quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Sentimentos Rivais

Volta a ser tema, lá pelos meus lados, o encerramento da Extensão de Saúde de Tangil, pelo que se depreende do artigo publicado no blog regionalista Monção Repórter.
A este propósito convém recordar que aquela Unidade de Saúde, construída de raiz e inaugurada em 2003, visava servir uma extensa e populosa franja territorial do concelho de Monção e aliviar o Centro de Saúde da sede concelhia, tendo custado ao erário público a módica quantia de 647.000 euros.
Em 2007 era notícia na comunicação social a constatação de que tal empreendimento estava a ser um fiasco. De facto, dos cerca de 6.000 utentes que se previa poderem usufruir dos cuidados de saúde básicos naquela extensão, apenas havia inscritos menos de um milhar, o que se revelava manifestamente insuficiente para o quadro clínico definido, atendendo a um ratio de 1.500 utentes por cada médico, estabelecido a nível nacional.
O avolumar de "nuvens negras" sobre o futuro dessa infraestrutura levou a autarquia, em 2008, a tomar uma medida importante com vista a revitalizar a Extensão de Tangil e cativar os utentes: foi disponibilizado transporte gratuito para os que ali pretendessem acorrer. Nem mesmo assim. A afluência de utentes manteve-se, se é que não diminuiu. As causas ninguém as conhece. Ou, conhecendo-as, assobiam para o ar.
São conhecidas, de sobra, as ancestrais rivalidades entre as freguesias do Vale do Mouro, especialmente entre Riba de Mouro e Tangil. A primeira é a mais periférica, situa-se no extremo sudoeste do concelho, a cerca de vinte quilómetros da sede. Mas é também uma das mais populosas e caprichosas. Talvez por um qualquer complexo de inferioridade intelectual, os ribamourenses nunca aceitaram muito bem as realizações dos vizinhos de Tangil a quem apelidavam, depreciativamente, de "ceboleiros".
De facto, fosse por se encontrar numa localização privilegiada, dotada de excelente centralidade em relação às freguesias vizinhas, fosse pela capacidade de iniciativa e de influência dos seus habitantes, Tangil sobressaiu sempre como pólo de preponderância regional, de que se destacaram a Estação dos Correios, o Posto da GNR, a Casa do Povo, a Escola de Ensino Básico 2/3 a que se juntou recentemente o primeiro ciclo e a centenária Banda de Música.
Em contrapartida, Riba de Mouro vai perdendo tudo. Perde população, perdeu irremediavelmente a Banda de Música, a Secção dos Bombeiros Voluntários parece que já só funciona a "meio gás", a Escola de Ensino Básico fechou recentemente, o Clube de Futebol penso que também desapareceu... A propósito foi publicado recentemente no quinzenário "A Terra Minhota" um excelente artigo que revela as fragilidades da nossa terra, cujo teor pode ser encontrado aqui.
Assim, é grande o desconforto das minhas gentes. E, como "vingança", passam por Tangil altivamente e dirigem-se aos serviços disponibilizados em Monção, porque aqui, além dos cuidados de saúde, há outras coisas a resolver. Só que esta atitude não beneficia ninguém. Tangil perderá a sua Extensão de Saúde mas os vizinhos não ganharão nada. E se assim são periféricos, mais periféricos continuarão a ser.
Se falo apenas de Riba de Mouro é porque conheço bem esta triste realidade. Do mesmo não posso falar relativamente a Merufe, Podame e Segude mas as motivações não devem estar longe do que foi dito relativamente à minha freguesia.
E digo isto com mágoa. É pena que os ribamourenses não saibam ultrapassar um individualismo arreigado e bacoco que impede a formação de uma autêntica comunidade que tenha em vista o bem colectivo. As rivalidades são benéficas se aproveitadas para gerar uma dinâmica de concorrência que promova desenvolvimento. Não é o caso. Aos sucessos do vizinho responde-se com desdém e imobilismo, uma certa forma de demonstrar "dor de cotovelo".
Não vale a pena argumentar que não temos tido autarcas competentes, ou que se esquecem de nós, ou que a culpa é dos outros. A assumpção das responsabilidades tem de ser repartida por todos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Tudo muito bem explicadinho!...

