terça-feira, 6 de dezembro de 2011

As Taxas

Hoje fala-se de taxas: as taxas moderadoras da saúde. Dizem que vão aumentar para níveis incomportáveis para muita gente, e eu acredito. Mas também vai aumentar o número de utentes isentos dessa comparticipação nos custos da saúde e é aqui que eu fico perplexo.
Pelo que diz o Ministro da Saúde, o número de utentes que vão ficar isentos de taxas moderadoras poderá chegar aos cinco milhões!!! Se levarmos em conta que Portugal tem uma população total a rondar os dez e meio milhões de criaturas e destes cerca de três e meio milhões trabalham no estrangeiro somos forçados a concluir  que apenas dois milhões de portugueses irão suportar os custos de um serviço que se pretende universal e tendencialmente gratuito (art. 64.º 1. a) da CRP).
Assim sendo eu pergunto:
Que merda é esta? Onde está a universalidade e gratuitidade tendencial de que fala a Lei Fundamental? Vale a pena ter uma Constituição que serve apenas para ser violada de forma torpe e despudorada? Para evitar o enxovalhamento da Lei Fundamental corrija-se já e escreva-se lá "tendencialmente suportado por alguns (poucos) utentes"...
É sabido que o Serviço Nacional de Saúde, tal como foi concebido e de acordo com o modelo vigente, é insustentável. Por muitas razões sendo que apenas numa parcela muito ínfima se pode imputar a culpa aos utentes. Mesmo assim a exigência de que sejam estes a suportar uma parte dos custos até parece razoável.
Mas se os dados demográficos estiverem correctos fazer com que apenas um quinto da população arque com os custos de todos  é de uma gritante injustiça.
Muita gente abusa dos serviços de saúde porque desconhece os custos associados aos actos que as idas às unidades de saúde implicam.
Talvez fosse útil, para sensibilizar um pouco as pessoas, mencionar nos recibos entregues aos utentes não só o que estes terão de suportar mas também o custo total dos actos realizados. Aliás, em algumas regiões de Espanha já é um procedimento corrente.


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Balançar...

Hoje o País está paralisado. Ou quase... É dia de protesto por causa do "aperto" de que temos sido alvo ultimamente. Não sendo minha intenção escalpelizar as razões que motivaram esta greve geral, hesito entre apoiar aqueles que se manifestam contra as medidas de austeridade "violentamente" impostas aos trabalhadores ou concordar com elas porque caso contrário seria pior, ou seja, a opção pelo mal menor...
Mas a grande questão que se coloca e para a qual ainda não vi nem ouvi propostas de solução credíveis é esta:há alternativas?
Infelizmente parece que não.
Sabemos que de nada adianta recuperar o velho slogan "os ricos que paguem a crise". Eles são muito poderosos e arranjam forma de colocar a sua riqueza a salvo porque há sempre espaço para eles noutras paragens onde podem continuar livremente a explorar a riqueza gerada pelo trabalho dos outros.
Por outro lado, continuar a gastar o que não se tem é caminho certo para a falência, como acontece em qualquer caso individual.
O problema maior é que a asfixia económica das famílias, não sendo compensada com o aumento das exportações, conduz necessariamente à recessão. Daí que todas as medidas de austeridade impostas possam ser inúteis se não forem encontradas formas de produzir mais para os mercados externos. Pelo que se vai vendo, a única coisa que conseguimos exportar com sucesso é mão de obra, força de trabalho, a única coisa no mundo capaz de gerar riqueza.
Daqui a algumas horas vamos ser bombardeados com dados estatísticos sobre o sucesso desta manifestação de força dos trabalhadores e poderemos assistir ao regozijo dos líderes sindicais pela resposta enviada aos órgãos do poder. Mas o mais certo é que a seguir aos "foguetes" venha a desilusão, a impotência e a vontade de pegar na trouxa e zarpar.
Vontade já eu tenho há muito tempo. Como, quando e para onde é que não sei...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Gastronomias III

