segunda-feira, 2 de março de 2009

Leon Machado - Os seis pecados de Saramago

Já é um texto bastante antigo mas vale a pena lê-lo. Acho eu.

José Saramago foi o primeiro escritor de língua portuguesa a ganhar o Prémio Nobel da Literatura. Isto deveria ser motivo de júbilo para todos os falantes da língua e, particularmente, para nós, uma vez que o escritor nasceu em Portugal. Não tem sido, de facto, assim. Isto porque o escritor cometeu seis pecados mortais:
O Saramago é um vaidosão. Vejam-se os volumes do diário, um verdadeiro manifesto narcisista que faz morder-se de inveja qualquer pobre escriba que o leia e que tenha pretensões a um dia vir a ser falado fora do país.
O Saramago é um comunista assumido. Numa altura em que essa praga do comunismo anda pelas ruas do amargura, o escritor, numa teima de velho, mantém-se fiel a Marx e a Lenine. Deu-se o descalabro soviético, caiu o muro de Berlim, debandaram os comunistas em massa e Saramago manteve-se firme como a grande pedra que encima a porta da igreja do convento de Mafra.
O Saramago é um ateu confesso. Deus para ele é uma criação da imaginação do homem. Perguntar-se-á quem criou a imaginação. Para isso ele não tem resposta. Veja-se o vergonhoso e blasfemo livro que parodia os santos Evangelhos e que, só por o ter pensado, sem mesmo escrevê-lo, mereceria, senão a fogueira cá, que se não usa por ser coisa do passado, pelo menos a fogueira no outro mundo.
O Saramago é um traidor porque abandonou a terra que lhe deu o ser, que o tornou um autor conhecido. Diz ele que o país o não merece, que é superior a tudo isto. E então não perde oportunidade para humilhar os que cá vivem, inventando as maiores mentiras, enegrecendo o que aqui é sol luminoso em céu aberto.
O Saramago enriqueceu à custa dos ingénuos que lhe compram os livros. Uns, poucos, porque aquilo que escreve é intragável, lêem-no como quem lê os sagrados textos. Até fazem, diz-se, umas missas demoníacas onde se lêem passagens do tal blasfemo livro. Outros compram-lhe os livros porque está na moda e parece bem ter uma dúzia daqueles volumes em amarelo desbotado nas estantes da sala.
O Saramago não sabe escrever. É um facto indiscutível. Disse-o já o Padre Minhava, um eminente filólogo e linguísta da nossa praça. Nem conhece os números, pois não numera os capítulos. A pontuação é o que se vê. Anda a gente à procura de um ponto final e encontra uma vírgula, e quando a encontra, que muitas vezes o que encontra é um verbo fora do sítio que nem consta do dicionário. O Saramago não tem a mínima noção do que é o bom estilo e vê-se bem que nunca leu os clássicos, como o Padre António Vieira, o Camilo, o Eça ou o Fernando Pessoa. A gramática do Lindley Cintra não a conhece e a sintaxe das frases que escreve enferma de ignorância.
A maledicência, a inveja, a má intenção, o preconceito, o sectarismo e a desinformação fazem coro no que acima fica dito. Não é tudo isto verdade? Ainda mal!
Quando um atleta ganha uma corrida ou a selecção nacional ganha um jogo de futebol, Portugal está em festa e não há ninguém que não se sinta orgulhoso de ser português. Ganhou Saramago o prémio Nobel e dividem-se as opiniões e os que deveriam ser os primeiros a louvar, ou louvam-no a metade – «Eu não gosto do Saramago, mas estou satisfeito que ele tenha ganho o prémio» – ou simplesmente o lamentam – «Havia outros que o mereciam mais». Ouvem-se por aí coisas como esta: «É uma vergonha para o país os Suecos premiarem um indivíduo comunista que nem sabe escrever.»
Acontece que José Saramago é o escritor português, vivo ou morto, mais traduzido e mais lido fora do país. Poderá pôr-se a questão de ser ele ou não o melhor escritor português. Aí as opiniões divergem e cada um tem os seus gostos. O facto indiscutível é este: José Saramago é o escritor português mais conhecido no estrangeiro e só ele, presentemente, poderia ter ganho o Prémio Nobel da Literatura. Convençam-se os Portugueses e deixem-se de preconceitos religiosos e partidários e de invejas mesquinhas. A propósito: Já o leram? Se não o leram, leiam.

José Leon Machado: Pontapés do Canto
In: http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/machad12.htm

Sem comentários: