quarta-feira, 4 de outubro de 2023

Caminho Francês em Bicicleta

Foram quinze etapas, com um dia de descanso em Leão. No final ainda fiz mais duas jornadas para chegar a casa. Mais de duas semanas sobre duas rodas. mais de duas semanas inesquecíveis.
O diário encontra-se na minha conta do Instagram que pode ser acedida clicando aqui.

sábado, 2 de setembro de 2023

Caminho Francês em Bicicleta

O caminho faz-se... pedalando...

Está em marcha o meu novo projecto: fazer o Caminho de Santiago (francês) em bicicleta.
O plano delineado leva-me de autocarro até Bayonne e dali, em comboio, até Saint Jean de Pied de Port. Ali terá início o Caminho propriamente dito sem nada planeado. Será pedalar e depois se verá como vai ser.
Os preparativos logísticos para a viagem estão em curso. Hoje é o dia D -10.

domingo, 6 de agosto de 2023

Trilho dos Pescadores (1.ª Parte)

(Etapa 5) Zambujeira do Mar/Odeceixe


26 de Maio de 2023
Início 06:00
Final 11:05

Não havia necessidade mas propus-me sair bem cedo para a quinta e última etapa desta primeira parte.
A bela aurora do dia anterior deixou-me com vontade de voltar a presenciar o eclodir de um novo dia a caminho de Odeceixe.
Azar dos azares, o dia apresentou-se nublado e, de bela aurora, nem o cheiro.
O percurso, semelhante aos anteriores, tem a particularidade de passar à volta da Herdade de Amália Rodrigues, uma magnífica propriedade que atualmente pertence à Fundação com o mesmo nome e está concessionada a um operador turístico.
De regresso a Zambujeira fui tomar banho ao mar já que o check out tinha de ser feito a horas não adequadas para a minha agenda, sem tolerância.
Importa aqui referir que o alojamento em Zambujeira do Mar foi o pior dos piores, com uma relação qualidade/preço desproporcional.
Já de malas aviadas voltei ao restaurante Bar Traquitanas para o almoço e mais uma vez não me desiludiu.
Terminou assim o meu périplo por terras alentejanas.
Como bom amante da natureza não tirei nada além de fotos, não deixei nada além de pegadas, não trouxe nada além da saudade e da vontade para continuar até ao final.
Falta saber quando e como...
E fotos?
Tenho vindo a publicá-las numa conta pública do Instagram que se designa Peregrinações_e_Andainas.

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Trilho dos Pescadores (1.ª Parte)

(Etapa 4) Almograve/Zambujeira do Mar


25 de Maio de 2023
Início 06:50
Final 12:00

Dormi em Zambujeira do Mar e madruguei bastante para retomar o trilho bem cedo em Almograve, onde tinha terminado no dia anterior.
De taxi a caminho do início tive oportunidade de presenciar o nascer do sol mais encantador que os meus olhos já viram: um disco laranja enorme a emergir no horizonte infinito... "a bela aurora", exclamou o taxista! 
É a etapa mais longa das cinco que realizei. À semelhança das anteriores, o percurso segue sempre pela costa por dunas, bosques e falésias, minúsculas praias virgens (aparentemente) e deixamos a costa em Porto de Barcas, a cerca de três quilómetros do final.
Percorridos uns 500 metros deparei com um restaurante agradável e indaguei acerca dos menus, preços, etc.
Como a oferta em Zambujeira, sendo que é vasta mas muito voltada para turistas, acabei a jornada, tomei um reconfortante duche e voltei ao restaurante "Barca Traquitanas".
Gostei.
Não é barato mas é honesto, com produtos de excelente qualidade, conforme o que há sazonalmente, a fazer jus às muitas referências do guia "Boa Cama, Boa Mesa".


terça-feira, 4 de julho de 2023

Trilho dos Pescadores (1.ª Parte)

 

