domingo, 29 de junho de 2008

Fidelidade

"... juro por minha honra que estou integrado na ordem social estabelecida pela Constituição Política de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas".

Esta era a fórmula mágica que abria as portas da administração pública e alimentava a esperança de uma vida menos agreste de muita gente. E por enquanto não há problemas porque os ingressos na função pública, além de não oferecerem uma profissão aliciante, estão em "banho maria", para não dizer congelados porque ainda há excepções. Mas se os comunistas continuarem a atazanar a vida "daquele cujo nome não se pode pronunciar" ainda há-de haver quem se lembre de a repristinar.
Abrenuntio!

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Uma Ponte para a Paz ou mais uma Passagem para a Discórdia

Foi inaugurada ontem em Jerusalém a Ponte dos Cabos, mais um belo exemplar da fabulosa obra arquitectónica de Santiago Calatrava.
Parece que custou a módica quantia de $ 65 milhões e não será, seguramente, uma obra favorável à consolidação da paz com os palestinianos. É que, como se sabe, Jerusalém continua a constituir um obstáculo ao processo de paz por ser reivindicada como capital histórica quer de Israel, quer da Palestina.
Mas ela lá está, imponente, indiferente às questões políticas que a rodeiam.
E, apesar de ser notícia em inúmeros jornais e sites estrangeiros, por cá ainda não descobri qualquer referência a este evento.
Imagens:
http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL613828-5602,00.html
http://www.farodevigo.es/

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Honras Fúnebres?

"A alegada utilização indevida de meios humanos e de veículos da PSP, durante o funeral do sogro do ex-comandante metropolitano do Porto, está a ser investigada pelo Ministério Público, que já iniciou as inquirições".
Certo. Não era polícia, não era um acto de serviço, era apenas uma expressão de solidariedade para com o chefe. E distrair homens e meios para fins que não aqueles para os quais são remunerados poderá ser crime. O Ministério Público faz bem investigar. Mas investiguem tudo. TUDO, TUDO, ouviram?

sábado, 21 de junho de 2008

A Pia

Já era do conhecimento geral que o dr. Manuel Seabra, que foi vice-presidente e presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, foi convidado e aceitou o convite para exercer as "altas" funções de Chefe de Gabinete de António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Também é do conhecimento geral que esse mesmo senhor foi um dos protagonistas do tristemente célebre “Caso da Lota” e por isso impedido pelo PS de se candidatar à presidência da Câmara de Matosinhos.
O que terá passado despercebido é que o referido senhor
vive, durante a semana, no Sheraton Lisboa Hotel & Spa, onde a pernoita mais barata custa 165 euros.E desloca-se para Matosinhos, onde reside, com o motorista da autarquia. E também o facto de, fazendo fé na mesma notícia, ali pernoitar por sua conta e pagar um precinho especial, apenas €75,00 por noite, menos de metade do que paga o comum dos mortais!!! Pelos vistos a administração do Hotel está muito magnânima...
Já o uso do motorista, e já agora, da viatura que está à sua disposição, nas deslocações de Lisboa para Matosinhos, é reconhecido que o faz apenas duas ou três vezes por mês e justificado porque perdeu o comboio.
Falta saber se essas deslocações se podem considerar integrantes das funções que se encontra a desempenhar. É que eu por bem menos já vi funcionários "sentarem o rabo no mocho", que é o mesmo que dizer, responder em Tribunal. Porquê? Porque há uma norma penal que considera crime o uso de bens públicos para proveito próprio.
Artigo 376.º
Peculato de uso

1 - O funcionário que fizer uso ou permitir que outra pessoa faça uso, para fins alheios àqueles a que se destinem, de veículos ou de outras coisas móveis de valor apreciável, públicos ou particulares, que lhe forem entregues, estiverem na sua posse ou lhe forem acessíveis em razão das suas funções, é punido com pena de prisão até 1 ano ou com pena de multa até 120 dias.
Também falta saber se, à semelhança do ministro das finanças, possui residência em Matosinhos e, em função disso, precebe o respectivo subsídio de deslocação que, como é sabido, corresponde a um valor mensal equivalente a três salários mínimos nacionais.