Longe vai o tempo em que Monção era um destino gastronómico por excelência, semelhante ao que ocorre nos dias de hoje com Ponte de Lima onde o seu "arroz de sarrabulho", "rojões" e outros acepipes fazem afluir àquela pitoresca Vila do Alto Minho inúmeros forasteiros.
Tendo o turismo gastronómico um importante papel a desempenhar na economia regional, especialmente quando escasseia o investimento noutros sectores, o que vem referido num artigo de Francisco Seixas da Costa no seu blog "ponto e come" sob o título "Restaurantes do Minho" não é apenas triste como deveria servir para uma reflexão profunda dos agentes económicos ligados a essa actividade.
E mesmo tratando-se de uma mera "lista pessoal" não deixará de ser motivo de preocupação. É que passar por Monção sem destacar um, um só, estabelecimento de restauração no meio de tantos que por aí existem é, no mínimo, confrangedor.
Eu ainda acredito que poderá haver algumas excepções no meio de tanta vulgaridade onde começa a pontuar o "fast food" e outras formas alienígenas de cozinhar. Mas o que faz falta mesmo é retomar a tradição, ir à procura das receitas antigas e reinventá-las de acordo com as exigências actuais em que já não basta o prato a transbordar...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Voz da Nossa Terra

Recebi há algum tempo o meu primeiro número da nova versão da folhinha “Voz da Nossa Terra” e fiquei surpreendido, não com o tamanho, que sempre foi pequeno, mas com o conteúdo que o torna bem grande. Surpreendido ainda pela diversidade, actualidade e pertinência dos temas apresentados. De facto, Riba de Mouro é uma freguesia grande e uma grande terra, fornecendo inúmeros motivos para dar a conhecer, principalmente aos que aqui nasceram e se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo.
A população ribamourense é capaz de grandes empreendimentos embora, numa perspectiva meramente pessoal, me pareça que, enquanto comunidade civil, nunca manifestou uma forte consciência colectiva. Porém, em torno da Igreja as coisas são muito diferentes, gerando-se até uma sã rivalidade entre os diversos lugares para ver quem é capaz de fazer melhor.
Já assim foi com a construção da torre e da igreja paroquial, obras, à data, “megalómanas” mas que hoje são um dos principais motivos de orgulho da nossa terra e, pelo que me tenho apercebido, continua a ser agora com as obras que estão a decorrer em torno do salão e residência paroquial.
Não faço a mínima ideia do que está ali a nascer. Disseram-me que será uma casa mortuária, uma estrutura certamente necessária, se bem que, em meu entender, deveria ser o órgão autárquico a desenvolver e financiar todo o processo.
Mas se há algo de que a freguesia carece urgentemente é de uma estrutura de apoio à terceira idade. A população residente tende a ficar envelhecida e, nesta área, são instituições sediadas noutras freguesias que dão cobertura à satisfação das necessidades básicas daqueles que vão perdendo autonomia.
Não terá de ser a Igreja, necessariamente, a colmatar esta lacuna. Mas em muitas outras localidades é em torno da mesma que se têm criado essas estruturas, apoiadas pela Segurança Social e com bons resultados.
De acordo com os resultados preliminares dos Censos 2011, Riba de Mouro foi, no conjunto das freguesias do concelho, daquelas que mais população perdeu nos últimos dez anos. As causas são bem conhecidas: interioridade, emigração, perda de estruturas essenciais (escolas, posto de saúde, etc.)…
Se “perderem” também os idosos será mais que certo que o fenómeno demográfico agora verificado não só será irreversível como tenderá a agravar-se ainda mais.

NOTA: Para quem não sabe, a folhinha "Voz da Nossa Terra" começou por ser um jornalzito paroquial, criado, redigido e editado durante muitos anos pelo saudoso Padre Manuel António Bernardo Pintor e extinguindo-se ainda em sua vida, quando a idade não lhe permitiu mais continuar a sua edição. Foi um importante meio de divulgação de notícias da freguesia e elo de ligação entre a comunidade ribamourense espalhada pelo mundo. Estão de parabéns todos os que contribuíram para o reactivar e se esforçam por manter vivo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

