Contra ventos e marés, o tempo continua inexoravelmente o seu curso. Por isso quero manifestar a todos os leitores que passarem por aqui o meu agradecimento por aparecerem e desejar-lhes um Feliz Natal e um Ano Novo com muita saúde, paz, amor e felicidade.
Boaventura Eira-Velha
Semeia um pensamento e colherás um desejo; semeia um desejo e colherás a acção; semeia a acção e colherás um hábito; semeia o hábito e colherás o carácter.
(Tihamer Toth)
domingo, 22 de dezembro de 2013
terça-feira, 12 de novembro de 2013
Novos Escravos
“Dia
chegará em que os custos se tornarão de tal forma onerosos
quemelhor será pagar por obra feita do que, ingénuamente, achar
que, com escravos, têmo-la de graça, pois não a temos. Imaginem os
senhores um fazendeiro que necessite apenas de mão-de-obra para
plantio e colheita, uma vez ou duas por ano. Durante o resto do
tempo, não terá em que empregar os negros, mas terá que
alimentá-los, dar-lhes roupa, casa e remédios, para não falar nos
imprevistos, que surgem a cada dia”.
João
Ubaldo Ribeiro, Viva o Povo Brasileiro, Publicações D. Quixote, 3.ª
Edição, Fev. 2000, pág. 243
Era assim que o mestiço
Amleto, rico banqueiro, profetizava o fim da escravatura num Brasil
ainda colonial mas com aspirações a tornar-se um Imperio
independente e próspero, num contexto temporal e social muito
diferente do mundo actual. Contudo, não podemos deixar de sublinhar
a pertinência e actualidade das suas palavras transpondo-as para a
realidade do Séc. XXI, a era em que dominam as novas tecnologias em
detrimento do culto de valores centrados na pessoa humana que
emergiram da revolução francesa e se consolidaram ao longo dos
Séculos XIX e XX.
Com efeito, caminhamos
a passos largos para um novo modelo de exploração do trabalho
humano só comparável ao tempo dos barcos negreiros e do florescente
comércio de escravos, em que as pessoas eram tratadas pior que
animais.
Aparentemente livres,
os trabalhadores são hoje explorados como foram os negros de Amleto
e deixam-se enlear impavidamente pelas malhas habilmente tecidas
pelos senhores do dinheiro, como se isso fosse uma fatalidade sem
possibilidade de retrocesso.
As draconianas medidas
de austeridade têm atingido praticamente todos os trabalhadores mas
de forma muito mais intensa a classe média, em risco de desaparecer
para dar lugar a outro modelo de sociedade onde predominarão os
pelintras, sob o látego dos capitalistas. A par dos cortes
salariais, existem muitas outras modalidades de “camuflagem” das
despesas no sector público: os despedimentos de trabalhadores cujas
tarefas passaram a ser supridas pela aquisição de serviços ao
sector privado é a que mais impacto tem tido nos últimos anos,
dando a falsa ideia que se poupa com pessoal.
Enquanto assistimos
impavidamente ao declínio e extinção da classe média, que foi nas
últimas décadas o verdadeiro motor da economia no âmbito interno,
apercebemo-nos de que o número de multimilionários em Portugal
cresceu exponencialmente e as grandes fortunas conseguiram
contabilizar lucros exorbitantes.
É agora que faz todo o
sentido reler Marx e as suas teorias que conduziriam à
auto-destruição do capitalismo e a uma ditadura do proletariado. De
facto, só existe uma coisa capaz de gerar riqueza: a força do
trabalho. Esta arma terrível está nas mãos do povo que
trabalha e é explorado descarada e indecentemente mas essas mãos
estão inertes, adormecidas e incapazes de reagir com todo o seu
poder aos abusos dos opressores.
Quando todos os
trabalhadores adquirirem consciência do seu real valor os senhores
da alta finança irão compreender que o dinheiro não se come...
quarta-feira, 4 de setembro de 2013
Fogo!
O Concelho está a arder, o Alto Minho está a arder, o País arde incessantemente. Já morreram pessoas, os danos na fauna e na flora são, seguramente, de difícil contabilização e os recursos financeiros dispendidos com as acções de combate são, igualmente, de grande monta.
De todos os males associados a esta verdadeira tragédia, o pior é mesmo a perda de vidas humanas. São recursos preciosos que se esfumam, famílias enlutadas, sonhos desfeitos... Como é possível? Poderiamos colocar aqui uma série de interrogações acerca da forma como foi planeado o ataque às chamas, que preparação técnica tinham as vítimas, o que aconteceu com os meios de apoio... mas de que serviria?
À impotência perante tal flagelo, à raiva e dor dos que perdem património e entes queridos, junta-se um clamor de teóricos que nos cafés, nas praças e nos órgaõs de comunicação social apontam culpados e alvitram soluções como quem toma chá numa esplanada.
E há que dizê-lo: todos somos culpados.
É o lixo que se despeja e acumula a esmo por todos os lados, são os campos e as matas (baldias e privadas) ao abandono, é a ausência de uma verdadeira política de ordenamento do território...
Soluções precisam-se.
De todos os males associados a esta verdadeira tragédia, o pior é mesmo a perda de vidas humanas. São recursos preciosos que se esfumam, famílias enlutadas, sonhos desfeitos... Como é possível? Poderiamos colocar aqui uma série de interrogações acerca da forma como foi planeado o ataque às chamas, que preparação técnica tinham as vítimas, o que aconteceu com os meios de apoio... mas de que serviria?
À impotência perante tal flagelo, à raiva e dor dos que perdem património e entes queridos, junta-se um clamor de teóricos que nos cafés, nas praças e nos órgaõs de comunicação social apontam culpados e alvitram soluções como quem toma chá numa esplanada.
E há que dizê-lo: todos somos culpados.
É o lixo que se despeja e acumula a esmo por todos os lados, são os campos e as matas (baldias e privadas) ao abandono, é a ausência de uma verdadeira política de ordenamento do território...
Soluções precisam-se.
quarta-feira, 24 de julho de 2013
A Culpa
Sou o culpado.
Porque acreditei no amor, na cumplicidade, no respeito, na verdade, no diálogo, no compartilhamento das emoções, na disciplina e entreajuda. Porque acreditei na família, num projecto de vida e para a vida e por ele me bati com todo o meu saber e vontade. Porque apostei e perdi...
O projecto era bom e o meu castelo atingiu a sua plenitude mas algo minou os alicerces, ou porque eram frágeis, ou porque não estavam devidamente assentes. E onde eu depositei fé e esperança começou a surgir a dúvida, mais do que dúvida: a descrença.
O amor cedo se desvaneceu mas os restantes pilares aguentaram-se enquanto puderam. Quando tudo se diluiu restou ainda uma réstia de dignidade.
Porém o limite de resistência ficou tão fragilizado que o edifício claudicou irremediavelmente.
A culpa foi minha porque não fui capaz de blindar o meu edifício contra os agentes corrosivos que lhe minaram a base.
A culpa foi minha porque não permiti que o baluarte da dignidade, o único que não soçobrou, fosse corrompido.
A culpa é minha...
Porque acreditei no amor, na cumplicidade, no respeito, na verdade, no diálogo, no compartilhamento das emoções, na disciplina e entreajuda. Porque acreditei na família, num projecto de vida e para a vida e por ele me bati com todo o meu saber e vontade. Porque apostei e perdi...
O projecto era bom e o meu castelo atingiu a sua plenitude mas algo minou os alicerces, ou porque eram frágeis, ou porque não estavam devidamente assentes. E onde eu depositei fé e esperança começou a surgir a dúvida, mais do que dúvida: a descrença.
O amor cedo se desvaneceu mas os restantes pilares aguentaram-se enquanto puderam. Quando tudo se diluiu restou ainda uma réstia de dignidade.
Porém o limite de resistência ficou tão fragilizado que o edifício claudicou irremediavelmente.
A culpa foi minha porque não fui capaz de blindar o meu edifício contra os agentes corrosivos que lhe minaram a base.
A culpa foi minha porque não permiti que o baluarte da dignidade, o único que não soçobrou, fosse corrompido.
A culpa é minha...
Minha
Culpa
A Artur
Ledesma
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...
Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...
Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...
Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
sexta-feira, 28 de junho de 2013
Toponímias
E agora pegou a moda das placas a dar nome às ruas, às estradas, aos caminhos, às praças, às encruzilhadas, aos becos e veredas...