(Etapa 3) Vila Nova de Milfontes/Almograve


24 de Maio de 2023
Início 07:30
Final 10:40

Como sempre, o dia começou cedo. Fiz o Check Out e procurei algum Café para tomar o pequeno almoço mas, no centro, dos que tinha referenciados, nenhum se encontrava aberto.
Meti-me a caminho em direção à ponte (os ferryes que operam no rio só começam às 08:30) e tive a sorte de encontrar uma padaria e bar aberto à saída da localidade.
Esta é a etapa mais curta de todas e há quem a faça juntamente com a seguinte até Zambujeira do Mar. Contudo eu optei por seguir o roteiro previamente definido e como consta do site. O percurso é fácil e com alguns troços por entre uma vegetação luxuriante que nos dá a sensação de percorrermos um extenso túnel.
Em Almograve refresquei-me com um gim tónico enquanto aguardava o taxi que me transportaria de regresso a Vila Nova de Milfontes.
Aqui, enquanto fazia tempo  fazia tempo para o almoço conheci o Ricardo.
O Ricardo é um homem livre, natural de Albergaria-a-Velha e fazedor de colheres de pau.
Já correu mundo como cozinheiro e é apaixonado pelo Alentejo.
Não se preocupa com o futuro porque a vida é para se viver hoje.
É um homem feliz.
Almocei na "Tasca do Celso" que de tasca só tem o nome. O pessoal é simpático e atencioso e o serviço é de uma qualidade acima da média. Aceitei a sugestão  do funcionário e comi um prato de peixe delicioso. chamava-se "sarrajão", é da família dos tunídeos e situa-se entre a cavala e o atum. Grelhado no ponto, condimentado com molho de soja e mostarda, uma agradável surpresa.
Segui de automóvel para Zambujeira do Mar onde tinha reserva para duas noites.
Disto falarei mais adiante.

terça-feira, 27 de junho de 2023

Trilho dos Pescadores (I Parte)

(Etapa 2) Porto Côvo/Vila Nova de Milfontes


23 de Maio de 2023
Início 07:00
Final 11:45

Dia de deixar o alojamento. Como o check out tinha de ser feito antes de regressar a solução foi meter as bagagens no carro e, mochila às costas, meter-me a caminho. Dirijo-me novamente ao café "A Cantarinha" para o imprescindível pequeno almoço. Infelizmente não havia torradas. Comi uma queijada (até estava boa) e bebi um galão.
O percurso revelou-se algo saturante devido aos longos troços de caminhos dunares em que se patina muito na areia remexida.
Durante cerca de três quilómetros tive a companhia de um magnífico rafeiro alentejano que estava junto de uma autocaravana aparcada à beira do mar.
ali ficou mas qual não é o meu espanto quando, percorrido cerca de um quilómetro, sou surpreendido pela presença dele atrás de mim.
Fiz-lhe uma festa na cabeça tendo ele correspondido sentando-se à minha frente e convidei-o a acompanhar-me, ao que ele anuiu imediatamente. 
Assim andámos alguns quilómetros em que o cão avançava umas centenas de metros para depois esperar e retomar a caminhada logo que eu chegava junto dele. 
Em determinado ponto do percurso errei o trilho e enveredei por um estreito carreiro entre as arribas e o  mar...
O certo é que o cão passou a andar muito devagarinho, sem sair de ao pé de mim, como a dizer-me "por aqui não vais bem".
Quando me apercebi que por ali não podia continuar tive de tomar uma decisão drástica para não ter de voltar atrás mais de um quilómetro.
Então tive de subir pela arriba e escalar um muro com mais de dois metros. Ali se acabou a companhia do fiel amigo que, certamente, voltou ao caminho certo para arranjar outra companhia mais fiel que a minha.
Ainda tive o privilégio de observar uma lontra que vinha distraída diretamente ao meu encontro mas depressa se embrenhou na densa vegetação dunar e desapareceu.
Em Vila Nova de Milfontes, dirigi-me à praça de táxis junto do mercado e regressei a Porto Côvo, Almocei no Zé Inácio e prossegui no meu carro para Milfontes onde tinha reservado alojamento na Castilho  Guesthouse. Um quarto com casa de banho privada, limpo e honesto e uma boa relação qualidade/preço.

quarta-feira, 7 de junho de 2023

Trilho dos Pescadores (I Parte)

(Etapa 1) Porto Côvo/São Torpes/Porto Côvo


22 de Maio de 2023
Início 07:20
Final 11:50

Por razões que me transcenderam, só agora se tornou possível deixar aqui o relato da minha aventura por terras alentejanas.
Como referi no post anterior, o Trilho dos Pescadores é um percurso que faz parte da Rota Vicentina. Esta, por sua vez, engloba um conjunto de percursos lineares e circulares cuja descrição está perfeitamente desenvolvida no site facilmente referenciado.
Importa referir que vale a pena gastar algum tempo a pesquisar informação sobre medidas a adoptar e equipamentos mais adequados.
Por razões logísticas optei por fazer esta primeira etapa nos dois sentidos, uma vez que se trata de uma etapa mais curta (são apenas 10 quilómetros).
Cheguei a Porto Côvo no dia 21 de Maio (domingo) onde tinha reservado alojamento e no dia seguinte iniciei a caminhada.
Tomei o pequeno almoço no Café “A Cantarinha”, uma farta torrada de pão regional com um fiozinho de azeite e um galão. Bem clássico.
A minha grande expectativa era ver os estendais de peixe a secar ao vento e ao sol, como é referido no site da Rota Vicentina, mas não tive sorte. Ou o tempo não estava propício ou é uma atividade mais sazonal…
De todos os modos foi uma caminhada agradável, a bordejar as falésias ou pelos extensos areais por onde se pode caminhar tranquilamente e assim evitar o sempre fastidioso alcatrão.
Após o regenerador duche fui almoçar ao Zé Inácio, para mim o melhor restaurante de Porto Côvo.
O alojamento previamente reservado correspondeu ao que era esperado.

quinta-feira, 18 de maio de 2023

Caminhos...

Um homem deve falar enquanto ainda tem voz, caminhar enquanto ainda tem pernas e sonhar enquanto ainda não perdeu a inocência”.

Carlos Ruiz Zafón in A Cidade do Vapor

Tendo em conta que para tudo há um tempo, propus-me recentemente realizar algumas coisas que fermentavam no meu cérebro desde há alguns anos.

Coisas há que se vão materializando no dia a dia. Outras quando se conjugam vontades além da minha. Ficam outras intenções de maior envergadura para as quais é preciso tempo, dinheiro e vontade.

Então, a primeira dessas tarefas vai iniciar-se na próxima semana e será percorrer o Trilho dos Pescadores, uma parte da Rota Vicentina que, como esta designação indica, se desenrola na Costa Vicentina, de Santiago do Cacém até Sagres.

Depois conto!


 

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Automotivação

Nas minhas rotinas diárias tenho muito tempo para refletir e buscar motivos para me sentir bem comigo mesmo. Aqui deixo algumas reflexões que indiciam uma forma de ser consentânea com o meu modo de vida e que sugerem estar de bem com a vida, porque...
  • Estar de bem com a vida é acordar cada dia e sentir-se vivo e com vontade de retomar a caminhada;
  • Estar de bem com a vida é sentir-se acompanhado mesmo quando se está só;
  • Estar de bem com a vida é manter o sorriso;
  • Estar de bem com a vida é dizer bom dia;
  • Estar de bem com a vida é pegar na bicicleta e rodar ao sabor do vento;
  • Estar de bem com a vida é comer quando se tem fome (ou quando houver quê);
  • Estar de bem com a vida é abraçar o mundo do alto de uma montanha;
  • Estar de bem com a vida é viver cada dia como se fosse o último;
  • Estar de bem com a vida é não guardar rancores;
  • Estar de bem com a vida é olhar as estrelas e sonhar;
  • Estar de bem com a vida é chegar aos setenta sem perder totalmente a inocência;
  • Estar de bem com a vida é tanta coisa e tão fácil que até parece impossível...

O Último Post

Não, o último vai ter que esperar ...

domingo, 26 de junho de 2022

Há Quanto Tempo...

Uf... Não se pode retornar aqui sem uma pontinha de emoção. Como o tempo voa...
Já muita água passou por baixo da ponte e o Mundo ficou algo diferente e mais complicado. 
E os amigos? 
Vão-se rompendo laços e parece que tudo corre de feição... 
Mas gostaria muito de um feed-beack. 
Alguns sei que não vão responder à"chamada". 
Vamos ver...

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Um sentido para a vida...

