segunda-feira, 30 de março de 2009

O "Risadas"

"O jogo de futebol realizado no estádio do Alijoense, da primeira divisão distrital da Associação de Futebol de Vila Real, terminou sem quaisquer incidentes e o “Risadas” até se permitiu dispensar a protecção da força policial, mesmo antes de entrar para os balneários."

Retomamos o registo de Memórias que o tempo não apaga e aqui fica um dos muitos episódios que contribuíram para que eu passasse a detestar os jogos de futebol ao vivo.
É que à margem de espectáculos, em geral de uma pobreza confrangedora, assiste-se a transmutações de personalidade relativamente a pessoas que no dia a dia são cidadãos exemplares e ali revelam uma faceta completamente desconhecida passando a agir como autênticas bestas.

quarta-feira, 25 de março de 2009

domingo, 15 de março de 2009

Insulto

O primeiro-ministro acusa os sindicatos afectos à CGTP de se deixarem instrumentalizar pelo PCP e do BE e queixou-se de as manifestações se limitarem ao insulto.

Mais do mesmo. O "nosso" primeiro teima em ver nas reacções das pessoas a acção dos malditos comunistas...
Faz-me recordar aquele jovem árbitro que recolhia aos balneários escoltado pela magra força policial sob um chorrilho de insultos e vaias de umas centenas de adeptos em fúria e muito ofendido volta-se para mim e diz: Ó senhor comandante, não vê que me estão a insultar? O senhor quando se meteu nisto estava à espera de quê? retorqui.

(In)Segurança

Indivíduo, de 42 anos, suspeito de furtar dinheiro a uma idosa de Refoios (Ponte de Lima), foi detido e amarrado por duas mulheres, que lhe fizeram uma espera munidas de paus. À GNR, terá confessado a autoria dos furtos.

Quando tanto se debate sobre insegurança, tenho a impressão que aquelas duas arrojadas minhotas deram o mote para debelar esse flagelo social. Não sou, nunca fui, apaniguado da justiça popular mas para resolver algumas coisas sempre será bom "suspender temporariamente a democracia".
Opss... acho que já vi isto em qualquer lado...

sábado, 14 de março de 2009

Dia Mundial da Incontinência Urinária

14 de Março: Dia Mundial da incontinência urinária
A incontinência urinária não afecta tanto os homens porque nós sempre temos a possibilidade de dar um nó na "berga" mas as mulheres, coitadas, é uma desgraça. Dizem que uma em cada cinco sofre desse problema, se calhar é mais...
Mas isto de se instituir um dia mundial para tudo não será demais? E porquê 14 de Março?
Já agora, vamos criar o dia universal da preguiça. Devia ser bonito, todo o mundo a preguiçar...
Então, contra a incontinência...
A la ordem mi general...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Outras Oportunidades

Angola tem um potencial de negócios elevado. Não há que negá-lo. Mas foi deprimente ver todos aqueles lambe-cus, da área politica e empresarial a bajular o presidente, há mais de vinte anos no poder sem para tal ter sido elegido, e os membros da sua comitiva. Uns muito cordatos e subservientes, outros como abutres farejando a preia. Fica-se com a sensação de que existe um certo saudosismo do passado, semelhante ao sentimento despertado pela célebre frase do António de Santa Comba quando declarou solenemente "para Angola e em força". Mas se o objectivo for o lucro fácil não se iludam. A situação actual não é a mesma de há sessenta anos atrás e agora quem manda lá são eles...

11 de Março

Nesse dia (11 de Março de 1975), encontrava-me no Regimento de Infantaria n.º 6, no Porto, onde me especializava na arte da condução auto, e a meio da manhã fui guarnecer um posto de sentinela junto do parque das viaturas, armado com uma espingarda automática G3. Ainda hoje estou à espera que me digam qual era a minha missão ali, mas cumpri-a cabalmente. Por ali, posso garantir, eles não passaram.

O resto está algures.

sábado, 7 de março de 2009

Do Rio Tua ao Rio Pinhão - Direito à Liberdade e à Segurança

...
Era um indivíduo bem apresentado, de mediana idade e notava-se que sabia bem o que queria e como obtê-lo. A presença a seu lado, ou atrás, de um graduado policial em pré aposentação denotava algum cuidado com a sua segurança pessoal e avalizava a intervenção naquele evento.

...