A Justiça aqui ao lado...

"Barrientos y su mano derecha ingresan en prisión acusados de tráfico de influencias, malversación y blanqueo."
O primeiro era o presidente da câmara, o segundo o seu chefe de gabinete, em Estepona, Málaga. Lá como cá os governos autárquicos estão eivados de vícios, sendo extenso o rol de crimes cometidos no exercício de funções públicas. A corrupção, abuso de autoridade, tráfico de influências, favorecimento pessoal e mesmo o branqueamento são os mais comuns e andam de braço dado com os titulares dos cargos públicos. As relações promíscuas estabelecem-se, quase sempre, em torno de interesses económicos poderosos: a construção civil, a gestão do espaço (PDMs), o património colectivo... Mas há uma grande diferença em relação à forma como são tratados judicialmente. É que neste jardim à beira mar plantado são muito escassos os casos judiciais instaurados e muito mais ainda os que efectivamente terminam com uma decisão punitiva.
Fica-se com a sensação que as instâncias judiciais não funcionam como se vê com frequência aqui ao lado. Ainda não há muitos dias, um manifestante que agrediu um agente policial durante a greve no sector das pescas foi julgado e condenado a vários meses de prisão menos de uma semana depois, se fosse cá teríamos caso para mais de três anos. O processo do 11M foi concluído (investigação e julgamento) em menos de dois anos (o julgamento do caso Casa Pia já dura três). E o juiz decretou prisão preventiva para um jovem que atropelou mortalmente um indivíduo, considerando que, dados os antecedentes, a sua liberdade constituía um perigo público.
Há sempre o argumento de que as leis portuguesas são muito permissivas, ou que o direito processual penal é demasiado garantístico, ou se não forem estes serão outros, tudo para justificar a inércia do funcionamento das instituições...
E assim se cria um sentimento de impunidade que chega a ser confrangedor. Veja-se a arrogância, a sobranceria, a forma despudorada como figuras públicas, que ocupam ou ocuparam cargos públicos, afrontam o sistema judicial.
E atente-se no que escreveu aqui um conhecido advogado. E também nos comentários...
Se nada for feito em relação a isto será caso para gritar: ÀS ARRRRRRRMAS!!!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

O Bloqueio

"A Procuradoria Distrital de Lisboa quer investigar todos os crimes que ocorreram durante as manifestações de camionistas dos últimos dias".
Toda a gente percebeu que o Estado de Direito tremeu. E de nada serve especular sobre as possibilidades de incriminação penal dos responsáveis. Poderíamos aqui enumerar uma série de atropelos à lei, a começar pela lei fundamental, a CRP de 1976 com os retoques que sofreu ao longo dos 32 anos de vigência, tendo em conta as acções e omissões relatadas em directo pelas televisões, mas deixamos isso para as instâncias próprias.
O que me causa alguma estupefacção é que parece que o poder executivo só agora se apercebeu que a economia portuguesa anda sobre rodas.
Se isto ocorreu apenas com a paralização dos transportadores de mercadorias, o que não seria se simultaneamente houvesse greve e acções de protesto dos pescadores, dos taxistas, dos agricultores, dos trabalhadores da administração pública, enfim, uma generalização da contestação contra o aumento brutal dos combustíveis...
Será este um cenário assim tão irreal?