Um dia de incessante chuva, encerrado entre estas quatro paredes, - entre leituras, pesquisa de notícias, uma vista de olhos pelas redes sociais - criam o ambiente propício a uma introspecção, à procura de um objectivo para mitigar esta solidão que me acabrunha de mansinho, de um sentido para a vida. Não há nada pior que sentir-se um inútil, um lixo, uma merda…
Se saio de casa acabo por passar sempre pelos mesmos sítios, ver as mesmas pessoas, um olá e pouco mais e instintivamente regresso ao meu covil, o meu castelo, onde ninguém me aborrece nem enfastia com palavras de circunstância, com conversas banais.
Não vejo o dia de pegar na minha bicicleta, de mochila às costas, e vaguear por esses caminhos fora, sem destino e sem pressa, apreciar a paisagem, os sons e os aromas da natureza, parar num local mais elevado e ficar em extase com o olhar perdido no infinito, falar com desconhecidos (se os encontrar e também se me concederem essa possibilidade), chegar ao fim do dia rebentado mas feliz, a cabeça limpa de tanta bagunça que ali se acumula nestes dias de pasmaceira.
Bem vejo alguns atletas a dar ao pedal, quer chova, quer faça sol… Mas eu não, com chuva nem pensar. Arrosto com o frio de Inverno, com a canícula de Verão, mas chuva dispenso. Uma pinga que me caia nas costas é um grande desperdício além de me causar grandes constrangimentos e ir contra a prescrição do meu médico que sempre me diz: nada de apanhar chuva nas costas, Boaventura...
Assim não há outra solução que não seja aguardar melhores dias, mesmo com as negras perspectivas de ver a magra pensão ainda mais esbulhada por essa cambada de biltres que outra coisa não faz senão ir ao bolso daqueles que, como eu, não têm  fuga possível.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Natal 2013

Contra ventos e marés, o tempo continua inexoravelmente o seu curso. Por isso quero manifestar a todos os leitores que passarem por aqui o meu agradecimento por aparecerem e desejar-lhes um Feliz Natal e um Ano Novo com muita saúde, paz, amor e felicidade.
Boaventura Eira-Velha

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Novos Escravos

Dia chegará em que os custos se tornarão de tal forma onerosos quemelhor será pagar por obra feita do que, ingénuamente, achar que, com escravos, têmo-la de graça, pois não a temos. Imaginem os senhores um fazendeiro que necessite apenas de mão-de-obra para plantio e colheita, uma vez ou duas por ano. Durante o resto do tempo, não terá em que empregar os negros, mas terá que alimentá-los, dar-lhes roupa, casa e remédios, para não falar nos imprevistos, que surgem a cada dia”.
João Ubaldo Ribeiro, Viva o Povo Brasileiro, Publicações D. Quixote, 3.ª Edição, Fev. 2000, pág. 243

Era assim que o mestiço Amleto, rico banqueiro, profetizava o fim da escravatura num Brasil ainda colonial mas com aspirações a tornar-se um Imperio independente e próspero, num contexto temporal e social muito diferente do mundo actual. Contudo, não podemos deixar de sublinhar a pertinência e actualidade das suas palavras transpondo-as para a realidade do Séc. XXI, a era em que dominam as novas tecnologias em detrimento do culto de valores centrados na pessoa humana que emergiram da revolução francesa e se consolidaram ao longo dos Séculos XIX e XX.
Com efeito, caminhamos a passos largos para um novo modelo de exploração do trabalho humano só comparável ao tempo dos barcos negreiros e do florescente comércio de escravos, em que as pessoas eram tratadas pior que animais.
Aparentemente livres, os trabalhadores são hoje explorados como foram os negros de Amleto e deixam-se enlear impavidamente pelas malhas habilmente tecidas pelos senhores do dinheiro, como se isso fosse uma fatalidade sem possibilidade de retrocesso.
As draconianas medidas de austeridade têm atingido praticamente todos os trabalhadores mas de forma muito mais intensa a classe média, em risco de desaparecer para dar lugar a outro modelo de sociedade onde predominarão os pelintras, sob o látego dos capitalistas. A par dos cortes salariais, existem muitas outras modalidades de “camuflagem” das despesas no sector público: os despedimentos de trabalhadores cujas tarefas passaram a ser supridas pela aquisição de serviços ao sector privado é a que mais impacto tem tido nos últimos anos, dando a falsa ideia que se poupa com pessoal.
Enquanto assistimos impavidamente ao declínio e extinção da classe média, que foi nas últimas décadas o verdadeiro motor da economia no âmbito interno, apercebemo-nos de que o número de multimilionários em Portugal cresceu exponencialmente e as grandes fortunas conseguiram contabilizar lucros exorbitantes.
É agora que faz todo o sentido reler Marx e as suas teorias que conduziriam à auto-destruição do capitalismo e a uma ditadura do proletariado. De facto, só existe uma coisa capaz de gerar riqueza: a força do trabalho. Esta arma terrível está nas mãos do povo que trabalha e é explorado descarada e indecentemente mas essas mãos estão inertes, adormecidas e incapazes de reagir com todo o seu poder aos abusos dos opressores.
Quando todos os trabalhadores adquirirem consciência do seu real valor os senhores da alta finança irão compreender que o dinheiro não se come...