É mais um episódio do dia-a-dia de um tempo que já lá vai. Este parágrafo serve apenas para "aguçar" o apetite. O resto está ali.

quinta-feira, 5 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

Novas Oportunidades

Trinta e cinco mil dos 49 mil elementos que compunham o efectivo da GNR e da PSP, em 2006, não possuía qualificações ao nível do ensino secundário. Este número representava cerca de 75% do total dos homens ao serviço nestas duas forças de segurança. No entanto, os elementos com o 12.º ano têm vindo a aumentar naquelas duas forças de segurança: na PSP são já 35% (dos 22 mil elementos que actualmente integram aquela corporação) os agentes com esse grau de escolaridade; e na GNR cerca de 10% (dos 45 mil militares).

Recebi-o com o respeito e apreço que sempre me mereceram os mais velhos, um modo de proceder que noutros tempos fazia parte da criação.
O Cabo João Sousa era já octogenário mas com todas as faculdades intactas. Apesar do seu semblante sisudo, muito comum à generalidade dos que no seu tempo exerceram a espinhosa função de agente da autoridade, era um homem afável, de palavra fácil, detentor de uma vasta experiência de vida. Foi ao Posto entregar um recibo de uma consulta médica para ser reembolsado da comparticipação que lhe era devida pelos serviços de assistência na doença, uma bagatela que não se podia dispensar.
Para o efeito era necessário preencher um documento em quadruplicado, manualmente, que só o trabalho de tentar acertar os espaços em branco na velha "Olivetti" era suficiente para demover os mais ousados.
Prontifiquei-me a preencher os papéis, um a um, mas o Cabo Sousa, de forma educada, recusou. Disse-me que gostava de escrever, só precisava de se sentar um bocadinho numa secretária que do resto tratava ele. Algo envergonhado, não insisti. Disponibilizei-lhe o espaço e forneci-lhe os impressos de modelo obrigatório. Com mão firme e traço impecável, desenhou os caracteres necessários ao preenchimento dos documentos, entregou-mos e, despedindo-se com a mesma afabilidade, foi à sua vida.
Apreciei a dignidade da atitude e a beleza da escrita impressa naqueles papéis pelo punho do ancião, uma caligrafia escorreita, quase desenhada, que me parece ser muito comum naqueles tempos pelo que se pode observar em inúmeros documentos da época.
O Cabo Sousa não tinha, seguramente, outras habilitações que não fosse o ensino básico obrigatório o qual se deveria cingir à terceira ou quarta classe, muitas vezes obtidas nas aulas regimentais, uma função social importante que as instituições militares cumpriam de forma notável. Porém, os seus conhecimentos eram, de certeza, de nível muito superior. Só que não havia certificação de competências e… o saber acumulado assim permaneceu sem reconhecimento ao longo da sua vida profissional e pessoal.
A vida é mesmo assim. Um aprendizado permanente impulsionado pela necessidade de saber mais, pela prática de inúmeros erros que importa corrigir, pela vontade de desenvolver competências para ascender hierarquicamente, pela simples curiosidade, realização e satisfação pessoal que daí advém.
Conheço muitos outros trabalhadores que, com muitos sacrifícios de toda a ordem, obtiveram habilitações de nível superior, conjugando a actividade profissional com o estudo. Eu próprio passei por essa experiência e mais de uma vez tive de abandonar as salas de aulas para acorrer às minhas obrigações de serviço. De entre todas destaco duas, uma para dirigir as acções a desenvolver num caso de homicídio, outra para transportar uma mulher para o Hospital onde, pouco tempo depois de ali ter entrado, deu à luz uma linda menina, minha filha.
No meu caso pessoal, esses sacrifícios permitiram-me atingir as metas estabelecidas. Muitos outros com qualificações de nível superior continuam a ser Soldados (ainda não me habituei a usar a nova designação de Guardas), Cabos ou Sargentos. Certamente que os serviços onde desenvolvem as suas profissões beneficiam muito das competências adquiridas pelos funcionários. Do ponto de vista institucional é gratificante poder proclamar que o nível de escolaridade melhorou substancialmente mas do ponto de vista pessoal resulta muita frustração. É que não basta reconhecer as habilitações. É preciso também reconhecer o esforço e a excelência do serviço prestado com algo mais do que um mero diploma.
Afinal, para que serve o reconhecimento, certificação e validação de competências cujas virtualidades são proclamadas aos quatro ventos?
Eu atrever-me-ia a dizer que serve apenas interesses difusos no submundo do oportunismo político e económico mas não quero que me acusem de má-língua.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Leon Machado - Os seis pecados de Saramago

Já é um texto bastante antigo mas vale a pena lê-lo. Acho eu.

