quinta-feira, 30 de abril de 2009

Avaliação de Desempenho

“Maior actividade operacional. Objectivo: 250 detenções”
Consta que foi assim que alguns comandantes de Esquadra definiram como objectivo para o ano em curso o aumento da actividade operacional, facto que tem gerado alguma polémica.
Podem-se apresentar inúmeros argumentos a favor e contra. Parece que o principal pretexto reside no facto de se ter assistido a um incremento da criminalidade nos últimos tempos.
Eu perfilo-me contra esta forma de avaliação de desempenho e explico porquê.
Quando ingressei na GNR havia um período de instrução muito curto que exigia grande poder de síntese. Então, descrevia-se a forma como se executava a missão em três palavras: prevenir, educar, reprimir.
Para as mentes mais sensíveis importa esclarecer que o termo "repressão" era usado sem conotações políticas e tinha o mesmo significado que o actual, isto é, suster uma acção (ilegal), proibir actos (ilegais), punir infracções...
Cada uma daquelas modalidades de actuação definia um nível de importância relativa, começando-se pela que se considerava mais importante. Já naquele tempo se entendia, tal como acontece com a "gripe suína" que actualmente aflige o mundo, que a melhor forma de combater uma epidemia era a prevenção.
Num cenário de previsível aumento da criminalidade é importante responder com um maior esforço de prevenção através do incremento da actividade operacional, a qual deverá reflectir um menor número de delitos e, consequentemente, das detenções e autuações. Nesta perspectiva, o objecto de avaliação teria necessariamente, como referência, uma diminuição das detenções e não o contrário.
Impor um objectivo da natureza do que terá sido imposto aos agentes da PSP é como avaliar um médico de acordo com o número de óbitos que certifique ou um professor em conformidade com as reprovações que se verifiquem na sua disciplina.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Desabafos

Juro que não tenho estado de braços cruzados à espera de algo que me faça sorrir mas acho que mais vale esperar sentado. Os sinais continuam a ser muito preocupantes e à minha volta tenho observado sintomas de inquietação que me deixam deveras apreensivo. É que o melhor activo que uma organização pode deter são mesmo as pessoas mas não podem ser pessoas deprimidas e ansiosas por “abandonar o barco”. Têm de ser pessoas motivadas e animadas, que se sintam úteis e que vejam o seu desempenho valorizado e reconhecido do ponto de vista institucional, social e económico. Mas quando me deparo com elementos com capacidades, potencialidades e perfil para poder continuar activos por muito mais tempo a contar as semanas, os meses ou os anos para debandarem como quem anseia ver-se livre de um grilhão que apenas causa sofrimento algo vai mal…

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Aleluia


A todos os meus leitores desejo uma boa Páscoa. Para a semana há mais!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Duas formas, a mesma mensagem

Já é tempo de dizer algo. Mas, mesmo sem me manifestar como vinha sendo habitual, não tenho deixado de estar atento às actualidades. Hoje vem à colação duas formas diferentes de descrever os tempos de crise que atravessamos e que, em meu entender, dizem o mesmo. Os seus autores são figuras bem conhecidas. De um lado, José Saramago, escritor laureado, humanista, comunista assumido, um autêntico self made man e um mestre na arte de escrever, cujos cadernos já são para mim uma referência de leitura obrigatória, em meia dúzia de linhas mostra-nos a outra leitura da crise, uma visão límpida das vicissitudes destes tempos, da sociedade de consumo em que vivemos atolados e sobre a qual é necessário e urgente reflectir. Do outro o médico, escritor, humanista e activista dos direitos humanos, um homem que não se limita a falar e que tem passado a vida a bater-se contra a indiferença com que vemos cavar cada vez mais fundo o fosso entre ricos e pobres, fala da globalização e das diferenças entre o "TER", conceito materialista dominante que conduziu a economia mundial e a sociedade em geral ao estado em que se encontra e o "SER", uma concepção de vida baseada em valores como "humanidade, consciência social, livre arbítrio, liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade, cultura, preocupação ambiental, ecumenismo, tolerância, aceitação e preocupação do outro".
Vale a pena ler e refletir...