O Bode Expiatório

Em sentido figurado, um "bode expiatório" é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar (sozinho) a culpa de uma calamidade, crime ou qualquer evento negativo (que geralmente não tenha cometido)...
Mal refeito da catadupa de medidas de austeridade anunciadas ontem à noite pelo "nosso primeiro" (é o mínimo que posso fazer para não ser injusto com o seu antecessor), estou a tentar perceber até onde nos levará este torniquete que estrangula a classe média e abre portas a uma sociedade terceiromundista com alguns senhores de tudo e muitos possuidores de coisa nenhuma.
Transpondo a velha alegoria para a vida real, constatamos facilmente que o "bode expiatorio" existe e são os trabalhadores da administração pública.
Eles são TODOS os males da economia nacional, eles são aqueles que nada produzem e também são quem contribui, com os seus salários, para a obtenção de oitenta por cento das receitas que servirão para tapar os buracos do orçamento para o ano que vem e compensar os desvios que decorrem da execução orçamental do corrente ano. Isto para já, porque para 2013 poderá ser assim e algo mais e depois, provavelmente, só haverá emprego na comissão liquidatária...
E para quem diz, relativamente à liderança do Governo, que é tudo "farinha do mesmo saco", que também este é mentiroso e tudo mais eu digo que não... Pedro Passos Coelho mostrou-se visivelmente constrangido pelo anúncio destas medidas, obrigado a ir contra o seu programa de governo que já não augurava nada de bom mas muito diferente da realidade.
A governar com um orçamento que não foi o deste executivo e tomando posse numa situação em que alguns ministérios já não dispunham de verbas para pagar os salários dos funcionários não seria possível fazer muito melhor.
Mas há uma coisa que espanta quem, com seráfica resignação, aceita este esforço: onde estão as medidas de emagrecimento das "gorduras" do Estado?
Eu não ousaria recorrer a um chavão que percorre as redes sociais em que se preconiza que aqueles que exercem cargos políticos aufiram o salário mínimo. Mas há, seguramente, muito desperdício, mordomias e mesmo salários incomportáveis na actual conjuntura. Alguns cortes no statu quo, mesmo não resultando daí grandes resultados, sempre serviriam para suavizar o impacto da "bordoada"...



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Alvarinho

O vinho "alvarinho" é de Monção. Até podem vir cá dizer que já não é, que agora também é de Melgaço e tal... Não tenho nada a ver com isso, até porque apenas sou consumidor ocasional e estou à vontade para dizer o que me der na gana. Conforme é de Melgaço também se pode dizer que é de Valença, ou de Vila Nova de Cerveira, ou da Galiza, que também por lá o há, ou de Penafiel que a Sociedade Agrícola e Comercial Quinta da Aveleda também produz e comercializa vinhos dessa casta.
O que me leva a alinhavar estes considerandos é que, sendo o vinho da casta alvarinho um produto sub-regional, de superior qualidade e de produção muito limitada, deveria demarcar-se dos seus congéneres não só na fama mas também nos preços. Acontece que a caça desenfreada à "galinha dos ovos de ouro" acabará por matá-la ou então passará a ser uma galinha vulgar que apenas porá ovos normais. Eu explico.
Como é fácil de constatar, aparecem vinhos da casta alvarinho em todas as grandes, médias e pequenas superfícies comerciais, das mais diversas marcas, sendo que a origem (ainda) é a sub-região de Monção e Melgaço, a preços que eu considero perfeitamente banais e que oscilam entre os três e os seis euros a garrafa. Bem vistas as coisas, são preços comuns e situam-se na média dos vinhos expostos nas prateleiras da generalidade dos estabelecimentos comerciais. Esta "vulgaridade" surgiu com a explosão de novas plantações e novos produtores e engarrafadores, associada à introdução de novas técnicas de produção e ao apuramento da casta que a tornou muito mais produtiva do que a ancestral videira que produzia minúsculos cachos com pequenos e raros bagos, como se pode observar nas poucas explorações que ainda não sofreram transformação.
Será esta a política mais acertada? Haverá muitos argumentos a favor e ando eu, que de vinhos pouco ou nada entendo, a correr o risco de ficar isolado contra o resto do mundo a defender o que não tem defesa...
Não? E se vos disser que aqui bem perto há uma quinta que produz e comercializa a sua própria marca a preços cinco vezes superior ao valor mais baixo de que vos falei mais acima?
Pois é verdade. O alvarinho Quinta da Brejoeira é, realmente, um produto excepcional que se revela no preço e no copo. E, pelo que me consta, mesmo sem concorrer a feiras ou concursos, os estoques esgotam-se com facilidade.
Esta é que deveria ser, em meu entender, a via a seguir.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma pequena homenagem...