É um regalo vêlas a cada esquina, pregadas em muros ou encavalitadas em tubos metálicos, alguns que já serviam de suporte a sinais de trânsito.
Hoje "descobri" uma na Estrada Municipal 1124, em plena serra da Cumeeira (ou Cumieira, como por lá se diz). Penso que está no limite das freguesias de Badim e Riba de Mouro mas isso pouco importa. E também é irrelevante o facto de em cerca de seis quilómetros não existir qualquer casa a bordejar aquela artéria, por sinal bastante utilizada porque é um atalho considerável para quem se desloca de Monção para Lamas do Mouro e vice-versa.
Pois agora foi batizada, naquele troço que não sei bem onde acaba, com o nome de Caminho da Cumieira. Fica-lhe bem, sim senhor, mas melhor seria se fosse dotada com um piso digno do nome porque a continuar assim não tarda muito terão de passar a chamar-lhe Corga da Cumeeira...
É um regalo vêlas a cada esquina, pregadas em muros ou encavalitadas em tubos metálicos, alguns que já serviam de suporte a sinais de trânsito.
Hoje "descobri" uma na Estrada Municipal 1124, em plena serra da Cumeeira (ou Cumieira, como por lá se diz). Penso que está no limite das freguesias de Badim e Riba de Mouro mas isso pouco importa. E também é irrelevante o facto de em cerca de seis quilómetros não existir qualquer casa a bordejar aquela artéria, por sinal bastante utilizada porque é um atalho considerável para quem se desloca de Monção para Lamas do Mouro e vice-versa.
Pois agora foi batizada, naquele troço que não sei bem onde acaba, com o nome de Caminho da Cumieira. Fica-lhe bem, sim senhor, mas melhor seria se fosse dotada com um piso digno do nome porque a continuar assim não tarda muito terão de passar a chamar-lhe Corga da Cumeeira...
quinta-feira, 9 de maio de 2013
1/4 por favor!
Há alguns anos que não viajava de comboio, apesar de reconhecer que é simplesmente o melhor meio de transporte colectivo de passageiros por via terrestre.
Constrangimentos de ordem diversa assim mo impuseram.
Porém, por estes dias fiz uso dele no percurso entre Valença e Viana do Castelo e, além de desfrutar de uma viagem calma e relaxada, com paisagens deslumbrantes a ladear a linha, fui surpreendido com o custo da viagem, ridiculamente barato no contexto actual, tendo sido ainda contemplado com a redução de 75% da tarifa normal, uma "regalia" de que beneficiam alguns grupos profissionais, certamente esquecida lá pelos senhores dos ministérios.
E dei comigo a relembrar a forma como foi conquistado este direito à redução nas viagens de comboio, evocando os tempos do PREC em que os SUV (Soldados Unidos Venceremos) conspiravam nos quartéis e nas ruas das cidades e aldeias.
Por aqueles tempos, os comboios, especialmente aos fins de semana, circulavam apinhados de tropa dos vários ramos, bem como agentes das polícias, se bem que estes apenas se poderiam referenciar, para quem prestasse alguma atenção, pelo irrepreensível corte de cabelo, já que em tudo mais bem passavam por anónimos cidadãos.
Mas os principais actores deste tema eram os militares.
Como bem se sabe, o golpe de Estado levado a efeito em 25 de Abril de 1974 ocorreu num contexto de guerra nas antigas colónias portuguesas, apelidadas de Províncias Ultramarinas por uma questão de estratégia diplomática desenvolvida pelo governo de Salazar com vista a fazer valer o direito de soberania de Portugal sobre esses territórios.
Como tal, vigorava um rigoroso serviço de mobilização militar que afectava todos os recursos humanos, especialmente os jovens, ao cumprimento de determinadas obrigações entre as quais o serviço militar obrigatório, o qual perdurou ainda por mais alguns anos.
Nesse tempo, os militares pagavam o seu bilhete de transporte como qualquer cidadão, só beneficiando da viagem por conta do Estado aquando de deslocações em serviço, mediante a apresentação da respectiva guia de marcha.
Com o advento da Revolução as coisas alteraram-se drásticamente e os soldados, que se encontravam compelidos a prestar um serviço à Nação sem remuneração, revelaram-se contra o pagamento das viagens num meio de transporte que era do povo, ao serviço do povo.
Assim, viajar sem bilhete passou a generalizar-se entre os militares, mau grado algumas ténues tentativas de cobrança por alguns funcionários mais zelozos da CP que, em certos casos, até se mostravam solidários com a luta dos soldados.
Essa forma de luta dos soldados levou a que o Conselho da Revolução legislasse sobre as deslocaçõs dos militares, sendo-lhes então concedido o direito de viajar nos transportes ferroviários de passageiros com uma redução de 75% do preço do bilhete, que ainda se mantém. Esta benesse foi extensiva às forças policiais, sendo sucessivamente criados outros benefícios para determinados grupos profissionais.
Pelo que me foi dado observar a medida não afecta significativamente os resultados de exploração da empresa porquanto a incompatibilidade de horárias e a rapidez desejada fazem as pessoas optar pelos próprios meios de locomoção.
Contudo, como meio de lazer acho óptimo.
Vamos ver é até quando vai durar...
Constrangimentos de ordem diversa assim mo impuseram.
Porém, por estes dias fiz uso dele no percurso entre Valença e Viana do Castelo e, além de desfrutar de uma viagem calma e relaxada, com paisagens deslumbrantes a ladear a linha, fui surpreendido com o custo da viagem, ridiculamente barato no contexto actual, tendo sido ainda contemplado com a redução de 75% da tarifa normal, uma "regalia" de que beneficiam alguns grupos profissionais, certamente esquecida lá pelos senhores dos ministérios.
E dei comigo a relembrar a forma como foi conquistado este direito à redução nas viagens de comboio, evocando os tempos do PREC em que os SUV (Soldados Unidos Venceremos) conspiravam nos quartéis e nas ruas das cidades e aldeias.
Por aqueles tempos, os comboios, especialmente aos fins de semana, circulavam apinhados de tropa dos vários ramos, bem como agentes das polícias, se bem que estes apenas se poderiam referenciar, para quem prestasse alguma atenção, pelo irrepreensível corte de cabelo, já que em tudo mais bem passavam por anónimos cidadãos.
Mas os principais actores deste tema eram os militares.
Como bem se sabe, o golpe de Estado levado a efeito em 25 de Abril de 1974 ocorreu num contexto de guerra nas antigas colónias portuguesas, apelidadas de Províncias Ultramarinas por uma questão de estratégia diplomática desenvolvida pelo governo de Salazar com vista a fazer valer o direito de soberania de Portugal sobre esses territórios.
Como tal, vigorava um rigoroso serviço de mobilização militar que afectava todos os recursos humanos, especialmente os jovens, ao cumprimento de determinadas obrigações entre as quais o serviço militar obrigatório, o qual perdurou ainda por mais alguns anos.
Nesse tempo, os militares pagavam o seu bilhete de transporte como qualquer cidadão, só beneficiando da viagem por conta do Estado aquando de deslocações em serviço, mediante a apresentação da respectiva guia de marcha.
Com o advento da Revolução as coisas alteraram-se drásticamente e os soldados, que se encontravam compelidos a prestar um serviço à Nação sem remuneração, revelaram-se contra o pagamento das viagens num meio de transporte que era do povo, ao serviço do povo.
Assim, viajar sem bilhete passou a generalizar-se entre os militares, mau grado algumas ténues tentativas de cobrança por alguns funcionários mais zelozos da CP que, em certos casos, até se mostravam solidários com a luta dos soldados.
Essa forma de luta dos soldados levou a que o Conselho da Revolução legislasse sobre as deslocaçõs dos militares, sendo-lhes então concedido o direito de viajar nos transportes ferroviários de passageiros com uma redução de 75% do preço do bilhete, que ainda se mantém. Esta benesse foi extensiva às forças policiais, sendo sucessivamente criados outros benefícios para determinados grupos profissionais.
Pelo que me foi dado observar a medida não afecta significativamente os resultados de exploração da empresa porquanto a incompatibilidade de horárias e a rapidez desejada fazem as pessoas optar pelos próprios meios de locomoção.
Contudo, como meio de lazer acho óptimo.
Vamos ver é até quando vai durar...
sexta-feira, 26 de abril de 2013
N101
A Estrada Nacional 101 tem o seu início em Valença, passa em Monção, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Vila Verde, Braga, Guimarães, Felgueiras, Amarante e termina em Mesão Frio.