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Monção em Imagens - II

Porta de Salvaterra (outra perspectiva)

Toponímia (entrando pela Porta de Salvaterra, à esquerda)

Enquadramento paisagístico da Deuladeu

Muralha e Alameda dos Néris , o Rio Minho e a Galiza, à esquerda
Deuladeu de Cutileiro (pormenores da outra face)

Todas as fotografias são propriedade do autor.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Monção em Imagens

Os nossos mortos na Guerra do Ultramar


A Galiza mailo Minho - João Verde



Deuladeu de Cutileiro



Outra perspectiva de Deuladeu de Cutileiro


Legenda alusiva à Deuladeu de Cutileiro

Porta de Salvaterra


Todas as fotografias são propriedade do autor.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Prece

Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem - ou desgraça ou ânsia -,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância -
Do mar ou outra, mas que seja nossa!

A minha pequena homenagem a Fernando Pessoa, no 120.º aniversário do seu nascimento.
In Mensagem, Planeta de Agostini, Lisboa, 2006




Imagem: http://amrrm.blogs.sapo.pt/arquivo/Prece.jpg

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Do Rio Tua ao Rio Pinhão - A Senhora Guarda

Estava quase a atingir a reforma e era um Guarda a denotar cansaço das patrulhas, da farda e de muitos anos de constante stresse, diligente o suficiente mas não extremamente dedicado. Era visível a "erosão" do tempo mas mesmo assim não regateava uma ordem nem se eximia às responsabilidades.
Naquele dia era o único elemento disponível para exercer a função de motorista numa das minhas frequentes rondas pelas povoações e, mesmo sabendo da sua limitada aptidão para aquela tarefa, lá tive de o incumbir daquela missão.
Assim iniciamos um périplo por diversas aldeias: Granja, Favaios, Sanfins do Douro, Cheires...
E foi aqui que a coisa "azedou"...
Àquela hora do dia a simpática aldeia, onde se produz o melhor vinho generoso do mundo, estava deserta. Descemos pela rua que atravessa a localidade, em plena urbe descrevemos uma curva à esquerda, um desvio à direita e eis-nos no adro da pequena capela. À direita fica o Quartel dos Bombeiros Voluntários, à porta do qual se encontrava um jovem, talvez de plantão, certamente um pouco aborrecido por não ter nada para fazer.
O velho Guarda entra no largo da capela e descreve um semi-círculo para inverter a marcha. Como o espaço não permitia efectuar a manobra de uma só vez, teve necessidade de engrenar a marcha "à ré" e recuar um pouco. Só que a manobra não saiu bem e o motor "foi-se abaixo". No silêncio absoluto ouviu-se nitidamente a voz do jovem Voluntário: Nabo!
Sem perder a compostura, lentamente, como era seu apanágio, o condutor colocou o motor em acção, terminou a manobra e reiniciou a marcha em sentido inverso. Ao passar novamente em frente ao Quartel dos Bombeiros onde o jovem voluntário permanecia como se nada se tivesse passado, o veterano condutor parou e chamou-o: - Óhhh, venha cá faz favor...
Nitidamente preocupado, o jovem aproximou-se e o Guarda interpelou-o com cara de poucos amigos: - O que foi que você disse há bocadinho?
A resposta foi espontânea e pronta: - Eu disse que vinha aqui a senhora guarda!

terça-feira, 3 de junho de 2008

Crise...

"...Portugal já estava mal, muito mal, antes deste terceiro choque do petróleo. Há praticamente oito anos que Portugal vem perdendo, em termos absolutos e relativos. A verdade é que a “nossa” crise é em geral muito superior à dos parceiros europeus. Quer isto dizer que somos os principais culpados. Desperdiçámos anos, recursos e oportunidades. Perdemos com a ditadura e a guerra. Perdemos com a revolução e a contra-revolução. Perdemos também com três décadas de facilidade e demagogia. Assim chegámos ao ponto de perceber que ninguém virá em nosso socorro, que não há mais soluções fáceis e que, de fora, não virá mão redentora. Só de nós próprios virá qualquer remédio. E isto não significa orgulho, nem raça. Muito menos talento ou história. Significa tão simplesmente estudo, persistência e organização. E, sobretudo, trabalho".
António Barreto tem razão, a solução é simples, trabalho. O pior é que os factores que determinam a subida imparável dos produtos petrolíferos e, consequentemente, tudo que tem a ver com a vida das pessoas são comandados externamente e de nada serve clamar pela baixa dos impostos ou por preços especiais para isto ou para aquilo. Alguém terá de pagar a crise e, como sempre, esse alguém tem rosto e tem nome - P O V O .

