sexta-feira, 31 de agosto de 2007

BRIC

"Em 2050, os BRICs já serão as maiores potências econômicas
do mundo; ultrapassando assim a União Européia e o ainda em
crescimento Estados Unidos da América. Formando-se um bloco
econômico, seria uma parceria perfeita para o sucesso extremo
e a omnipotência mundial."

http://www.agal-gz.org/portugaliza/numero05/bol05n01.htm



São um caso sério que podemos constatar no nosso País, na nossa Cidade, no nosso Bairro, na nossa Rua.
São os chineses com as suas lojas e bazares permanentemente abertos, mesmo quando todos os outros comerciantes têm as suas superfícies comerciais encerradas.
São os indianos com a sua prevalência na área da electrónica (veja-se o Martim Moniz e a Almirante Reis), as lojas de especiarias ou simplesmente a vender flores (qué frô?, qué frô?).
São os brasileiros apetrechados com as mais recentes "ferramentas" profissionais, prontos a disputar os lugares de topo no mundo empresarial e de negócios.
E os russos deslumbrados com as oportunidades da liberalização económica.
O que lhes falta para vencer?
Nada.
Por isso, não é de estranhar a apetência dos grandes grupos económicos por esses mercados tão promissores, quais abutres a quem chegou o cheiro da necrótica preia.

domingo, 26 de agosto de 2007

Emigrantes II

São de uma crueza singular, as fotos que uma Franco-Transmontana, Luso-descendente, me ensinou a descobrir.


E eu, que julgava saber tudo sobre o êxodo português dos anos 60, que me cansei de ver esposas e filhas de luto vestidas, viúvas e órfãos com maridos e pais vivos, adquiri uma nova visão do fenómeno pela perspectiva inversa da objectiva de Monseiur Bloncourt, imagens para ver e reflectir no endereço abaixo.


http://www.sudexpress.org/Expositions/Bloncourt/Images/Bloncourt.swf


Há mais documentos, retalhos de uma História ainda viva mas por contar na sua totalidade, na página do autor.



A miséria que se vivia em Portugal forçou muita gente a debandar e procurar melhorar as suas condições de vida. Para eles e para as suas famílias foi a solução.
E para o País?
A melhoria da economia de um País à custa da exportação de mão de obra é apenas ilusória. A riqueza é criada e resulta do trabalho. A História repete-se e não há forma de apreendermos as lições que nos incute. Desperdiçamos a riqueza promovida pelo fluxo das especiarias ocidentais, o mesmo com o ouro e a prata do Brasil, esbanjamos os milhões de €uros de fundos estruturais em investimentos não produtivos.
Hoje estamos no lugar comum que ocupávamos antes da adesão à Europa Comunitária. Em primeiros a contar da cauda.
Só falta virem dizer que estamos orgulhosamente... acompanhados!

sábado, 25 de agosto de 2007

Os Moinhos de Cavenca

"O registo mais antigo que se conhece e que alude ao moinho de água de roda horizontal, encontra-se num epigrama de Antipratos de Salónica, o qual se presume date de 85 A.C.. Contudo, existem outros registos, nomeadamente arqueológicos, os quais apontam para a existência deste sistema na Dinamarca no século I a.C., e mencionado num poema na China do ano 31 da nossa era. Já relativamente ao moinho de água de roda vertical, é pela primeira vez mencionado por Vitrúvio numa obra datada de 25 a.c."
http://moinhosdeportugal.no.sapo.pt/PrincipalTipificacao.htm

A história dos moinhos liga-se à história do homem e à necessidade de prover a sua alimentação. Assim, de acordo com as condições geográficas da cada povoação, eles eram implantados de forma a tirar proveito dos recursos naturais.
Os moinhos da minha terra implantavam-se ao longo do curso de um pequeno regato designado Rio Pequeno, afluente do Rio Mouro e este de um rio bem conhecido, quer pela importância geopolítica e histórica, quer pela beleza natural que o rodeia: o Rio Minho.
O Rio Pequeno tem origem nas encostas da Fraga, um enorme maciço rochoso situado a sueste de Cavenca e que faz parte do conjunto montanhoso da Serra da Peneda. No sítio designado por Portacerdeira (topónimo tão estranho como muitos outros que abundam por aqueles lados) recebe o contributo de diversas corgas, sendo as mais importantes a da Fraga, propriamente dita, a do Arroio e a do Ninho da Águia. A partir dali, traça o seu percurso sempre a descer, ligeiro, por um vale estreito e rápido até à foz, ao fundo de Lijó.
Foi nesse percurso de escassos quilómetros que Cavenca construiu os seus engenhos para moer os cereais. Tanto quanto a lembrança me permite recordar, o primeiro, no sentido descendente, era o Moinho da Várzea, que deixava de funcionar no Verão devido à escassez da água então desviada para a rega das culturas. Seguiam-se o Moinho das Lesmas, O Moinho do Salgueiro, o Moinho da Carvalheira, o Moinho Cimeiro, o Moinho Cerdeiro, o Moinho Cavalo e o Moinho do Rolo, este compartilhado com alguns co-proprietários de Eiriz.
Todos desenvolviam uma actividade intensa, de dia e de noite, e só paravam para alguma afinação ou reparação das represas onde se captava a água que o furor da água por vezes destruía.
Ainda recordo algum vocabulário e terminologia respeitante aos moinhos por ter participado activamente, na companhia de meu Pai, na complicada tarefa de afinação que de vez em quando requeriam.
Contudo, muitos desses termos já se diluíram na minha memória e, por isso, com o devido respeito, aqui transcrevo um excerto retirado da página da web aqui identificada:
  • Açude: Construído em pedra, serve para represar a água do rio ou ribeira.
  • Levada: Canal que tem origem no açude e transporta a água até à repressa.
  • Represa: Local onde é recebida a água vinda da levada.
  • Agueira: Canal condutor de agua (desce em cascata) da represa para o rodízio.
  • Cubo: Cabouco na parte inferior do moinho onde está colocado o rodízio.
  • Seteira: Peça existente ao fundo da agueira. Projecta a água para o rodízio.
  • Zorra: Peça de apoio ao rodízio.
  • Pejadouro: Tábua que comando a direcção da agua.
  • Comando do pejadouro: Serve para movimentar e parar o moinho.
  • Rodízio: Roda com movimento horizontal, ligada à mó por um veio.
  • Tapume: Tampão regulador da entrada da agua para a agueira.
  • Pedra: Mó em granito.
  • Cunhas da agulha: Tacos reguladores do controle/levantamento da pedra.
  • Moega: Peça em madeira, quadrada ou rectangular onde é colocado o grão.
  • Caleira: Peça em madeira ou cortiça. Recebe o grão da moega para o olho da mó.
  • Tremonhado: Lugar para onde cai a farinha vinda das mós.
  • Alqueire: Medida em madeira servindo para medir os cereais.
  • Taleigo: Saco em pano onde é transportado o grão ou farinha.
  • Maquia: Parte retirada pelo moleiro correspondente ao se trabalho.
  • Balança: Balança decimal.
  • Pesos: Peças auxiliares da pesagem.
É, sem dúvida, uma boa descrição. Mas eu atrever-me-ia a complementar com outros elementos que ainda retenho na memória.
Na minha terra, o cubo e o cabouco são coisas distintas.
O cubo é feito de anilhas de granito sobrepostas umas em cima das outras, ou um tronco de pinho escavado no interior, com um diâmetro interno de 30 a 50 centímetros, e situa-se num plano inclinado desde a seteira até à represa da água. É no cubo que, por força do estrangulamento na seteira, a água se acumula até ao bordo superior e gera a força necessária para fazer girar o conjunto móvel que produz a farinha.
O cabouco ou “inferno” é a parte inferior do moinho onde se situa a seteira, o rodízio, o pejadouro e os componentes que permitem ligar o movimento à mó e efectuar a regulação da moagem.
Na parte superior, onde se desenvolve a moagem, existe um conjunto complexo em que pontificam as pedras, uma fixa, denominada e uma móvel, a . É do movimento circular da mó sobre o pé e do atrito perfeitamente ajustado entre as duas pedras que se produz a farinha.
E sobre a mó há um dispositivo que serve para alimentar o grão que vai ser transformado em farinha. É composto pela adelha, reservatório afunilado onde se deposita o cereal, a tremonha, dispositivo que permite regular a quantidade de grão que deve cair para as mós de forma que o moinho não se mova em vão nem "encha" e deixe de funcionar, e o tanganho, um artefacto que oscilando com o movimento da mó vai transmitir as suas vibrações à tremonha para que o grão vá correndo até cair no orifício central da mó.


