado na Lei: A aplicação do Estatuto do Trabalhador Estudante (ETE).
De tal modo que, perante a permanente e irredutível recusa dos superiores hierárquicos que lhe negaram o benefício desse estatuto, alicerçada em decisões prepotentes e arbitrárias porque são contrárias à Lei, decidiu enviar um e-mail a Sua Excelência o Presidente da República e, por inerência, Chefe Supremo das Forças Armadas, denunciando aquilo que considerava ser um acto ilegal e arbitrário dos seus comandantes directos.
Tal acto teve como consequência, não a resolução do conflito mas a instauração de um processo disciplinar ao Oficial que culminou com a aplicação de uma pena privativa de liberdade - três dias de detenção.
O ETE foi consagrado pela primeira vez em Lei através de diploma aprovado pela Assembleia da República e publicado no Diário da República de 21 de Agosto de 1981. Ali se definia trabalhador-estudante como sendo "todo o trabalhador ao serviço de uma entidade empregadora pública ou privada que frequente qualquer grau de ensino oficial ou equivalente". Posteriormente foi sofrendo modificações mantendo-se, em geral, a mesma definição. Actualmente integra a Subsecção VIII, Título II, Livro I do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 99/2003, de 27 de Agosto, em revisão, definindo-se aqui como trabalhador estudante "aquele que presta uma actividade sob autoridade e direcção de outrem e que frequenta qualquer nível de educação escolar, incluindo cursos de pós-graduação, em instituição de ensino" (art. 79.º, 1).
O ETE consagra modalidades de adequação do horário de trabalho e outras facilidades (nunca a renúncia às obrigações de serviço) àqueles que, exercendo uma actividade por conta de outrem, pretendem ampliar ou melhorar a sua formação académica e curricular. E não são poucos os casos em que, por motivações diversas, os trabalhadores recorrem a esse estatuto.
Só que nos meios castrenses e similares tem havido alguma dificuldade em entender como é que uma Lei da República, de aplicação geral e abstracta, pode interferir nos poderes discricionários do Comandante, Director ou Chefe, a quem deus conferiu a possibilidade de dispor da vida dos seus subordinados, e decide-se liminarmente que "o estatuto do trabalhador-estudante não se aplica aos militares do quadro permanente"...
E quando os argumentos que sustentam uma atitude insustentável começam a escassear pedem-se pareceres, muitas vezes feitos ad hoc.
Não se tratando do mesmo caso mas porque o assunto é absolutamente conexo com o tema que hoje aqui trago, sugiro que se atente na conclusão primeira do Parecer da Procuradoria Geral da República n.º PGRP0000958...
1ª - Aos militares da Guarda Nacional Republicana não é, em virtude do dever de disponibilidade que sobre eles impende, aplicável o regime dos trabalhadores-estudantes constante da Lei nº 116/97, de 4 de Novembro;
... e do acórdão do Supremo Supremo Tribunal Administrativo n.º 0777/04:
I - Não é aplicável aos militares da GNR o regime geral relativo aos trabalhadores-estudantes, tal como é definido actualmente na Lei n.º 116/97, por não ser compatível com o que decorre do estatuto a que estão sujeitos, maxime do dever de disponibilidade que sobre eles impende.
Finalmente um ponto a favor de quem, ao longo de muitos anos, tem pugnado apenas por um direito fundamental sobejamente conhecido: o direito à igualdade perante a lei.
Este parecer vai ainda mais além e, quem quiser que retire as suas ilações: "Mais do que pedir um parecer ao Conselho Consultivo da PGR, o Governo deverá instruir o Exército a aplicar o estatuto (...) aos militares em causa"... aconselha o Relator.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (IV)

