quinta-feira, 9 de maio de 2013

1/4 por favor!

Há alguns anos que não viajava de comboio, apesar de reconhecer que é simplesmente o melhor meio de transporte colectivo de passageiros por via terrestre.
Constrangimentos de ordem diversa assim mo impuseram.
Porém, por estes dias  fiz uso dele no percurso entre Valença e Viana do Castelo e, além de desfrutar de uma viagem calma e relaxada, com paisagens deslumbrantes a ladear a linha, fui surpreendido com o custo da viagem, ridiculamente barato no contexto actual, tendo sido ainda contemplado com a redução de 75% da tarifa normal, uma "regalia" de que beneficiam alguns grupos profissionais, certamente esquecida lá pelos senhores dos ministérios.
E dei comigo a relembrar a forma como foi conquistado este direito à redução nas viagens de comboio, evocando os tempos do PREC em que os SUV (Soldados Unidos Venceremos) conspiravam nos quartéis e nas ruas das cidades e aldeias.
Por aqueles tempos, os comboios, especialmente aos fins de semana, circulavam apinhados de tropa dos vários ramos, bem como agentes das polícias, se bem que estes apenas se poderiam referenciar, para quem prestasse alguma atenção, pelo irrepreensível corte de cabelo, já que em tudo mais bem passavam por anónimos cidadãos.
Mas os principais actores deste tema eram os militares.
Como bem se sabe, o golpe de Estado levado a efeito em 25 de Abril de 1974 ocorreu num contexto de guerra nas antigas colónias portuguesas, apelidadas de Províncias Ultramarinas por uma questão de estratégia diplomática desenvolvida pelo governo de Salazar com vista a fazer valer o direito de soberania de Portugal sobre esses territórios.
Como tal, vigorava um rigoroso serviço de mobilização militar que afectava todos os recursos humanos, especialmente os jovens, ao cumprimento de determinadas obrigações entre as quais o serviço militar obrigatório, o qual perdurou ainda por mais alguns anos.
Nesse tempo, os militares pagavam o seu bilhete de transporte como qualquer cidadão, só beneficiando da viagem por conta do Estado aquando de deslocações em serviço, mediante a apresentação da respectiva guia de marcha.
Com o advento da Revolução as coisas alteraram-se drásticamente e os soldados, que se encontravam compelidos a prestar um serviço à Nação sem remuneração, revelaram-se contra o pagamento das viagens num meio de transporte que era do povo, ao serviço do povo.
Assim, viajar sem bilhete passou a generalizar-se entre os militares, mau grado algumas ténues tentativas de cobrança por alguns funcionários mais zelozos da CP que, em certos casos, até se mostravam solidários com a luta dos soldados.
Essa forma de luta dos soldados levou a que o Conselho da Revolução legislasse sobre as deslocaçõs dos militares, sendo-lhes então concedido o direito de viajar nos transportes ferroviários de passageiros com uma redução de 75% do preço do bilhete, que ainda se mantém. Esta benesse foi extensiva às forças policiais, sendo sucessivamente criados outros benefícios para determinados grupos profissionais.
Pelo que me foi dado observar a medida não afecta significativamente os resultados de exploração da empresa porquanto a incompatibilidade de horárias e a rapidez desejada fazem as pessoas optar pelos próprios meios de locomoção.
Contudo, como meio de lazer acho óptimo.
Vamos ver é até quando vai durar...