Tem um traçado muito sinuoso (ainda há que se recorde das noventa e nove curvas nos dezoito quilómetros que perfazia entre Valença e Monção) mas foi, durante muitos anos, uma via estruturante que ligava as terras da raia ao coração do Minho, atravessava o Douro Litoral lá pelo interior e penetrava em Trás-os-Montes pelo Alto de Quintela até terminar já na região do Douro.
O percurso era tal como o descrevi e não havia margem para dúvidas, quer se circulasse em zonas rurais, quer em zonas urbanas, tais como Braga, Guimarães ou mesmo Amarante onde se confundiu, durante alguns anos, com a EN15 que ligava o Porto a Bragança. E ainda é mas com muitos remendos e variantes e nós e laços e laçadas e maus tratos de tal ordem que muito dificilmente se poderá refazer o trajecto de lés a lés sem o auxílio de mapas antigos ou mesmo de burros e boas botas para algumas caminhadas.
Enfim, mudam os tempos, mudam as vontades, a vida actual faz-se em contra-relógio e preferem-se as vias rápidas, mesmo tendo a noção de que pela velhinha N101 existem recantos de rara beleza, que proporciona sombras magníficas e fontes onde apetece sorver toda a frescura daquela água cristalina.
Mas o que me leva a discorrer sobre algo a que pouca gente liga importância é o facto de ter vindo a constactar a existência de placas toponímicas perfeitamente absurdas, em minha opinião, como seja: Estrada de Portela, Estrada de Barroças e Taias, e mais haverá que eu desconheço.
Não sei quem foram os "padrinhos" mas confesso que é uma toponímia de péssimo gosto, sendo certo que a designação "Estrada Nacional 101", ou simplesmente "N101", associada ao respectivo código postal não ofereceria quaisquer dúvidas.
Enfim...
Tem um traçado muito sinuoso (ainda há que se recorde das noventa e nove curvas nos dezoito quilómetros que perfazia entre Valença e Monção) mas foi, durante muitos anos, uma via estruturante que ligava as terras da raia ao coração do Minho, atravessava o Douro Litoral lá pelo interior e penetrava em Trás-os-Montes pelo Alto de Quintela até terminar já na região do Douro.
O percurso era tal como o descrevi e não havia margem para dúvidas, quer se circulasse em zonas rurais, quer em zonas urbanas, tais como Braga, Guimarães ou mesmo Amarante onde se confundiu, durante alguns anos, com a EN15 que ligava o Porto a Bragança. E ainda é mas com muitos remendos e variantes e nós e laços e laçadas e maus tratos de tal ordem que muito dificilmente se poderá refazer o trajecto de lés a lés sem o auxílio de mapas antigos ou mesmo de burros e boas botas para algumas caminhadas.
Enfim, mudam os tempos, mudam as vontades, a vida actual faz-se em contra-relógio e preferem-se as vias rápidas, mesmo tendo a noção de que pela velhinha N101 existem recantos de rara beleza, que proporciona sombras magníficas e fontes onde apetece sorver toda a frescura daquela água cristalina.
Mas o que me leva a discorrer sobre algo a que pouca gente liga importância é o facto de ter vindo a constactar a existência de placas toponímicas perfeitamente absurdas, em minha opinião, como seja: Estrada de Portela, Estrada de Barroças e Taias, e mais haverá que eu desconheço.
Não sei quem foram os "padrinhos" mas confesso que é uma toponímia de péssimo gosto, sendo certo que a designação "Estrada Nacional 101", ou simplesmente "N101", associada ao respectivo código postal não ofereceria quaisquer dúvidas.
Enfim...
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Uma espécie de funcionário público (conclusão)
O senhor Antoninho apenas recuperou do letárgico coma em que foi induzido cerca de duas semanas após ter sido internado e submetido a várias intervenções cirúrgicas. Pela sua mente repassaram, dramáticas, as imagens dos últimos momentos de vida que o seu cérebro registou e tentou, em vão, conferir os danos causados pelo terrível ácido.
Olhou em volta e viu uma equipa de profissionais de saúde que parecia aguardar aquele momento com alguma ansiedade. As palavras que lhe dirigiram foram tranquilizadoras, as cirurgias efectuadas para reparar os tecidos destruídos estavam a resultar em pleno, embora persistissem sequelas físicas e estéticas para o resto da vida. Mas quando soube que dali em diante teria de fazer chichi sentado apeteceu-lhe morrer.
Acalmaram-no com um potente sedativo e voltou a afundar-se num sono profundo. Acordou muitas horas mais tarde mas recusou-se a abrir os olhos: queria certificar-se se estaria vivo ou morto. Sentiu algo a remexer-se ao seu lado e decidiu continuar de olhos fechados mas a curiosidade não lhe permitiu permanecer muito mais tempo naquela situação. Deparou então com a bela Gaby, sentada à cabeceira da cama, com um sorriso mais enigmático que o da Gioconda. Parecia mais velha, mais madura, e do seu semblante transparecia uma tranquilidade contagiante. Tentou sorrir-lhe mas apenas conseguiu fazer uma careta. Voltou a fechar os olhos e ficaram em silêncio por longos instantes…
Por fim a rapariga rompeu aquele mutismo ensurdecedor: como te sentes? – perguntou. Preferia ter morrido de uma vez – respondeu o Antoninho. A minha vida, daqui em diante, vai ser um inferno…
Voltaram a ficar silenciosos e novamente a Gabriela tomou a iniciativa:
– Pedi a transferência para Lisboa. Lá ninguém nos conhece e podemos fazer uma vida normal. Vou começar a trabalhar lá na próxima semana… Vamos ter um filho… Estou grávida…
– Estás louca? Queres acabar de me matar? Que vida é que queres levar comigo assim… um eunuco?
Novamente o silêncio reinou no exíguo espaço. Pela cabeça do homem perpassaram mil e um pensamentos. Como fora possível a sua vida dar uma tamanha reviravolta? Sempre fora um cidadão e funcionário respeitado na terra, tinha um projecto de vida bem conseguido e... de repente tudo foi por água abaixo, tudo por causa de um “rabo de saia”... Maldita a hora que aquela mulher ali tinha aparecido... E, no entanto, reconhecia que ela lhe abrira perspectivas de vida que já pensava terem-se desvanecido e viveram juntos momentos de extrema felicidade... E agora o que fazer? Um filho? Como foi possível tamanha irresponsabilidade? Quem vai responsabilizar-se pelo futuro dessa criança? Por outro lado... ainda não era assim tão velho e tinha todas as condições para se reformar, podia acompanhar a Gabriela para Lisboa mas... que qualidade de vida poderia dar à rapariga, jovem e cheia de vida, ele que apenas se poderia considerar homem por usar calças e cortar a barba?
– Não estás a sugerir que vá contigo para Lisboa, ou estás?
– Porque não? retorquiu a moça. Podes reformar-te e recomeçar uma nova vida longe de tudo que te recorde este incidente. Ajudas-me a criar e educar o nosso filho e depois..., como disse alguém, “felicidade (também) é ter prazer sem erecção”, concluiu com um sorriso malicioso.
Parecia que a rapariga lhe estava a ler os pensamentos e, pela primeira vez desde que adquirira consciência do sucedido, pressentiu uma réstia de esperança para a sua vida.
Passados três meses, o senhor Antoninho, já reformado e após ter entregue tudo que tinha aos filhos, partiu para Lisboa para se juntar à sua Gabriela, animado com a perspectiva de voltar a ser pai e com um novo projecto de vida em mente.
E a Dorinda?
A Dorinda saiu do café onde acabara de cometer aquela barbaridade e vagueou sem destino durante vários dias. Alguém a encontrou numa aldeia próxima da sua residência toda andrajosa e morta de fome. Deram-lhe banho, roupas lavadas e comida e tentaram saber o que andava por ali a fazer mas a desgraçada mulher não dizia coisa com coisa.
Um conterrâneo que passava por lá e ouviu o que se passava reconheceu-a e avisou a Guarda. Foi presa e presente ao Juiz que, depois de a mandar submeter a exames clínicos, ordenou o seu internamento num hospício.
Ali viveu alguns anos como um vegetal, sem falar, sem se alimentar sozinha, sem ser capaz de cuidar da própria higiene pessoal.
Passava os dias e noites sentada numa cadeira, o olhar vazio perdido no infinito e só se lhe ouvia dizer, de vez em quando: se não for para mim não há-de ser para mais ninguém!