Quem presenciasse aquele quadro não ficava com a mais pequena dúvida de que só poderia ser obra do demónio.
O passo seguinte era também bem conhecido dos membros do grupo. Cada um ocuparia a respectiva posição, de joelhos e sentado nos calcanhares, em cada um dos cinco vértices do pentagrama, de forma que ficassem voltados para o local de onde manava o precioso líquido.
Conforme rezava a lenda, seria ali que se abririam as portas por onde jorraria ouro em abundância tal que nunca mais precisariam trabalhar como mouros no cultivo das terras e na pastorícia. Sabiam também que antes se confrontariam com terríveis monstros que haviam de surgir das profundezas para os atemorizar e perante os quais não poderiam de modo algum vacilar sob pena de se quebrar a magia que havia de desfazer o encantamento.
Com tudo a postos e já nas respectivas posições, os jovens não viam a hora de começar o ritual. Não falavam, não se ouvia qualquer ruído. Apenas um abafado rumorejar da água da nascente e um surdo matraquear dos músculos cardíacos que batiam nos peitos a um ritmo desconcertante.
Era um quadro deveras estranho e macabro o que se desenhava na pacata clareira com os cinco vultos geometricamente dispostos no amplo pentagrama iluminados pelas trémulas luzes das cinco velas e pelo pálido brilho de uma refulgente lua cheia.
Finalmente ia iniciar-se a função. O líder do grupo, que ocupava o vértice apontado à fonte, retirou um velhíssimo alfarrábio de um saco de serapilheira que até ali se mantivera intocável em cima da relva e abriu-o na página previamente marcada. Começou então um ininteligível recital, misto de orações e imprecações, através do qual os temerários jovens evocavam trémula e repetidamente as forças do mal e instavam os demónios para que libertassem o desejado tesouro mas em vão.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Blogs em Destaque

Já há algum tempo que consta do rol das minhas leituras preferidas. Dei mais uma espreitadela para ver as novidades e, por curiosidade, fui ver os comentários. Não são muitos mas deixam a pista para uma questão que eu aqui apelidaria de "honra ao mérito". É o público reconhecimento que lhe é dado no sítio do "SOL" onde se encontra alojado.
Estou a falar do blog FOZ DO RIO TRANCOSO 42º 9' 15'' da autoria de IASousa, um blog de Melgaço que nos fala de um tempo e de um mundo desconhecido ou simplesmente ignorado por muita gente mas que cala fundo nas lembranças de quem nele viveu aquele tempo: o Alto Minho Interior.
Sem desmerecimento dos restantes conteúdos, sigo avidamente os desenvolvimentos da "Visita a Parada" que já vai no número VII. Através daquela narrativa podemos ver as paisagens, ouvir as pessoas, observar gestos, hábitos e costumes que apenas residem e resistem na memória dos mais velhos, auscultar o sentir, o pulsar e os anseios daquelas gentes.
Com uma apresentação sóbria e em linguagem simples e acessível, onde são preservados os traços regionais que se vão diluindo, o autor presenteia-nos com um minucioso e excepcional retrato a preto e branco que cada um de nós pode aproveitar para colorir a gosto.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (III)

Chegaram finalmente à clareira de relva verde e fresca que bordejava o generoso manancial. Conheciam bem a serra e a nascente onde se dessedentaram vezes sem conta, uma água cristalina e fresca com não havia igual. Até se dizia que detinha propriedades medicinais por causa do ouro que estava depositado nas entranhas da terra donde brotava e já várias pessoas tinham obtido a cura para as suas moléstias mas a noite e as sombras formadas pela luz pálida do luar tornavam o lugar mais sinistro do que alguma vez imaginaram.
Não havia tempo a perder. Sabiam bem o que era preciso fazer e o tempo urgia porque já passava das onze e à meia noite em ponto tinha que se dar início ao ritual. Pousaram os provimentos que carregavam às costas transpiradas quer pela carga, quer pela extensa caminhada, sempre a subir, quer ainda pela emoção e, porque não, por um mal disfarçado medo. Começaram então a preparar o cenário tal como tinham lido no livro e delineado vezes sem conta.
Desenharam um pentagrama, a famosa estrela de cinco pontas de que tanto tinham ouvido falar mas cujos poderes ignoravam, tendo o cuidado de orientar o vértice por forma a coincidir em simultâneo, à meia noite em ponto, com a posição da lua e da nascente de água. No meio do pentagrama construíram toscamente uma espécie de altar onde foram depostas em círculo, depois de degoladas, as cinco galinhas pretas que tinham desaparecido misteriosamente mas que ali reapareceram prontas a serem sacrificadas às forças ocultas que guardavam o cobiçado tesouro. No meio do círculo formado pelas carcaças ensanguentadas das galinhas foi colocado o gato preto da Ti Ana que, por causa do seu mau feitio, já tinha sido sacrificado no dia anterior. À volta do enigmático altar foram acesas as cinco velas que completavam o quadro.
Ficava assim concluído o cenário onde decorreria a função que lhes havia de trazer a almejada fortuna.

