quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Natal 2007

Natal!
Para mim o Natal resulta algo nostálgico, longínquo, dramaticamente belo. Sem querer repetir-me sempre direi que o Natal me reporta aos tempos em que ansiava avidamente que chegasse esse dia. Era dia de festa e fazia-se a festa com o pouco que havia. O que nunca faltava era o calor mesmo sentindo o frio a penetrar nos nossos corpos por todos os lados. Calor da lareira e calor humano.
Actualmente, sentam-se comigo à mesa os fantasmas do passado. Há perdas que jamais se poderão superar, pedaços de nós que nunca poderemos recuperar. E eu já perdi muitos desses pedaços. Por isso o meu Natal se torna mais cinzento e obscuro, mesmo sob o brilho intenso de tudo que me rodeia. Por tudo isso...


Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce
Uma vida, amanhecer
Natal é sempre o fruto
Que há no ventre da Mulher.

Poema extraído de http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/ary-quandoUmHomemQuiser.html


sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Bom Natal, D. Eduardo

Parece que as coisas não estão a correr muito bem a este senhor, por terras búlgaras.
De acordo com o último e-mail publicado aqui, o périplo mundial que se propôs executar atingiu o grau de dificuldade máximo.
Segundo ele, "Estoy creo, en la casa de una banda de ladrones, y ya padecí sus costumbres, reloj de marca, rosarios, etc, a parte esa Comunidad Europea me echó los perros garroneros, pienso que no me han de alcanzar...".
E continua: "Por favor a toda la gente deciles que sigo a Turquía y que esto no es Europa Central. Esto es a todo o nada, el que la crea que me siga, y que la aguante".
Por fim lança um apelo: "Todos aquellos que tengan una persona amiga hacia donde voy, su ayuda será bien venida.Estos 300 km fueron los más difíciles del viaje".
Esteja onde estiver, D. Eduardo, desejo-lhe um Bom Natal e faço votos para que doravante as coisas voltem ao seu melhor.

Foto: http://horsecity.com/images/051705/6821_512.jpg

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Boas Festas

Outros Olhares Sobre a Justiça

PARABÉNS JUSTIÇA!
A notícia da absolvição dos arguidos do caso UGT – Fundo Social Europeu é extraordinária.
Não é a absolvição que é extraordinária é a sentença. A Justiça Portuguesa, com Juízes, Delegados do Procurador, Funcionários Judiciais, Advogados, Meirinhos, Técnicos de Luz e Som, Respectivos Sindicatos estão de parabéns porque conseguiram uma sentença! Demorou 15 anos, mas outros casos demorarão mais, ou nem se resolverão. E valeu a pena. Como cada magistrado ganha pelo menos mil contos por mês, como são no mínimo 4 por juízo (sem ofensa), dá 4 mil contos por mês, a que se pode juntar mais mil para despesas diversas. A 5 mil contos por mês (contas por baixo), durante 15 anos, a 14 meses dá 105 mil contos de custos. Como a rapaziada foi toda absolvida, foi o que pagámos, nós, os contribuintes, para manter os nossos queridos juízes, sempre tão independentes e anti funcionários a não fazerem nada (nada que tenha utilidade) entretidos durante 15 anos.
Multiplique-se o labor destes forçados às galés de beca e toga pelos processos sem fim à vista da Casa Pia, do Apito Dourado, do Furacão qualquer coisa e façam-se as contas ao que pagamos por nada!Mas eles, os magistrados da Justiça Portuguesa, parecem não darem por nada. Só não querem ser funcionários públicos. Se eu tivesse um emprego destes, também preferia ser palhaço de circo.
Carlos Matos Gomes
In http://avenidadaliberdade.org/home, 18-12-2007
Comentários para quê?
Alguém se sentiu incomodado com este caso? Mas quem teria tido a infeliz ideia de iniciar um processo criminal por causa do desvio de uns trocaditos que a CEE enviou para cá?
Lembram-se da forma como agiu a Justiça no caso de um algarvio que não liquidou oportunamente uma dívida de cerca de uma centena de euros?
E quantos "algarvios" não devem existir por aí...
Pois é, a "senhora" é cega mas não é estúpida.

Se tem que se colocar de algum lado que seja do lado dos poderosos...

A Última Fronteira

"A fronteira é o limite entre duas partes distintas, por exemplo, dois países, dois estados, dois municípios.

As fronteiras representam muito mais do que uma mera divisão e unificação dos pontos diversos. Elas determinam também a área territorial exata de um Estado, a sua base física.

As fronteiras podem ser naturais, geométricas ou arbitrárias; sendo delimitações territoriais e políticas que, através da proteção que garante aos seus estados, representa a autonomia e a soberania desses perante os outros."

http://pt.wikipedia.org/wiki/Fronteira

O significado que a fronteira representava na minha juventude era o de uma barreira intransponível, o limite para além do qual se situava o desconhecido, o estrangeiro, o inimigo... Uma barreira mais psicológica do que real, já que ao longo da raia sempre houve convivencialidade, familiaridade, interacção.

A Comunidade Económica Europeia desfez essas barreiras mas subsiste ainda uma vergonhosa fronteira que dificilmente se ultrapassará: a fronteira económica.

Se tivermos em conta que há alguns anos a Galiza era a região autonómica de Espanha mais empobrecida, se tivermos em conta que a Galiza e o Norte de Portugal se inserem na mesma região económica da União Europeia, se considerar-mos que a peseta, por ocasião da Revolução dos Cravos valia menos de metade do escudo...

...teremos alguma dificuldade em entender a crueza dos números que estão espelhados nos artigos para os quais remetem os excertos e as hiperligações que se seguem:

"El salario bruto medio se sitúa en Galicia en 1.424,6 euros al mes, un 4,3 por ciento más que hace un año"

http://www.vigometropolitano.com/news/291/ARTICLE/3090/2007-12-18.html

"...o salário base médio tem vindo a crescer de forma constante nos últimos anos, rondando os 840 euros."

http://www.agenciafinanceira.iol.pt/noticia.php?div_id=&id=878735&main_id=

São dados cruéis mas são reais e actuais. E é visível como o caminho é trilhado a velocidades diferentes, de um e do outro lado, como os investimentos se situam em unidades de produção do lado que mais cresce economicamente ou de consumo do lado que mais nos dói. A melhor prova disso está nos mercados onde diariamente nos reabastecemos do que precisamos para satisfazer as necessidades básicas, basta verificar a origem.

domingo, 16 de dezembro de 2007

O Estado da Justiça

"... quando um juiz põe um indivíduo na rua que foi apanhado por dar um tiro em outra pessoa, mas não em flagrante delito, dizem logo que a culpa é do juiz. Não senhor. A culpa é do sistema processual penal. E quem o faz não são os polícias, os magistrados, os juízes, são os senhores políticos, a Assembleia da República e o Governo. Esses é que são os verdadeiros responsáveis. Não falo só deste Governo. Falo de todos os Governos que têm permit(id)o que as coisas chegassem onde chegaram. No aspecto da ineficácia das polícias e da ineficácia do aparelho e do sistema judiciário".
Marques Vidal Correio da Manhã de 16DEZ07.
Como dizia o papagaio, "para quem não sabe voar, este senhor manda umas bocas ... " no mínimo arrojadas.
E eu subscrevo. Ele sabe do que fala porque a sua experiência como Delegado do Ministério Público, como Juiz e como Director Nacional da Polícia Judiciária conferem-lhe o conhecimento de causa suficiente e necessário para produzir tais afirmações.
Para quem desconhece, esclarecemos que os Juízes de antigamente faziam um percurso prévio pela área da investigação, nos serviços do Ministério Público. O que lhes permitia, quando alcançavam a verdadeira Magistratura, ver para além do que alcança o campo de visão dentro das quatro paredes do Tribunal.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Emigrantes - III

A Diáspora continua. Agora com novos modelos mas, pelos números oficiais, são já perto de cinco milhões os portugueses que procuram renovar a esperança de uma vida melhor por esse mundo fora.
E no entanto, nunca se falou tão pouco de emigração.
A "pedrada no charco" vem de um investigador de Centro de Estudos Geográficos que levanta um pouco do véu com que se tem pretendido ignorar este fenómeno.
Também, porquê que os governantes, sempre tão ocupados com coisas "mais importantes" se deveriam preocupar com a perda de mão de obra, agora muito mais qualificada, se não falta quem os substitua vindos do leste europeu, ou de África, ou do Brasil, e ainda por cima com grandes dividendos políticos? Sim, porque dá mais visibilidade falar de acolhimento do que de fuga, de nacionalizar em vez de exilar...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Travessia do Deserto

E Depois do Adeus
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/paulodecarvalho-eDepoisDoAdeus.html

Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.

Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder

Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci

E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...

E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós



Esta canção serviu de senha para o desencadear das acções militares que deram início à revolução de 25 de Abril de 1974. Hoje serve para enviar uma mensagem a muita gente que percebe a minha angústia por me sentir como um tolo no meio da ponte, sem saber se há-de ir para um ou para o outro lado. Só que neste caso não se trata apenas de saber para que lado ir, porque o caminho apenas tem um sentido, trata-se de saber, isso sim, quando e para onde.

