sábado, 24 de março de 2007

As Margens do Tua

O Rio Tua é magnífico. Pela paisagem que o rodeia, pelas gentes que habitam as suas margens, pela linha de caminho de ferro que segue o seu curso, pela excelente fauna piscícola, pelas tragédias a que está indelevelmente associado.
A mais recente fatalidade foi a queda de uma pequena composição ferroviária a que chamaram o Metro de Mirandela mas ao longo dos tempos tem sido palco de muitas outras, se não tão graves, também muito dolorosas.
O Tua começa por ser um caso raro pela sua denominação. A principal particularidade é que não tem nascente, é o fruto da união, próximo de Mirandela, de dois outros rios, o Tuela e o Rabaçal. Porém, é no percurso entre a encantadora cidade transmontana e a foz no Rio Douro que o seu trajecto é mais espectacular. Pelo caminho, recebe o valiosíssimo contributo das águas que escorrem desde a Serra da Padrela, próximo de Vila Pouca de Aguiar, passando pelas terras de Jales onde estas águas se tornavam imundas por lavarem as lamas auríferas das minas ali existentes. É o Rio Tinhela, um curso de água de fraco caudal no verão mas que leva tudo impiedosamente à sua frente quando se enfurece com as chuvas do Inverno. Juntam-se próximo das Caldas de Carlão, uma estância balnear privada com uma nascente de águas sulfurosas que têm lavado as chagas de muita gente.
Foi num fundão do Rio Tinhela, bem perto das Caldas de Carlão, que foi encontrado o corpo do Padre Plácido, já em decomposição por causa dos cerca de 15 dias que esteve escondido submerso, talvez a rir-se da cegueira das muitas pessoas que em vão o procuraram.
Foram dezenas de voluntários, bombeiros das corporações locais, sapadores e mergulhadores dos Fuzileiros e também os cães da GNR. Os animais seguiram a pista desde a residência do desaparecido Padre até ás margens do Tinhela mas ali perdia-se qualquer rasto e ficavam desorientados. Contudo, não era visível no rio qualquer corpo ou pista e desvalorizou-se o instinto dos canídeos. Foi percorrido o rio até à confluência do Tua e este até à foz mas nada. Quase a desistir das buscas, alguém se lembrou de dar um último mergulho num poço que ainda não tinha sido visitado, ligeiramente acima da represa das Caldas e… lá estava, na sombra, junto a uma rocha, em pé, a cabeça a escassos centímetros da superfície e uma serapilheira atada às pernas com uma pedra dentro…
O Padre Plácido tinha formação eclesiástica mas a sua vida era a arqueologia e o ensino. Possuía um espólio riquíssimo de objectos pré-históricos e tinha uma extrema devoção pelos importantes vestígios existentes na zona, dos quais o mais importante será a Pala Pinta.
A verdade é que decidiu daquele modo acabar a sua actividade como professor e como investigador, sabe-se lá porquê…
De Brunheda até à foz, o vale do Tua é de uma beleza asfixiante. A linha de caminho de ferro acompanha-o, pela margem esquerda, no percurso sinuoso e estreito, furando de vez em quando por baixo de massas graníticas enormes que parecem estar na iminência de se despenharem para o rio. Na margem direita situam-se pequenas localidades perfeitamente integradas na paisagem: Franzilhal, Amieiro, onde um benemérito local mandou construir uma ponte para os seus habitantes poderem deslocar-se para a estação de Santa Luzia mas que a fúria das águas já destruiu, Safres e as suas hortas com as famosas tronchudas, únicas no mundo, um pouco mais afastada S. Mamede de Ribatua e as não menos famosas laranjas da Fraga.
Por fim, a Foz do Tua e a decadente Estação, o Sr. Narciso (já desaparecido) e o seu triciclo a vender pão aos viajantes, o “Calça Curta” com o seu imponente estabelecimento do outro lado da rua, a taberna do Sr. Fernando (grande pescaria que fizemos) e o Óscar, que com quatro tábuas grosseiras construiu uma espécie de cabana, com esplanada e tudo, onde sazonalmente, no verão, se podiam saborear deliciosos petiscos, especialmente peixinhos do rio e enguias…
Hei-de voltar às margens do Tua e a Carlão…

3 comentários:

Anónimo disse...

fiz essa viagem de comboio tinha eu 13 anos. nunca mais me esqueci da belesa esmagadora da paisagem.

Anónimo disse...

ups!

saloia disse...

Para adicionar à lista de sitíos a visitar. Somos sortudos a viver neste país e nem damos conta??

bj
mary