Foto: http://catedral.weblog.com.pt/arquivo/pescador-2.jpg

domingo, 1 de junho de 2008

Arraianos - Do Castro Laboreiro ao Castro Laboreiro

O dia 6 de agosto erguinme moi cedo para facer a romeria da Nosa Señora da Peneda, camiñando a través das poulas, das gramas, da gándaras; polos cotos onde pacen, ceibes,as vacas piscas. Ía eu na compaña dos meus pais e mais duns cantos da mina aldea de Casardeita, incluído o abade, aos que, axiña, se xuntaron outros camiñantes de Leirado que levaban a mesma rota. Estabamos moi ledos todos nós. Eu gozaba aquelas vacacións escolares coma nunca gozara outras. Chegados ao santuario, após de longas horas de duro andar, instalámonos nunhas leiriñas de aló para pasarmos o día e sentirlles cantar o vira ás voces delgadas da raia, que parece que se che espetan na alma. A mamai fora ás misas e o papai presentoume dous señores. Un era baixote, de barbicha arroxada, carecas, que vestía uniforme e resultou ser o Capitán Costa Beirão, da escuadra da Garda Fiscal de Melgaço. O outro, máis mozo, ollos claros e prominentes, alto e de bigode raro, chamábase João de Sousa Mendes; foime fulminantemente simpático e puxémonos a ligar unha improvisada conversa sobre o saudosismo. Desempeñaba, este segundo señor, as funcións de profesor de Primaria en Castro Laboreiro. Pois ben, cando Sousa Mendes se inclinaba para deixar no riacho a folla de bacallau de mollo para o xantar, mentres asobiaba ledamente a Marcha Turca de Mozart, foi agredido por un animal enorme. Un can negro coma o demo que o trabou na gorxa e o deixou morto instantáneo sen que ningún dos presentes fose capaz de lle facer separar as queixadas. Só se detivo o bruto, que era da raza enxebre daquelas serras, cando o Capitán o abateu a tiros da sua arma regulamentar. Pouco antes do ataque e de tan terríbel morte, o infortunado Profesor, ledamente sorprendido polas miñas afeccións literarias, tan excepcionais ou escasas nos países da raia, entregárame, cun sorriso tímido que lle suliñaba a pouca espesura do bigote, un manuscrito narrativo intitulado O castelo das poulas, que tirou ao efecto dun peto do seu casaco. Comprobei, na altura, que o Profesor ía moi perfumado. Tales papeis son os que reproducín anteriormente de modo literal, aínda que lixeiramente modificado
o texto pola transcripción galega. Con todo, conservo, malenconicamente, o orixinal en portugués por se algún esprito cursidoso quixese contrastar. Escuso decer que o luctuoso feito diu moito que falar no estraño triángulo cuxos vértices se sitúan en Celanova, Montalegre e os Arcos de Valdevez.
http://www.arraianos.com/Arraianos%20n1%208-2004%20Web.pdf

Dia Mundial da Criança

Sorria mais, criança, pra não sofrer
...
Espalhe amor por onde for
Quem sabe amar destrói a dor
Seja todo seu viver
Um mundo cheio de prazer.

Imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja6U_Dala1Jxxo1xCUZ0T1xWeeVlGvaLJtN_Wb_hXWudexoHXy-fgR5kMXFzHnyae_2ird5WvxcADOja8_oBlmkkEZU404zTC-GXDApds0L6p-F1_g_SEQF6NxGsN9wK50eFjTKw/s1600-h/sorriso.jpg
Texto:
http://vagalume.uol.com.ar/beth-carvalho/sorriso-de-crianca.html

sábado, 31 de maio de 2008

Riba de Mouro, Monção - A Nossa Terra



Uma palavra: - SAUDADE

Ares do Minho - A Meritíssima

Naquele tempo só havia uma ligação rodoferroviária en todo o curso internacional do rio Minho. Era a velha ponte de Valença, da autoria do arquitecto espanhol Pelaio Mancebo e inaugurada em 1886, ainda hoje a única que permite o tráfego ferroviário.
Foi, certamente, uma infraestrutura imponente e mais que suficiente para suportar o trânsito rodoviário enquanto a urbe se manteve dentro dos limites da fortaleza mas, com a expansão urbana e o incremento e flexibilidade das trocas comerciais entre os dois lados da fronteira, foi-se transformando numa espécie de funil que gerava filas imensas de automóveis e o desespero de muitos automobilistas, da população local e dos agentes ordenadores do trânsito. Era, na gíria policial, o que se poderia designar por "calcanhar de Aquiles" de uma localidade com reduzidos índices de criminalidade.
Além disso, um dos eventos que mais preocupações causava às forças da ordem era a feira semanal. Localizada ao lado da magnífica fortaleza e junto à estrada que conduzia à fronteira, implicava o empenhamento de todo e efectivo, e mais que houvesse, num frenesim constante para impedir o bloqueio do trânsito e do acesso às propriedades, actividade que começava às primeiras horas do alvorecer e só terminava pela noite dentro.
Num desses dias, perto do meio dia, o telefone do Posto retiniu. Era um pedido para acorrer a um acidente de viação num recôndito lugar, algures entre S. Pedro da Torre e Fontoura, na Estrada Municipal 512.
Não estava muito ocupado, estava tudo a correr bem, decidi ser eu próprio a intervir naquele caso pois o restante pessoal esfalfava-se havia muitas horas no policiamento da feira. Depois de me certificar que dispunha de tudo que era necessário (bloco de apontamentos, fita métrica e esferográfica) desloquei-me para o lugar de Devesas, se a memória me não atraiçoa.
Não foi difícil dar com o acidente. Os intervenientes estavam no local, não ocorreram danos físicos significativos e a descrição também não apresentava grande complexidade. Resumidamente, uma senhora conduzia o seu automóvel, entrou no pequeno pequeno aglomerado de casas, descreveu uma curva ligeira para a direita e deste mesmo lado, por uma rua que entroncava naquela estrada, surgiu o carteiro no seu motociclo. A colisão foi inevitável e a senhora embateu com a parte da frente do lado direito na parte anterior do lado esquerdo do motociclo cujo condutor, na queda, ainda sofreu umas ligeiras escoriações.
Após observar as posições dos veículos intervenientes comecei por elaborar o croquis. É, normalmente, a primeira coisa que se faz porquanto após esse registo é possível desobstruir a via e continuar a recolha dos restantes elementos. Ao mesmo tempo que fazia medições e tomava apontamentos verifiquei que um risonho e simpático casal de mediana idade não perdia patavina do que eu fazia. Senti até uma certa vaidade, deviam estar encantados com o meu desembaraço, as ordens ao meu acompanhante, a fita métrica em bolandas, as triangulações, os rabiscos no papel, tudo aquilo resultaria para o casal, certamente, algo complexo e importante...
Terminado o esboço foi a vez de proceder à recolha dos elementos identificativos dos veículos e dos respectivos condutores, uma tarefa que requeria muita atenção para não falhar nenhum item e andar depois a correr atrás das pessoas, mas que eu já tinha memorizada, tantas as vezes em que tinha sido chamado a intervir em situações daquelas. Comecei pela senhora, ainda jovem, a quem solicitei os documentos do veículo e da própria.
Enquanto escrevia a senhora ia-me relatando como tudo se tinha passado e concluiu que a culpa seria do motociclista porque ela circulava na estrada principal e ele não.
Levantei a cabeça, observei uma vez mais o local a ver se algo me escapava e, serenamente, expliquei à condutora que não era meu dever pronunciar-me sobre a culpa pelo acidente mas que, perante as circunstâncias, não seria assim tão linear, que a regra geral era ceder a prioridade a quem se apresentasse pela direita, que a rua à sua direita era uma via pública aberta ao trânsito e no entroncamento não sofria quaisquer constrangimentos, bla... bla... bla... e a conversa ficou por ali.
A tarefa estava quase concluída mas faltava um elemento importante que não se encontra, normalmente, nos documentos de identificação apesar do nosso BI ter quase a amplitude de um estádio de futebol, a profissão. A esta questão a senhora respondeu - Juiz.
Este dado, conjugado com o facto posteriormente constatado de que o simpático casal de meia idade, que não tinha parado de me seguir todos os movimentos com um sorriso parecido com o da Mona Lisa, eram os pais da Meritíssima condutora, foi fundamental para desvendar o enigma: Eles não estavam de modo algum admirados com a minha frenética actividade, estavam era a dizer para eles mesmos: - Não faças as coisas direitinhas que vais ver o que te acontece...