Investimento

É mais uma empresa estrangeira a instalar-se no Alto Minho, conforme noticia a Lusa (http://noticias.sapo.pt/lusa/artigo/%2BFvdw7UIDzKkzH29iJ6HeA.html).
O novíssimo parque industrial de Monção tem sido um exemplo de sucesso demonstrado pela taxa de ocupação do espaço, já em fase de ampliação.
É bom para a região porque cria possibilidades de emprego, é bom para demagogos que verão nos números apresentados uma boa arma política apresentando "obra feita".
Mas a riqueza ali produzida irá para Espanha e para a Alemanha. Por cá contentamo-nos com as migalhas resultantes da exploração de uma mão de obra barata, pouco qualificada e com a flexisegurança de um trabalho precário e instável.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

El Condor Pasa


"El cóndor pasa es un obra teatral musical clasificada tradicionalmente como zarzuela, a la cual pertenece la famosa melodía homónima. La música fue compuesta por el compositor peruano Daniel Alomía Robles en 1913 (registrada legalmente en 1933) y la letra, posteriormente, por Julio de La Paz (seudónimo de Julio Baudouin). En el Perú fue declarada Patrimonio Cultural de la Nación en el año 2004."
http://www.youtube.com/watch?v=zYU2r1N8VHg&feature=related

É muito conhecida a versão imortalizada pela dupla Simon & Garfunkel (de que sou um admirador incondicional). Confesso que, embora se inferisse a sua ligação à cultura Inca, ignorava completamente a importância histórica e cultural que lhe é dedicada no Perú.

Outra vez: Amâncio Prada

Libre te Quiero


Para ouvir e sonhar...

domingo, 9 de dezembro de 2007

Maria la Portuguesa


Gosto desta música. Foi escrita e interpretada superiormente por um andaluz pouco conhecido que se apaixonou pelo fado, por Amália e pela boémia das noites lisboetas. Dedicou-a a Amália que nunca chegou a interpretá-la, ou pelo menos a gravá-la, e também, tal como o seu criador, nunca terá atingido elevados índices de popularidade. Mas conseguiu o suficiente para perdurar por muitos anos.
A letra já a publiquei neste blog, algures lá pelos fundos...

sábado, 8 de dezembro de 2007

Linguística de Cavenca – Pronúncias Dialectais

Achei interessante a temática desenvolvida pelo ilustre bloguista, Senhor Jofre de Lima Monteiro Alves, no magnífico Blog Courense Coura Magazine (http://couramagazine.blogs.sapo.pt/).

Muitos dos vocábulos ali apresentados são idênticos aos usados na minha terra mas aqui outros há que diferem de tudo que é costume ouvir-se em redor.

Isolado na encosta da serra, o povo de Cavenca desenvolveu formas de expressão próprias, algumas bem rudes, que nos faziam corar de vergonha sempre que alguém se ria da nossa “forma” de falar.

De tal modo que algumas pessoas mais bem informadas, no intuito de disfarçar a rudeza da nossa linguagem e para denotar um modo de falar mais evoluído, se referiam à freguesia Riba de Mouro dizendo Cima de Mouro

Numa tentativa de reavivar lembranças do tempo que já lá vai mas que ainda teima em resistir pontualmente, pelo menos enquanto houver resquícios de uma geração em declínio na qual me incluo, vou tentar evocar alguns dos termos usados no “meu tempo” e que se distanciam do português corrente e mais se aproximam do arcaico, especialmente pela fonética.

Àgora
Interjeição de espanto que significa não digas!
Assubir Subir, trepar;
Auga Água;
BásVais (a troca do v pelo b é uma característica do norte
sobejamente conhecida);
BeiçoLábio;
BeiçomBênção;
BendimarVindimar;
BuberBeber;
CabirtoCabrito;
CandoQuando;
CantoQuanto;
CastinheiroCastanheiro;
CoiroPreguiçoso, indolente;
CortelhoCorte pequena;
CraiboCaibro;
CricaVagina
CuidarCogitar, pensar;
EndeOnde/aonde (ende bás?/aonde vais?);
FatchinsTestículos (agradeço a lembrança ao senhor Alves Silva,
in “A Terra Minhota”, Redacções, Monção,
1 de Dezembro de 2007
);
GestaGiesta;
MunçomMonção;
HaiHá;
PamPão (em geral, todos os ditongos assumem a variante
am (cam/cão, açafram/açafrão, tcham/chão, Juam/João,
maçam/maçã) ou om (Som/são, Adom/Adão,
ladrom/ladrão, cagom/cagão, saltom/saltão,
melom/melão);
Nom/num
Não (nom, num deixes, num quero...);
ParribaPara cima;
SatcharSachar (regra geral, o ch assume a pronúncia tch);
Si
Sim;
Un-haUma (é difícil reproduzir graficamente este som, ai se é…).


:)))

sábado, 1 de dezembro de 2007

Maçãs Podres

Certamente que todos nós recordamos os tempos de infância, quando ainda não dispúnhamos de computadores e consolas de jogos, em que era muito comum, nos tempos de lazer e em grupos, desenvolver brincadeiras e jogos de perícia. Um dos temas preferidos dos rapazes era, sem dúvida, brincar aos polícias e ladrões. Como a brincar se dizem e fazem coisas sérias, este jogo desenvolvia um tema muito importante que era a eterna luta entre o Bem e o Mal em que, regra geral, o Bem acabava por vencer.
Porém, os tempos mudam e actualmente acontecem coisas muito estranhas, a avaliar pelo título da notícia em diversos jornais e meios de comunicação on-line como este que extraí de http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=886722:
Militar da GNR e ladrão de bancos
Pelos vistos, um jovem militar da Guarda Nacional Republicana exercia, sem autorização, uma outra actividade, certamente mais lucrativa do que a profissão que, voluntariamente, escolheu e pensou seguir.
Muita gente se interrogará: Como é possível?
A resposta está no cesto da fruta. Por mais rígidos que sejam os critérios de selecção, alguma das peças de fruta que seleccionamos há-de apodrecer. O pior é que, se não for logo identificada e retirada do meio da fruta sã, ela vai contaminar as restantes e acaba por ir parar tudo ao lixo.
Só que, como diz Júlia Lemgruber(*) “já se foi o tempo em que simplesmente se eliminavam as maçãs podres numa corporação. É preciso descobrir os efeitos delas na conduta e nos procedimentos policiais como um todo”.


(*)Ex-ouvidora da polícia do estado do Rio de Janeiro e coordenadora do Centro de Estudos em segurança Pública e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes, no Rio, In http://www.comunidadesegura.org/?q=pt/node/35060

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A Grande Caminhada


"Un avocat de 57 de ani, din Argentina, care a pornit într-o călătorie în jurul lumii pe cal, a ajuns joi la Drobeta Turnu Severin".
http://www.gds.ro/Eveniment/2007-11-24/Ocolul+pamantului+in+saua+unui+cal&hl=Alin%20GHICIULESCU&tip=toate

A saga continua. Mesmo sem saber bem o que está escrito dá para perceber que Eduardo Discoli continua a sua saga pelo Mundo e anda meio perdido algures pela Roménia, quem sabe se à procura do famoso Vampiro da Transilvânia.
Cuidado com o Inverno, D. Eduardo!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Democracia e Intolerância

"O governador Civil de Braga, Fernando Moniz, confirmou ontem ter enviado ao Procurador Geral da República (PGR), Pinto Monteiro, uma exposição no sentido de que fosse reapreciado o arquivamento do processo contra as pessoas que participaram numa manifestação contra o Governo, aquando de uma reunião do Conselho de Ministros, em Outubro do ano passado, em Guimarães".
http://jn.sapo.pt/2007/11/28/policia_e_tribunais/governador_civil_confirma_exposicao_.html


O Estado moderno, na divisão preconizada por Montesquieu, assenta na teoria dos três poderes e da sua separação: o Poder Legislativo, o Poder Executivo e o Poder Judicial.
Teoricamente é assim que se organiza o Estado Português.
Teoricamente também é pressuposto serem independentes.
Mas serão mesmo independentes?
Existem cada vez mais sinais de ingerências e pressões externas em cada um deles. E aqui pode estar um desses sinais.
Ainda de acordo com o mesmo artigo, "A manifestação aconteceu à porta do Centro Cultural Vila Flor. À saída do Conselho de Ministros, o primeiro-ministro, José Sócrates, foi vaiado, num momento de grande tensão, com as forças de segurança a travar o avanço dos manifestantes".
Pelos vistos não se pode vaiar o senhor primeiro-ministro, nem se pode reunir um grupo de cidadãos para o fazer. Isto sem um pré-aviso entregue na câmara municipal.
O mesmo já não acontece se for para aplaudir.
Qualquer dia o nosso primeiro ouve muitas palmas e pensa que estão a aplaudi-lo mas é o mesmo que fazem as criancinhas naqueles seus jogos infantis: o sim é não e o não é sim...