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Fogo!

O Concelho está a arder, o Alto Minho está a arder, o País arde incessantemente. Já morreram pessoas, os danos na fauna e na flora são, seguramente, de difícil contabilização e os recursos financeiros dispendidos com as acções de combate são, igualmente, de grande monta.
De todos os males associados a esta verdadeira tragédia, o pior é mesmo a perda de vidas humanas. São recursos preciosos que se esfumam, famílias enlutadas, sonhos desfeitos... Como é possível? Poderiamos colocar aqui uma série de interrogações acerca da forma como foi planeado o ataque às chamas, que preparação técnica tinham as vítimas, o que aconteceu com os meios de apoio... mas de que serviria?
À impotência perante tal flagelo, à raiva e dor dos que perdem património e entes queridos, junta-se um clamor de teóricos que nos cafés, nas praças e nos órgaõs de comunicação social apontam culpados e alvitram soluções como quem toma chá numa esplanada.
E há que dizê-lo: todos somos culpados.
É o lixo que se despeja e acumula a esmo por todos os lados, são os campos e as matas (baldias e privadas) ao abandono, é a ausência de uma verdadeira política de ordenamento do território...
Soluções precisam-se.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Culpa

Sou o culpado.
Porque acreditei no amor, na cumplicidade, no respeito, na verdade, no diálogo, no compartilhamento das emoções, na disciplina e entreajuda. Porque acreditei na família, num projecto de vida e para a vida e por ele me bati com todo o meu saber e vontade. Porque apostei e perdi...
O projecto era bom e o meu castelo atingiu a sua plenitude mas algo minou os alicerces, ou porque eram frágeis, ou porque não estavam devidamente assentes. E onde eu depositei fé e esperança começou a surgir a dúvida, mais do que dúvida: a descrença.
O amor cedo se desvaneceu mas os restantes pilares aguentaram-se enquanto puderam. Quando tudo se diluiu restou ainda uma réstia de dignidade.
Porém o limite de resistência ficou tão fragilizado que o edifício claudicou irremediavelmente.
A culpa foi minha porque não fui capaz de blindar o meu edifício contra os agentes corrosivos que lhe minaram a base.
A culpa foi minha porque não permiti que o baluarte da dignidade, o único que não soçobrou, fosse corrompido.
A culpa é minha...
Minha Culpa
A Artur Ledesma

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Toponímias

E agora pegou a moda das placas a dar nome às ruas, às estradas, aos caminhos, às praças, às encruzilhadas, aos becos e veredas...
É um regalo vêlas a cada esquina, pregadas em muros ou encavalitadas em tubos metálicos, alguns que já serviam de suporte a sinais de trânsito.
Hoje "descobri" uma na Estrada Municipal 1124, em plena serra da Cumeeira (ou Cumieira, como por lá se diz). Penso que está no limite das freguesias de Badim e Riba de Mouro mas isso pouco importa. E também é irrelevante o facto de em cerca de seis quilómetros não existir qualquer casa a bordejar aquela artéria, por sinal bastante utilizada porque é um atalho considerável para quem se desloca de Monção para Lamas do Mouro e vice-versa.
Pois agora foi batizada, naquele troço que não sei bem onde acaba, com o nome de Caminho da Cumieira. Fica-lhe bem, sim senhor, mas melhor seria se fosse dotada com um piso digno do nome porque a continuar assim não tarda muito terão de passar a chamar-lhe Corga da Cumeeira...

quinta-feira, 9 de maio de 2013

1/4 por favor!