Foto:
http://www.cp.pt/StaticFiles/Imagens/Fotografias/Aficionados/os%20CF/150_anos/7_1886.gif
Outras fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Cronologia_do_Caminho-de-ferro_em_Portugal http://www.euromilhoes.com/forum/showthread.php?t=8110&page=3

Retalhos

Trabalho e lazer, cada qual no seu tempo. Serviço é serviço, o resto já sabem...
El pasado mes de marzo, un empleado del Centro Espacial Johnson de la NASA fue sancionado con una suspensión de empleo y sueldo de 180 días, por haber utilizado el ordenador y la conexión a Internet de su puesto de trabajo para otros fines muy distintos a los que persigue la agencia espacial norteamericana.
Se a moda pega...

Ali ao lado as coisas são como são, sem metáforas nem camuflagens.
El elevado precio de la energía en los mercados internacionales ha situado la tasa de inflación armonizada de mayo en el 4,7%, la más alta desde hace once años, en 1997.
Por cá continuamos na mesma, como a lesma. Os governantes continuam a ver um país de sucesso e a prova disso são as inaugurações de 50 metros do "Andante" em Gaia, 150 (+ ou -) metros de autoestrada ali para os lados da Figueira da Foz e agora as unidades fabris daquele senhor sueco em Paços de Ferreira que promete mobiliário de grande qualidade a preço de pobre mas para o qual temos de contribuir com cerca de 50% de mão de obra, além dos transportes. Por avaliar ficou o impacto futuro na principal indústria local...
E não deixou de ser engraçado ver o nosso Primeiro a dar ao... serrote (*_*)!

A Terra gira ao contrário...



... e os rios nascem no mar!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Em Risco

"Portugal é um dos países da Europa mais desenvolvida com maiores riscos de exclusão financeira de pessoas em situação de pobreza ou exclusão Social".
São dados de 2003, dirá o nosso Primeiro, se for confrontado com este cenário, portanto, a culpa é dos outros. Com o choque tecnológico e as medidas de carácter social e reformistas entretanto desencadeadas a situação actual é, certamente, muito mais confortável...
Para alguns, direi eu, e julgo não me enganar muito.

