terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Acordar...

Só não vê quem for cego. E mesmo assim, não há pior cegueira do que a daquele que não quer ver.
Tudo indica que este pequeno rectângulo "à beira mar plantado" caminha inexoravelmente para um beco sem saída. Mas continuamos a fazer ouvidos de mercador. Por este andar, ainda voltarei a ver cenários como os que os meus pequeninos olhos já viram...
Era tudo combinado no maior dos segredos, porque as polícias, apoiadas por uma imensa rede de "bufos", descobria tudo e as consequências não eram como agora... Estabeleciam-se contactos, ajustava-se o preço, ia-se à procura de financiamento junto de familiares, amigos ou simplesmente conhecidos e, de um dia para o outro, eram mais dois ou três jovens que desapareciam do lugar. Ninguém sabia de nada mas os sinais diziam tudo... As mulheres de luto sem morrer ninguém, as crianças vestidas da mesma cor a caminho da escola ou nas lides do campo, tristes, sem saber bem porquê...
Eram duas, três semanas, às vezes mais, à espera, em silêncio, sem um queixume... Finalmente chegava uma carta "Paris, tantos de tal..., meus queridos pais ... chegamos bem, graças a Deus" e o respirar de alívio. Não terminara a tristeza mas pelo menos renascia a esperança. "Chegar bem" não significava ter feito boa viagem mas sim o final de uma autêntica maratona recheada de incidentes, de medos e de aventuras, autênticas epopeias cuja história está por escrever.
O artigo do JN que inspirou este post demonstra bem as razões do meu péssimismo. O quadro que nos é apresentado é deveras preocupante. E não deixa de ser menos preocupante o elogio às "reformas" introduzidas ultimamente no capítulo da política social seguida pelos nossos governantes. É que uma coisa é aquilo que se demonstra aos "manda-chuvas" da UE, com resultados brilhantes do ponto de vista economicista, outra é a realidade com que nos deparamos no plano interno. A verdade é que estamos a nivelar por baixo e a criar uma sociedade de pobreza cujas consequências poderão ser catastróficas para a maioria da população.
Daqui a alguns anos, talvez vejamos novamente as malas de cartão na Gare de Austerlitz... ou noutras gares do Universo...

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