Olhou em volta e viu uma equipa de profissionais de saúde que parecia aguardar aquele momento com alguma ansiedade. As palavras que lhe dirigiram foram tranquilizadoras, as cirurgias efectuadas para reparar os tecidos destruídos estavam a resultar em pleno, embora persistissem sequelas físicas e estéticas para o resto da vida. Mas quando soube que dali em diante teria de fazer chichi sentado apeteceu-lhe morrer.
Acalmaram-no com um potente sedativo e voltou a afundar-se num sono profundo. Acordou muitas horas mais tarde mas recusou-se a abrir os olhos: queria certificar-se se estaria vivo ou morto. Sentiu algo a remexer-se ao seu lado e decidiu continuar de olhos fechados mas a curiosidade não lhe permitiu permanecer muito mais tempo naquela situação. Deparou então com a bela Gaby, sentada à cabeceira da cama, com um sorriso mais enigmático que o da Gioconda. Parecia mais velha, mais madura, e do seu semblante transparecia uma tranquilidade contagiante. Tentou sorrir-lhe mas apenas conseguiu fazer uma careta. Voltou a fechar os olhos e ficaram em silêncio por longos instantes…
Por fim a rapariga rompeu aquele mutismo ensurdecedor: como te sentes? – perguntou. Preferia ter morrido de uma vez – respondeu o Antoninho. A minha vida, daqui em diante, vai ser um inferno…
Voltaram a ficar silenciosos e novamente a Gabriela tomou a iniciativa:
– Pedi a transferência para Lisboa. Lá ninguém nos conhece e podemos fazer uma vida normal. Vou começar a trabalhar lá na próxima semana… Vamos ter um filho… Estou grávida…
– Estás louca? Queres acabar de me matar? Que vida é que queres levar comigo assim… um eunuco?
Novamente o silêncio reinou no exíguo espaço. Pela cabeça do homem perpassaram mil e um pensamentos. Como fora possível a sua vida dar uma tamanha reviravolta? Sempre fora um cidadão e funcionário respeitado na terra, tinha um projecto de vida bem conseguido e... de repente tudo foi por água abaixo, tudo por causa de um “rabo de saia”... Maldita a hora que aquela mulher ali tinha aparecido... E, no entanto, reconhecia que ela lhe abrira perspectivas de vida que já pensava terem-se desvanecido e viveram juntos momentos de extrema felicidade... E agora o que fazer? Um filho? Como foi possível tamanha irresponsabilidade? Quem vai responsabilizar-se pelo futuro dessa criança? Por outro lado... ainda não era assim tão velho e tinha todas as condições para se reformar, podia acompanhar a Gabriela para Lisboa mas... que qualidade de vida poderia dar à rapariga, jovem e cheia de vida, ele que apenas se poderia considerar homem por usar calças e cortar a barba?
– Não estás a sugerir que vá contigo para Lisboa, ou estás?
– Porque não? retorquiu a moça. Podes reformar-te e recomeçar uma nova vida longe de tudo que te recorde este incidente. Ajudas-me a criar e educar o nosso filho e depois..., como disse alguém, “felicidade (também) é ter prazer sem erecção”, concluiu com um sorriso malicioso.
Parecia que a rapariga lhe estava a ler os pensamentos e, pela primeira vez desde que adquirira consciência do sucedido, pressentiu uma réstia de esperança para a sua vida.
Passados três meses, o senhor Antoninho, já reformado e após ter entregue tudo que tinha aos filhos, partiu para Lisboa para se juntar à sua Gabriela, animado com a perspectiva de voltar a ser pai e com um novo projecto de vida em mente.
E a Dorinda?
A Dorinda saiu do café onde acabara de cometer aquela barbaridade e vagueou sem destino durante vários dias. Alguém a encontrou numa aldeia próxima da sua residência toda andrajosa e morta de fome. Deram-lhe banho, roupas lavadas e comida e tentaram saber o que andava por ali a fazer mas a desgraçada mulher não dizia coisa com coisa.
Um conterrâneo que passava por lá e ouviu o que se passava reconheceu-a e avisou a Guarda. Foi presa e presente ao Juiz que, depois de a mandar submeter a exames clínicos, ordenou o seu internamento num hospício.
Ali viveu alguns anos como um vegetal, sem falar, sem se alimentar sozinha, sem ser capaz de cuidar da própria higiene pessoal.
Passava os dias e noites sentada numa cadeira, o olhar vazio perdido no infinito e só se lhe ouvia dizer, de vez em quando: se não for para mim não há-de ser para mais ninguém!
sábado, 11 de agosto de 2012
A Saque
Santo António de Val de Poldros é uma Branda situada em pleno perímetro da Serra da Peneda. É um local mágico por muitas e variadas razões, começando pelas recordações que evoca aos mais velhos até à beleza da paisagem e do ambiente bucólico que lá se pode fruir.
Localizada a uma cota que ronda os mil metros de altitude, esta Branda diferenciou-se das demais pela grande concentração de um tipo de construções peculiares, todas em rocha de granito e de xisto, com predominância para a segunda.
Subsiste por ali um valiosíssimo património material e imaterial que importa, a todo o custo, preservar e transmitir às gerações vindouras.
Contudo, desde há alguns anos temos vindo a observar alterações à paisagem provocadas pela acção irreflectida de alguns proprietários das cardenhas e tapadas que constituem um verdadeiro atentado contra aquele precioso bem natural e cultural.
Estou a referir-me, como não poderia deixar de ser, à proliferação de modernas habitações cuja finalidade será, estamos em crer, proporcionar alguns momentos de relaxe aos respectivos proprietários e servir, de algum modo, para ostentar riqueza e sucesso no trabalho ou nos negócios.
Tudo começou com alguma abertura (e não sei até que ponto a apropriação abusiva de terrenos baldios) para construção de pequenas casas de montanha, onde deveria pontificar a aplicação de materiais da região, designadamente rochas e madeiras. Depois vieram as acessibilidades e a electricidade e... uma desenfreada procura. Tudo isso sem o necessário acompanhamento pelas entidades que tutelam o ordenamento do território.
Actualmente já por lá podemos observar autênticas "maisons", dignas de figurar na revista Marie Claire Maison, com aplicação de rochas vindas de Marte ou de outro planeta intergaláctico que remetem à insignificância todo o património histórico e cultural que ali perdurou quase integral durante séculos.
Há alguns anos rejubilei com a intenção manifestada pelo executivo municipal de levar a cabo a elaboração de um Plano de Pormenor de Salvaguarda de Santo António de Vale de Poldros. Alimentámos então a esperança de que saísse dali a solução para preservar o importante núcleo de arquitectura vernácula que faz a delícia de quem visita aquele lugar.
Todavia, tal carta de intenções parece não ter passado de mera promessa e cada vez mais aquele espaço fica descaracterizado a ponto de, actualmente, se verificar uma verdadeira disputa entre o ostensivo moderno e o íntegro tradicional, sendo que este está a perder cada vez mais espaço.
As pessoas devem tentar entender que está ali em causa um património que, independentemente do direito de propriedade de cada um, pertence a todos. E se hoje podem exibir, ufanos, o seu poder económico, amanhã serão os próprios filhos, ou netos, ou bisnetos, ou outros a censurá-los pelos danos causados. Mas poderá ser tarde demais.
As imagens falam por si...
Localizada a uma cota que ronda os mil metros de altitude, esta Branda diferenciou-se das demais pela grande concentração de um tipo de construções peculiares, todas em rocha de granito e de xisto, com predominância para a segunda.
Subsiste por ali um valiosíssimo património material e imaterial que importa, a todo o custo, preservar e transmitir às gerações vindouras.
Contudo, desde há alguns anos temos vindo a observar alterações à paisagem provocadas pela acção irreflectida de alguns proprietários das cardenhas e tapadas que constituem um verdadeiro atentado contra aquele precioso bem natural e cultural.
Estou a referir-me, como não poderia deixar de ser, à proliferação de modernas habitações cuja finalidade será, estamos em crer, proporcionar alguns momentos de relaxe aos respectivos proprietários e servir, de algum modo, para ostentar riqueza e sucesso no trabalho ou nos negócios.
Tudo começou com alguma abertura (e não sei até que ponto a apropriação abusiva de terrenos baldios) para construção de pequenas casas de montanha, onde deveria pontificar a aplicação de materiais da região, designadamente rochas e madeiras. Depois vieram as acessibilidades e a electricidade e... uma desenfreada procura. Tudo isso sem o necessário acompanhamento pelas entidades que tutelam o ordenamento do território.
