segunda-feira, 22 de março de 2010

O Portal da Quinta do Crasto

Quem percorre a Estrada Nacional 101 de Monção para Valença, quase na divisória dos dois concelhos e das freguesias vizinhas de Lapela e Friestas, depara-se subitamente com uma imponente frontaria de granito que tem desafiado o decurso dos séculos. É o celebrado portão da Quinta do Crasto, ou de Castro, porque a primeira designação e aquela pela qual é mais conhecido não é mais nem menos do que o mesmo nome que apenas sofreu uma inversão na sua estrutura (metátese), fenómeno muito comum nesta região norte de Portugal.

A sua descoberta, quase repentina, no meio de densa e verdejante vegetação, leva muitos transeuntes a parar no largo fronteiro e indagar do que se trata, talvez alimentando a esperança de poder efectuar uma visita à propriedade que, com uma entrada daquele quilate, se antevê grandiosa e interessante.
Porém, depressa essa expectativa se desvanece. Os ferrugentos portões encontram-se fechados, não há qualquer dispositivo de chamada e não se vislumbra vivalma para fornecer qualquer explicação.
A grandiosidade do portão contrasta com o resto da propriedade que terá pertencido à aristocrática família  Pimenta de Castro, cuja genealogia se perde na memória dos tempos e com a qual não vou perder tempo nem quero fazer "concorrência" nesta matéria ao meu ilustre amigo Alberto Magno Pereira de Castro que, seguramente, já anda a vasculhar nas raízes dessa antiquíssima árvore...
De facto, a casa que agora tem vindo a ser alvo de obras de restauro e se projecta já com uma volumetria solarenga, não passava até há poucos anos de uma modesta habitação rural cercada de vinhas e leiras de cultivo.
À escassez de informação credível sobre a misteriosa quinta, contrapõe-se a lenda e a sabedoria popular consubstanciada em duas narrativas que, como todas as lendas, enfermam de escassa credibilidade.
A primeira é que na freguesia vizinha de Gondomil, dois homens envolveram-se numa contenda por causa dos marcos que dividiam as respectivas propriedades.À boa maneira do norte, o homem que se considerava roubado, puxou da enxada e desferiu um golpe na cabeça do vizinho, matando-o. Entretanto foram chamados os guardas da Rainha para prender o homicida. Este, conhecedor dos direitos e privilégios do Portão da Quinta do Crasto, fugiu e dirigiu-se para ali perseguido pelos guardas e pela população. Chegando lá, agarrou-se ao portal conseguindo eximir-se à justiça porquanto, todos aqueles que se protegessem junto do portal expiavam os crimes cometidos.
A segunda reza que, perante a ameaça das tropas napoleónicas que invadiram Portugal pelo Norte, os proprietários da nobre Quinta reuniram todo o dinheiro e jóias que possuíam e entregaram o fabuloso tesouro a um fiel criado incumbindo-o de o colocar em segurança. O criado apareceu mais tarde morto mas do tesouro nunca mais se soube, o que leva a considerar duas hipóteses: uma que teria o fiel servo escondido o tesouro em local seguro e levado o segredo do seu esconderijo para a eternidade, outra que aponta a possibilidade de ter sido morto e roubado pelos invasores.
Eu quero acreditar mais na primeira e não me espantará se, algum dia, alguém vier a confrontar-se com um achado fabuloso tornando-se em mais um excêntrico, qual vencedor do euromilhões.

4 comentários:

redonda disse...

Não conhecia essa forma de alguém se eximir à justiça :)
Gostava de saber mais da razão.

Da segunda, também gostei mais da primeira.


um beijinho e uma boa semana

Anónimo disse...

Puxa tio, que bom que o senhor contou essas histórias. É que, sempre que passo a caminho de Riba, fico intrigada com esse portão e até já pensei em parar para ver melhor.
Beijinhos

Ana Ramon disse...

Olá Amigo! Fico muito feliz por retornar a este espaço sempre rico em histórias e lendas que nos deixam a pensar. Tal como aconteceu com estas :)
Vamos a ver se consigo organizar-me para ter tempo suficiente para ler toda uma série de publicações que têm acontecido aqui e que suspeito serem extremamente interessantes, como sempre.
Voltarei em breve. Um grande beijinho

Unknown disse...

JÁ VALEU A PENA.
Pelo menos já retirei alguma imformação.