Há alguns anos que não viajava de comboio, apesar de reconhecer que é simplesmente o melhor meio de transporte colectivo de passageiros por via terrestre.
Constrangimentos de ordem diversa assim mo impuseram.
Porém, por estes dias  fiz uso dele no percurso entre Valença e Viana do Castelo e, além de desfrutar de uma viagem calma e relaxada, com paisagens deslumbrantes a ladear a linha, fui surpreendido com o custo da viagem, ridiculamente barato no contexto actual, tendo sido ainda contemplado com a redução de 75% da tarifa normal, uma "regalia" de que beneficiam alguns grupos profissionais, certamente esquecida lá pelos senhores dos ministérios.
E dei comigo a relembrar a forma como foi conquistado este direito à redução nas viagens de comboio, evocando os tempos do PREC em que os SUV (Soldados Unidos Venceremos) conspiravam nos quartéis e nas ruas das cidades e aldeias.
Por aqueles tempos, os comboios, especialmente aos fins de semana, circulavam apinhados de tropa dos vários ramos, bem como agentes das polícias, se bem que estes apenas se poderiam referenciar, para quem prestasse alguma atenção, pelo irrepreensível corte de cabelo, já que em tudo mais bem passavam por anónimos cidadãos.
Mas os principais actores deste tema eram os militares.
Como bem se sabe, o golpe de Estado levado a efeito em 25 de Abril de 1974 ocorreu num contexto de guerra nas antigas colónias portuguesas, apelidadas de Províncias Ultramarinas por uma questão de estratégia diplomática desenvolvida pelo governo de Salazar com vista a fazer valer o direito de soberania de Portugal sobre esses territórios.
Como tal, vigorava um rigoroso serviço de mobilização militar que afectava todos os recursos humanos, especialmente os jovens, ao cumprimento de determinadas obrigações entre as quais o serviço militar obrigatório, o qual perdurou ainda por mais alguns anos.
Nesse tempo, os militares pagavam o seu bilhete de transporte como qualquer cidadão, só beneficiando da viagem por conta do Estado aquando de deslocações em serviço, mediante a apresentação da respectiva guia de marcha.
Com o advento da Revolução as coisas alteraram-se drásticamente e os soldados, que se encontravam compelidos a prestar um serviço à Nação sem remuneração, revelaram-se contra o pagamento das viagens num meio de transporte que era do povo, ao serviço do povo.
Assim, viajar sem bilhete passou a generalizar-se entre os militares, mau grado algumas ténues tentativas de cobrança por alguns funcionários mais zelozos da CP que, em certos casos, até se mostravam solidários com a luta dos soldados.
Essa forma de luta dos soldados levou a que o Conselho da Revolução legislasse sobre as deslocaçõs dos militares, sendo-lhes então concedido o direito de viajar nos transportes ferroviários de passageiros com uma redução de 75% do preço do bilhete, que ainda se mantém. Esta benesse foi extensiva às forças policiais, sendo sucessivamente criados outros benefícios para determinados grupos profissionais.
Pelo que me foi dado observar a medida não afecta significativamente os resultados de exploração da empresa porquanto a incompatibilidade de horárias e a rapidez desejada fazem as pessoas optar pelos próprios meios de locomoção.
Contudo, como meio de lazer acho óptimo.
Vamos ver é até quando vai durar...

sexta-feira, 26 de abril de 2013

N101

A Estrada Nacional 101 tem o seu início em Valença, passa em Monção, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Vila Verde, Braga, Guimarães, Felgueiras, Amarante e termina em Mesão Frio.
Tem um traçado muito sinuoso (ainda há que se recorde das noventa e nove curvas nos dezoito quilómetros que perfazia entre Valença e Monção) mas foi, durante muitos anos, uma via estruturante que ligava as terras da raia ao coração do Minho, atravessava o Douro Litoral lá pelo interior e penetrava em Trás-os-Montes pelo Alto de Quintela até terminar já na região do Douro.