Soube-o há algumas semanas e fiquei triste, não tanto por ter convivido muito com ele mas principalmente pela relevância com que o cruzamento das nossas vidas acabou por marcar a minha carreira profissional: José Ferreira da Silva, o Zé Silva, faleceu.
Conheci-o na antiga 1.ª Companhia do Batalhão n.º 1 da Guarda Nacional Republicana, sediada na Calçada da Estrela em Lisboa, lá por meados do ano de 1977, na minha primeira colocação profissional após conclusão da formação inicial. Ele já lá estava e só o encontrei ali por causa de um acto ingénuo, da parte dele, mas que lhe atrasou a transferência para o norte por uns meses.
O episódio conta-se em poucas palavras.
Como todos os nortenhos (era de Valença do Minho), o Zé Silva aspirava desempenhar as suas funções o mais próximo possível da origem. E "desabafou" esse seu desejo com um amigo, deputado do Partido Socialista pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo. O amigo deputado, querendo "mostrar serviço", logo se prestou para resolver o problema do Zé e, vai daí, meteu cunha ao Secretário Geral do Partido, na altura pessoa altamente influente e capaz de resolver qualquer imbróglio e para quem a transferência do Zé seriam "favas contadas".
O amigo do amigo do Zé, Doutor Mário Soares, não esteve com meias medidas, falou directamente com o Comandante-Geral da GNR (se se pode falar directamente com deus para quê perder tempo com os santos?. O problema é que na altura desempenhava aquelas funções um General de rija têmpera, transmontano de origem e, sim, daqueles de "antes quebrar que torcer" que não gostou nada da forma como o problema foi abordado. Sem contemplações mandou instaurar um processo disciplinar ao Zé e puniu-o com uma pena de cinco dias de detenção e, acessoriamente, retardamento da transferência por seis meses após a data em que a mesma normalmente lhe coubesse. A pena fundamentou-se no facto do Zé ter recorrido a pessoas civis para obter um benefício pessoal e o General chamava-se Manuel Carlos Pereira Alves Passos de Esmeriz, mais conhecido no meio castrense por "Asa Negra" e não me perguntem porquê.
Foi, portanto, um mero acaso que me colocou na rota do Zé Silva e, apesar de coabitarmos no mesmo Quartel, nem privava muito com ele.
Aconteceu, uns meses depois de ser colocado na Estrela.
Estava eu sentado num canto do exíguo pátio interior a que se dava pomposamente o nome de Parada a cogitar acerca da minha vida quando o Zé, apercebendo-se de que estava com algum problema interior, se aproximou de mim e perguntou-me se havia algo em que me pudesse ser útil...
Falei-lhe da minha inadaptação àquele serviço, o desgaste psicológico, as minhas expectativas...
Diz-me o Zé:
-Olha lá, porque não vais para o Comando Geral? Há um convite na ordem de serviço para o Centro Clínico, lá ficas muito melhor...
-Eu sei mas o convite destina-se a recrutar elementos para exercerem funções no serviço de radiologia, exige a submissão a uma prova de conhecimentos gerais e dá preferência a quem tiver alguma prática nessa actividade e eu não percebo patavina disso - respondi eu.
-Tenta, pá... Olha que as coisas na Guarda nem sempre funcionam como nos parece... - atirou-me o Zé.
Não tendo nada a perder e tudo a ganhar, redigi uma declaração a aceitar o convite, dirigi-me à Secretaria e entreguei a folha azul de vinte e cinco linhas devidamente preenchida e assinada conforme era exigido na altura.
Passados alguns meses, já o Zé tinha rumado a norte, foi-me passada guia de marcha para o Comando Geral com destino ao Centro Clínico...
Passaram os anos e muita água passou por debaixo da ponte...
Voltei a encontrar-me com o Zé em Valença. Ele operador de transmissões no Comando da Secção, eu recém-empossado nas funções de comandante do posto. Alguns dias depois da minha chegada o Zé desceu lá de cima do posto de rádio com um papelinho na mão e entregou-mo dizendo que provavelmente teria interesse no conteúdo. Era uma mensagem a comunicar que estava aberto o concurso para concorrer ao curso de promoção a oficial do Instituto Superior Militar.
Olhei com alguma indiferença para o papelito e disse ao Zé para deixar ficar. Ia pensar no assunto. No ano anterior tinha procurado saber que possibilidades havia de me habilitar ao concurso mas as informações que recebi não eram nada animadoras. Eram poucas vagas e havia muitos candidatos mais antigos que eu (havia provas de aptidão mas a antiguidade era - parece-me que ainda é - um posto).
Não pensei muito. Se queria pular a barreira tinha de arriscar e a oportunidade estava ali. No dia seguinte o mesmo Zé enviou a resposta pela mesma via: eu era um candidato a apanhar uma das seis vagas atribuídas à GNR...
Foi assim que o Zé Silva ficou ligado para sempre ao desenvolvimento da minha vida profissional e tinha de dizer isto publicamente, já que pessoalmente nunca lho disse e acho que também não tive oportunidade para tal.
O Zé já estava retirado do serviço activo mas pouco tempo teve para gozar a reforma.
Descansa em Paz, meu amigo!