Polifemo 2008


Não. Não é Ulisses, nem está em Tróia mas anda lá por perto. Desde Março ou princípios de Abril que D. Eduardo Discoli e os seus três companheiros, dois cavalos crioulos e um mustang, se encontram nas imediações de Atenas à espera de melhores "ventos" para atravessar o Mediterrâneo.
Estou certo que deve passar por momentos de grande frustração mas ele está habituado a lidar com adversidades ainda maiores e há-de chegar o dia em que o temível cíclope o libertará.
Depois..., há muito mundo para percorrer!!!

Crise

Montilla anuncia un plan de austeridad contra la crisis:
Reducción del gasto corriente hasta un 25% y la contención en la contratación de nuevos funcionarios, hasta el punto de no sustituir al personal que cause baja;
•Congelará el sueldo de los altos cargos como un gesto "simbólico";
•Los nuevos expedientes de gasto que no sean de carácter recurrente tendrán que ser aprobados por el Governo;
•El president mantiene la previsión de crecim
iento para 2008 en el 1,8% y cree que la situación se alargará dos años como mínimo.


Bueno, as medidas referidas acima vão ser implementadas pelo Governo Autónomo da Catalunha, a Região Autonómica com a economia mais forte do Reino de Espanha.
E o congelamento dos salários dos altos cargos, na sequência do que já foi determinado pelo Governo Central e também adoptado na Itália, mesmo sendo uma medida simbólica, não deixa de ser uma medida moralizadora e com impacto na opinião pública.
Por cá continuamos a falar, a falar a falar mas pouco se faz, ou melhor, aperta-se com os mesmos...
Não deixa de ser sintomático o estudo recente efectuado pelo Conselho Económico e Social que revela que grande parte da população atingida pelo espectro da pobreza tem emprego e trabalha!!! Quem paga salários desses dormirá de consciência tranquila?
Enquanto se continuar a falar e a não adoptar medidas que possibilitem um controlo eficaz sobre a evasão fiscal de pouco servirão os paliativos que servem para cativar votos mas que nada solucionam.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Turismo em tempo de vacas magras

"Picnic" de cuatro estrellas
La crisis lleva a los turistas a comprar en el supermercado y comer en la habitación del hotel


Uma nova forma de turismo emerge dos tempos de crise. É o turismo da refeição no quarto de hotel, da saca de compras do supermercado, da poupança na alimentação.
Tem alguma lógica este tipo de restrição ao consumo. É que as férias num local de sonho, em hotel de 3, 4 ou 5 estrelas, dão status e fazem roer de inveja a vizinhança.
E mesmo que se notem alguns gramas de peso a menos não há problema. Pelo contrário, só aumenta a auto-estima e denota muita actividade e cuidados físicos adicionais, que as férias também servem para isso.
É um turismo envergonhado que leva os utentes dos hotéis a levar para os respectivos aposentos comida comprada no supermercado e até pequenos fornos eléctricos para confeccionarem as suas refeições. E também a perguntarem por locais onde se coma mais barato, para desespero dos industriais hoteleiros que ficam com os seus restaurantes às moscas.
Para isso mais vale ficar em casa...
Foto:
http://www.farodevigo.es/servicios/lupa/lupa.jsp?pIdFoto=979680&pRef=2008071500_2_242259__Gran-Vigo-Picnic-cuatro-estrellas

domingo, 13 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (II)