O percurso era tal como o descrevi e não havia margem para dúvidas, quer se circulasse em zonas rurais, quer em zonas urbanas, tais como Braga, Guimarães ou mesmo Amarante onde se confundiu, durante alguns anos, com a EN15 que ligava o Porto a Bragança. E ainda é mas com muitos remendos e variantes e nós e laços e laçadas e maus tratos de tal ordem que muito dificilmente se poderá refazer o trajecto de lés a lés sem o auxílio de mapas antigos ou mesmo de burros e boas botas para algumas caminhadas.
Enfim, mudam os tempos, mudam as vontades, a vida actual faz-se em contra-relógio e preferem-se as vias rápidas, mesmo tendo a noção de que pela velhinha N101 existem recantos de rara beleza, que proporciona sombras magníficas e fontes onde apetece sorver toda a frescura daquela água cristalina.
Mas o que me leva a discorrer sobre algo a que pouca gente liga importância é o facto de ter vindo a constactar a existência de placas toponímicas perfeitamente absurdas, em minha opinião, como seja: Estrada de Portela, Estrada de Barroças e Taias, e mais haverá que eu desconheço.
Não sei quem foram os "padrinhos" mas confesso que é uma toponímia de péssimo gosto, sendo certo que a designação "Estrada Nacional 101", ou simplesmente "N101", associada ao respectivo código postal não ofereceria quaisquer dúvidas.
Enfim...

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Uma espécie de funcionário público (conclusão)

O senhor Antoninho apenas recuperou do letárgico coma em que foi induzido cerca de duas semanas após ter sido internado e submetido a várias intervenções cirúrgicas. Pela sua mente repassaram, dramáticas, as imagens dos últimos momentos de vida que o seu cérebro registou e tentou, em vão, conferir os danos causados pelo terrível ácido.
Olhou em volta e viu uma equipa de profissionais de saúde que parecia aguardar aquele momento com alguma ansiedade. As palavras que lhe dirigiram foram tranquilizadoras, as cirurgias efectuadas para reparar os tecidos destruídos estavam a resultar em pleno, embora persistissem sequelas físicas e estéticas para o resto da vida. Mas quando soube que dali em diante teria de fazer chichi sentado apeteceu-lhe morrer.
Acalmaram-no com um potente sedativo e voltou a afundar-se num sono profundo. Acordou muitas horas mais tarde mas recusou-se a abrir os olhos: queria certificar-se se estaria vivo ou morto. Sentiu algo a remexer-se ao seu lado e decidiu continuar de olhos fechados mas a curiosidade não lhe permitiu permanecer muito mais tempo naquela situação. Deparou então com a bela Gaby, sentada à cabeceira da cama, com um sorriso mais enigmático que o da Gioconda. Parecia mais velha, mais madura, e do seu semblante transparecia uma tranquilidade contagiante. Tentou sorrir-lhe mas apenas conseguiu fazer uma careta. Voltou a fechar os olhos e ficaram em silêncio por longos instantes…
Por fim a rapariga rompeu aquele mutismo ensurdecedor: como te sentes? – perguntou. Preferia ter morrido de uma vez – respondeu o Antoninho. A minha vida, daqui em diante, vai ser um inferno…
Voltaram a ficar silenciosos e novamente a Gabriela tomou a iniciativa:
– Pedi a transferência para Lisboa. Lá ninguém nos conhece e podemos fazer uma vida normal. Vou começar a trabalhar lá na próxima semana… Vamos ter um filho… Estou grávida…
– Estás louca? Queres acabar de me matar? Que vida é que queres levar comigo assim… um eunuco?
Novamente o silêncio reinou no exíguo espaço. Pela cabeça do homem perpassaram mil e um pensamentos. Como fora possível a sua vida dar uma tamanha reviravolta? Sempre fora um cidadão e funcionário respeitado na terra, tinha um projecto de vida bem conseguido e... de repente tudo foi por água abaixo, tudo por causa de um “rabo de saia”... Maldita a hora que aquela mulher ali tinha aparecido... E, no entanto, reconhecia que ela lhe abrira perspectivas de vida que já pensava terem-se desvanecido e viveram juntos momentos de extrema felicidade... E agora o que fazer? Um filho? Como foi possível tamanha irresponsabilidade? Quem vai responsabilizar-se pelo futuro dessa criança? Por outro lado... ainda não era assim tão velho e tinha todas as condições para se reformar, podia acompanhar a Gabriela para Lisboa mas... que qualidade de vida poderia dar à rapariga, jovem e cheia de vida, ele que apenas se poderia considerar homem por usar calças e cortar a barba?
– Não estás a sugerir que vá contigo para Lisboa, ou estás?
– Porque não? retorquiu a moça. Podes reformar-te e recomeçar uma nova vida longe de tudo que te recorde este incidente. Ajudas-me a criar e educar o nosso filho e depois..., como disse alguém, “felicidade (também) é ter prazer sem erecção”, concluiu com um sorriso malicioso.
Parecia que a rapariga lhe estava a ler os pensamentos e, pela primeira vez desde que adquirira consciência do sucedido, pressentiu uma réstia de esperança para a sua vida.
Passados três meses, o senhor Antoninho, já reformado e após ter entregue tudo que tinha aos filhos, partiu para Lisboa para se juntar à sua Gabriela, animado com a perspectiva de voltar a ser pai e com um novo projecto de vida em mente.
 E a Dorinda?
A Dorinda saiu do café onde acabara de cometer aquela barbaridade e vagueou sem destino durante vários dias. Alguém a encontrou numa aldeia próxima da sua residência toda andrajosa e morta de fome. Deram-lhe banho, roupas lavadas e comida e tentaram saber o que andava por ali a fazer mas a desgraçada mulher não dizia coisa com coisa.
Um conterrâneo que passava por lá e ouviu o que se passava reconheceu-a e avisou a Guarda. Foi presa e presente ao Juiz que, depois de a mandar submeter a exames clínicos, ordenou o seu internamento num hospício.
Ali viveu alguns anos como um vegetal, sem falar, sem se alimentar sozinha, sem ser capaz de cuidar da própria higiene pessoal.
Passava os dias e noites sentada numa cadeira, o olhar vazio perdido no infinito e só se lhe ouvia dizer, de vez em quando: se não for para mim não há-de ser para mais ninguém!