José Saramago foi o primeiro escritor de língua portuguesa a ganhar o Prémio Nobel da Literatura. Isto deveria ser motivo de júbilo para todos os falantes da língua e, particularmente, para nós, uma vez que o escritor nasceu em Portugal. Não tem sido, de facto, assim. Isto porque o escritor cometeu seis pecados mortais:
O Saramago é um vaidosão. Vejam-se os volumes do diário, um verdadeiro manifesto narcisista que faz morder-se de inveja qualquer pobre escriba que o leia e que tenha pretensões a um dia vir a ser falado fora do país.
O Saramago é um comunista assumido. Numa altura em que essa praga do comunismo anda pelas ruas do amargura, o escritor, numa teima de velho, mantém-se fiel a Marx e a Lenine. Deu-se o descalabro soviético, caiu o muro de Berlim, debandaram os comunistas em massa e Saramago manteve-se firme como a grande pedra que encima a porta da igreja do convento de Mafra.
O Saramago é um ateu confesso. Deus para ele é uma criação da imaginação do homem. Perguntar-se-á quem criou a imaginação. Para isso ele não tem resposta. Veja-se o vergonhoso e blasfemo livro que parodia os santos Evangelhos e que, só por o ter pensado, sem mesmo escrevê-lo, mereceria, senão a fogueira cá, que se não usa por ser coisa do passado, pelo menos a fogueira no outro mundo.
O Saramago é um traidor porque abandonou a terra que lhe deu o ser, que o tornou um autor conhecido. Diz ele que o país o não merece, que é superior a tudo isto. E então não perde oportunidade para humilhar os que cá vivem, inventando as maiores mentiras, enegrecendo o que aqui é sol luminoso em céu aberto.
O Saramago enriqueceu à custa dos ingénuos que lhe compram os livros. Uns, poucos, porque aquilo que escreve é intragável, lêem-no como quem lê os sagrados textos. Até fazem, diz-se, umas missas demoníacas onde se lêem passagens do tal blasfemo livro. Outros compram-lhe os livros porque está na moda e parece bem ter uma dúzia daqueles volumes em amarelo desbotado nas estantes da sala.
O Saramago não sabe escrever. É um facto indiscutível. Disse-o já o Padre Minhava, um eminente filólogo e linguísta da nossa praça. Nem conhece os números, pois não numera os capítulos. A pontuação é o que se vê. Anda a gente à procura de um ponto final e encontra uma vírgula, e quando a encontra, que muitas vezes o que encontra é um verbo fora do sítio que nem consta do dicionário. O Saramago não tem a mínima noção do que é o bom estilo e vê-se bem que nunca leu os clássicos, como o Padre António Vieira, o Camilo, o Eça ou o Fernando Pessoa. A gramática do Lindley Cintra não a conhece e a sintaxe das frases que escreve enferma de ignorância.
A maledicência, a inveja, a má intenção, o preconceito, o sectarismo e a desinformação fazem coro no que acima fica dito. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Quando um atleta ganha uma corrida ou a selecção nacional ganha um jogo de futebol, Portugal está em festa e não há ninguém que não se sinta orgulhoso de ser português. Ganhou Saramago o prémio Nobel e dividem-se as opiniões e os que deveriam ser os primeiros a louvar, ou louvam-no a metade – «Eu não gosto do Saramago, mas estou satisfeito que ele tenha ganho o prémio» – ou simplesmente o lamentam – «Havia outros que o mereciam mais». Ouvem-se por aí coisas como esta: «É uma vergonha para o país os Suecos premiarem um indivíduo comunista que nem sabe escrever.»
Acontece que José Saramago é o escritor português, vivo ou morto, mais traduzido e mais lido fora do país. Poderá pôr-se a questão de ser ele ou não o melhor escritor português. Aí as opiniões divergem e cada um tem os seus gostos. O facto indiscutível é este: José Saramago é o escritor português mais conhecido no estrangeiro e só ele, presentemente, poderia ter ganho o Prémio Nobel da Literatura. Convençam-se os Portugueses e deixem-se de preconceitos religiosos e partidários e de invejas mesquinhas. A propósito: Já o leram? Se não o leram, leiam.

José Leon Machado: Pontapés do Canto
In: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/machad12.htm