domingo, 25 de novembro de 2007

Carta Aberta ao Senhor Inspector Geral da Administração Interna

Sr. Inspector:
Em mais de trinta anos de serviço na Guarda Nacional Republicana nunca vi uma crítica tão veemente, humilhante e tão desadequada à acção das polícias como esta que V. Ex.ª desferiu na entrevista concedida ao Expresso, especialmente vinda de "dentro".
Conheço as fraquezas da organização em que estou inserido mas também reconheço tudo aquilo que V. Ex.ª omitiu e que é o que nos dá força para prosseguir: o tributo dado diariamente por milhares de agentes em prol de uma causa, amplamente reconhecido e divulgado nos órgãos de comunicação social.
Há alguns anos, Senhor Inspector, ocorreu um envenenamento de animais na via pública na zona da Lourinhã e um canal de televisão efectuou um reportagem naquela área onde entrevistou diversas pessoas anónimas, entre elas um miúdo de uns 9 ou 10 anos, a quem perguntarem o que faria se soubesse quem tinha praticado aquela barbaridade ao que o petiz respondeu: -Se soubesse quem foi informava a Guarda.
A atitude do menino revela confiança e não medo. Medo dos polícias tínhamos nós, nos anos 50 e 60 do século passado. Hoje não é assim e V. Exª sabe-o muito bem.
Então porquê generalizar?
V. Ex.ª tem responsabilidades, dirige o mais importante órgão de controlo (ex)terno da acção das polícias e não ignora a importância do papel desempenhado por aqueles que designou de "cowboys" no combate à criminalidade. Não pode ignorar que o crime organizado não se combate com rosas, nem que o problema da Guarda não é ser uma força militar, nem o facto de chamar "adversários" a quem está à margem da lei. Basta atentarmos no simples facto de eu estar a falar em combate, ou no nome de uma secção da Polícia Judiciária (Combate ao Banditismo) para percebermos que determinada linguagem belicista nada tem de errado mas se adequa àquilo que queremos exprimir.
Sinto-me ofendido, Senhor Inspector. Ofendido e humilhado. E não pense que é um qualquer sentimento corporativista. A minha opinião e visão crítica da Instituição tem sido reafirmada ao longo de dezenas de anos do serviço mais diverso, desde mero executante, nas ruas e nos campos, de pistola e bastão à cinta, até cargos de chefia e de controlo interno, de caneta em riste para "disparar" naqueles que ultrapassam os limites da legalidade... como pode ver aqui se se dignar dar uma espreitadela.
Para quem em cerca de dois anos exerceu o cargo no mais completo obscurantismo acho que escolheu a forma mais errada de dar visibilidade à sua existência.


Boaventura Afonso Eira-Velha

P.S. Esta carta foi enviada por correio electrónico ao destinatário em 25 de Novembro de 2007. Poderei ser processado disciplinarmente por ousar dirigir-me a SEXA e manifestar-lhe a minha indignação mas não podia ficar indiferente perante tanta falta de respeito às Instituições e às pessoas.
O Senhor Inspector Geral há-de perceber que ele passará e as Instituições prevalecerão. Já assim foi e continuará a ser.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Cantando e Rindo...

Portugal é o sexto país mais pobre dos 30 estados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Pode ler-se a notícia completa em
http://jn.sapo.pt/2007/11/22/economia_e_trabalho/portugal_sexto_pais_mais_pobre_ocde.html
E assim se faz Portugal... uns vão bem e outros mal...
O que poderemos nós fazer? Talvez...
Acho que já me estou a repetir demais :(

P.S. Para que não subsistam quaisquer dúvidas, declaro solenemente que nunca fiz parte da JP :)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Gémeos

"somo parecidos, temos o riso fácil e damos a mão com o coração"
http://jn.sapo.pt/2007/11/21/ultima/socrates_e_chavez_querem_aprofundar_.html

Eu diria mais: Não são parecidos, são gémeos. Para quem não acreditar sugiro um exercício clássico, descubram as diferenças...

Imagem: http://dn.sapo.pt/2007/11/20/225900.jpg

terça-feira, 20 de novembro de 2007

A Bilha



Não era uma bilha qualquer. Era uma bilha única pela qual toda a gente gostava de beber e um instrumento indissociável das jornadas de árduo trabalho do campo sob a inclemência de um sol abrasador. A água que brotava do seu seio arredondado era fresca e cristalina, porque fresca e cristalina era ela ao sair do próprio manancial e a bilha conservava todas essas qualidades acrescentando-lhe um indescritível sabor a barro recosido sabe-se lá em que olaria.
Um dia andavam meus pais e irmãos a sachar milho no Manhuço (raio de nome) e incumbiram-me de ir encher a bilha de água a uma nascente no sítio denominado Uzenda (raio de nome). Todo empertigado e importante, lá me desloquei pé ante pé direitinho à nascente: Desci pelo caminho das Carvalheiras, virei à esquerda por um carreiro estreito até ao Chão do Monte, atravessei a corga que descia a encosta desde o Chão da Aveleira até ao Rio Pequeno ao fundo da Carvalheira e eis-me em frente da pequena mina de onde escorria uma generosa nascente de água do melhor que pode haver. E aqui começam as complicações... Olhei para o buraco, onde teria de me enfiar para aceder à água numa improvisada bica feita de pedras toscas mas recuei cheio de medo. Não que visse ali qualquer fantasma mas... podia estar lá alguma cobra e brrrrrrrr... nãaaa, não meto a cabeça naquele buraco. Recuei, olhei de novo, voltei para trás e fui embora sem uma gota de água. Para cúmulo, pelo estreito carreiro ladeado de ervas quase da minha altura já via cobras por todos os lados e cada vez mais amedrontado acelerei o passo o mais que me permitiam as pequenas pernas. Ao voltar a passar por um valado de onde escorria uma pequena cascata de água que fazia remexer as ervas que a ladeavam e produzir um ténue ruido deu-se o clímax dos medos. Então, desatei a correr com quantas ganas tinha. Ao subir o último troço do caminho, uma calçada tosca de pedras, terra e ervas escorreguei e bem tentei evitar o acidente mas o pior aconteceu: a bilha bateu numa pedra e desfez-se em mil pedaços. Oh que desgraça! Como foi possível aquilo acontecer-me? Que justificação eu ia dar aos meus pais e irmãos que cheios de sede aguardavam que eu lhes levasse o precioso líquido? E que castigo estaria reservado para o sacrilégio de partir a mais preciosa bilha que existia em todo o lugar de Cavenca e arredores?
Automaticamente, recolhi os pedaços de barro que me foi possível apanhar, deixei-os numa borda do campo de milho onde decorria o trabalho e, sem que ninguém me visse nem ao menos dizer "água vai", dei de "frosques" para casa...
Quando meu pai e irmãos regressaram para o almoço, que naquele tempo se chamava jantar, submeteram-me a um intenso e agressivo interrogatório para saber porque não lhes tinha levado a água. Atabalhoadamente defendi-me como pude, argumentando que a cobra tinha soprado e que escorregara... E a bilha, onde está a bilha? A bilha ficou no cimo do campo, no meio de uma ervas... Pois então, diz meu pai, depois de comermos vais comigo mostrar-me onde está.
A tempestade amainou, ganhei tempo e respirei fundo. Depois de ingerirmos o parco almoço deslocámo-nos ao local do "crime". Ao aproximarmo-nos do sítio onde tinha deixado os restos da famosa bilha adiantei-me a meu pai, que andava muito devagar devido a uma avaria no sistema de tracção o qual além das pernas contava com a ajuda de duas bengalas e de longe fui-o informando do sítio onde jaziam os "restos mortais" do estimado objecto.
Pelo sim pelo não fui mantendo uma distância razoável do meu progenitor, não fosse uma das suas auxiliares motrizes assentar-me nas costas...

Imagem: http://www.rt-atb.pt/fotos/C%20-%20Arlindo%20Silva%20-%20bilha%20de%20%C3%A1gua%20c%C3%B3pia.jpg

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Xirarei...



"Xirarei com'a roda do moinho,
Xirarei nas tuas augas de mulher.
Xirarei un por uno os teus caminhos
P'ra namorar-te xirarei e xirarei".

sábado, 10 de novembro de 2007

A Criação

Criar não é apenas alimentar ou propagar a espécie. É também educar, incutir hábitos e princípios adoptados pela sociedade. Por isso é muito comum utilizar a designação "malcriado" em relação a alguém que se comporta de forma incorrecta, tendo em conta os padrões utilizados para distinguir o certo do errado.
O Rogério, uma popular personagem muito conhecida e respeitada na Vila de Monção, era um daqueles indivíduos que não desperdiçava qualquer oportunidade para incutir na sua extensa prole uma criação sustentada em hábitos de respeito e honestidade. Habitava uma velha casa na Rua General Pimenta de Castro que também servia para exercer a sua actividade comercial em vários ramos, ora de taberneiro, ora de sapateiro, ora sei lá de quê. E era usual as pessoas das aldeias, sempre que se deslocavam à Vila para fazer compras ou resolver outras coisas que só ali se podiam decidir, deixarem os seus pertences no estabelecimento do Rogério enquanto deambulavam pelas artérias da localidade na resolução das inúmeras tarefas.
Um dia, ao proceder às ultimas arrumações para encerrar o estabelecimento, o Rogério encontrou perdida no meio da tralha uma carteira bem grossa, indiciando ter um bom recheio de notas, que na altura eram bem escassas.
Meteu a carteira no bolso e, fechadas as portas, dirige-se para a habitação onde a família, à volta da mesa, o esperava ansiosamente para cear.
Sentou-se no seu lugar e, com ar muito sério e em tom baixinho para estabelecer uma maior cumplicidade no acto, pegou na carteira, colocou-a em cima da mesa e disse: - Meus filhos, estamos ricos! Encontrei esta carteira cheia de dinheiro ali na loja e agora podem escolher o que desejarem...
Deslumbrados os filhos começaram cada um a pedir o que mais desejava. Uma queria uma máquina de costura, outro queria um clarinete novo, outro ainda um fato de veludo, enfim, uma lista enorme de pedidos...
Decepcionado com a ganância dos filhos, o Rogério puxou de uma vara apropriada e começou a desancar em todos exclamando: - Seus filhos da p..., eu a pensar que tinha uma família de gente honrada e honesta e estou metido com um bando de ladrões... vão já p'ra cama que hoje não há ceia para ninguém!
Era assim que se dava a criação naquele tempo. Hoje seria um método de educação mal aceite mas em certas circunstâncias ainda fazia jeito...

