segunda-feira, 18 de julho de 2011

Uma pequena homenagem...

Soube-o há algumas semanas e fiquei triste, não tanto por ter convivido muito com ele mas principalmente pela relevância com que o cruzamento das nossas vidas acabou por marcar a minha carreira profissional: José Ferreira da Silva, o Zé Silva, faleceu.
Conheci-o na antiga 1.ª Companhia do Batalhão n.º 1 da Guarda Nacional Republicana, sediada na Calçada da Estrela em Lisboa, lá por meados do ano de 1977, na minha primeira colocação profissional após conclusão da formação inicial. Ele já lá estava e só o encontrei ali por causa de um acto ingénuo, da parte dele, mas que lhe atrasou a transferência para o norte por uns meses.
O episódio conta-se em poucas palavras.
Como todos os nortenhos (era de Valença do Minho), o Zé Silva aspirava desempenhar as suas funções o mais próximo possível da origem. E "desabafou" esse seu desejo com um amigo, deputado do Partido Socialista pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo. O amigo deputado, querendo "mostrar serviço", logo se prestou para resolver o problema do Zé e, vai daí, meteu cunha ao Secretário Geral do Partido, na altura pessoa altamente influente e capaz de resolver qualquer imbróglio e para quem a transferência do Zé seriam "favas contadas".
O amigo do amigo do Zé, Doutor Mário Soares, não esteve com meias medidas, falou directamente com o Comandante-Geral da GNR (se se pode falar directamente com deus para quê perder tempo com os santos?. O problema é que na altura desempenhava aquelas funções um General de rija têmpera, transmontano de origem e, sim, daqueles de "antes quebrar que torcer" que não gostou nada da forma como o problema foi abordado. Sem contemplações mandou instaurar um processo disciplinar ao Zé e puniu-o com uma pena de cinco dias de detenção e, acessoriamente, retardamento da transferência por seis meses após a data em que a mesma normalmente lhe coubesse. A pena fundamentou-se no facto do Zé ter recorrido a pessoas civis para obter um benefício pessoal e o General chamava-se Manuel Carlos Pereira Alves Passos de Esmeriz, mais conhecido no meio castrense por "Asa Negra" e não me perguntem porquê.
Foi, portanto, um mero acaso que me colocou na rota do Zé Silva e, apesar de coabitarmos no mesmo Quartel, nem privava muito com ele.
Aconteceu, uns meses depois de ser colocado na Estrela.
Estava eu sentado num canto do exíguo pátio interior a que se dava pomposamente o nome de Parada a cogitar acerca da minha vida quando o Zé, apercebendo-se de que estava com algum problema interior, se aproximou de mim e perguntou-me se havia algo em que me pudesse ser útil...
Falei-lhe da minha inadaptação àquele serviço, o desgaste psicológico, as minhas expectativas...
Diz-me o Zé:
-Olha lá, porque não vais para o Comando Geral? Há um convite na ordem de serviço para o Centro Clínico, lá ficas muito melhor...
-Eu sei mas o convite destina-se a recrutar elementos para exercerem funções no serviço de radiologia, exige a submissão a uma prova de conhecimentos gerais e dá preferência a quem tiver alguma prática nessa actividade e eu não percebo patavina disso - respondi eu.
-Tenta, pá... Olha que as coisas na Guarda nem sempre funcionam como nos parece... - atirou-me o Zé.
Não tendo nada a perder e tudo a ganhar, redigi uma declaração a aceitar o convite, dirigi-me à Secretaria e entreguei a folha azul de vinte e cinco linhas devidamente preenchida e assinada conforme era exigido na altura.
Passados alguns meses, já o Zé tinha rumado a norte, foi-me passada guia de marcha para o Comando Geral com destino ao Centro Clínico...
Passaram os anos e muita água passou por debaixo da ponte...
Voltei a encontrar-me com o Zé em Valença. Ele operador de transmissões no Comando da Secção, eu recém-empossado nas funções de comandante do posto. Alguns dias depois da minha chegada o Zé desceu lá de cima do posto de rádio com um papelinho na mão e entregou-mo dizendo que provavelmente teria interesse no conteúdo. Era uma mensagem a comunicar que estava aberto o concurso para concorrer ao curso de promoção a oficial do Instituto Superior Militar.
Olhei com alguma indiferença para o papelito e disse ao Zé para deixar ficar. Ia pensar no assunto. No ano anterior tinha procurado saber que possibilidades havia de me habilitar ao concurso mas as informações que recebi não eram nada animadoras. Eram poucas vagas e havia muitos candidatos mais antigos que eu (havia provas de aptidão mas a antiguidade era - parece-me que ainda é - um posto).
Não pensei muito. Se queria pular a barreira tinha de arriscar e a oportunidade estava ali. No dia seguinte o mesmo Zé enviou a resposta pela mesma via: eu era um candidato a apanhar uma das seis vagas atribuídas à GNR...
Foi assim que o Zé Silva ficou ligado para sempre ao desenvolvimento da minha vida profissional e tinha de dizer isto publicamente, já que pessoalmente nunca lho disse e acho que também não tive oportunidade para tal.
O Zé já estava retirado do serviço activo mas pouco tempo teve para gozar a reforma.
Descansa em Paz, meu amigo!

domingo, 17 de julho de 2011

O Regresso...

E se de repente me desse uma vontade irresistível de voltar a esgaratujar por aqui umas tretas?