sábado, 3 de fevereiro de 2007

Uma Visão do Outro Mundo?

O Outeiro Lagarto é uma porção de terreno que se estende do Arroio até à Corga da Calhe, local onde nasce o Rio Pequeno que divide os concelhos de Monção e Melgaço.
Densamente coberto de urzes, giestas e piornos, fora algum tempo antes alvo de apropriação pelos Serviços Florestais e limpo dessas espécies selvagens para lá plantarem diversas espécies de resinosas, vindas sabe-se lá de onde e vidoeiros.
É uma encosta íngreme e de difícil acesso mas naquela altura estava bem guarnecida de proibitivo e apetitoso pasto que despertava a cobiça de qualquer pegureiro. O problema era estar sob defeso dos Serviços Florestais e se o Guarda nos agarrava as multas eram extremamente pesadas, mesmo incomportáveis para as magras bolsas dos minúsculos agricultores.
Naquele dia, eu e meu primo Manuel decidimos tentar a sorte e, manhã bem cedo, como era habitual, tocamos as vacas serra acima. Passamos por Fonte Boa, Campo Redondo, contornamos os campos do Arroio e lançamos a manada pela encosta do Outeiro Lagarto, enchendo a pança de verdes ervas e tenros rebentos de carqueja, carrasquinha, urzes e giestas.
Enquanto o gado pastava nós apurávamos os ouvidos e varríamos a serra com a vista para ver se o Guarda aparecia mas nada. Era domingo e o Guarda, como bom cristão, costumava ir á missa e ficar toda a manhã a conversar e a emborcar uns copos na taberna ou em casa de algum aldeão. Confiantes de que nada iria acontecer, baixamos o grau de vigilância e descontraímo-nos a ver como as mandíbulas dos bovinos arrancavam o pasto com voracidade e depressa enchiam o bandulho.
Subitamente algo me disse que havia perigo. Olho para cima e vejo o Guarda, com a sua inconfundível farda castanha e o típico quépi na cabeça caminhando em direcção à Corga da Calhe. O mais curioso é que ia pelo meio do intenso matagal, por um trilho inexistente, a olhar para a parte de cima da serra, precisamente o lado contrário ao lugar em que nos encontrávamos, e parecia não nos ter visto.
Alertei do facto o meu primo e, cada um por seu lado, depressa juntamos a pequena manada que parecia entender qual era a nossa pressa e pusemo-nos rapidamente em lugar seguro.
Do Guarda nem rasto. Também nunca soubemos se era o próprio ou se se tratou de alguma visão criada na nossa mente.
Mas posso jurar que estava lá e eu bem o vi.
Coimbra, 03 de Feveiro de 2007

3 comentários:

Rubia disse...

...mas as vaquinhas tiveram tpo de encher a pança, ora n??...

Rubia disse...

ah! e conheço esse sítio! N é onde fica agora um tal de parque empresarial??

Eira-Velha disse...

:) lol... nada de brincadeiras...