domingo, 25 de maio de 2008

Do Rio Tua ao Rio Pinhão - Conselho Oportuno

As lágrimas brotaram espontâneas, grossas e escorreram céleres pela face esquálida e envergonhada do velho Professor.
Tinha exercido durante muitos anos a nobre profissão do Magistério Primário, ao mesmo tempo que administrava a Quinta situada nas arribas do Rio Pinhão, entre Soutelinho e Cheires, um local inóspito e agreste mas que produzia mostos do melhor que há em toda a Região Demarcada do Douro, além de outros subprodutos regionais de excelente qualidade, designadamente o azeite, as laranjas, as cerejas e os figos.
Porém, o decurso inexorável do tempo provocou os seus efeitos e com uma reforma que lhe permitia viver decentemente e os rendimentos da Quinta não tinha necessidade de arcar com toda a responsabilidade pelos trabalhos agrícolas. Assim, tratou de procurar alguém de confiança que o libertasse dessa árdua tarefa e foi-lhe recomendado um jovem, vizinho de Sabrosa. Era trabalhador, honesto, conhecia bem as actividades a desenvolver, tinha casado havia pouco tempo e estava disponível para começar a vida. Com estas referências não hesitou em contratá-lo como caseiro.
Mas o rapaz possuía aquilo tudo e muito mais. Com o decorrer do tempo o patrão ia reparando que o vinho tratado se "evaporava" nas pipas, o nível de azeite das talhas abaixava misteriosamente e até nas contas das jornadas laborais apareciam salários de jornaleiros que nunca lá tinham andado, horas que o proprietário sabia não terem sido cumpridas.
Nestas circunstâncias, o Professor decidiu denunciar o contrato de trabalho com o caseiro e deu-lhe ordem para abandonar a Quinta. Só que o jovem caseiro sabia dos seus direitos e confrontou-o com a impossibilidade de despedimento sem ser devidamente indemnizado, recusou-se a deixar a casa que habitava na Quinta e continuou a laborar como se nada se tivesse passado. O proprietário resignou-se perante aquela resistência mas passou a ser ele a contratar os jornaleiros e a controlar os trabalhos, além de exercer uma maior vigilância aos produtos armazenados.
Só que o jovem caseiro não se acomodou e começou a ameaçar o ancião que, sem forças para se opor ao miúdo com sucesso num eventual confronto físico, passou a andar pela Quinta munido de uma espingarda caçadeira, o que levou o empregado a formalizar, no Posto da GNR, uma queixa criminal por ameaças à integridade física.
Foi neste contexto que o Professor foi convocado para ser ouvido no Inquérito como arguido e, ao ser confrontado com o motivo da chamada ao Posto, me narrou, sinceramente angustiado e desolado, todo a enredo por que estava a passar e me manifestou a sua impotência para resolver o problema.
Confesso que me senti mal ao ver aquele homem sério, honesto e respeitável, com um porte altivo e rígido, moldado pelos imensos anos como educador e formador de caracteres, tão fragilizado e vulnerável, não tanto pela circunstância do acto mas pela humilhação de se ver confrontado com a justiça por defender o seu património.
Aquele era o último acto do Inquérito, para o qual também tinham sido convocados e ouvidos momentos antes o queixoso e as testemunhas. Com tudo redigido e conferido, encerrei o auto.
Após a assinatura do documento continuamos a conversar sobre o mesmo assunto e no final disse para o meu interlocutor: - Olhe, Senhor Professor, uma acção de despejo vai ser morosa e difícil, e o senhor também não pode simplesmente ir à casa que o caseiro ocupa e colocá-lo no olho da rua porque além de violar o seu domicílio pode incorrer em responsabilidade criminal por despejo ilícito mas... olhe... se não teme as consequências e estiver disposto a assumir as responsabilidades que daí advierem, o que eu faria num caso semelhante era aguardar que eles estivessem fora, punha-lhes tudo na rua e trancava a casa... Mas não diga a ninguém que eu lhe disse isto porque eu nego, confidenciei-lhe meio a brincar.
Terminou o acto, acabou a conversa e o Homem lá foi à sua vida.
Decorrida cerca de uma hora o telefone soa. Um jovem caseiro, lá para os lados de Soutelinho, clamava a nossa presença porque o senhorio tinha-lhe posto as coisas na rua e encontrava-se dentro da casa munido de uma espingarda, não o deixando entrar.
Não havia forma de contornar o conflito. Os dados estavam lançados e era preciso agir. Lentamente foram reunidos os meios para intervir e deslocámo-nos para a longínqua propriedade. O Jeep não é uma viatura propriamente rápida e além disso o caminho para a Quinta não permitia a sua passagem. Tivemos que o deixar a cerca de dois quilómetros e fazer o resto do percurso a pé. Demorou muuuuuito tempo. A luz do sol começava a empalidecer e a noite aproximava-se. No trajecto pedonal cruzámo-nos com um ancião que transportava um objecto debaixo do braço parecido com o estojo de uma espingarda de caça mas não havia tempo a perder nem razão para especulações. Uma missão mais elevada nos aguardava.
Quando chegamos à Quinta o caso estava sanado. Um vizinho intermediou o conflito e acordaram em deixar permanecer os caseiros na casa até irem embora de vez no dia seguinte... - Ele saiu daqui há instantes com a espingarda, ainda se devem ter cruzado com ele pelo caminho, disse o jovem.
- Não, não encontramos ninguém... e uma vez que está tudo resolvido nada mais temos a fazer, passar bem...

