segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

31 de Janeiro

Faz hoje anos, precisamente trinta e seis, que envergando a verde farda de soldado de infantaria do Exército, integrava a formatura das forças em parada para comemorar a efeméride: o dia 31 de Janeiro.
Na parada do Regimento de Infantaria n.º 6, junto à Estrada da Circunvalação no Porto, éramos umas centenas, todos alinhados de verde, que "verdes" também nós éramos, mesmo depois de vivermos quase um ano de liberdade (se bem que, para mim, isso pouca diferença fez) e termos assistido à deposição do regime político que resultou do Estado Novo, fruto de uma acção militar tão original que deixou o mundo estupefacto...
Não sabia porque estava ali mas tinha a percepção que ia ser bom, porque era sexta feira e depois do almoço ficávamos dispensados para gozar o fim de semana.
Entretanto, debaixo de uma chuva copiosa, com a farpela colada ao corpo e a água a escorrer por todos os lados mas sem sequer pestanejar, ouvi falar de uma revolta dos sargentos, blá... blá... blá... e finalmente tocou a destroçar com grande alívio de todos.
Só mais tarde fiquei a saber que na madrugada do dia 31 de Janeiro de 1891, precisamente na mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto, um punhado de militares de baixa patente, liderados basicamente por sargentos mas com a adesão de alguns oficiais subalternos (também aqui se incluíam os capitães), promoveram um levantamento militar a que se associaram imediatamente algumas figuras de relevo ligadas ao movimento republicano que se opunha à monarquia. Na Praça de D. Pedro (actualmente Praça da República) foi proclamada a república e hasteada a bandeira com as cores da carbonária e que viriam a ser a as cores-base do actual estandarte nacional. Foi ainda constituído um governo provisório e ficou-se mais ou menos por aí porque pouco depois o movimento foi derrotado e tudo voltou ao mesmo, ou quase...
Terão sido diversas as razões que levaram os militares (de baixa patente) a rebelarem-se.
De uma forma geral, a humilhação a que Portugal foi sujeito na sequência do ultimato inglês, perante o qual o rei e o governo foram obrigados a ceder, deixou marcas profundas na sociedade portuguesa. E o sentimento de orgulho ferido foi bem explorado pelos republicanos que viram aí a oportunidade de ouro para depor a monarquia. Só que, tanto no seio dos militares como no do partido republicano, as cúpulas entenderam que ainda não estavam reunidas as condições para  a deposição do regime e a revolta ficou desde logo condenada ao fracasso.
Mas o que terá levado uma tropa "fandanga" a tomar tal iniciativa?
Bom, parece que associada àqueles factores, verificava-se uma evidente deterioração das condições de vida dos militares, vítimas também de uma forte desconsideração social. E isso terá sido bem aproveitado por aqueles que já há muito conspiravam para derrubar a monarquia.
A "Revolta dos Sargentos", como ficou conhecida, não resultou mas a semente ficou lá, germinou e frutificou dezanove anos depois.
E quem sabe se não haverá ainda por aí algum fermento capaz de reagir em circunstâncias de grave crise não só económica mas também da defesa de princípios e de direitos fundamentais das pessoas e das instituições?

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Relações Humanas na Rede

A internet veio alargar, e de que maneira, o círculo de relações entre pessoas e entidades. É uma realidade com que temos de lidar em casa, no trabalho, em todos os actos da nossa vida, desde um vulgar olá através de uma qualquer rede social até às mais complicadas operações financeiras.
Há que reconhecer as enormes vantagens das ferramentas que o desenvolvimento das tecnologias nos colocou ao alcance de um clique mas também há necessidade de estar sempre atento aos perigos que este mundo produz e fazer uso destas mesmas ferramentas com inteligência.
Onde há necessidade de tomar mais precauções é nas relações interpessoais. À semelhança do que sucede na condução de um automóvel ou na assistência de um jogo de futebol, muitas pessoas transfiguram-se quando estão por detrás de um écrã de computador. Aqui não se acusam perturbações fisionómicas, não se avaliam gestos nem timbres de voz, tudo que nos chega ou exporta pode ser artificial ou falso... Por isso, o melhor, quando não se tem a certeza, é ficar sempre na retranca ou, como diz o povo, nem muito ao mar, nem muito à terra.
Embora me considere um mero aprendiz, sou um utilizador compulsivo da internet da qual tenho colhido muitos proveitos nos mais variados aspectos da vida quotidiana. Desde o tempo dos news, onde "conheci" pessoas com as quais ainda mantenho o contacto, passando pelos blogues e pelas redes sociais, gravitam na órbita das minhas relações muitas pessoas reais (familiares, amigos, conhecidos, antigos companheiros de trabalho) e virtuais, alguns dos quais já passaram para o grupo dos primeiros.
Com todos procuro manter boas relações, no respeito pelas diferentes opiniões mas não me esquivo a sustentar algum debate sobre situações concretas defendendo o meu ponto de vista e até lançando algumas provocações para "animar".
Mas isso já me tem custado alguns constrangimentos que tem muito mais a ver com a personalidade, a meu ver, artificiosa, de quem está do outro lado do monitor do que com a provocação.
E assim acontece que, de vez em quando, desaparecem da minha esfera de relações alguns "amigos", supostamente "muito ofendidos", mas confesso que quase nem se dá por isso...
Como dizia o meu velho amigo: quem vai, vai, quem fica, fica...