O funcionamento está bem descrito por Fernando Galhano
aqui:











Parte inferior de um moinho de rodízio (des. Fernando Galhano)




















Parte superior de um moinho de rodízio (des. Fernando Galhano)







A água, vinda directamente do rio ou de um depósito, passava pelo cubo, canal de descida, entrava a jorrar pela seteira (1) e impelia o rodízio (2) (…) constituído por penas (3). (O rodízio) rodava sobre um aguilhão (4), tradicionalmente constituído por dois seixos de quartzito, um deles estreito, rodando sobre outro, largo, com um orifício, (…) e transmitia o seu movimento de rotação à haste (5) ligada ao veio (6). Deste modo a mó movente (11) rodava sobre a dormente (12) graças a um entalhe adaptado à segurelha (10), peça da extremidade do veio. A espessura da farinha controlava-se graças ao aliviadouro (9) que através da sua trave (8) comunicava com uma tábua, denominada ponte (7). Dado que o aliviadouro funcionava em forma de cunha, consoante a cunha estivesse mais dentro ou mais fora, assim a distância entre as mós seria maior ou mais pequena e, logo, a farinha mais grossa ou mais fina.
Na porção superior do moinho, tudo se articulava com este funcionamento.
Com o já referido aliviadouro (9) controlando a espessura da farinha através da distância entre as mós (11), o cereal era colocado na moega (13), que, o deixava cair na tremonha ou quelho, vibrando graças ao movimento da rela ou chamadouro (15) roçando na mó. Este movimento conduzia o cereal ao centro, oco, da mó, onde era triturado, caindo depois numa caixa de madeira protegida por uma cortina (16) para evitar a dispersão da farinha
”.


Os trabalhos de manutenção eram diversos. Havia que limpar os canais da água que frequentemente entupiam com detritos arrastados pela corrente, reparar as penas do rodízio, limpar as areias e pedras acumuladas sob a trave para permitir regular a distância entre as mós e, o mais importante e delicado, ajustar o eixo da mó para permitir um movimento perfeitamente concêntrico e picar as pedras para que a moagem se fizesse de acordo com os padrões que a experiência exigia.
Uma boa moagem deveria ser composta por três elementos: a farinha, o farelo e o rolão, a parte mais grossa da farinha. Só depois de ser passada esta mistura pela peneira, mais ou menos fina, se obtinha o produto que se utilizava na confecção do pão e outras aplicações culinárias, sendo o farelo e a parte mais grossa do rolão utilizado na alimentação dos animais.
Dos moinhos de Cavenca já só resta um, o da Várzea. Uma imensa bolha de água que se desprendeu da encosta por baixo de Fonte Boa, há alguns anos atrás, arrastou tudo que lhe aparecia pela frente até se diluir no Vale do Minho. Aquele só escapou porque se situa a montante do local onde a violenta onda atingiu o Rio Pequeno, o pontão do Pedregal.
Eu chamo bolha de água a um fenómeno que ocorre com frequência nas zonas montanhosas, em Invernos de muita pluviosidade, porque não conheço outra designação e o termo “bexiga”, usado na minha terra, não me convence.
O que acontece é que a água das chuvas acumula-se no subsolo e forma imensos reservatórios de água, autênticas albufeiras subterrâneas, cuja parede de sustentação é a própria crosta terrestre. Quando a pressão é muita e a parede cede dá-se a catástrofe. Nada é capaz de conter a fúria da água misturada com pedras e terra, a que se alia o declive do terreno.
Assim desapareceram os moinhos das minhas Memórias…