Actualmente já por lá podemos observar autênticas "maisons", dignas de figurar na revista Marie Claire Maison, com aplicação de rochas vindas de Marte ou de outro planeta intergaláctico que remetem à insignificância todo o património histórico e cultural que ali perdurou quase integral durante séculos.
Há alguns anos rejubilei com a intenção manifestada pelo executivo municipal de levar a cabo a elaboração de um Plano de Pormenor de Salvaguarda de Santo António de Vale de Poldros. Alimentámos então a esperança de que saísse dali a solução para preservar o importante núcleo de arquitectura vernácula que faz a delícia de quem visita aquele lugar.
Todavia, tal carta de intenções parece não ter passado de mera promessa e cada vez mais aquele espaço fica descaracterizado a ponto de, actualmente, se verificar uma verdadeira disputa entre o ostensivo moderno e o íntegro tradicional, sendo que este está a perder cada vez mais espaço.
As pessoas devem tentar entender que está ali em causa um património que, independentemente do direito de propriedade de cada um, pertence a todos. E se hoje podem exibir, ufanos, o seu poder económico, amanhã serão os próprios filhos, ou netos, ou bisnetos, ou outros a censurá-los pelos danos causados. Mas poderá ser tarde demais.
As imagens falam por si...
quarta-feira, 9 de maio de 2012
Uma espécie de funcionário público III
"Era
bastante tarde quando chegou, já Dorinda se encontrava na cama, com o dedo na crica, como de costume, a tentar dormir".
Continua no sítio do costume.
Continua no sítio do costume.
terça-feira, 1 de maio de 2012
Uma espécie de funcionário público II
"A Gabriela era uma rapariga graciosa e bonita, bem constituída fisicamente, embora um bocado anafada. Era a mais jovem
funcionária do cartório e a primeira mulher a integrar aqueles serviços, excepção feita à penúltima conservadora que por ali passara, uma velha feia, seca e má como as cobras que bem podia dormir debaixo de um espigueiro que
ninguém lhe pegava".
Continua ali!
Continua ali!
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Uma espécie de funcionário público
"O seu nome era António mas desde
pequeno toda a gente lhe chamava Antoninho, o menino Antoninho primeiro e o
senhor Antoninho mais tarde, quando passou a ocupar um lugar importante na
administração pública".
Retomamos, aqui, a literatura de "cordel" que tanto sucesso fez neste blogue, passe a imodéstia.
Espero que gostem, comentem, critiquem e divulguem para sabermos se vale a pena continuar ou mudar de assunto.
O resto já sabem onde procurar...
Retomamos, aqui, a literatura de "cordel" que tanto sucesso fez neste blogue, passe a imodéstia.
Espero que gostem, comentem, critiquem e divulguem para sabermos se vale a pena continuar ou mudar de assunto.
O resto já sabem onde procurar...
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
As Taxas
Hoje fala-se de taxas: as taxas moderadoras da saúde. Dizem que vão aumentar para níveis incomportáveis para muita gente, e eu acredito. Mas também vai aumentar o número de utentes isentos dessa comparticipação nos custos da saúde e é aqui que eu fico perplexo.
Pelo que diz o Ministro da Saúde, o número de utentes que vão ficar isentos de taxas moderadoras poderá chegar aos cinco milhões!!! Se levarmos em conta que Portugal tem uma população total a rondar os dez e meio milhões de criaturas e destes cerca de três e meio milhões trabalham no estrangeiro somos forçados a concluir que apenas dois milhões de portugueses irão suportar os custos de um serviço que se pretende universal e tendencialmente gratuito (art. 64.º 1. a) da CRP).
Assim sendo eu pergunto:
Que merda é esta? Onde está a universalidade e gratuitidade tendencial de que fala a Lei Fundamental? Vale a pena ter uma Constituição que serve apenas para ser violada de forma torpe e despudorada? Para evitar o enxovalhamento da Lei Fundamental corrija-se já e escreva-se lá "tendencialmente suportado por alguns (poucos) utentes"...
É sabido que o Serviço Nacional de Saúde, tal como foi concebido e de acordo com o modelo vigente, é insustentável. Por muitas razões sendo que apenas numa parcela muito ínfima se pode imputar a culpa aos utentes. Mesmo assim a exigência de que sejam estes a suportar uma parte dos custos até parece razoável.
Mas se os dados demográficos estiverem correctos fazer com que apenas um quinto da população arque com os custos de todos é de uma gritante injustiça.
Muita gente abusa dos serviços de saúde porque desconhece os custos associados aos actos que as idas às unidades de saúde implicam.
Talvez fosse útil, para sensibilizar um pouco as pessoas, mencionar nos recibos entregues aos utentes não só o que estes terão de suportar mas também o custo total dos actos realizados. Aliás, em algumas regiões de Espanha já é um procedimento corrente.
Pelo que diz o Ministro da Saúde, o número de utentes que vão ficar isentos de taxas moderadoras poderá chegar aos cinco milhões!!! Se levarmos em conta que Portugal tem uma população total a rondar os dez e meio milhões de criaturas e destes cerca de três e meio milhões trabalham no estrangeiro somos forçados a concluir que apenas dois milhões de portugueses irão suportar os custos de um serviço que se pretende universal e tendencialmente gratuito (art. 64.º 1. a) da CRP).
Assim sendo eu pergunto:
Que merda é esta? Onde está a universalidade e gratuitidade tendencial de que fala a Lei Fundamental? Vale a pena ter uma Constituição que serve apenas para ser violada de forma torpe e despudorada? Para evitar o enxovalhamento da Lei Fundamental corrija-se já e escreva-se lá "tendencialmente suportado por alguns (poucos) utentes"...
É sabido que o Serviço Nacional de Saúde, tal como foi concebido e de acordo com o modelo vigente, é insustentável. Por muitas razões sendo que apenas numa parcela muito ínfima se pode imputar a culpa aos utentes. Mesmo assim a exigência de que sejam estes a suportar uma parte dos custos até parece razoável.
Mas se os dados demográficos estiverem correctos fazer com que apenas um quinto da população arque com os custos de todos é de uma gritante injustiça.
Muita gente abusa dos serviços de saúde porque desconhece os custos associados aos actos que as idas às unidades de saúde implicam.
Talvez fosse útil, para sensibilizar um pouco as pessoas, mencionar nos recibos entregues aos utentes não só o que estes terão de suportar mas também o custo total dos actos realizados. Aliás, em algumas regiões de Espanha já é um procedimento corrente.
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
A Balançar...
Hoje o País está paralisado. Ou quase... É dia de protesto por causa do "aperto" de que temos sido alvo ultimamente.
Não sendo minha intenção escalpelizar as razões que motivaram esta greve geral, hesito entre apoiar aqueles que se manifestam contra as medidas de austeridade "violentamente" impostas aos trabalhadores ou concordar com elas porque caso contrário seria pior, ou seja, a opção pelo mal menor...
Mas a grande questão que se coloca e para a qual ainda não vi nem ouvi propostas de solução credíveis é esta:há alternativas?
Infelizmente parece que não.
Sabemos que de nada adianta recuperar o velho slogan "os ricos que paguem a crise". Eles são muito poderosos e arranjam forma de colocar a sua riqueza a salvo porque há sempre espaço para eles noutras paragens onde podem continuar livremente a explorar a riqueza gerada pelo trabalho dos outros.
Por outro lado, continuar a gastar o que não se tem é caminho certo para a falência, como acontece em qualquer caso individual.
O problema maior é que a asfixia económica das famílias, não sendo compensada com o aumento das exportações, conduz necessariamente à recessão. Daí que todas as medidas de austeridade impostas possam ser inúteis se não forem encontradas formas de produzir mais para os mercados externos. Pelo que se vai vendo, a única coisa que conseguimos exportar com sucesso é mão de obra, força de trabalho, a única coisa no mundo capaz de gerar riqueza.
Daqui a algumas horas vamos ser bombardeados com dados estatísticos sobre o sucesso desta manifestação de força dos trabalhadores e poderemos assistir ao regozijo dos líderes sindicais pela resposta enviada aos órgãos do poder. Mas o mais certo é que a seguir aos "foguetes" venha a desilusão, a impotência e a vontade de pegar na trouxa e zarpar.
Vontade já eu tenho há muito tempo. Como, quando e para onde é que não sei...