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Coca e Alvarinho

Decorrem em Monção os tradicionais festejos do Corpo de Deus, a mais emblemática manifestação cultural do Concelho, sem desprimor para as grandiosas festas em honra da Virgem das Dores.
Ontem foi o dia da Coca mas parece que o secular torneio não foi levado a efeito por causa do mau tempo, ao contrário do que sucedeu em Redondela onde os deuses da chuva propiciaram condições para levar a cabo o evento, conforme se pode verificar na foto ao fundo.
Contudo, ainda a "procissão" vai no adro.
As actividades são muitas e diversificadas, sendo a Feira do Alvarinho a que atrai mais atenções pela importância que a divulgação deste ex-libris de Monção representa para a economia local.
E por falar em Alvarinho, parece que sobram preocupações por ter dado entrada na Comissão de Vitivinicultura da Região dos Vinhos Verdes uma proposta para alargamento da produção de Alvarinho a toda a Região (desta questão se faz eco aqui).
Já não chegavam as constantes "picardias" com os vizinhos de Melgaço pelo protagonismo que produtores e autoridades deste concelho têm vindo a assumir nos últimos anos...
A minha opinião é que se deve defender a qualidade e a denominação de origem do Alvarinho enquanto produto perfeitamente diferenciado do que possa ser produzido noutras regiões, o que me parece difícil.
De facto, a Galiza possui uma extensa área geográfica onde se produz o excelente "Albariño", para o qual foram canalizados fortes investimentos e desenvolvidas importantes acções de promoção nos mercados internos e externos com muito sucesso. E isso nunca incomodou os produtores do lado sul.
Também são conhecidos os problemas que se têm levantado ao consagrado vinho generoso produzido na Região Demarcada do Douro, dada a concorrência vinda de Espanha, da África do Sul e da Califórnia.
Nada me garante que os solos que produzem o afamado "loureiro" não possuem boa aptidão para produzir Alvarinho. Se assim for mais tarde ou mais cedo os produtores de Monção e Melgaço ver-se-ão a braços com a concorrência de Alvarinho de Penafiel, de Barcelos, de Fafe, de Castelo de Paiva ou de Vale de Cambra.
Mas se realmente os solos e as condições microclimáticas de Monção e Melgaço forem de tal modo particulares que se diferenciem do resto da Região dos Vinhos Verdes podem ficar descansados. As tentativas para produzir Alvarinho noutro lugar terão o mesmo sucesso que teriam os agricultores do Vale do Minho se quisessem ali produzir vinho do Porto ou os da Bairrada se quisessem aqui produzir vinho da Madeira.
Cartazes copiados de: http://www.cm-moncao.pt/principal.asp