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Cântico Negro

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom se eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui"!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
-Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde,
Por que me repetis: "vem por aqui"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis machados, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátrias, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!

Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
-Sei que não vou por aí.



José Régio

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

15 de Agosto

Feriado nacional, por ser dia de Nossa Senhora da Assunção, ou da Conceição, nunca soube bem do que é mas é igual. É um feriado de cariz católico e um feriado é sempre bem vindo.
Mas porquê à quarta feira?
Podia ser em qualquer dia menos às quartas, sábados e domingos... :)))

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Luar de Agosto


Não há luar como o de Agosto.
A sua observação transporta-me ao meu pequeno mundo da infância e da juventude, das noites vividas a regar o milho, a água fria a rumorejar sob os meus pés descalços em cascatas delicadas, o cheiro a feno, o coaxar dos sapos e das rãs, o matinal animar das lides sazonais...
Era tempo de uma intensa actividade agrícola, quais formigas a encher o celeiro para consumir no Inverno.
Pela calma da tarde demandávamos o fresco ribeiro para nos refrescarmos nas suas gélidas e escassas águas, tão límpidas que se podiam observar as trutas que calmamente se divertiam à caça dos incautos insectos que pousavam à superfície dos pequenos charcos, tão puras e frescas que se podia beber sem a mínima repulsa.
O Rio Pequeno no Verão não era propriamente um rio. Os mananciais que o alimentavam eram desviados para a rega das culturas e poucos eram os moinhos que podiam laborar pela escassez da força motriz que alimentava o girar constante dos rodízios. Por isso podíamos deambular à vontade por entre fetos e penedos, vasculhar todos os recantos, descobrir todos os seus segredos.
Muitas das actividades eram desenvolvidas ao luar que era lindo e ao mesmo tempo tenebroso. As sombras adquiriam formas fantasmagóricas e até o ruído dos nossos próprios passos nos fazia sentir um calafrio na espinha ou eriçar os cabelos.
Por fim, sorrateiramente, despontava a aurora e sossegavam os nossos espíritos inquietos...


Foto Internet

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Emigrantes

Não se pode ignorar que é um fenómeno a ter em conta neste recanto do Mundo. Então, nesta época do ano, é impossível não dar por eles nas ruas, nos supermercados, nos centros comerciais, nas estradas.
Os emigrantes espalhados pelos quatro (ou cinco, ou seis) cantos do mundo estão aí. Os que conseguem, porque outros, como aquela infeliz família minhota que encontrou a morte em Espanha quando tencionava fazer uma surpresa aos familiares, terminam da forma mais triste a sua diáspora.
Chegam em catadupas, falam francês e um português rude, mesclado de novos fonemas e novas terminologias, alguns porque acham importante exibir os conhecimentos linguísticos adquiridos em terras gaulesas, outros porque já foram aculturados pela sociedade onde vivem, trabalham e desenvolvem a formação necessária para se integrarem no meio.
Não aprecio mas compreendo. E os menos culpados são eles.
Desde sempre tem sido reconhecido o importante peso das suas poupanças na economia nacional. Promovem-se campanhas para atrair as suas economias, fazem-lhes festas, dão-lhes "graxa"... Mas na hora de concretizar medidas para lhes facilitar a vida não se faz nada.
Neste constante "diz que disse que não disse" mais uma vez se divisa a forma (in)decidida como este governo trata assuntos que mexem com as pessoas.
E é gritante a forma como (quase) todos nos acomodamos, subservientes, perante quem se proclama paladino das mais amplas liberdades e pratica a prepotência, a arbitrariedade e o abuso do poder para os mais débeis (a maioria), a bajulice, a adulação e subordinação aos interesses dos poderosos (a menor das minorias).
Por isso revejo-me no discurso desta espécie de D. Quijote alentejano, que enquanto puder piar há-de continuar a "pregar" aos peixinhos...
Que nunca os dedos lhe doam.