http://sic.aeiou.pt/online/video/informacao/mariocrespoentrevista/2009/1/ministrodapresidenciasobrecasofreeport.htm

A Propósito da Guerra

...
No dia 29 de Novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprova a resolução do estabelecimento de um Estado Judeu na Palestina. No dia 14 de maio de 1948, expirado o mandato britânico da Palestina, o Estado de Israel declara independência, e desde então, a Palestina ficaria dividida em três partes, uma formando o recém-criado Estado Judeu e as outras duas, Faixa de Gaza e Cisjordânia, que deveriam formar um Estado Palestino, de acordo com uma resolução das Nações Unidas, acabaram virando campos de refugiados árabes.
Em Abril de 1948, comandantes dos grupos Irgun, Stern Gang e Haganah se reunem e combinam uma acção para massacrar a população de agricultores da aldeia árabe de Deir Yassin, localizada a cinco quilómetros de Jerusalém. A acção, denominada “Unidade”, pois reunia as três principais milícias israelitas, foi responsável pelo assassinato de 254 pessoas, cujos corpos foram mutilados e jogados num poço.

...

A propósito do conflito no Médio Oriente, descobri um artigo no Pravda Online que reputo de muito interessante e, por isso, não me eximi de reproduzir, com algumas correcções ortográficas e a finalidade única de contribuir para aclarar algumas dúvidas que possam existir sobre as motivações de um e do outro lado.
A razão, como diz o povo, tem três perspectivas: a razão de um, a razão do outro e a razão da razão.
Também podem ler o texto integral aqui.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Do Rio Tua ao Rio Pinhão - Frustração

Era um jovem irreverente e de difícil correcção. Mais de uma vez foi acusado, julgado e condenado por pequenos delitos, muitas outras ficaram sem punição porque não foi possível obter prova concludente da sua autoria, outras tantas teria sido indiciado sem culpa.
A perda prematura do pai fez com que crescesse sem uma referência forte que o induzisse a trilhar caminhos socialmente correctos e a mãe, doente e incapaz de suprir as carências paternas, acabou por sucumbir precocemente, certamente envergonhada pela conduta desviante adoptada pelo filho rebelde.
Muitas vezes foi procurado e chamado ao Posto policial local para prestar contas dos seus actos, quer por iniciativa das autoridades judiciais, quer por iniciativa das autoridades policiais.
A determinada altura deixámos de ter contacto com ele, desapareceu, e as solicitações dos tribunais para comparecer a actos judiciais ou a julgamento acumulavam-se sem resposta. As patrulhas quase sempre se faziam acompanhar de expediente relacionado com as suas acções marginais. Até que um dia, finalmente, o jovem Rodrigo apareceu. E, como sempre, logo que soube da persistência da Guarda em encontrá-lo, dirigiu-se ao Posto para resolver todas as pendências que ali se acumulavam.
Vi no homem que já era alguma vontade de mudar. Tinha ido para o Algarve trabalhar e a vida começava a ser encarada por ele de outro modo. Estava farto de se ver envolvido em problemas com a justiça. Queria mesmo mudar. E para firmar um contrato de trabalho na construção civil precisava de obter uma segunda via do Bilhete de Identidade que se tinha extraviado. Para tal deslocou-se à terra e aproveitou para rever os "amigos", frequentar os locais habituais, enfim, reencontrar-se com um passado recente que tantos problemas lhe acarretara.
Estava agora perante mim, desanimado, sem saída. Gastara todo o dinheiro que tinha para as viagens e obtenção do BI e não sabia o que havia de fazer para resolver o problema. Em quê? Em drogas ou sucedâneos dessa maldição que se tem abatido sobre tantos e tantos, jovens e menos jovens, sobre agregados familiares completos...
Crédulo ou ingénuo mas imbuído de um espírito missionário do tamanho do mundo perguntei-lhe de quanto precisava para resolver tudo e voltar para o trabalho que o esperava no Algarve. Respondeu-me, timidamente e visivelmente surpreendido, que com mil e quinhentos escudos conseguia governar as coisas. Eu seria a última pessoa de quem ele esperaria qualquer ajuda para um problema candente... mas demonstrei-lhe que estava enganado.
Revolvi as gavetas da minha secretária e juntei a importância necessária para conceder um "empréstimo" àquele desgraçado a quem os "amigos", de algum modo, deixaram numa situação difícil. Ao entregar-lhe aquela quantia vinquei bem que não era uma dádiva, nem esmola, que era apenas um empréstimo e acreditava que, quando pudesse, ele próprio me iria devolver todo o dinheiro que generosamente lhe confiava, sem outro contrato que não fosse o da mútua confiança.
Pobre crente!
Nunca mais lhe pus a vista em cima e ainda hoje estou à espera que ele venha acertar as contas comigo.
Na verdade não fui tão ingénuo assim. Conhecia-o bem, tinha a certeza que era tempo perdido e uma vaga convicção de que queria que assim não fosse. Mas o meu pior pressentimento foi confirmado.
Certamente continua por caminhos tortuosos, com os "amigos" de sempre ou outros do mesmo quilate.
Por mim está perdoado!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Eduardo Discoli

