quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Cavenca

Situa-se no Distrito de Viana do Castelo, nas coordenadas 42°, 1', 60” de latitude Norte e 8° 18' de longitude Oeste. É a aldeia mais alta da freguesia de Riba de Mouro, com os seus 823 metros de altitude.
Cavenca está ali, no mapa.
No mapa e nas minhas recordações. Foi ali que adquiri a consciência do SER, num contexto político e social muito diferente do actual.
Eram tempos difíceis, aqueles em que eu me criei e diziam os mais velhos, lá saberiam porquê, que a minha geração já surgira num clima muito mais favorável.
Naquele tempo o dia tinha um tempo bem definido, do nascer ao pôr do sol. De seguida aconchegava-se o estômago com uma parca ceia e cama que se faz tarde, que no outro dia era dia de labuta.
Havia sempre que fazer. De Inverno, as mulheres fiavam o linho e a lã, urdiam as teias e fabricavam os bragais que guarneciam as camas, as mesas e os corpos das pessoas. Os homens ocupavam-se em trabalhos de construção civil: corte e serração de madeiras, talhe de granito, reparação e construção de casas e muros, limpeza de regos e levadas, pastoreio, mil e uma coisas…
No final do Inverno começavam as plantações e sementeiras, que terminavam em princípios de Junho. Depois era o cultivo, a rega, as segadas de feno, as colheitas dos cereais, semear o centeio, recolha de lenha e tojo e recomeçar o ciclo.
Os produtos do campo tinham valor e eram utilizados nas trocas comerciais. Mas o dinheiro era muito escasso. Por isso, era comum pessoas morrerem de apendicite, ou de pneumonia, ou de leucemia, ou de gripe. Nunca sem antes se aprontarem espiritualmente com os santos sacramentos, uma entranhada crença de que dali se partia para uma vida melhor… Não havia segurança social, nem sistemas de saúde, nem reformas, nem RSIs, nem subsídios de desemprego, nem apoios para arrancar oliveiras, ou plantar videiras, ou cultivar tomates, ou projectos fraudulentos, ou cursos de “formação”.
As vias de comunicação eram caminhos de pé ou de carros de bois, ora íngremes, ora suaves, umas vezes em terrenos abertos, outras formando profundas trincheiras à custa do uso e da erosão dos solos. A primeira estrada, se assim se poderia designar, que rasgou a serra desde Riba de Mouro até S. Bento do Cando, de Lamas do Mouro ao Mezio, foi construída pelos Serviços Florestais, os mesmos que geraram muitos empregos e se apoderaram dos imensos baldios, contribuindo definitivamente para a falência da melhor riqueza das populações serranas – a pastorícia.
Era tempo em que os usos e costumes faziam lei e a palavra de honra constituía melhor garantia que na actualidade um contrato redigido em cartório.
Saudades desse tempo? Não, apenas das recordações.

10 comentários:

Anónimo disse...

Sempre que leio algo sobre Cavenca... Não sei dizer o que passa na minha mente... Lembro-me de, aos 12 anos, ir do Barral até a casa da minha avó, a pé, por caminhos que nunca iria imaginar que a minha mãe conhecia. Lembro de ouvir o vento nas árvores e pensar que seriam quedas d'água (o som era tal e qual), lembro de procurar desvairadamente "mirotes" (será que é assim?), de estourar aquelas pequenas flores que davam em cachos... Há muitas recordações... Mesmo para uma garota da cidade grande que não viveu em Cavenca...
Beijos
Adriana

Anónimo disse...

Olá Mano!
Fico sempre na expectativa de mais uma mensagem...adoro!
Aproveito e desejo um, Feliz Natal a todos.
Beijos.

Anónimo disse...

Em primeiro lugar beijinhos e muitas feliçidades para toda a familia,quer esteja no pais ou no estrangeiro. Li quase todas as suas historias . Sabia que escrevia assim tantas historias sobre os tempos antigos ,tempos que jà la vao e que nao se esqueçem.Sem mais para diser ,desejos de uma boa continuaçao e talves pare o mes de Agosto nos emcontremos em monçao ou em Cavenca .Beijinhos da virginia afonço!!!