Mas a grande questão que se coloca e para a qual ainda não vi nem ouvi propostas de solução credíveis é esta:há alternativas?
Infelizmente parece que não.
Sabemos que de nada adianta recuperar o velho slogan "os ricos que paguem a crise". Eles são muito poderosos e arranjam forma de colocar a sua riqueza a salvo porque há sempre espaço para eles noutras paragens onde podem continuar livremente a explorar a riqueza gerada pelo trabalho dos outros.
Por outro lado, continuar a gastar o que não se tem é caminho certo para a falência, como acontece em qualquer caso individual.
O problema maior é que a asfixia económica das famílias, não sendo compensada com o aumento das exportações, conduz necessariamente à recessão. Daí que todas as medidas de austeridade impostas possam ser inúteis se não forem encontradas formas de produzir mais para os mercados externos. Pelo que se vai vendo, a única coisa que conseguimos exportar com sucesso é mão de obra, força de trabalho, a única coisa no mundo capaz de gerar riqueza.
Daqui a algumas horas vamos ser bombardeados com dados estatísticos sobre o sucesso desta manifestação de força dos trabalhadores e poderemos assistir ao regozijo dos líderes sindicais pela resposta enviada aos órgãos do poder. Mas o mais certo é que a seguir aos "foguetes" venha a desilusão, a impotência e a vontade de pegar na trouxa e zarpar.
Vontade já eu tenho há muito tempo. Como, quando e para onde é que não sei...
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Gastronomias III
Longe vai o tempo em que Monção era um destino gastronómico por excelência, semelhante ao que ocorre nos dias de hoje com Ponte de Lima onde o seu "arroz de sarrabulho", "rojões" e outros acepipes fazem afluir àquela pitoresca Vila do Alto Minho inúmeros forasteiros.
Tendo o turismo gastronómico um importante papel a desempenhar na economia regional, especialmente quando escasseia o investimento noutros sectores, o que vem referido num artigo de Francisco Seixas da Costa no seu blog "ponto e come" sob o título "Restaurantes do Minho" não é apenas triste como deveria servir para uma reflexão profunda dos agentes económicos ligados a essa actividade.
E mesmo tratando-se de uma mera "lista pessoal" não deixará de ser motivo de preocupação. É que passar por Monção sem destacar um, um só, estabelecimento de restauração no meio de tantos que por aí existem é, no mínimo, confrangedor.
Eu ainda acredito que poderá haver algumas excepções no meio de tanta vulgaridade onde começa a pontuar o "fast food" e outras formas alienígenas de cozinhar. Mas o que faz falta mesmo é retomar a tradição, ir à procura das receitas antigas e reinventá-las de acordo com as exigências actuais em que já não basta o prato a transbordar...
Tendo o turismo gastronómico um importante papel a desempenhar na economia regional, especialmente quando escasseia o investimento noutros sectores, o que vem referido num artigo de Francisco Seixas da Costa no seu blog "ponto e come" sob o título "Restaurantes do Minho" não é apenas triste como deveria servir para uma reflexão profunda dos agentes económicos ligados a essa actividade.
E mesmo tratando-se de uma mera "lista pessoal" não deixará de ser motivo de preocupação. É que passar por Monção sem destacar um, um só, estabelecimento de restauração no meio de tantos que por aí existem é, no mínimo, confrangedor.
Eu ainda acredito que poderá haver algumas excepções no meio de tanta vulgaridade onde começa a pontuar o "fast food" e outras formas alienígenas de cozinhar. Mas o que faz falta mesmo é retomar a tradição, ir à procura das receitas antigas e reinventá-las de acordo com as exigências actuais em que já não basta o prato a transbordar...
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Voz da Nossa Terra
Recebi há algum tempo o meu primeiro número da
nova versão da folhinha “Voz da Nossa
Terra” e fiquei surpreendido, não com o tamanho, que sempre foi pequeno, mas
com o conteúdo que o torna bem grande. Surpreendido ainda pela diversidade,
actualidade e pertinência dos temas apresentados. De facto, Riba de Mouro é uma
freguesia grande e uma grande terra, fornecendo inúmeros motivos para dar a
conhecer, principalmente aos que aqui nasceram e se encontram espalhados pelos
quatro cantos do mundo.
A população ribamourense é capaz
de grandes empreendimentos embora, numa perspectiva meramente pessoal, me
pareça que, enquanto comunidade civil, nunca manifestou uma forte consciência
colectiva. Porém, em torno da Igreja as coisas são muito diferentes, gerando-se
até uma sã rivalidade entre os diversos lugares para ver quem é capaz de fazer
melhor.
Já assim foi com a construção da
torre e da igreja paroquial, obras, à data, “megalómanas” mas que hoje são um
dos principais motivos de orgulho da nossa terra e, pelo que me tenho
apercebido, continua a ser agora com as obras que estão a decorrer em torno do salão
e residência paroquial.
Não faço a mínima ideia do que
está ali a nascer. Disseram-me que será uma casa mortuária, uma estrutura certamente
necessária, se bem que, em meu entender, deveria ser o órgão autárquico a
desenvolver e financiar todo o processo.
Mas se há algo de que a freguesia
carece urgentemente é de uma estrutura de apoio à terceira idade. A população
residente tende a ficar envelhecida e, nesta área, são instituições sediadas
noutras freguesias que dão cobertura à satisfação das necessidades básicas
daqueles que vão perdendo autonomia.
Não terá de ser a Igreja,
necessariamente, a colmatar esta lacuna. Mas em muitas outras localidades é em
torno da mesma que se têm criado essas estruturas, apoiadas pela Segurança
Social e com bons resultados.
De acordo com os resultados
preliminares dos Censos 2011, Riba de Mouro foi, no conjunto das freguesias do
concelho, daquelas que mais população perdeu nos últimos dez anos. As causas
são bem conhecidas: interioridade, emigração, perda de estruturas essenciais
(escolas, posto de saúde, etc.)…
Se “perderem” também os idosos
será mais que certo que o fenómeno demográfico agora verificado não só será
irreversível como tenderá a agravar-se ainda mais.
NOTA: Para quem não sabe, a folhinha "Voz da Nossa Terra" começou por
ser um jornalzito paroquial, criado, redigido e editado durante muitos
anos pelo saudoso Padre Manuel António Bernardo Pintor e extinguindo-se ainda em sua vida, quando a idade não lhe permitiu mais continuar a sua edição. Foi um importante meio de divulgação de notícias da freguesia e elo de ligação entre a comunidade ribamourense espalhada pelo mundo. Estão de parabéns todos os que contribuíram para o reactivar e se esforçam por manter vivo.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
O Bode Expiatório
Em sentido figurado, um "bode expiatório" é alguém que é escolhido arbitrariamente para levar (sozinho) a culpa de uma calamidade, crime ou qualquer evento negativo (que geralmente não tenha cometido)...
Mal refeito da catadupa de medidas de austeridade anunciadas ontem à noite pelo "nosso primeiro" (é o mínimo que posso fazer para não ser injusto com o seu antecessor), estou a tentar perceber até onde nos levará este torniquete que estrangula a classe média e abre portas a uma sociedade terceiromundista com alguns senhores de tudo e muitos possuidores de coisa nenhuma.
Transpondo a velha alegoria para a vida real, constatamos facilmente que o "bode expiatorio" existe e são os trabalhadores da administração pública.
Eles são TODOS os males da economia nacional, eles são aqueles que nada produzem e também são quem contribui, com os seus salários, para a obtenção de oitenta por cento das receitas que servirão para tapar os buracos do orçamento para o ano que vem e compensar os desvios que decorrem da execução orçamental do corrente ano. Isto para já, porque para 2013 poderá ser assim e algo mais e depois, provavelmente, só haverá emprego na comissão liquidatária...
E para quem diz, relativamente à liderança do Governo, que é tudo "farinha do mesmo saco", que também este é mentiroso e tudo mais eu digo que não... Pedro Passos Coelho mostrou-se visivelmente constrangido pelo anúncio destas medidas, obrigado a ir contra o seu programa de governo que já não augurava nada de bom mas muito diferente da realidade.
A governar com um orçamento que não foi o deste executivo e tomando posse numa situação em que alguns ministérios já não dispunham de verbas para pagar os salários dos funcionários não seria possível fazer muito melhor.
Mas há uma coisa que espanta quem, com seráfica resignação, aceita este esforço: onde estão as medidas de emagrecimento das "gorduras" do Estado?