"Mi situación,va a tornarse muy difícil, ya que me encuentro en un callejón sin salida, salvo encontrar quien me ayude poder sacar los caballos a otro país o directamente trasladarlos a América. Caso contrario tendrán que quedar aquí hasta que algún día consiga los medios, a fin de llegar a América".
Texto
http://www.deacaballoalmundo.com.ar/NUEVO/Paginas/Diario/31-%20Israel.htm
Foto
http://www.deacaballoalmundo.com.ar/Israel/Israel_Mar_Muerto/pages/13_jpg.htm


Ainda em Eilat, a sul de Israel, Eduardo Discoli, o corajoso ginete argentino, encontra-se num autêntico beco sem saída. Não lhe permitiram a entrada na Jordânia, o Egipto também recusou o acesso aos cavalos e de "cartos" parece não estar lá muito bem. Alternativas? Só Deus sabe.
Espera-se um milagre.
Continuo espectante D. Eduardo!

Crise???

Não conheço o Arnaldo mas acho que ele está certo. Não há crise que resista à dinâmica da força de trabalho.
Uma gentileza de Ferina IZY

Freeport

É o tema do dia, da semana, do mês, do ano, talvez do século, porque já começou há uns quatro ou cinco anos e só agora veio à colação impulsionado pelas investigações desenvolvidas no Reino Unido onde existe uma verdadeira autonomia do poder judicial e nada nem ninguém se situa acima da lei.
Para não me "esticar" muito, remeto os desenvolvimentos para:
Jornal de Notícias
"José Sócrates admitiu esta sexta-feira ter participado numa reunião com os promotores do Freeport e ter reunido com os mesmos a pedido do seu tio, Júlio Monteiro, mas reafirma que a aprovação do empreendimento respeitou a legalidade".
Público
"Tio e primo do chefe do Executivo terão tentado cobrar favor por promover encontro com intermediário do empreendimento".
Correio da Manhã
"Os ingleses pediram a Portugal que José Sócrates fosse formalmente investigado, no âmbito do processo Freeport".
Sol
"‘Tio, isso é uma mentira pegada, porque eu é que trato desses assuntos. Mande vir esse fulano falar comigo’".
E ainda:
The Braganza Mothers