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Usurpação

Usurpação é um tipo de crime praticado com fequência e através do recurso às novas tecnologias, umas vezes inadvertidamente, outras intencionalmente. E de uma forma ou de outra todos nós abusamos um pouco daquilo que pertence a outrém, mesmo que nos seja facilmente acessível através da web, mas uma coisa é relevar algo de que gostamos por mero prazer, outra é retirar proveito económico à custa do património alheio.
Em Portugal a produção artística e literária está protegida por lei (Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de Março) que considera obras:
Art. 1.º
1 – (...) as criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, por qualquer modo exteriorizadas, que, como tais, são protegidas nos termos deste Código, incluindo-se nessa protecção os direitos dos respectivos autores.
2 – As ideias, os processos, os sistemas, os métodos operacionais, os conceitos, os princípios ou as descobertas não são, por si só e enquanto tais, protegidos nos termos deste Código.
3 – (...) a obra é independente da sua divulgação, publicação, utilização ou exploração.

Consideram-se ainda obras originais:
Art. 2.º
1 – As criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, quaisquer
que sejam o género, a forma de expressão, o mérito, o modo de comunicação e o objectivo, compreendem nomeadamente:
a) Livros, folhetos, revistas, jornais e outros escritos;
b) Obras dramáticas e dramático-musicais e a sua encenação;
c) Conferências, lições, alocuções e sermões;
d) Obras coreográficas e pantominas, cuja expressão se fixa por escrito ou por qualquer outra forma;
e) Composições musicais, com ou sem palavras;
f) Obras cinematográficas, televisivas, fonográfica, videográfica e radiofónicas;
g) Obras de desenho, tapeçaria, pintura, escultura, cerâmica, azulejo, gravura, litografia e arquitectura;
h) Obras fotográficas ou produzidas por qualquer processo análogos aos da fotografia;
i) Obras de arte aplicadas, desenho ou modelos industriais e obras de design que constituam criação artística, independentemente da protecção relativa à propriedade industrial;
j) Ilustrações e cartas geográficas;
l) Projectos, esboços e obras plásticas respeitantes à arquitectura, ao urbanismo, à geografia ou às outras ciências;
m) Lemas ou divisas, ainda que de carácter publicitário, se se revestirem de originalidade;
n) Paródias e outras composições literárias ou musicais, ainda que inspiradas num tema ou motivo de outra obra.

As penas para o crime de usurpação podem ser "prisão até três anos e multa de 150 a 250 dias, de acordo com a gravidade da infracção, agravadas uma e outra para o dobro em caso de reincidência, se o facto constitutivo da infracção não tipificar crime punível com pena mais grave".
Serve esta advertência para dizer a alguém, e não vou dizer quem é porque o visado irá dar-se conta, que o meu blog tem como princípio respeitar as fontes. Se por um acaso tal não acontecer também não será grave, não pretendo apropriar-me do alheio e muito menos obter qualquer proveito.
Também quero deixar expresso que não vou exercer o direito de queixa, requisito essencial para desencadear a acção penal.
De resto, espero que os meus leitores e leitoras continuem a visitar, a usar e abusar deste espaço, que continuará a estar disponível enquanto os dedos me permitirem...

domingo, 28 de outubro de 2007

Desconfiado e pouco Civilizado

O Vladimir perguntou-me o que acho da desconfiança. A interpelação deixou-me desconfiado mas depois fui ver o seu tasco e lá está mais um daqueles estudos que até parece serem feitos de propósito para nos recalcarem. Segundo a Lusa, "os portugueses são o povo mais desconfiado da Europa Ocidental e ocupam a 25ª posição entre 26 países num estudo da OCDE destinado a medir a amplitude da desconfiança e falta de civismo dos diferentes povos recenseados".
Não me admira que assim seja. Eu penso que nós, os portugueses, somos desconfiados e patenteamos uma enorme falta de civismo.
Querem provas? Vejam o que se passa nas estradas. Não é falta de civismo o que ocorre perante os nossos olhos diariamente?
A palavra desconfiança é um substantivo feminino que significa "falta de confiança; suspeita; temor de ser enganado; ciúme". Não conhecemos ninguém com estes atributos, pois não? Não manifestamos desconfiança em relação aos processos Casa Pia ou Apito Dourado, o mesmo com o caso da Praia da Luz, nem em relação ao poder político, quer de âmbito nacional, quer de âmbito autárquico, nem aos rumores de tráfico de influências e corrupção nos Tribunais, nem em relação aos vizinhos que vivem desafogadamente e não se sabe de onde lhes vem aquilo com que se pagam os melões ou àquela madame que trabalha de noite e dorme de dia...
Mas mais curioso ainda é que todos nós, eu repito, TODOS NÓS, falamos disto como se pertencessemos a outro planeta.
Para cúmulo, lá diz o velho ditado (deve ser chinês): Quando a esmola é grande, o cego desconfia!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

O Palácio da Justiça

Foi há algumas décadas. O dia estava radioso e havia festa na Vila e sede de Concelho em Monção.
A inauguração de um emblemático empreendimento público, designado geralmente por "Palácio de Justiça", fez deslocar ao Alto Minho a mais proeminente figura do Estado, o Almirante Américo de Deus Rodrigues Tomás, ou Thomaz, na altura a ocupar "democraticamente" o cargo de Presidente da República, e foi feito um convite à população em geral para lhe manifestar o "carinho, o apreço e a gratidão" do Povo do Norte...
Como havia transportes à borla, aproveitei a ideia para me associar a um pequeno grupo de Cavenca e ao mesmo tempo fazer uma pausa nas malfadadas lides do campo.
Preparamo-nos a rigor, lavadinhos e vestidos com a melhor farpela e rumamos serra abaixo em direcção ao lugar do Cruzeiro onde tinha o seu términus a velha camioneta da carreira de Monção para Riba de Mouro, coisa que só existia regularmente às quintas feiras e excepcionalmente para aquele grandioso evento.
A caminhada de Cavenca ao Cruzeiro era longa, cerca de quatro quilómetros por caminhos de cabras e um estradão em terra batida rasgado pelos Serviços Florestais, mas para nós não representava qualquer dificuldade, habituados que estavamos a calcorreá-los de dia e de noite.
Já em pleno lugar da Gateira, caminhávamos céleres e com o máximo cuidado para não sujar o calçado nem a roupa mas eis que surge na curva da estrada, em direcção a nós, um motociclista em alta velocidade, um daqueles novos-ricos que em França tinha angariado fundos para trocar o meio de transporte tradicional, os burros e machos, por uma moderna motocicleta equipada com um poderoso motor da marca "pachancho" de 49 cc de potência!
Aquilo era uma visão rara na aldeia e eu, boquiaberto, fiquei a olhar o percurso do motociclista que passou por nós como um raio e não reparei numa nascente de água que jorrava das profundezas da terra fruto da perfuração de uma conduta de água que alguém fizera atravessar o caminho. Meti a "pata na poça" e atolei-me até aos joelhos. Quando saí para a terra firme estava uma miséria, com a barrenta lama a encharcar-me sapatos e calças...
Que fazer? Desistir? Não, jamais... limpei-me o melhor que pude e continuei a caminhada sem desânimo.
A minha persistência foi bem recompensada.
Em plena praça da Terra Nova, pude ver bem de perto a alva figura do Presidente, que parecia bem mais normal do que na fotografia que me habituara a ver nos manuais escolares onde surgia imponente e com uma cores bem mais saudáveis do que na realidade apresentava. Até o fato de marujo parecia um pouco encarquilhado, comparado com a lisura do papel.
O Palácio da Justiça foi inaugurado com pompa e circunstância e surgia magnificente perante os olhares da populaça que acorreu de todas as freguesias do vasto concelho.
Hoje já se torna pequeno e parece insuficiente para albergar os diversos serviços judiciais e cartórios que ali foram instalados. Foi ali que um destes dias foi revelada a sentença que condenou a sete anos de prisão uma jovem mãe por ter provocado a morte de uma filha de tenra idade a pontapé...
O palácio da justiça cumpriu mais uma vez a sua função.

sábado, 20 de outubro de 2007

As Novas Florestas

"Três Juntas de Freguesia de Monção ameaçam anular judicialmente negócio do maior parque eólico da Europa"
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1308175&canal=59


Nada me move contra as energias renováveis mas evoco aqui a maior das maldades que foi praticada em relação às populações serranas. A política florestal do Estado Novo encurralou aquelas gentes acostumadas a tirarem da serra tudo ou quase tudo de que necessitavam: pastos, mato, lenha, pedra...
A consequência dessa política foi o êxodo massivo dos anos 60 e 70.
Mas quando a liberdade emergiu tudo se transformou. As viçosas florestas foram incendiadas e o povo voltou a dominar aquilo que desde sempre, por direito, lhes pertenceu.
Direito que actualmente está consagrado na lei, conforme consta do artigo 1.º da Lei n.º 68/93, de de 04 de Setembro, alterada pela Lei n.º 89/97, de 30 de Julho.
1 - São baldios os terrenos possuídos e geridos por comunidades locais.
2 - Para os efeitos da presente lei, comunidade local é o universo dos compartes.
3 - São compartes os moradores de uma ou mais freguesias ou parte delas que, segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio.

