sábado, 10 de novembro de 2007

A Criação

Criar não é apenas alimentar ou propagar a espécie. É também educar, incutir hábitos e princípios adoptados pela sociedade. Por isso é muito comum utilizar a designação "malcriado" em relação a alguém que se comporta de forma incorrecta, tendo em conta os padrões utilizados para distinguir o certo do errado.
O Rogério, uma popular personagem muito conhecida e respeitada na Vila de Monção, era um daqueles indivíduos que não desperdiçava qualquer oportunidade para incutir na sua extensa prole uma criação sustentada em hábitos de respeito e honestidade. Habitava uma velha casa na Rua General Pimenta de Castro que também servia para exercer a sua actividade comercial em vários ramos, ora de taberneiro, ora de sapateiro, ora sei lá de quê. E era usual as pessoas das aldeias, sempre que se deslocavam à Vila para fazer compras ou resolver outras coisas que só ali se podiam decidir, deixarem os seus pertences no estabelecimento do Rogério enquanto deambulavam pelas artérias da localidade na resolução das inúmeras tarefas.
Um dia, ao proceder às ultimas arrumações para encerrar o estabelecimento, o Rogério encontrou perdida no meio da tralha uma carteira bem grossa, indiciando ter um bom recheio de notas, que na altura eram bem escassas.
Meteu a carteira no bolso e, fechadas as portas, dirige-se para a habitação onde a família, à volta da mesa, o esperava ansiosamente para cear.
Sentou-se no seu lugar e, com ar muito sério e em tom baixinho para estabelecer uma maior cumplicidade no acto, pegou na carteira, colocou-a em cima da mesa e disse: - Meus filhos, estamos ricos! Encontrei esta carteira cheia de dinheiro ali na loja e agora podem escolher o que desejarem...
Deslumbrados os filhos começaram cada um a pedir o que mais desejava. Uma queria uma máquina de costura, outro queria um clarinete novo, outro ainda um fato de veludo, enfim, uma lista enorme de pedidos...
Decepcionado com a ganância dos filhos, o Rogério puxou de uma vara apropriada e começou a desancar em todos exclamando: - Seus filhos da p..., eu a pensar que tinha uma família de gente honrada e honesta e estou metido com um bando de ladrões... vão já p'ra cama que hoje não há ceia para ninguém!
Era assim que se dava a criação naquele tempo. Hoje seria um método de educação mal aceite mas em certas circunstâncias ainda fazia jeito...

7 comentários:

Anónimo disse...

E verdade que nos tempos mais antigos a educação se fazia com umas varadas,mas pour o que vejo as vezes hoje em dia umas varadas de ves em quando não faziam mal nenhum!!!
beijinhos...

Anónimo disse...

Apesar da educação muitas vezes ser feita de uma forma rude, creio que de certa forma, havia um respeito maior. Mas, a tudo é preciso adequação, nada deve ficar no exagero: ainda eu dei algumas boas palmadas, quando educava minha prole, e quando já todos os outros meios haviam sido esgotados. E jamais me arrependi, pois consegui criar pessoas de bem!Sei que fiz o melhor que pude e sabia.

Anónimo disse...

Quantos Rogérios como esse existirão hoje?
Sobrará por aí algum?
Nahhh!!!!
Este mundo está subvertido e cada vez mais.
Era de un Rogério desses que precisavamos em determinados poleiros, a começar pelos maiores, mas hoje só há os filhos do Rogério!

redonda disse...

Não houve um bocadinho de engano da parte dele? Afinal os filhos deviam olhar para ele como um modelo e se o seu próprio pai lhes apresentava a carteira daquela forma, isso pode tê-los confundido...

Anónimo disse...

Deixei-te um mimo no meu blog.
Abraços!

Moura ao Luar disse...

Agora fugiam de casa e depois ia o pai preso

susana disse...

Eu também já encontrei uma carteira recheada de dinheiro, "marcos", era de um alemão! E devolvi até ao ultimo tostão! A recompensa foi uma garrafa de vinho, oferecida pelo dono da carteira!
beijinhos miss