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

RAVE/TGV

Este governo desperdiçou 350 milhões de subsídios da CEE para a Agricultura desde 2000 a 2006 porque não podia comparticipar nestas despesas. No entanto, precisamente no mesmo período, gastou quase 75 milhões de euros com a RAVE nos seus estudos preliminares à construção do TGV .
Este organismo de apenas 28 funcionários foi criado pela CP / REFER para implementar a linha de alta velocidade e só a titulo de exemplo no ano de 2007 tiveram a audácia de apresentar publicamente gastos de quase 800.000€ em equipamento administrativo . Já no ano anterior tinham gasto mais de 1.000.000€ … estão a ler bem : 1 MILHÃO DE EUROS !!! é que dá uma módica quantia de 35.000€ por funcionário .
E vejamos, isto foi só gastos em equipamento administrativo ...
O país está mesmo em crise ?
Conferir em http://www.rave.pt - procurar: visão - rave - relatórios e contas
Mas ainda mais grave é a dúvida: afinal o que é mais importante, a nossa agricultura ou um TGV que 99,9% da população não vai usar? A grande maioria da população vive com graves dificuldades económicas e será um LUXO extraordinário adquirir um bilhete para viajar no TGV.


Esta "jóia" veio parar à minha caixa de correio e não é nada de extraordinário tendo em conta a interminável série de maldades que nos infligem mas, a fazer fé no que por ali se diz, é preciso não ter um pingo de vergonha na cara para olhar de frente, com um sorriso bacoco, qualquer cidadão que ainda queira acreditar na viabilidade da Nação.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mia Couto - E se Obama fosse africano?

"Sejamos claros: Obama é negro nos Estados Unidos. Em África ele é mulato. Se Obama fosse africano, veria a sua raça atirada contra o seu próprio rosto. Não que a cor da pele fosse importante para os povos que esperam ver nos seus líderes competência e trabalho sério. Mas as elites predadoras fariam campanha contra alguém que designariam por um "não autêntico africano". O mesmo irmão negro que hoje é saudado como novo Presidente americano seria vilipendiado em casa como sendo representante dos "outros", dos de outra raça, de outra bandeira (ou de nenhuma bandeira?)".

Extracto de um excelente artigo do do moçambicano António Emílio Leite Couto (Mia Couto), que se pode ler na íntegra aqui ou ali.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Despedida

Valsa com Bashir 2

Para se perceber melhor o contexto do trailer do filme apresentado no post anterior é necessário ler o artigo de opinião de José Goulão do Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) que pode ser encontrado aqui.
"A Valsa com Bechir (...) é tão-somente uma obra de arte colocada à mercê dos nossos sentimentos, juízos e sentido crítico, das nossas reflexões e elaborações.
...
O filme A Valsa com Bechir incide sobre acontecimentos de 1982 mas tem uma actualidade gritante".

domingo, 18 de janeiro de 2009

Valsa com Bashir

Para quem não for capaz de ficar indiferente...



Eu tenho de esperar que chegue ao Portugal Profundo (leia-se Coimbra!!!) para poder ver!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Janeiro Geadeiro

É apenas um dos adágios populares que caracteriza o primeiro mês do ano. Já assim era há muitos anos, lá pelo primeiro lustro da década de sessenta, no Século passado.
Como referi aqui, o Posto Escolar Misto de Cavenca acolhia os jovens do lugar que integravam as quatro classes do ensino primário, hoje designado primeiro ciclo do ensino básico, e também os do lugar de Lijó, com excepção daqueles que “desertaram” para a Gave que ficava mais ou menos equidistante embora já se situasse no vizinho concelho de Melgaço.
...
Continua ali...

Divagações

Perspectivas muito pouco animadoras :(
Défice derrapa, economia cai e desemprego sobe...

O embrulho dos combustíveis - Uma opinião credível e oportuna.
Não obstante a queda dos preços, em particular do gasóleo - deve salientar-se que continua 20% acima do que deveria ser o preço justo...