A este propósito, relembro que foi celebrado, em tempos, entre a Junta de Freguesia de Riba de Mouro e a Direcção Geral das Florestas, um acordo para reflorestação da serra, de Santo António de Val de Poldros até Cavenca.
No dia em que as máquinas se deslocaram para o monte para começar os trabalhos o sino da pequena capela de Cavenca tocou a rebate e um pequeno mas destemido "exército" popular, composto por homens (poucos), mulheres (a maioria) e crianças, armados de enxadas, foices e outros utensílios domésticos e uma enorme determinação, deslocou-se à serra, ordenou aos operadores das máquinas que parassem os trabalhos e os acompanhassem até à sede da Junta de Freguesia e ali os deixou com o recado de que nunca mais ousassem invadir os seus baldios.
Após isto, a Directora concelhia dos Serviços Florestais, juntamente com o Presidente da Junta, deslocou-se a Cavenca para convencer a população dos benefícios que daquela política florestal poderiam advir para a comunidade mas foi tarde. A opinião daquela gente estava formada e recusaram-se peremptoriamente a aceitar ingerências externas no "seu" espaço.
Desconheço completamente como foi desenvolvido o processo de concessão ou ocupação dos baldios para implantação dos parques eólicos e, apesar de discordar da estética, acho que vale a pena apostar neste projecto. Mas, antes de o concretizar, deveria haver um debate sério com quem, por direito, tem a capacidade e o poder de decidir sobre a utilização e emprego do seu espaço.
Sempre será melhor do que virem mais tarde a confrontar-se com acções subversivas, porque o povo é quem mais ordena.

As Pombinhas da Catrina

Não era cigano mas toda a gente o conhecia por essa alcunha, certamente por ter como companheira uma mulher dessa etnia e desenvolver um modo de vida típico dessa gente.
Rumou a norte pelas Beiras e radicou-se em Presandães onde nunca se integrou plenamente, mais por causa da sua personalidade quezilenta do que pela hostilidade da população nativa. Era mais tolerado pelo temor do que pelo respeito e as brigas constantes com um vizinho obrigaram este a vender o que possuía e a ir viver para outra terra.
Pouco ou nada se sabia do seu passado apesar de alguns rumores indiciarem ter tido problemas com a justiça lá para os lados de onde provinha e até ter adoptado uma identidade falsa mas de concreto não se sabia nada. Ali permaneceu vários anos e do seu agregado familiar faziam parte três bonitas raparigas que desabrochavam, vistosas e apetecíveis, numa sequência etária regular. E como o pai não permitia que se relacionassem com os rapazes da terra, nem de fora da terra, acabavam por partir contra a vontade dos progenitores, quais pombinhas que abandonam o pombal, que a natureza pode mais do que a vontade humana.
Das três ficou a mais nova, ainda adolescente, mas à semelhança das irmãs, quando o tempo chegou enamorou-se por um jovem da terra e também esta, para seguir o que o coração lhe pedia, desapareceu da casa paterna.
Desesperado, o cigano procurou-a por todo o lado, indagou do paradeiro do namorado, denunciou o desaparecimento da filha às autoridades mas em vão. Todos os dias percorria os recantos por onde era habitual a jovem deslocar-se, ia ao posto policial indagar se havia alguma notícia, reclamou para o ministro por causa da inoperância dos agentes que se preocupavam mais com as pequenas explorações agrárias que possuíam do que com a segurança dos cidadãos, acabou por escolher para alvo da sua fúria a pessoa errada: o pai do namorado da filha.
O senhor Jaime era um viúvo sexagenário e ainda vigoroso, com um físico moldado pela austeridade agreste da paisagem duriense, um cidadão um pouco reservado mas muito respeitado na terra. Um dia, após o almoço, fumava tranquilamente um cigarro no alpendre da sua casa quando o “Cigano”, conduzindo o seu veículo de tracção animal tirado por uma possante mula, subia pela estrada que atravessa o lugar em direcção a casa. Este, ao avistar o Jaime, dirigiu-lhe um chorrilho de insultos e, não satisfeito, terá disparado um tiro de pistola na sua direcção.
O “Cigano” continuou o caminho e uns quinhentos metros à frente saiu da estrada para a direita, desceu uma rampa e virou novamente à direita. Uns metros adiante o caminho apresentava uma bifurcação, em frente continuava em direcção à casa do Jaime e à esquerda para o centro da localidade onde o “Cigano” morava. Quando descrevia a curva para a esquerda surge o Jaime de caçadeira em riste e o disparo ecoou sinistro pela pequena aldeia. Ágil, o “Cigano” saltou da carroça e fugiu. Chegou ao posto policial esbaforido a denunciar o atentado de que fora alvo e a pedir protecção. Quem pagou as consequências foi o desditoso animal que apanhou o grosso do disparo na cabeça e teve de ser abatido.
Naquela mesma noite o temido “Cigano” desapareceu da pequena aldeia e nunca mais foi visto por ali. Nem compareceu ao julgamento onde o senhor Jaime respondeu pelo crime de que foi acusado e do qual foi absolvido.
Quando falava do assunto, o senhor Jaime, com a tranquilidade que lhe era peculiar, redarguia: Comigo ele (o cigano) não faz o que fez com o outro. Eu já vivi a minha vida, não tenho nada a perder…

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Novidades da Terra

"PARQUE FAMILIAS MODELO" ABRIU AO PÚBLICO - Localizado no Parque das Caldas, na zona ribeirinha do município".
É assim que que a Câmara Municipal de Monção apresenta mais uma iniciativa autárquica com o filantrópico patrocínio da Modelo Continente Hipermercados, S.A.


O moderno balneário termal que uma cheia do rio deixou inutilizado pouco tempo após a inauguração foi cedido a um grupo galego aguardando-se com espectativa a sua abertura para se saber, concretamente, para o que vai servir - fala-se que será um SPA. SPA "é uma designação técnica para um complexo turístico que providencia actividades de lazer saudáveis, geralmente em contacto com a natureza. Algumas dessas actividades são natação, sauna etc." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Spa).


A seguir vai ser lançado o concurso para exploração das antigas instalações termais e o Bar da Caldas.
Já só falta a Bragaparques tomar posse da "cave".

A Culpa é da Vontade



Um pouco de ânimo com Manuela Azevedo e os outros Humanos...

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dia Mundial para Erradicação da Pobreza


Hoje celebra-se o Dia Mundial para Erradicação da Pobreza. E para quem pensa que a pobreza é apenas ir para a rua mendigar desengane-se. Pobreza é muito mais, e só estamos a falar da pobreza material que a pobreza de espírito também assume níveis confrangedores.Há os pobres para quem a pobreza é um estado de espírito, assumido, uma forma de estar. Não me preocupo com estes, que "nasceram pobres" e assim continuam porque querem. Mas a verdadeira pobreza é querer ascender na pirâmide de Maslow e não sair da base do primeiro patamar sem romper com princípios de dignidade inerentes à condição humana.
Estender a mão à caridade será a maior das humilhações.

domingo, 14 de outubro de 2007

Ou a Importância de ser Proprietário...