domingo, 17 de julho de 2011

O Regresso...

E se de repente me desse uma vontade irresistível de voltar a esgaratujar por aqui umas tretas?

domingo, 6 de março de 2011

Um Cheirinho de Abril

A música é muito poderosa. Ela tem sido o primeiro sinal de revolta contra a tirania e a opressão dos povos em todos os quadrantes do globo, porque a cantar também se dizem coisas sérias e, mais do que isso, desperta-se na consciência das pessoas uma força que parecia não existir. Ninguém da minha geração pode ter esquecido as músicas de intervenção que passavam em todas as rádios e nos canais de televisão após a revolução de 25 de Abril de 1975, já que entes não tinham grande "visibilidade".
Jamais esquecerei a peça de teatro que o grupo tripeiro Seiva Trupe levou ao Regimento de Infantaria n.º 6 e o final apoteótico com a canção "Somos Livres", a qual atingiu um nível de popularidade invulgar chegando a ser cantada nos trabalhos do campo como se se tratasse de um ancestral número de folclore...
Depois voltamos ao rame-rame do costume.
Agora que o "€stado de graça" acabou voltamos a ouvir, através da música, os sinais de descontentamento, alguns mais sérios, outros mais cómicos mas não menos indiciadores do desânimo que aflige o nosso povo.
E enquanto alguns cederam ao "cerco" censório que lhe foi montado (o caso dos Xutos e Pontapés e do "senhor engenheiro"), outros aí andam a abanar as consciência como é o caso de Paco Bandeira com a sua "cancão proibida" ou os Deolinda e a sua "parva que eu sou".
Agora foram os Homens da Luta que o voto popular (sim porque os experts elegeram um "fadinho") alcandorou no primeiro lugar do festival da canção da Radiotelevisão Portuguesa, o que lhes permite representar Portugal na farsa chamada Eurofestival ou Festival Eurovisão da Canção, a realizar na Alemanha.
E aquilo que para alguns poderá ser uma brincadeira pode tornar-se um caso sério e a ter muito em conta, sendo que já foi visível algum "desconforto" no final do espectáculo realizado ontem à noite.
Sabemos que não vão ganhar mas que vai ser uma grande reinação, isso vai. As consequências vê-las-hemos mais tarde.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Netiqueta - As Boas Maneiras na Rede

