sábado, 8 de dezembro de 2007

Linguística de Cavenca – Pronúncias Dialectais

Achei interessante a temática desenvolvida pelo ilustre bloguista, Senhor Jofre de Lima Monteiro Alves, no magnífico Blog Courense Coura Magazine (http://couramagazine.blogs.sapo.pt/).

Muitos dos vocábulos ali apresentados são idênticos aos usados na minha terra mas aqui outros há que diferem de tudo que é costume ouvir-se em redor.

Isolado na encosta da serra, o povo de Cavenca desenvolveu formas de expressão próprias, algumas bem rudes, que nos faziam corar de vergonha sempre que alguém se ria da nossa “forma” de falar.

De tal modo que algumas pessoas mais bem informadas, no intuito de disfarçar a rudeza da nossa linguagem e para denotar um modo de falar mais evoluído, se referiam à freguesia Riba de Mouro dizendo Cima de Mouro

Numa tentativa de reavivar lembranças do tempo que já lá vai mas que ainda teima em resistir pontualmente, pelo menos enquanto houver resquícios de uma geração em declínio na qual me incluo, vou tentar evocar alguns dos termos usados no “meu tempo” e que se distanciam do português corrente e mais se aproximam do arcaico, especialmente pela fonética.

Àgora
Interjeição de espanto que significa não digas!
Assubir Subir, trepar;
Auga Água;
BásVais (a troca do v pelo b é uma característica do norte
sobejamente conhecida);
BeiçoLábio;
BeiçomBênção;
BendimarVindimar;
BuberBeber;
CabirtoCabrito;
CandoQuando;
CantoQuanto;
CastinheiroCastanheiro;
CoiroPreguiçoso, indolente;
CortelhoCorte pequena;
CraiboCaibro;
CricaVagina
CuidarCogitar, pensar;
EndeOnde/aonde (ende bás?/aonde vais?);
FatchinsTestículos (agradeço a lembrança ao senhor Alves Silva,
in “A Terra Minhota”, Redacções, Monção,
1 de Dezembro de 2007
);
GestaGiesta;
MunçomMonção;
HaiHá;
PamPão (em geral, todos os ditongos assumem a variante
am (cam/cão, açafram/açafrão, tcham/chão, Juam/João,
maçam/maçã) ou om (Som/são, Adom/Adão,
ladrom/ladrão, cagom/cagão, saltom/saltão,
melom/melão);
Nom/num
Não (nom, num deixes, num quero...);
ParribaPara cima;
SatcharSachar (regra geral, o ch assume a pronúncia tch);
Si
Sim;
Un-haUma (é difícil reproduzir graficamente este som, ai se é…).


:)))

8 comentários:

saloia disse...

Ai Ai....parece a minha tia de Boimo a falar!! :)

Alias..muitos dos meus a falar.

sorrisos neste Sábado de manhã.

Beijinhos e bom dimd e semana.

Mary

Adriana disse...

Começamos a pensar que o senhor andou a implantar microfones em todos nós. Ainda ontem, a propósito do açúcar na mesa, começamos a lembrar de como se diz em Cavenca. A minha Tia Judite disse "sucre" e a Alberta corrigiu: "não é sucre. É açúcare".
Não esquecer que:
testículos - "grão"
porco - "reco"
"tchoutcho" - tolo
rsrsrsrsrsrs
Estamos de boca aberta com essa transmissão de pensamentos. Primeiro o caso da bilha, agora o vocabulário cavenquês?
Um grande beijo
Any, Adriana e Junior
PS: O Junior já está a ficar melhor.

Anónimo disse...

Lá nas fraldas das montanhas de Soajo, também se usam muitos desses termos. Recordo-me de, quando era miúdo ouvir as gentes de Riba de Mouro apresentar uma sonoridade diferente da nossa, em Adrãom e achar que eles eram primos dos galegos, ainda mais que eu. Mas mesmo ali nas aldeias mais chegadas a Adrão, todos somos diferentes no sotaque. Adrão, Paradela, Soajo, Vàrzea, Cunhas,... parece que a linguagem serve de fronteira entre elas. Mas antigamente era mais acentuada a diferença. Pelo menos é o que me parece.
Um abraço,

Anónimo disse...

Passei para ver o blogue e fiquei maravilhado com este texto acerca da linguístiva e pronúncia regional, que tanto me atrai. Não mereço as palavras iniciais, mas o texto é de cinco estrelas. Boa semana.
Jofre Alves
http://couramagazine.blogs.sapo.pt/

Eira-Velha disse...

Poisê, ele ai muitas cousas que ja num me lembram, e tamém ai quem tcham'ós culhons grans mais fartei-me de rir cando bi os fatchins porque era un-ha maneira de nós acaçoarmos uns cos outros "olha que lebas um pontapé nos fatchnis" ou enton "bai tocar rabeca nos fatchins à prima" que num sei o que cria dezer...

redonda disse...

Engraçado isto dos diferentes modos de falar.
O meu pai que é transmontano ensinou-me algumas palavras de mirandês e lembro-me de uma canção, mas não sei como se escrevem as palavras.

Eira-Velha disse...

Hai lhénguas que to Is dies se muorren i hai lhénguas que to Is dies renácen.
Há línguas que todos os dias se vão e há línguas que renascem dia a dia.
http://mirandes.no.sapo.pt/indextext2.html

Ivy disse...

Olá amigo.Ando tão pouco inspirada ultimamente, que apesar de vir sempre ao teu blog, ler teus posts, não os tenho comentado. Desculpe. As vezes ficamos assim...
Mas queria dizer-te que aqui na litoral de Santa Catarina, existem descendentes de portuguêses que ainda usam muitos dos termos que tu nos trouxeste nesta publicação.Como moro por aqui há mais de 12 anos e tenho muitos amigos, acabei por rir sozinha, lembrando-me deles e de como permanece a cultura entranhada nas pessoas. Acho muito legal!
Um beijo!