domingo, 5 de agosto de 2007

O Juiz de Fonte Boa

Sobranceiro a Cavenca, na vertente da serra que desliza até ao Rio Pequeno, fica o sítio denominado Fonte Boa.
Hoje já só lá se encontram visíveis as ruínas de uma casa e anexos construídos nos anos 50 do século passado pelos Serviços Florestais mas consta que havia por ali indícios de uma pequena povoação muito mais antiga, talvez a origem do lugar de Cavenca que se situa cerca de dois quilómetros mais abaixo. Não deixa de fazer sentido pois sabemos que o homem começou por organizar a sua habitação em locais elevados que garantiam melhores condições de defesa.
Fonte Boa caracteriza-se por ser um local com água e terrenos férteis, próximo de outros mananciais permanentes e terrenos cultiváveis tanto para nascente (Cancelinha e Arroio) como para poente (Furado e Outeiro), sem esquecer Cavenca e o próprio Rio Pequeno que ficam ali “à mão de semear”.
A existência de um antigo povoado naquele sítio carece de confirmação e isso deixo ao cuidado dos investigadores e antropólogos que se queiram debruçar sobre o assunto. As minhas deduções baseiam-se apenas naquilo que ouvia em pequeno e que em alguns aspectos são perfeitamente confirmáveis.
Dizia meu Pai que em Fonte Boa existiam vestígios de construções antigas e que na sua juventude era visível um trilho antigo, usado pelos habitantes daquele lugar, que descia a encosta denominada Calçadinha até ao Rio Pequeno, certamente para pescarem e moerem os cereais porque só ali o caudal de água reunia a força motriz suficiente para fazer girar os antigos engenhos.
E conta a lenda que havia em Fonte Boa um Juiz que se deslocava às reuniões do conselho, em Valadares, montado num gigantesco bode!!! Numa dessas reuniões chegou atrasado e todos os lugares que lhe permitiam sentar-se com dignidade já estavam ocupados pelo que, sem cerimónia, embrulhou a grossa capa e transformou-a num tamborete que lhe serviu de cómodo assento. No final da reunião levantou-se e saiu. Ao verem que tinha deixado a capa, um funcionário do fórum foi atrás dele e gritou-lhe “Sr. Juiz de Fonte Boa, olhe a sua capa…”. Calmamente o Juiz voltou-se e disse “o Juiz de Fonte Boa, o banco onde se sentou nunca o levou pegado ao cu”.
Verdadeiro ou lenda, daqui ressalta uma realidade, é que o concelho de Valadares existiu mesmo e só foi extinto numa das mais recentes reorganizações administrativas, julgo que do tempo de Mouzinho da Silveira: “Foi vila e sede de concelho até 1855. Era constituído pelas freguesias de Alvaredo, Badim, Ceivães, Cousso, Cubalhão, Fiães, Gave, Lamas de Mouro, Messegães, Paderne, Parada do Monte, Penso, Podame, Riba de Mouro, Sá, Segude, Tangil e Valadares. Tinha, em 1801, 11 208 habitantes. Após as reformas administrativas do início do liberalismo foram desanexadas as freguesias de Fiães, Lamas de Mouro e Paderne", conforme se pode ler na Wikipédia.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O Voo da Fera

Deslumbrada com o vento e com a paisagem dunar nunca vista, a "Maisy" dá a sensação de querer levantar voo. Mas não, ela, tal como o dono, voa baixinho...