Havia, na minha terra, uma forma curiosa de designar "educação", à qual já me referi  algures, embora num contexto diferente do que me leva hoje a alinhavar estas considerações: era a criação. Daqui deriva o termo "malcriado" para se qualificar o comportamento de pessoas lesivo das regras de vida em sociedade.
A verdade é que há um sentimento de impunidade total quando se trata de manifestar opinião através da web de que são o exponente máximo os comentários, em regra anónimos, às notícias divulgadas online pelos diversos órgãos de comunicação social.
Hoje mesmo é notícia uma decisão judicial, ao que parece inédita, relativamente à prática de "crime de difamação" perpetrado através de um blogue supostamente anónimo. E, pasme-se, perpetrado por um médico, facto que, atento o teor da notícia, foi relevante para qualificar os factos e justificar a decisão. O suposto anonimato na internet assemelha-se muito ao trajecto das lesmas quando atacam as couves... Fica um rasto que até um cego o pode ver...
Abstraindo da matéria e da decisão, cujo desfecho ainda não será definitivo, parece-me que há necessidade imperiosa de divulgar, exaustivamente, as regras que devem ser observadas quando temos em mãos uma ferramenta de comunicação tão poderosa quanto esta.
Para o efeito, transcrevo aqui, com o devido respeito pelos direitos intelectuais de propriedade, os 10 mandamentos do Instituto da Ética da Internet:
1 - Não deverá utilizar o computador para prejudicar terceiros.
2 - Não deverá interferir com o trabalho informático de terceiros.
3 - Não deverá vasculhar os ficheiros informáticos de terceiros.
4 - Não deverá utilizar o computador para roubar.
5 - Não deverá utilizar o computador para prestar falsos testemunhos.
6 - Não deverá utilizar ou copiar software pelo qual não pagou.
7 . Não deverá utilizar os recursos informáticos de terceiros sem autorização.
8 . Não deverá apropriar-se do trabalho intelectual de terceiros.
9 . Deverá pensar nas consequências sociais daquilo que escreve.
10 - Deverá utilizar o computador com respeito e consideração por terceiros.
Existem muitas mais "regras" bastando efectuar uma pesquisa através de um qualquer motor de busca e, a título de exemplo, deixo esta ligação para a wikipedia que pode ajudar, quem quiser, a obter alguma informação sobre o assunto, embora me pareça que aqueles dez mandamentos resumam, na perfeição, aquilo que é fundamental observar.
E para quem ainda pensar que a ofensa através destes meios é permitida aqui fica o aviso: a tão propalada liberdade de expressão também tem limites... Mas mesmo que esse limites não estivessem contemplados na lei, bastaria observar uma das velhas máximas que nos eram incutidas na criação para se "navegar" com segurança: NUNCA FAÇAS AOS OUTROS O QUE NÃO QUISERES QUE TE FAÇAM A TI.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

A Dona Banca

Maria Branca dos Santos, conhecida por Dona Branca, era uma lisboeta de origens humildes e de escassa formação académica mas muito "esperta" para os negócios. A sua habilidade inata para gerir dinheiro levou-a a construir um império financeiro nunca visto utilizando o esquema conhecido por "pirâmide", julgo que semelhante ao que actualmente se chama "bolha". Na década de 80 do século passado a sua popularidade, que lhe valeu a alcunha de "Banqueira do Povo", varreu o País de lés a lés e a sua engenharia financeira foi uma autêntica mina para quem lhe confiou as suas poupanças, chegando a fazer tremer todo o sistema bancário nacional.
Só que quando as coisas são construídas num alicerce frágil mais cedo ou mais tarde hão-de colapsar. E o império da Dona Branca colapsou não só porque na verdade estava sustentado numa organização de legalidade duvidosa mas também porque se rodeou de pessoas que se movimentavam no submundo do crime e, de forma decisiva, devido ao pânico dos investidores.
Foi usando este termo de comparação que Campos e Cunha, o primeiro ministro das finanças do consulado socrático, se referiu recentemente ao comportamento do Estado nos últimos dez anos. E comparou o momento actual do país a "um carro desgovernado, com os pneus carecas, a duzentos à hora numa auto-estrada".
Se algumas dúvidas ainda subsistissem elas estariam agora dissolvidas. Melhor do que isto só com bonecos animados. Mas parece que ainda há quem não acredite...