A ideia começou então a ganhar forma: - Vamos à Fonte do Seixo desencantar o pote de libras de ouro que lá está nas profundezas e ficamos ricos!
Já nada os podia deter. Sonhavam com dinheiro a rodos, libras reluzentes a encher os bolsos, comprar cavalos e terras, boas farpelas, boa e abundante comida na mesa, o mundo a seus pés...
Estudaram a fórmula até à exaustão, muniram-se de calendários e almanaques com as fases da lua, rebuscaram velas de cera por todos os cantos dos respectivos lares e até umas quantas galinhas negras desapareceram misteriosamente das capoeiras deixando estupefactas as respectivas donas. Nem o gato preto da Ti Ana da Pinta escapou. A operação ganhava corpo no mais absoluto e intrigante sigilo.
Chegou finalmente o dia que os deixaria ricos. Quase nem cearam e para não levantar suspeitas simularam ir deitar-se. No silêncio da noite, quando todo o mundo dormia placidamente, algo se movia na pequena aldeia. Eram cinco corajosos e desenvoltos jovens que se deslocavam sem fazerem o menor ruído pelos sombrios caminhos que conduziam ao cimo da povoação, para se reunirem num local pré-determinado, cada qual transportando os materiais necessários para a arriscada missão. A lua, redonda e enorme, iluminava perfeitamente a serra e os caminhos que conduziam ao local de destino. Logo que o grupo se reuniu nem foi preciso falar nada. Um simples olhar, como que a confirmar se estava tudo a postos, foi a senha necessária para darem início à caminhada.
Os caminhos eram bem conhecidos. Subiram a encosta do Carril até ao planalto de Chão da Aveleira, mais uma íngreme subida até Fonte Boa, depois um pouco mais suave até por cima da poça do Arroio. Ali começava a corga da Fonte do Seixo, sinistramente escura e medonha.
A água que escorria pelo estreito córrego, rumorejante, de pedra em pedra, por entre a vegetação rasteira, parecia querer dizer-lhes que desistissem. Os cabelos eriçavam-se e calafrios de medo percorriam as espinhas dos arrojados jovens mas nada os demovia do objectivo definido. Com o ânimo cada vez mais vacilante procuravam não demonstrar os sentimentos de insegurança e davam vigorosas passadas por entre as ramagens de giestas, urze e tojo. Era preciso atingir a nascente que ficava umas centenas de metros mais acima, abrigada por uns penhascos rochosos e densa vegetação selvagem.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Alguém falou em crise?

Eu não tenho um iPhone. Não que não gostasse de ter mas porque não me posso dar ao luxo de desbaratar seiscentos €uros para ter toda aquela tecnologia entre mãos. Assim, faço como Bocage, espero pela última moda... Mas, felizmente, não falta quem compre. Para gáudio das operadoras de telecomunicações.
Também não vou beneficiar dos cinquenta por cento de desconto nos passes L123 e do Andante, como foi anunciado por "aquele que nós sabemos". Não porque não precise mas porque não resido nas áreas metropolitanas de Lisboa nem do Porto.
E temo que também não vou beneficiar do plano Robin dos Bosques. E é bem feito. Aproveito para ir atestar o depósito uma vez por mês a Salvaterra do Minho (fica na Galiza, se acaso não sabiam) e por isso sou penalizado na "distribuição" dos dividendos...
É assim...
Imagem: http://ultimahora.publico.clix.pt/imagens.aspx/237716?tp=UH&db=IMAGENS&w=320

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (I)