Eu não ousaria recorrer a um chavão que percorre as redes sociais em que se preconiza que aqueles que exercem cargos políticos aufiram o salário mínimo. Mas há, seguramente, muito desperdício, mordomias e mesmo salários incomportáveis na actual conjuntura. Alguns cortes no statu quo, mesmo não resultando daí grandes resultados, sempre serviriam para suavizar o impacto da "bordoada"...
Mal refeito da catadupa de medidas de austeridade anunciadas ontem à noite pelo "nosso primeiro" (é o mínimo que posso fazer para não ser injusto com o seu antecessor), estou a tentar perceber até onde nos levará este torniquete que estrangula a classe média e abre portas a uma sociedade terceiromundista com alguns senhores de tudo e muitos possuidores de coisa nenhuma.
Transpondo a velha alegoria para a vida real, constatamos facilmente que o "bode expiatorio" existe e são os trabalhadores da administração pública.
Eles são TODOS os males da economia nacional, eles são aqueles que nada produzem e também são quem contribui, com os seus salários, para a obtenção de oitenta por cento das receitas que servirão para tapar os buracos do orçamento para o ano que vem e compensar os desvios que decorrem da execução orçamental do corrente ano. Isto para já, porque para 2013 poderá ser assim e algo mais e depois, provavelmente, só haverá emprego na comissão liquidatária...
E para quem diz, relativamente à liderança do Governo, que é tudo "farinha do mesmo saco", que também este é mentiroso e tudo mais eu digo que não... Pedro Passos Coelho mostrou-se visivelmente constrangido pelo anúncio destas medidas, obrigado a ir contra o seu programa de governo que já não augurava nada de bom mas muito diferente da realidade.
A governar com um orçamento que não foi o deste executivo e tomando posse numa situação em que alguns ministérios já não dispunham de verbas para pagar os salários dos funcionários não seria possível fazer muito melhor.
Mas há uma coisa que espanta quem, com seráfica resignação, aceita este esforço: onde estão as medidas de emagrecimento das "gorduras" do Estado?
Eu não ousaria recorrer a um chavão que percorre as redes sociais em que se preconiza que aqueles que exercem cargos políticos aufiram o salário mínimo. Mas há, seguramente, muito desperdício, mordomias e mesmo salários incomportáveis na actual conjuntura. Alguns cortes no statu quo, mesmo não resultando daí grandes resultados, sempre serviriam para suavizar o impacto da "bordoada"...
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Alvarinho
O vinho "alvarinho" é de Monção.
Até podem vir cá dizer que já não é, que agora também é de Melgaço e tal...
Não tenho nada a ver com isso, até porque apenas sou consumidor ocasional e estou à vontade para dizer o que me der na gana.
Conforme é de Melgaço também se pode dizer que é de Valença, ou de Vila Nova de Cerveira, ou da Galiza, que também por lá o há, ou de Penafiel que a Sociedade Agrícola e Comercial Quinta da Aveleda também produz e comercializa vinhos dessa casta.
O que me leva a alinhavar estes considerandos é que, sendo o vinho da casta alvarinho um produto sub-regional, de superior qualidade e de produção muito limitada, deveria demarcar-se dos seus congéneres não só na fama mas também nos preços. Acontece que a caça desenfreada à "galinha dos ovos de ouro" acabará por matá-la ou então passará a ser uma galinha vulgar que apenas porá ovos normais. Eu explico.
Como é fácil de constatar, aparecem vinhos da casta alvarinho em todas as grandes, médias e pequenas superfícies comerciais, das mais diversas marcas, sendo que a origem (ainda) é a sub-região de Monção e Melgaço, a preços que eu considero perfeitamente banais e que oscilam entre os três e os seis euros a garrafa. Bem vistas as coisas, são preços comuns e situam-se na média dos vinhos expostos nas prateleiras da generalidade dos estabelecimentos comerciais. Esta "vulgaridade" surgiu com a explosão de novas plantações e novos produtores e engarrafadores, associada à introdução de novas técnicas de produção e ao apuramento da casta que a tornou muito mais produtiva do que a ancestral videira que produzia minúsculos cachos com pequenos e raros bagos, como se pode observar nas poucas explorações que ainda não sofreram transformação.
Será esta a política mais acertada? Haverá muitos argumentos a favor e ando eu, que de vinhos pouco ou nada entendo, a correr o risco de ficar isolado contra o resto do mundo a defender o que não tem defesa...
Não? E se vos disser que aqui bem perto há uma quinta que produz e comercializa a sua própria marca a preços cinco vezes superior ao valor mais baixo de que vos falei mais acima?
Pois é verdade. O alvarinho Quinta da Brejoeira é, realmente, um produto excepcional que se revela no preço e no copo. E, pelo que me consta, mesmo sem concorrer a feiras ou concursos, os estoques esgotam-se com facilidade.
Esta é que deveria ser, em meu entender, a via a seguir.
O que me leva a alinhavar estes considerandos é que, sendo o vinho da casta alvarinho um produto sub-regional, de superior qualidade e de produção muito limitada, deveria demarcar-se dos seus congéneres não só na fama mas também nos preços. Acontece que a caça desenfreada à "galinha dos ovos de ouro" acabará por matá-la ou então passará a ser uma galinha vulgar que apenas porá ovos normais. Eu explico.
Como é fácil de constatar, aparecem vinhos da casta alvarinho em todas as grandes, médias e pequenas superfícies comerciais, das mais diversas marcas, sendo que a origem (ainda) é a sub-região de Monção e Melgaço, a preços que eu considero perfeitamente banais e que oscilam entre os três e os seis euros a garrafa. Bem vistas as coisas, são preços comuns e situam-se na média dos vinhos expostos nas prateleiras da generalidade dos estabelecimentos comerciais. Esta "vulgaridade" surgiu com a explosão de novas plantações e novos produtores e engarrafadores, associada à introdução de novas técnicas de produção e ao apuramento da casta que a tornou muito mais produtiva do que a ancestral videira que produzia minúsculos cachos com pequenos e raros bagos, como se pode observar nas poucas explorações que ainda não sofreram transformação.
Será esta a política mais acertada? Haverá muitos argumentos a favor e ando eu, que de vinhos pouco ou nada entendo, a correr o risco de ficar isolado contra o resto do mundo a defender o que não tem defesa...
Não? E se vos disser que aqui bem perto há uma quinta que produz e comercializa a sua própria marca a preços cinco vezes superior ao valor mais baixo de que vos falei mais acima?
Pois é verdade. O alvarinho Quinta da Brejoeira é, realmente, um produto excepcional que se revela no preço e no copo. E, pelo que me consta, mesmo sem concorrer a feiras ou concursos, os estoques esgotam-se com facilidade.
Esta é que deveria ser, em meu entender, a via a seguir.
segunda-feira, 18 de julho de 2011
Uma pequena homenagem...
Soube-o há algumas semanas e fiquei triste, não tanto por ter convivido muito com ele mas principalmente pela relevância com que o cruzamento das nossas vidas acabou por marcar a minha carreira profissional: José Ferreira da Silva, o Zé Silva, faleceu.
Conheci-o na antiga 1.ª Companhia do Batalhão n.º 1 da Guarda Nacional Republicana, sediada na Calçada da Estrela em Lisboa, lá por meados do ano de 1977, na minha primeira colocação profissional após conclusão da formação inicial. Ele já lá estava e só o encontrei ali por causa de um acto ingénuo, da parte dele, mas que lhe atrasou a transferência para o norte por uns meses.
O episódio conta-se em poucas palavras.
Como todos os nortenhos (era de Valença do Minho), o Zé Silva aspirava desempenhar as suas funções o mais próximo possível da origem. E "desabafou" esse seu desejo com um amigo, deputado do Partido Socialista pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo. O amigo deputado, querendo "mostrar serviço", logo se prestou para resolver o problema do Zé e, vai daí, meteu cunha ao Secretário Geral do Partido, na altura pessoa altamente influente e capaz de resolver qualquer imbróglio e para quem a transferência do Zé seriam "favas contadas".
O amigo do amigo do Zé, Doutor Mário Soares, não esteve com meias medidas, falou directamente com o Comandante-Geral da GNR (se se pode falar directamente com deus para quê perder tempo com os santos?. O problema é que na altura desempenhava aquelas funções um General de rija têmpera, transmontano de origem e, sim, daqueles de "antes quebrar que torcer" que não gostou nada da forma como o problema foi abordado. Sem contemplações mandou instaurar um processo disciplinar ao Zé e puniu-o com uma pena de cinco dias de detenção e, acessoriamente, retardamento da transferência por seis meses após a data em que a mesma normalmente lhe coubesse. A pena fundamentou-se no facto do Zé ter recorrido a pessoas civis para obter um benefício pessoal e o General chamava-se Manuel Carlos Pereira Alves Passos de Esmeriz, mais conhecido no meio castrense por "Asa Negra" e não me perguntem porquê.