sábado, 11 de agosto de 2012

A Saque

Santo António de Val de Poldros é uma Branda situada em pleno perímetro da Serra da Peneda. É um local mágico por muitas e variadas razões, começando pelas recordações que evoca aos mais velhos até à beleza da paisagem e do ambiente bucólico que lá se pode fruir.
Localizada a uma cota que ronda os mil metros de altitude, esta Branda diferenciou-se das demais pela grande concentração de um tipo de construções peculiares, todas em rocha de granito e de xisto, com predominância para a segunda.
Subsiste por ali um valiosíssimo património material e imaterial que importa, a todo o custo, preservar e transmitir às gerações vindouras.
Contudo, desde há alguns anos temos vindo a observar alterações à paisagem provocadas pela acção irreflectida de alguns proprietários das cardenhas e tapadas que constituem um verdadeiro atentado contra aquele precioso bem natural e cultural.
Estou a referir-me, como não poderia deixar de ser, à proliferação de modernas habitações cuja finalidade será, estamos em crer, proporcionar alguns momentos de relaxe aos respectivos proprietários e servir, de algum modo, para ostentar riqueza e sucesso no trabalho ou nos negócios.
Tudo começou com alguma abertura (e não sei até que ponto a apropriação abusiva de terrenos baldios) para construção de pequenas casas de montanha, onde deveria pontificar a aplicação de materiais da região, designadamente rochas e madeiras. Depois vieram as acessibilidades e a electricidade e... uma desenfreada procura. Tudo isso sem o necessário acompanhamento pelas entidades que tutelam o ordenamento do território.
Actualmente já por lá podemos observar autênticas "maisons", dignas de figurar na revista Marie Claire Maison, com aplicação de rochas vindas de Marte ou de outro planeta intergaláctico que remetem à insignificância todo o património histórico e cultural que ali perdurou quase integral durante séculos.
Há alguns anos rejubilei com a intenção manifestada pelo executivo municipal de levar a cabo a elaboração de um Plano de Pormenor de Salvaguarda de Santo António de Vale de Poldros. Alimentámos então a esperança de que saísse dali a solução para preservar o importante núcleo de arquitectura vernácula que faz a delícia de quem visita aquele lugar.
Todavia, tal carta de intenções parece não ter passado de mera promessa e cada vez mais aquele espaço fica descaracterizado a ponto de, actualmente, se verificar uma verdadeira disputa entre o ostensivo moderno e o íntegro tradicional, sendo que este está a perder cada vez mais espaço.
As pessoas devem tentar entender que está ali em causa um património que, independentemente do direito de propriedade de cada um, pertence a todos. E se hoje podem exibir, ufanos, o seu poder económico, amanhã serão os próprios filhos, ou netos, ou bisnetos, ou outros a censurá-los pelos danos causados. Mas poderá ser tarde demais.
As imagens falam por si...