Estava escrito nos livros de magia mas era um segredo bem guardado. Na Fonte do Seixo existia um tesouro encantado que um Mouro muito rico ali escondera na fuga precipitada dos temíveis heróis da reconquista cristã mas só acessível a quem tivesse a intrepidez e a coragem necessárias para lá ir à meia noite, em plena lua cheia, e realizar o ritual mágico que o havia de libertar dos terríveis e medonhos monstros que o guardaram noite e dia ao longo dos séculos.
A fórmula estava bem explicada no famoso e ultra-secreto Livro de S. Cipriano de que se ouvia falar mas que ninguém conhecia. Bem, ninguém não. Um antigo e perseguido calhamaço sobrevivera e estava, havia muitos anos, secretamente escondido, no fundo de um baú, já meio carcomido da traça. Era um exemplar único que alguém preservou da sanha persecutória que perdurou mesmo depois de ser extinta a Santa Inquisição. De tal forma foi escondido que até o próprio dono lhe perdeu o rasto. Mas o tempo passou, o sigiloso fundo secreto foi devassado e o misterioso livro voltou a ver a luz do dia.
Porém o achado não podia ser divulgado. Mesmo sem Inquisição a censura era apertada e se o Padre da Freguesia ou o Cabo da Guarda suspeitassem da sua existência era certo que seria rapidamente incinerado e o seu detentor alvo de tremenda excomunhão, para não falar em castigo bem pior. Assim, a mensagem foi passando de boca em boca num círculo muito restrito de jovens aventureiros e robustos, a quem nada nem ninguém metia medo que em longos serões e longe da observação de quem quer que fosse iam desfolhando curiosamente todas as páginas do famoso alfarrábio.

terça-feira, 8 de julho de 2008

A Cavar...

Sempre ouvi dizer que a terra dá tudo de que necessitamos. E também que "o trabalho dá saúde". Se dúvidas havia, elas estão completamente dissipadas. Vejam a seguir o exemplo mais flagrante que sustenta o que acabei de afirmar. Os líderes das oito maiores economias mundiais exercitam os músculos, entusiasmadíssimos, deixando no ar a mensagem que nós vemos muitas vezes cá pelo burgo, afixada em estabelecimentos comerciais e similares: "Se tens inveja do que eu tenho faz como eu: Trabalha, malandro!".
Imagem importada daqui.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Para Pensar...

"É um progressivo desrespeito pelas autoridades devido a uma maior tensão social, mudanças de hábitos e costume, aos filmes americanos e à educação que se dá aos filhos"
Morreu no Hospital o jovem que foi atingido por um projéctil disparado por elemento das forças de segurança, com as quais me identifico. É já conhecida a minha posição em relação ao uso de armas de fogo e não é por isso que venho evocar aqui o triste acontecimento. São, sim, as declarações de um senhor que não conheço e que aborda o problema de uma forma que eu considero muito pertinente e esclarecida.
Há uma série de factores que concorrem para a degradação das relações de cidadania e existem culpados. Essa degradação começa nas famílias mas acentua-se especialmente nas Instituições.
Em tempos que já lá vão assistia estupefacto a julgamentos em que os réus, ainda era assim que se designavam e não arguidos, eram pura e simplesmente "arrasados" perante a severidade dos Juizes. O Presidente do Tribunal, em regra Juiz Desembargador do Círculo, um veterano experimentado na investigação por força de muitos anos a dirigir os serviços do Ministério Público, não se compadecia com meros formalismos processuais e atirava-se ao indefeso cidadão, ali colocado já em acentuada inferioridade, como "gato a bofe", passe a expressão. A audiência não era um concílio onde se debatia tudo menos os factos, como ocorre actualmente. Tudo aquilo metia medo...
Agora é o que se vê. De Marco de Canavezes, de Gondomar, mais recentemente da Feira e de Vila Real chegaram exemplos da fragilidade da justiça. Mas mais gritante, embora menos conhecida porque não tem interesse mediático, é a forma como nesses mesmos e noutros locais, diariamente, se desautoriza a autoridade.
Acontece não raras vezes que os agentes das forças de segurança são chamados a intervir em locais onde ocorrem desacatos e têm de recorrer à força para impor a ordem. Pois é certo e sabido que caso alguém seja detido e presente em Tribunal saem de lá, no mínimo, dois arguidos: um é o desordeiro o outro é o agente da ordem, normalmente ambos sujeitos a termo de identidade e residência, o famoso TIR que serve para nada. Mas pior do que isso é que caso seja deduzida acusação são os dois tratados de igual forma, como se se tratasse de uma mera rixa de taberna, sem observação do normativo penal que prevê a qualificação dos crimes de que são vítima os agentes da autoridade.
Agora é só colher os frutos...