Foi, portanto, um mero acaso que me colocou na rota do Zé Silva e, apesar de coabitarmos no mesmo Quartel, nem privava muito com ele.
Aconteceu, uns meses depois de ser colocado na Estrela.
Estava eu sentado num canto do exíguo pátio interior a que se dava pomposamente o nome de Parada a cogitar acerca da minha vida quando o Zé, apercebendo-se de que estava com algum problema interior, se aproximou de mim e perguntou-me se havia algo em que me pudesse ser útil...
Falei-lhe da minha inadaptação àquele serviço, o desgaste psicológico, as minhas expectativas...
Diz-me o Zé:
-Olha lá, porque não vais para o Comando Geral? Há um convite na ordem de serviço para o Centro Clínico, lá ficas muito melhor...
-Eu sei mas o convite destina-se a recrutar elementos para exercerem funções no serviço de radiologia, exige a submissão a uma prova de conhecimentos gerais e dá preferência a quem tiver alguma prática nessa actividade e eu não percebo patavina disso - respondi eu.
-Tenta, pá... Olha que as coisas na Guarda nem sempre funcionam como nos parece... - atirou-me o Zé.
Não tendo nada a perder e tudo a ganhar, redigi uma declaração a aceitar o convite, dirigi-me à Secretaria e entreguei a folha azul de vinte e cinco linhas devidamente preenchida e assinada conforme era exigido na altura.
Passados alguns meses, já o Zé tinha rumado a norte, foi-me passada guia de marcha para o Comando Geral com destino ao Centro Clínico...
Passaram os anos e muita água passou por debaixo da ponte...
Voltei a encontrar-me com o Zé em Valença. Ele operador de transmissões no Comando da Secção, eu recém-empossado nas funções de comandante do posto. Alguns dias depois da minha chegada o Zé desceu lá de cima do posto de rádio com um papelinho na mão e entregou-mo dizendo que provavelmente teria interesse no conteúdo. Era uma mensagem a comunicar que estava aberto o concurso para concorrer ao curso de promoção a oficial do Instituto Superior Militar.
Olhei com alguma indiferença para o papelito e disse ao Zé para deixar ficar. Ia pensar no assunto. No ano anterior tinha procurado saber que possibilidades havia de me habilitar ao concurso mas as informações que recebi não eram nada animadoras. Eram poucas vagas e havia muitos candidatos mais antigos que eu (havia provas de aptidão mas a antiguidade era - parece-me que ainda é - um posto).
Não pensei muito. Se queria pular a barreira tinha de arriscar e a oportunidade estava ali. No dia seguinte o mesmo Zé enviou a resposta pela mesma via: eu era um candidato a apanhar uma das seis vagas atribuídas à GNR...
Foi assim que o Zé Silva ficou ligado para sempre ao desenvolvimento da minha vida profissional e tinha de dizer isto publicamente, já que pessoalmente nunca lho disse e acho que também não tive oportunidade para tal.
O Zé já estava retirado do serviço activo mas pouco tempo teve para gozar a reforma.
Descansa em Paz, meu amigo!
Conheci-o na antiga 1.ª Companhia do Batalhão n.º 1 da Guarda Nacional Republicana, sediada na Calçada da Estrela em Lisboa, lá por meados do ano de 1977, na minha primeira colocação profissional após conclusão da formação inicial. Ele já lá estava e só o encontrei ali por causa de um acto ingénuo, da parte dele, mas que lhe atrasou a transferência para o norte por uns meses.
O episódio conta-se em poucas palavras.
Como todos os nortenhos (era de Valença do Minho), o Zé Silva aspirava desempenhar as suas funções o mais próximo possível da origem. E "desabafou" esse seu desejo com um amigo, deputado do Partido Socialista pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo. O amigo deputado, querendo "mostrar serviço", logo se prestou para resolver o problema do Zé e, vai daí, meteu cunha ao Secretário Geral do Partido, na altura pessoa altamente influente e capaz de resolver qualquer imbróglio e para quem a transferência do Zé seriam "favas contadas".
O amigo do amigo do Zé, Doutor Mário Soares, não esteve com meias medidas, falou directamente com o Comandante-Geral da GNR (se se pode falar directamente com deus para quê perder tempo com os santos?. O problema é que na altura desempenhava aquelas funções um General de rija têmpera, transmontano de origem e, sim, daqueles de "antes quebrar que torcer" que não gostou nada da forma como o problema foi abordado. Sem contemplações mandou instaurar um processo disciplinar ao Zé e puniu-o com uma pena de cinco dias de detenção e, acessoriamente, retardamento da transferência por seis meses após a data em que a mesma normalmente lhe coubesse. A pena fundamentou-se no facto do Zé ter recorrido a pessoas civis para obter um benefício pessoal e o General chamava-se Manuel Carlos Pereira Alves Passos de Esmeriz, mais conhecido no meio castrense por "Asa Negra" e não me perguntem porquê.
Foi, portanto, um mero acaso que me colocou na rota do Zé Silva e, apesar de coabitarmos no mesmo Quartel, nem privava muito com ele.
Aconteceu, uns meses depois de ser colocado na Estrela.
Estava eu sentado num canto do exíguo pátio interior a que se dava pomposamente o nome de Parada a cogitar acerca da minha vida quando o Zé, apercebendo-se de que estava com algum problema interior, se aproximou de mim e perguntou-me se havia algo em que me pudesse ser útil...
Falei-lhe da minha inadaptação àquele serviço, o desgaste psicológico, as minhas expectativas...
Diz-me o Zé:
-Olha lá, porque não vais para o Comando Geral? Há um convite na ordem de serviço para o Centro Clínico, lá ficas muito melhor...
-Eu sei mas o convite destina-se a recrutar elementos para exercerem funções no serviço de radiologia, exige a submissão a uma prova de conhecimentos gerais e dá preferência a quem tiver alguma prática nessa actividade e eu não percebo patavina disso - respondi eu.
-Tenta, pá... Olha que as coisas na Guarda nem sempre funcionam como nos parece... - atirou-me o Zé.
Não tendo nada a perder e tudo a ganhar, redigi uma declaração a aceitar o convite, dirigi-me à Secretaria e entreguei a folha azul de vinte e cinco linhas devidamente preenchida e assinada conforme era exigido na altura.
Passados alguns meses, já o Zé tinha rumado a norte, foi-me passada guia de marcha para o Comando Geral com destino ao Centro Clínico...
Passaram os anos e muita água passou por debaixo da ponte...
Voltei a encontrar-me com o Zé em Valença. Ele operador de transmissões no Comando da Secção, eu recém-empossado nas funções de comandante do posto. Alguns dias depois da minha chegada o Zé desceu lá de cima do posto de rádio com um papelinho na mão e entregou-mo dizendo que provavelmente teria interesse no conteúdo. Era uma mensagem a comunicar que estava aberto o concurso para concorrer ao curso de promoção a oficial do Instituto Superior Militar.
Olhei com alguma indiferença para o papelito e disse ao Zé para deixar ficar. Ia pensar no assunto. No ano anterior tinha procurado saber que possibilidades havia de me habilitar ao concurso mas as informações que recebi não eram nada animadoras. Eram poucas vagas e havia muitos candidatos mais antigos que eu (havia provas de aptidão mas a antiguidade era - parece-me que ainda é - um posto).
Não pensei muito. Se queria pular a barreira tinha de arriscar e a oportunidade estava ali. No dia seguinte o mesmo Zé enviou a resposta pela mesma via: eu era um candidato a apanhar uma das seis vagas atribuídas à GNR...
Foi assim que o Zé Silva ficou ligado para sempre ao desenvolvimento da minha vida profissional e tinha de dizer isto publicamente, já que pessoalmente nunca lho disse e acho que também não tive oportunidade para tal.
O Zé já estava retirado do serviço activo mas pouco tempo teve para gozar a reforma.
Descansa em Paz, meu amigo!
domingo, 17 de julho de 2011
O Regresso...
E se de repente me desse uma vontade irresistível de voltar a esgaratujar por aqui umas tretas?
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