Outra vez o... sistema. Começa a perceber-se porque este senhor abandonou o barco mal tinha começado a navegar.
O sistema odeia pessoas sérias e íntegras... o Governo montou uma gigantesca operação de ocultação da situação... tudo o que tem sido feito não passa de coelhos que (...) vai tirando da cartola.

Retrato de Portugal, dos portugueses e dos actuais governantes. José Gil, um "exilado" da actualidade, atento ao que (não) se passa por cá...
Quando eu falo de autocratismo ou autocracia estou bem consciente que não estou só a falar do Governo, estou a falar sobretudo de uma pessoa. Isto pode parecer anódino, não significativo. Nós temos um Governo, mas um Governo cinzento, morno. Quem é que sobressai ali? Nada (...) E no meio, ou por cima ou ao lado há uma pessoa que tem um sorriso sempre até às orelhas, um dos sorrisos extraordinários que não pára, pára de vez em quando, e como se a vida fosse o triunfo quotidiano do progresso e essa pessoa é o primeiro-ministro.

SADs
As Sociedades Anónimas Desportivas (SAD) do Benfica, Sporting e FC Porto têm menos de 50% de capital próprio em relação ao capital social respectivo. A situação constitui falência técnica...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Apelo - Português desapareceu em Berlim

Um jovem investigador português que trabalha em Berlim está desaparecido e foi visto pela última vez quando se dirigia para casa, na madrugada de sábado.
Nestas circunstâncias, por mais insignificante que seja, o nosso contributo pode ajudar a minorar a angústia da família do jovem cientista desaparecido em Berlim.
Eu fiquei ainda mais sensibilizado depois de ler o apelo lançado num blog por um primo e transcrito no 100nada da minha amiga Catarina Campos.
Aqui fica o meu contributo.


Actualização às 20:08:
Aqui podem ser obtidas mais informações acerca do enigmático desaparecimento.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Protesto Original

O blog FOZ DO RIO TRANCOSO 42º 9' 15'' está encerrado temporariamente. As razões descreve-as, de forma aparentemente jocosa, o seu autor e meu conterrâneo do concelho vizinho de Melgaço, Senhor Ilídio Sousa.
Mas é um protesto sério, veemente, que vai muito além da principal razão, o genocídio do povo palestiniano, para usar as suas palavras.
Pessoalmente não acredito que a forma encontrada por Israel para anular o Hamas e a sua belicosa luta pela libertação da Palestina seja a mais adequada.
O povo judeu já sofreu demais para agora se tornar o algoz do povo palestiniano, gente que nasceu naquela terra, no mesmo território onde nasceram os seus avós, e os avós dos avós, e todos os ascendentes de uns e de outros.
E deve perceber que no território agora flagelado pelas suas poderosas armas nem tudo que respira é terrorista. Mas a continuar assim certamente vão alimentar os velhos ódios e transformar em terroristas crianças que nasceram sem esse estigma.
E o mundo assiste serenamente à barbárie que ali se desenrola...

domingo, 11 de janeiro de 2009

A Casa do Crego

Apresento-vos a Casa do Crego. E, embora a nova designação seja Refúgio dos Cregos, eu insisto (e disso peço desculpa aos promotores do projecto) em recuperar a designação original, uma referência nos caminhos que ligavam Cavenca ao resto da freguesia quando ainda não existiam outras vias de comunicação que não fossem os velhos trilhos de pé ou de carro de bois.
O site, com um visual muito agradável, já contém alguma informação e fotografias que ilustram bem a beleza do local. Contudo, atrever-me-ia a deixar aqui uma sugestão: que explorassem a origem do nome. É muito provável que sejamos confrontados com alguma surpresa.
Pelo que me é dado observar, crego deriva do vocábulo latino clericu e significa cura, sacerdote, abade, clérigo, "membro da Igrexa cristiá que ten como dedicación principal o servizo a Deus" (http://www.digalego.org/).
Que eu saiba, nunca ali morou qualquer cura, nem disso ouvi falar. Mas, como já tenho demonstrado por aí, as coisas quase sempre têm uma razão de ser e não ocorrem por acaso.
Investiguem!
Com o devido respeito, aqui fica uma imagem da casa picada dali.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Alveitar