Ivy disse...

O lugar é bonito e tua descrição ainda mais. Falas muito bem. É interessante que , apesar dos costumes bem distintos de um país para o outro, as necessidades eram as mesmas. Temos, eu e tu uma pequena diferença de idade e um oceano inteiro de distância. No entanto, lembro-me de coisas da minha terra, de como falas da tua, mas com uma pequena diferença: sinto saudades.Muitas! Um grande abraço!

Anónimo disse...

gostei de saber mais sobre o "pequeno" lugar onde vivo e d eque estou orgulhosa

Anónimo disse...

Saudações cordiais!
Falamos da mesma terra que nos viu nascer e crescer, Riba de Mouro! De Cavenca, reconheço a singularidade daquela gente fantástica!
Estas palavras surgem depois de uma leitura aprofundada do seu blog. Porventura, não me conhece, mas corre o mesmo gosto por Riba de Mouro. Como conterrânea, e , simultaneamente, coordenadora de um Processo de RVCC, a decorrer na sua terra natal, Cavenca, dirigo-me a si por verificar o orgulho com que os seus "amigos" e alguns parentes referem o "seu site": afinal Cavenca está na neT!!
PARABÉNS PELA OUSADIA DE MOSTRAR AOS OUTROS AS BELEZAS DESTAS TERRAS E AS TRADIÇÕES DESTAS GENTES!

P.S.:
Já agora, chamo-me Teresa Castro, morei no lugar da Aldeia e sou filha de José Domingues Pereira de Castro e da Prof. Rosa Castro.

Eira-Velha disse...

Bem vinda, Teresa Castro.
Obrigado pela visita e não se iniba de comentar e criticar...
Só queria deixar uma breve correcção: é que realmente já a "conheço". Fomos apresentados em casa de uma tia do João Vale e Romy em Mazedo, lembra-se?
Os seus pais conheço-os bem, principalmente sua mãe que era natural da Costa e muito deu em prol da educação dos jovens de Riba de Mouro.
De resto, esta mania de falar de Cavenca e de Riba de Mouro tem a ver com os estigmas da infância. Como se diz por lá, "o melro puxa sempre para a silvareira".
Cumprimentos aos seus pais e volte sempre.

Anónimo disse...

ola, como adoro ler essas boas lembrnças de riba de mouro.è um orgulho falar dessa pequèna terra;onde nasci e fui criado;recordar esses tèmpos antigos,ter sempre riba de mouro na memoria ,dà calor e felecidade a quèm mora èm terras distantes,e que nao devemos esquècer nunca, nèm nos os mais idozos ,nèm aquèles que estao a crescer,e como falas bèm de cavènca ,onde la passèi algun do meu tempo de jovèm,mas como o tèmpo passa ,se te encontro ja nèm te conheço,continua senpre mas todos recordarem , e nao esquècerem as vèlhas ,memorias ,a gènte morre mas as mèmorias ficao ;quèm via cavènca e quèm o vè agora ha uma diferença ,mas claro mudou para melhor,nunca esquècerei esses tèmpos aquèla gènte ,as fiadas naquelas cortes ,umas boas noitadas que la passamos,os domingos que passèi la na companhia daquèlas raparigas muito cimpaticas,mas como as coisas boas acavao,e tudo muda para mais moderno ;como te deves recordar do boi de cavènca,dos famozos pedrèiros ,cavènca era uma riquèza ,mas hoje tudo acavou e tudo è mais modèrno ,ca te dixo um abraço e continua amigo èira vèlha,,

redonda disse...

Parece lindíssima.
O meu pai é de Argoselo, que fica perto de Vimioso e de Bragança e pelas histórias que ele conta tenho uma pequenina ideia de como pode ter sido difícil crescer/viver noutros tempos

Unknown disse...

muito obrigado SENHOR Eiravelha por estes lindissimos comentarios sobre cavenca.tambem sou filho da terra,embora ja nao more la por culpa do "sistema"PORTUGUES!!!,gostaria muito de um dia voltar.um bom natal para todos e muitas felicidades.