Foi, talvez, o dia mais importante da minha vida. Era um daqueles dias em que o pequeno povoado se encontrava quase deserto encontrando-se toda a gente empenhada nas lides do campo, actividade que nunca me seduziu muito e da qual procurava sempre escapulir-me.
Ao dirigir-me descontraidamente em direcção ao Regueiro, não sei com que finalidade, deparei com uma cinzenta patrulha da Guarda Nacional Republicana. Os dois paladinos da lei e da ordem pareciam meio desnorteados, tentando vislumbrar ou perceber onde se encontravam os habitantes daquele lugar perdido na serra e mal me avistaram chamaram-me simpaticamente. O que me parecia mais importante, deveria ser o comandante, perguntou-me se sabia ler e escrever e, perante a resposta afirmativa, puxou de um papel de formato A5, colocou-o convenientemente em cima do amontoado de pedras que faziam de muro, passou-me uma esferográfica e disse-me para escrever: - Visto em Cavenca, às x horas do dia tantos de tal… – Agora assinas aqui. Aqui era um espaço por baixo das palavras O proprietário. Hesitei. Eu não era proprietário de coisa nenhuma, não poderia cometer o sacrilégio de assinar tal documento. Mas o bom agente sossegou-me: - Não faças caso… faz de conta… Animado com aquelas palavras escrevi de forma perfeitamente nítida, ainda com aquelas formas apreendidas á custa de puxões de orelhas e reguadas: Boaventura Afonso Eira Velha. Foi um dia de glória.
Decorreram os anos, muita coisa mudou na minha vida e no mundo.
Por meados da década de oitenta encontrava-me em pleno Douro vinhateiro no meu local de trabalho. Procedia a um Inquérito e preparava-me para registar o depoimento de um venerando e abastado agricultor a quem, formalmente, perguntei a profissão. O homem encheu o peito de ar e respondeu solene e pausadamente: – P r o p r i a t á r i o
Em circunstâncias normais teria escrito agricultor, ou viticultor, mas aquele não era um dia normal, interrompi o auto, encaro o meu interlocutor e ripostei: – Isso não é profissão… Perante o ar estupefacto do homem continuei: – O senhor conhece o Caixote?
O António Caixote era o patriarca de uma extensa família de ciganos nómadas. Toda a gente os conhecia. Era um clã que se deslocava sazonalmente, de acordo com o calendário dos trabalhos agrícolas, ou a vender o seu artesanato ou, simplesmente, a pedir esmola. Deslocavam-se em carroças com os seus animais e os outros míseros haveres. Passavam por ali várias vezes ao ano e acampavam no Vilarelho onde possuíam uma habitação ainda recente, construída com a ajuda da autarquia que lhe cedeu o terreno, mas nunca iam para a casa. Acampavam num terreno próximo, situado junto dos depósitos de água que abastecia o burgo, o que gerava muitos conflitos por causa dos dejectos dos animais e do lixo que ali deixavam. Quando o Caixote era instado a ir para casa recusava peremptoriamente alegando que se constipava sempre que lá dormia…
Continuei o diálogo com o meu interlocutor … – Pois o Caixote também é proprietário, tem as suas carroças, os seus animais…
Notei pelo semblante do inquirido que era melhor ficar por ali. Concluído o auto, o nosso homem saiu cabisbaixo sem se despedir. De certeza que lá com os seus botões exprimia a sua indignação:
– Malditos comunistas!

sábado, 13 de outubro de 2007

Ecos da Raia

Ecos da Raia é a rádio de Monção. Porém, não é este OCS que aqui quero evocar. São os ecos de uma raia mais austera e do interior, mais esquecida e ostracizada, pela mão e pensamento de Miguel Torga.
Vale a pena ler ou reler, conforme seja ou não a primeira vez.
O mais curioso, para mim, é que fui buscar o texto a um sítio galego, onde se podem encontrar documentos de grande valor literário e histórico.

- Enfastiado coa presenza continua do verde bovino no país baixo-miñoto (O vinho é verde, o caldo é verde...), Torga tira de Melgaço cara ao Castro Laboreiro e isto é o que ve.

"Desanimado, meti para Castro Laboreiro à procura dum Minho com menos milho, menos couves, menos erva, menos videiras de enforcado e mais meu. Um Minho que o não fosse, afinal.
Encontrei-o logo dois passos adiante, severo, de curcelo e carapuça. A relva dera finalmente lugar à terra nua que, parda como o burel, tinha ossos e chagas. O colmo de centeio, curtido pelos nevões, perdera o riso alvar das malhadas. Identificara-se com o panorama humano, e cobria pudicamente a dor do frio e da fome. Um rebanho de ovelhas silenciosas retouçava as pedras da fortaleza desmantelada. E uma velha muito velha, desmemoriada como uma coruja das catacumbas, vigiava a porta do baluarte, a fiar o tempo. Era a pré-história ao natural, à espera da neta.
Ó castrejinha do monte,
Que deitas no teu cabelo?
Deito-lhe água da fonte
E rama de tormentelo.

Bonita, esbofeteada do frio, a cachopa vinha à frente dum carro de bois carregado de canhotas. Preparava a casa de inverno para quando chegasse a hora da transumância e toda a família —pais, irmãos, gados, pulgas e percevejos— descesse dos cortelhos da montanha para os cortelhos do vale, abrigados das neves.
– Conhece esta cantiga?
– Ãhn?

Falava uma língua estranha, alheia ao Diário de Noticias, mas próxima do Livro de Linhagens do Conde de Barcelos.
– É legitimo este cão?
– É cadela.

Negro, mal encarado, o bicho, olhou-me por baixo, a ver se eu insistia na ofensa. O matriarcado teimava ainda...
– A Peneda?
A moça apontou a vara. E, como ao gesto de um prestidigitador, foram-se desvendando a meus olhos mistérios sucessivos. Todo o grande maciço de pedra se abriu como uma rosa. A Peneda, o Suajo e o Lindoso. Um nunca mais acabar de espinhaços e de abismos, de encostas e planaltos. Um mundo de primária beleza, de inviolada intimidade, que ora fugia esquivo pelas brenhas, tímido e secreto, ora sorria dum postigo, acolhedor e fraterno.
Quando dei conta, estava no topo da Serra Amarela a merendar com a solidão. Tinham desaparecido de vez as cangas lavradas e coloridas que ofendiam as molhelhas do suor verdadeiro. A zanguizarra dos pandeiros festivos e as lágrimas dos foguetes já não encandeavam a lucidez dos sentidos. Os aventais de chita garrida davam lugar aos de estopa encardida. Nem contratos pré-nupciais ardilosos, nem torres feudais, nem rebanhos de homens pequeninos, dóceis, a cantar o Avé atrás do cura da freguesia. Pisava, realmente, a alta e livre terra dos pastores, dos contrabandistas e das urzes."

http://www.arraianos.com/Arraianos%20n1%208-2004%20Web.pdf


sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Uma Incursão pelo Mundo da Música

Gosto de música. Um gosto inato que me tem apaixonado através da minha já bem longa vida.
Consumo de tudo mas principalmente música clássica.
Aprecio as Bandas de Música, de que guardo gratas recordações desde muito jovem, quando me encantava com os estridentes sons da "Música" de Cavenca.
Por acaso, descobri há bem pouco tempo este Gajo e fiquei encantado com a maravilhosa composição e interpretação de um poema extraordinário de Rosalia de Castro que aqui deixo para que os meus amigos possam ouvir e extasiar-se como eu.
Espero que gostem.



Amancio Prada (Devesas, León, 1949), nascido no Bierzo de fala galega, filho de camponeses, é um dos mais destacados cantautores espanhois.
Estudou Sociologia na Universidade da Soborna (Paris). Ali mesmo, na França, já se deu a conhecer aparecendo na televisâo e nas rádios francesas, e mesmo gravou o seu primeiro disco Vida e morte. A partir de aqui comezou uma longa etapa de produçâo de discos, junto com numerosas actuaçôes por todo o mundo, pois participou en concertos por todo o territorio espanhol e internacional (Roma, Estocolmo, Genebra, Buenos Aires, Nova York, Lisboa, Caracas, Porto, Chicago, México, Rabat, Colónia, Utrecht, Ravenna, Atenas, Bruxelas, Medellín, Brasil...)
Amancio Prada pode-se considerar como um dos melhores embaixadores da lírica galega e portuguesa no mundo (Rosalia de Castro, Álvaro Cunqueiro, diversos trovadores galaico-portugueses, cançôes populares galegas, etc), razâo que expus o jurado para que ganhasse o XXI Prémio Celanova -Casa dos Poetas- em 2005.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Amancio_Prada

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Voltei!!!