"O comandante austríaco não respondeu imediatamente, a ideia de que teria de justificar perante viena e lisboa uma acção de tão drásticas consequências dava-lhe voltas à cabeça, e a cada volta lhe parecia mais complicada a questão. Por fim, julgou ter encontrado uma plataforma conciliatória, propor que lhe fosse permitido, a ele e aos seus homens, entrar no castelo para se certificarem do estado de saúde do elefante. Suponho que os seus soldados não são alveitares, respondeu o comandante português, quanto a vossa senhoria, não sei mas não creio que se tenha especializado na arte de curar bestas..."
José Saramago, A Viagem do Elefante, Caminho, 6.ª Edição, p. 138

Referi-me, no post "A dança das bruxas", a um acto praticado frequentemente no Alto Minho, sempre que se transaccionavam animais. E dizia eu que "alobeitar" era uma inspecção efectuada ao animal transaccionado mas que esse termo não constava dos dicionários por mim consultados.
De facto, tal como eu escrevi e como é pronunciado na região, não é possível encontrar tal palavra nem o seu significado.
A pista para entender o vocábulo empregue pela minha gente deu-ma Saramago através da discussão estabelecida em Figueira de Castelo Rodrigo entre os oficiais que comandavam as forças militares do Rei de Portugal e do Arquiduque da Áustria, incumbidos de escoltar e garantir a segurança do elefante no percurso entre Lisboa e Viena e que me permiti transcrever acima, com a devida vénia.
De facto, alveitar, do grego hippiatrós (veterinário) pelo árabe al-baitár (idem), pode ser um nome masculino que indica aquele que trata de doenças de animais sem diploma legal e também um verbo transitivo, regionalismo que descreve acções como indagar ou pesquisar.
Para os estudiosos da evolução da língua portuguesa e mesmo para os que, como eu, não a conhecendo tão bem, cresceram a ouvir fonemas e vocábulos distintos daqueles que se utilizam num nível de erudição mais elevado, torna-se fácil compreender a transformação gráfica e fonética que aqui se pretende investigar.
Se tivermos em conta que no norte a troca do “v” pelo “b” é uma constante e que a forma falada e escrita em castelhano é “albeitar”, resta-nos indagar apenas por que carga de água aparece ali um “o” entre o “l” e o “b”, ou “v”, se quiserem. Numa rápida revisão da matéria, aferimos que os fenómenos fonéticos que adicionam sons às palavras são a prótese, a epêntese e a paragoge, conforme se faça no princípio, no meio ou no fim, respectivamente. Neste caso, verifica-se a adição de um som no meio da palavra através da inclusão da consoante “o”. Não é um fenómeno raro, especialmente nos regionalismos, embora o mais comum seja a adição de sons consoantes. Por se tratar de uma vogal, a epêntese tem o nome mais particular de anaptixe e visa apenas facilitar a pronúncia.
Alveitares muito conhecidos na minha terra, Riba de Mouro, foram o Sr. Ernesto, do lugar de S. Miguel e o meu parente, algo remoto, Manuel Alves Romano, de Quartas, cujos conhecimentos veterinários se tornavam, muitas vezes, extensivos às pessoas.
Fica a explicação. O Povo não é tão ignorante como parece, ou quanto o pretendem fazer parecer certos doutores da mula ruça.

Até quando?

Ano Novo, Vida Nova

Depois de uma transição de ano extremamente agitada e ainda com muita poeira no ar, consegui finalmente algum tempo para dedicar a este espaço. E nem o frio de rachar que se faz sentir, nem os prognósticos mais pessimistas sobre a conjuntura económica para este ano, nem a barbárie que decorre na Faixa de Gaza, conseguem arrefecer-me os ânimos.
Vamos a isto!