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

31 de Janeiro

Faz hoje anos, precisamente trinta e seis, que envergando a verde farda de soldado de infantaria do Exército, integrava a formatura das forças em parada para comemorar a efeméride: o dia 31 de Janeiro.
Na parada do Regimento de Infantaria n.º 6, junto à Estrada da Circunvalação no Porto, éramos umas centenas, todos alinhados de verde, que "verdes" também nós éramos, mesmo depois de vivermos quase um ano de liberdade (se bem que, para mim, isso pouca diferença fez) e termos assistido à deposição do regime político que resultou do Estado Novo, fruto de uma acção militar tão original que deixou o mundo estupefacto...
Não sabia porque estava ali mas tinha a percepção que ia ser bom, porque era sexta feira e depois do almoço ficávamos dispensados para gozar o fim de semana.
Entretanto, debaixo de uma chuva copiosa, com a farpela colada ao corpo e a água a escorrer por todos os lados mas sem sequer pestanejar, ouvi falar de uma revolta dos sargentos, blá... blá... blá... e finalmente tocou a destroçar com grande alívio de todos.
Só mais tarde fiquei a saber que na madrugada do dia 31 de Janeiro de 1891, precisamente na mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, um punhado de militares de baixa patente, liderados basicamente por sargentos mas com a adesão de alguns oficiais subalternos (também aqui se incluíam os capitães), promoveram um levantamento militar a que se associaram imediatamente algumas figuras de relevo ligadas ao movimento republicano que se opunha à monarquia. Na Praça de D. Pedro (actualmente Praça da República) foi proclamada a república e hasteada a bandeira com as cores da carbonária e que viriam a ser a as cores-base do actual estandarte nacional. Foi ainda constituído um governo provisório e ficou-se mais ou menos por aí porque pouco depois o movimento foi derrotado e tudo voltou ao mesmo, ou quase...
Terão sido diversas as razões que levaram os militares (de baixa patente) a rebelarem-se.
De uma forma geral, a humilhação a que Portugal foi sujeito na sequência do ultimato inglês, perante o qual o rei e o governo foram obrigados a ceder, deixou marcas profundas na sociedade portuguesa. E o sentimento de orgulho ferido foi bem explorado pelos republicanos que viram aí a oportunidade de ouro para depor a monarquia. Só que, tanto no seio dos militares como no do partido republicano, as cúpulas entenderam que ainda não estavam reunidas as condições para  a deposição do regime e a revolta ficou desde logo condenada ao fracasso.
Mas o que terá levado uma tropa "fandanga" a tomar tal iniciativa?
Bom, parece que associada àqueles factores, verificava-se uma evidente deterioração das condições de vida dos militares, vítimas também de uma forte desconsideração social. E isso terá sido bem aproveitado por aqueles que já há muito conspiravam para derrubar a monarquia.
A "Revolta dos Sargentos", como ficou conhecida, não resultou mas a semente ficou lá, germinou e frutificou dezanove anos depois.
E quem sabe se não haverá ainda por aí algum fermento capaz de reagir em circunstâncias de grave crise não só económica mas também da defesa de princípios e de direitos fundamentais das pessoas e das instituições?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Relações Humanas na Rede

A internet veio alargar, e de que maneira, o círculo de relações entre pessoas e entidades. É uma realidade com que temos de lidar em casa, no trabalho, em todos os actos da nossa vida, desde um vulgar olá através de uma qualquer rede social até às mais complicadas operações financeiras.
Há que reconhecer as enormes vantagens das ferramentas que o desenvolvimento das tecnologias nos colocou ao alcance de um clique mas também há necessidade de estar sempre atento aos perigos que este mundo produz e fazer uso destas mesmas ferramentas com inteligência.
Onde há necessidade de tomar mais precauções é nas relações interpessoais. À semelhança do que sucede na condução de um automóvel ou na assistência de um jogo de futebol, muitas pessoas transfiguram-se quando estão por detrás de um écrã de computador. Aqui não se acusam perturbações fisionómicas, não se avaliam gestos nem timbres de voz, tudo que nos chega ou exporta pode ser artificial ou falso... Por isso, o melhor, quando não se tem a certeza, é ficar sempre na retranca ou, como diz o povo, nem muito ao mar, nem muito à terra.
Embora me considere um mero aprendiz, sou um utilizador compulsivo da internet da qual tenho colhido muitos proveitos nos mais variados aspectos da vida quotidiana. Desde o tempo dos news, onde "conheci" pessoas com as quais ainda mantenho o contacto, passando pelos blogues e pelas redes sociais, gravitam na órbita das minhas relações muitas pessoas reais (familiares, amigos, conhecidos, antigos companheiros de trabalho) e virtuais, alguns dos quais já passaram para o grupo dos primeiros.
Com todos procuro manter boas relações, no respeito pelas diferentes opiniões mas não me esquivo a sustentar algum debate sobre situações concretas defendendo o meu ponto de vista e até lançando algumas provocações para "animar".
Mas isso já me tem custado alguns constrangimentos que tem muito mais a ver com a personalidade, a meu ver, artificiosa, de quem está do outro lado do monitor do que com a provocação.
E assim acontece que, de vez em quando, desaparecem da minha esfera de relações alguns "amigos", supostamente "muito ofendidos", mas confesso que quase nem se dá por isso...
Como dizia o meu velho amigo: quem vai, vai, quem fica, fica...