Com muitas saudades de todos, amigas, amigos e os que nem são uma coisa nem outra mas que se dignam honrar-me com as suas visitas, com ou sem comentários...
Sei que estavam ansiosos por saber o que se teria passado para desaparecer sem deixar rasto mas fiquem tranquilos, não foi por me cansar da blogosfera nem de vos "aturar" mas por força de circunstâncias que me "forçaram" a uma espécie de clausura, com muito trabalho e sem acesso às tecnologias que me permitiriam manter o contacto.
Mas voltei!
Tenho andado a actualizar a leitura dos sítios habituais e alguns comentários mas vai devagar.
Porém, o que marca de forma indelével esta minha "reentré" é o momento político e social actual. Por um lado as imagens e notícias confrangedoras de acções policiais que me causam alguma perplexidade. Em Montemor-o-Velho foi simplesmente deplorável a acção dos agentes policiais preocupados com a recolha dos cartazes exibidos por meia dúzia de manifestantes e na Covilhã, caso se confirme a versão do SFPC, deparamos com uma nítida falta de senso dos agentes que lá foram "retirar nabos do púcaro". Mas mais deplorável ainda foi a forma como o "filho da mãe" do Presidente do Conselho se referiu aos acontecimentos, com aquele sorriso estúpido e bacoco, reflectido na cambada de acólitos que gravitam em torno das suas botas.
Sinceramente ...
Lá na terra assiste-se a uma febre da "caça ao tesouro" como nunca se viu. Em pouco tempo os Grupos Jerónimo Martins (Feira Nova) e Sonae (Modelo) implantaram a menos de um quilómetro uma da outra, duas médias/grandes superfícies comerciais para gáudio dos consumidores locais. A construção civil emerge por tudo que é campos, montes e antigas casas de lavoura nos subúrbios de Monção e Salvaterra do Minho, do outro lado do rio. A especulação imobiliária é uma realidade a avaliar pelo número de agências que se implantaram quer de um lado, quer do outro da antiga fronteira. Diz-se que o que faz mover todos os interesses económicos se relaciona com a perspectiva do megalómano projecto de uma Plataforma Logística e Industrial projectada pela Administração do Porto de Vigo e já em construção entre Salvaterra e As Neves, a qual criará cerca de seis mil postos de trabalho!!!
São, indubitavelmente, sinais positivos, em termos económicos, para uma região que vivia quase exclusivamente das receitas dos emigrantes. Mas custa-me perceber porque razão, do lado português, o investimento se concentra em comércio e prestação de serviços, ao contrário do que se verifica do lado de lá em que predomina um forte investimento em unidades de produção.
Talvez isso explique a diferença de ritmo do desenvolvimento económico que se pode observar do lado espanhol e do lado português, numa região que aquando da integração na CEE se apresentava praticamente em iguais circunstâncias...

sábado, 8 de setembro de 2007

Senhora da Peneda

É um dos maiores santuários marianos de Portugal, situado numa vertente da granítica Serra da Peneda.
A sua origem é igual a quase todas as origens dos imensos locais de devoção que existem por todo o mundo: apareceu uma senhora mágica a uma pastorinha que lhe pediu para rezarem muito e para lhe erigirem uma capelinha e a partir dali, como diz o poeta, "Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce...".
Na Peneda realiza-se todos os anos, entre os dias 1 e 8 de Setembro, uma festa em honra da Senhora do mesmo nome.
Nesses dias, a pequena e pacata povoação transforma-se num centro de peregrinação de todo o Alto Minho e também da vizinha Galiza. Uns por devoção, outros para diversão, outros ainda para fins comerciais.
No "meu tempo", a festa da Senhora da Peneda era o culminar de um verão recheado de festejos religiosos, ponto de encontro de gente das diversas aldeias, roupa lavada, raparigas bonitas e alegres, bailaricos e aventuras amorosas...
E na Peneda havia disso tudo em abundância. Ali a noite era de folia. Os grupos de rapazes e raparigas com bombos, pandeiretas e castanholas atrás do tocador de concertina deslocavam-se incessantemente pelo terreiro. Onde houvesse espaço formava a roda e... era um espectáculo. Dezenas de pares formavam um círculo em torno do tocador de concertina, alguém assumia o comando e dançava-se a "chula" até cansar. Era impressionante o sincronismo do imenso grupo que se formava espontâneamente. E a nuvem de pó que envolvia toda a gente, na roda ou fora dela a observar.
Nas tascas improvisadas a música era outra. Também ali se ouvia o estridente som das concertinas mas era para acompanhar os cantadores ao desafio que improvisavam cantigas e bebiam vinho de zurrapa até não poderem mais...
O acesso era quase exclusivamente a pé. Saíamos de casa de madrugada, ainda noite, com o farnel que nos sustentaria pelo menos durante dois dias, pela serra fora, em grupo, que uma pessoa sozinha não se aventurava por aqueles montes de qualquer maneira.
Mas a parte mais importante da viagem era a gloriosa visão do santuário quando chegávamos às curvas da Meadinha. Pelo trilho de pedras abaixo viam-se os pagadores de promessas, quase sempre mulheres, arrastando-se de joelhos, uma forma de agradecerem as graças recebidas, muitas vezes acompanhados de filhos pequenos que eram invariavelmente as causas do desespero e do recurso à intercepção da Senhora.
Agora os procedimentos são diferentes. Vai-se de automóvel e pagam-se as promessas em numerário. É melhor para todos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Alqueire, Arrátel, Cabaço e… Medida de Crasto

Era assim que funcionava a actividade comercial. Nas feiras, nas mercearias, nas tabernas, nos lares.

Alqueire (do árabe al kayl) designava originalmente uma das bolsas ou cestas de carga que se punha, atadas, sobre o dorso e pendente para ambos os lados dos animais usados para transporte de carga.

Logo, o conteúdo daquelas cestas ou bolsas, mais ou menos padronizadas pela capacidade dos animais utilizados no transporte, foi tomada como medida de secos, notadamente grãos, e depois acabaram designando a área de terra necessária para o plantio de todas as sementes nelas contidas.

Os principais padrões do alqueire usados em diferentes regiões de Portugal no século XIX eram os seguintes:

  • 13,1 litros no litoral entre Aveiro e Lisboa
  • 13,9 litros, um pouco por todo o país
  • 14,9 e 15,7 litros, sobretudo no interior e no sul
  • 17,0, 17,5 e 19,3 litros, quase exclusivamente no Entre-Douro-e-Minho

Desde a idade média, o alqueire foi também unidade de superfície. Normalmente, um alqueire de superfície era a área de terreno que se semeava com um alqueire de semente.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Alqueire


Arrátel é uma antiga unidade de medida de peso que corresponde a459 gramas ou dezasseis onças.










Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Arr%C3%A1tel



Cabaço



Nada disso, não é nada do que estão a pensar. Há cabaças, cabaços e … o cabaço era a unidade que servia para medir líquidos, principalmente vinho utilizando-se um caneco de zinco devidamente aferido.

ant.,

medida de líquidos equivalente a 24 quartilhos; cântaro;


Fonte: http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx


Por fim a Medida de Crasto, assim mesmo, como se dizia na minha terra. Normalmente usada para medir batatas, um produto de qualidade superior, esta medida era usada pelos naturais de Castro Laboreiro e só tinha uma regra: era encher o cesto ou o alqueire até formar uma pirâmide rematada com um único tubérculo. Não se podia colocar nem mais uma unidade.

Imagens
http://www.geira.pt/Massento/Coleccoes/pesos_img.html


sexta-feira, 31 de agosto de 2007

BRIC

"Em 2050, os BRICs já serão as maiores potências econômicas
do mundo; ultrapassando assim a União Européia e o ainda em
crescimento Estados Unidos da América. Formando-se um bloco
econômico, seria uma parceria perfeita para o sucesso extremo
e a omnipotência mundial."

http://www.agal-gz.org/portugaliza/numero05/bol05n01.htm



São um caso sério que podemos constatar no nosso País, na nossa Cidade, no nosso Bairro, na nossa Rua.
São os chineses com as suas lojas e bazares permanentemente abertos, mesmo quando todos os outros comerciantes têm as suas superfícies comerciais encerradas.
São os indianos com a sua prevalência na área da electrónica (veja-se o Martim Moniz e a Almirante Reis), as lojas de especiarias ou simplesmente a vender flores (qué frô?, qué frô?).
São os brasileiros apetrechados com as mais recentes "ferramentas" profissionais, prontos a disputar os lugares de topo no mundo empresarial e de negócios.
E os russos deslumbrados com as oportunidades da liberalização económica.
O que lhes falta para vencer?
Nada.
Por isso, não é de estranhar a apetência dos grandes grupos económicos por esses mercados tão promissores, quais abutres a quem chegou o cheiro da necrótica preia.

domingo, 26 de agosto de 2007

Emigrantes II

São de uma crueza singular, as fotos que uma Franco-Transmontana, Luso-descendente, me ensinou a descobrir.


E eu, que julgava saber tudo sobre o êxodo português dos anos 60, que me cansei de ver esposas e filhas de luto vestidas, viúvas e órfãos com maridos e pais vivos, adquiri uma nova visão do fenómeno pela perspectiva inversa da objectiva de Monseiur Bloncourt, imagens para ver e reflectir no endereço abaixo.


http://www.sudexpress.org/Expositions/Bloncourt/Images/Bloncourt.swf


Há mais documentos, retalhos de uma História ainda viva mas por contar na sua totalidade, na página do autor.



A miséria que se vivia em Portugal forçou muita gente a debandar e procurar melhorar as suas condições de vida. Para eles e para as suas famílias foi a solução.
E para o País?
A melhoria da economia de um País à custa da exportação de mão de obra é apenas ilusória. A riqueza é criada e resulta do trabalho. A História repete-se e não há forma de apreendermos as lições que nos incute. Desperdiçamos a riqueza promovida pelo fluxo das especiarias ocidentais, o mesmo com o ouro e a prata do Brasil, esbanjamos os milhões de €uros de fundos estruturais em investimentos não produtivos.
Hoje estamos no lugar comum que ocupávamos antes da adesão à Europa Comunitária. Em primeiros a contar da cauda.
Só falta virem dizer que estamos orgulhosamente... acompanhados!

sábado, 25 de agosto de 2007

Os Moinhos de Cavenca

"O registo mais antigo que se conhece e que alude ao moinho de água de roda horizontal, encontra-se num epigrama de Antipratos de Salónica, o qual se presume date de 85 A.C.. Contudo, existem outros registos, nomeadamente arqueológicos, os quais apontam para a existência deste sistema na Dinamarca no século I a.C., e mencionado num poema na China do ano 31 da nossa era. Já relativamente ao moinho de água de roda vertical, é pela primeira vez mencionado por Vitrúvio numa obra datada de 25 a.c."
http://moinhosdeportugal.no.sapo.pt/PrincipalTipificacao.htm

A história dos moinhos liga-se à história do homem e à necessidade de prover a sua alimentação. Assim, de acordo com as condições geográficas da cada povoação, eles eram implantados de forma a tirar proveito dos recursos naturais.
Os moinhos da minha terra implantavam-se ao longo do curso de um pequeno regato designado Rio Pequeno, afluente do Rio Mouro e este de um rio bem conhecido, quer pela importância geopolítica e histórica, quer pela beleza natural que o rodeia: o Rio Minho.
O Rio Pequeno tem origem nas encostas da Fraga, um enorme maciço rochoso situado a sueste de Cavenca e que faz parte do conjunto montanhoso da Serra da Peneda. No sítio designado por Portacerdeira (topónimo tão estranho como muitos outros que abundam por aqueles lados) recebe o contributo de diversas corgas, sendo as mais importantes a da Fraga, propriamente dita, a do Arroio e a do Ninho da Águia. A partir dali, traça o seu percurso sempre a descer, ligeiro, por um vale estreito e rápido até à foz, ao fundo de Lijó.
Foi nesse percurso de escassos quilómetros que Cavenca construiu os seus engenhos para moer os cereais. Tanto quanto a lembrança me permite recordar, o primeiro, no sentido descendente, era o Moinho da Várzea, que deixava de funcionar no Verão devido à escassez da água então desviada para a rega das culturas. Seguiam-se o Moinho das Lesmas, O Moinho do Salgueiro, o Moinho da Carvalheira, o Moinho Cimeiro, o Moinho Cerdeiro, o Moinho Cavalo e o Moinho do Rolo, este compartilhado com alguns co-proprietários de Eiriz.
Todos desenvolviam uma actividade intensa, de dia e de noite, e só paravam para alguma afinação ou reparação das represas onde se captava a água que o furor da água por vezes destruía.
Ainda recordo algum vocabulário e terminologia respeitante aos moinhos por ter participado activamente, na companhia de meu Pai, na complicada tarefa de afinação que de vez em quando requeriam.
Contudo, muitos desses termos já se diluíram na minha memória e, por isso, com o devido respeito, aqui transcrevo um excerto retirado da página da web aqui identificada:
  • Açude: Construído em pedra, serve para represar a água do rio ou ribeira.
  • Levada: Canal que tem origem no açude e transporta a água até à repressa.
  • Represa: Local onde é recebida a água vinda da levada.
  • Agueira: Canal condutor de agua (desce em cascata) da represa para o rodízio.
  • Cubo: Cabouco na parte inferior do moinho onde está colocado o rodízio.
  • Seteira: Peça existente ao fundo da agueira. Projecta a água para o rodízio.
  • Zorra: Peça de apoio ao rodízio.
  • Pejadouro: Tábua que comando a direcção da agua.
  • Comando do pejadouro: Serve para movimentar e parar o moinho.
  • Rodízio: Roda com movimento horizontal, ligada à mó por um veio.
  • Tapume: Tampão regulador da entrada da agua para a agueira.
  • Pedra: Mó em granito.
  • Cunhas da agulha: Tacos reguladores do controle/levantamento da pedra.
  • Moega: Peça em madeira, quadrada ou rectangular onde é colocado o grão.
  • Caleira: Peça em madeira ou cortiça. Recebe o grão da moega para o olho da mó.
  • Tremonhado: Lugar para onde cai a farinha vinda das mós.
  • Alqueire: Medida em madeira servindo para medir os cereais.
  • Taleigo: Saco em pano onde é transportado o grão ou farinha.
  • Maquia: Parte retirada pelo moleiro correspondente ao se trabalho.
  • Balança: Balança decimal.
  • Pesos: Peças auxiliares da pesagem.
É, sem dúvida, uma boa descrição. Mas eu atrever-me-ia a complementar com outros elementos que ainda retenho na memória.
Na minha terra, o cubo e o cabouco são coisas distintas.
O cubo é feito de anilhas de granito sobrepostas umas em cima das outras, ou um tronco de pinho escavado no interior, com um diâmetro interno de 30 a 50 centímetros, e situa-se num plano inclinado desde a seteira até à represa da água. É no cubo que, por força do estrangulamento na seteira, a água se acumula até ao bordo superior e gera a força necessária para fazer girar o conjunto móvel que produz a farinha.
O cabouco ou “inferno” é a parte inferior do moinho onde se situa a seteira, o rodízio, o pejadouro e os componentes que permitem ligar o movimento à mó e efectuar a regulação da moagem.
Na parte superior, onde se desenvolve a moagem, existe um conjunto complexo em que pontificam as pedras, uma fixa, denominada e uma móvel, a . É do movimento circular da mó sobre o pé e do atrito perfeitamente ajustado entre as duas pedras que se produz a farinha.
E sobre a mó há um dispositivo que serve para alimentar o grão que vai ser transformado em farinha. É composto pela adelha, reservatório afunilado onde se deposita o cereal, a tremonha, dispositivo que permite regular a quantidade de grão que deve cair para as mós de forma que o moinho não se mova em vão nem "encha" e deixe de funcionar, e o tanganho, um artefacto que oscilando com o movimento da mó vai transmitir as suas vibrações à tremonha para que o grão vá correndo até cair no orifício central da mó.


O funcionamento está bem descrito por Fernando Galhano
aqui:











Parte inferior de um moinho de rodízio (des. Fernando Galhano)




















Parte superior de um moinho de rodízio (des. Fernando Galhano)







A água, vinda directamente do rio ou de um depósito, passava pelo cubo, canal de descida, entrava a jorrar pela seteira (1) e impelia o rodízio (2) (…) constituído por penas (3). (O rodízio) rodava sobre um aguilhão (4), tradicionalmente constituído por dois seixos de quartzito, um deles estreito, rodando sobre outro, largo, com um orifício, (…) e transmitia o seu movimento de rotação à haste (5) ligada ao veio (6). Deste modo a mó movente (11) rodava sobre a dormente (12) graças a um entalhe adaptado à segurelha (10), peça da extremidade do veio. A espessura da farinha controlava-se graças ao aliviadouro (9) que através da sua trave (8) comunicava com uma tábua, denominada ponte (7). Dado que o aliviadouro funcionava em forma de cunha, consoante a cunha estivesse mais dentro ou mais fora, assim a distância entre as mós seria maior ou mais pequena e, logo, a farinha mais grossa ou mais fina.
Na porção superior do moinho, tudo se articulava com este funcionamento.
Com o já referido aliviadouro (9) controlando a espessura da farinha através da distância entre as mós (11), o cereal era colocado na moega (13), que, o deixava cair na tremonha ou quelho, vibrando graças ao movimento da rela ou chamadouro (15) roçando na mó. Este movimento conduzia o cereal ao centro, oco, da mó, onde era triturado, caindo depois numa caixa de madeira protegida por uma cortina (16) para evitar a dispersão da farinha
”.


Os trabalhos de manutenção eram diversos. Havia que limpar os canais da água que frequentemente entupiam com detritos arrastados pela corrente, reparar as penas do rodízio, limpar as areias e pedras acumuladas sob a trave para permitir regular a distância entre as mós e, o mais importante e delicado, ajustar o eixo da mó para permitir um movimento perfeitamente concêntrico e picar as pedras para que a moagem se fizesse de acordo com os padrões que a experiência exigia.
Uma boa moagem deveria ser composta por três elementos: a farinha, o farelo e o rolão, a parte mais grossa da farinha. Só depois de ser passada esta mistura pela peneira, mais ou menos fina, se obtinha o produto que se utilizava na confecção do pão e outras aplicações culinárias, sendo o farelo e a parte mais grossa do rolão utilizado na alimentação dos animais.
Dos moinhos de Cavenca já só resta um, o da Várzea. Uma imensa bolha de água que se desprendeu da encosta por baixo de Fonte Boa, há alguns anos atrás, arrastou tudo que lhe aparecia pela frente até se diluir no Vale do Minho. Aquele só escapou porque se situa a montante do local onde a violenta onda atingiu o Rio Pequeno, o pontão do Pedregal.
Eu chamo bolha de água a um fenómeno que ocorre com frequência nas zonas montanhosas, em Invernos de muita pluviosidade, porque não conheço outra designação e o termo “bexiga”, usado na minha terra, não me convence.
O que acontece é que a água das chuvas acumula-se no subsolo e forma imensos reservatórios de água, autênticas albufeiras subterrâneas, cuja parede de sustentação é a própria crosta terrestre. Quando a pressão é muita e a parede cede dá-se a catástrofe. Nada é capaz de conter a fúria da água misturada com pedras e terra, a que se alia o declive do terreno.
Assim desapareceram os moinhos das minhas Memórias…