sábado, 9 de junho de 2007

Santo António de Val de Poldros

A avaliar pelos vestígios existentes, é um local habitado pelo Homem desde há muitas centenas de anos. E não é em vão que isso acontece. É um recanto da Serra da Peneda extremamente belo e aprazível, onde se respira um ambiente ainda imaculado.
A capela dedicada ao Santo que lhe deu nome já foi alvo de diversas reconstruções e tenho dúvidas que haja documentação clara acerca da sua origem. O Santo sabemos bem quem é. É português, casamenteiro e protector dos gados que povoam a serra, e não só. Também existe uma crença que protege os porquinhos, aqueles comilões que engordam e engordam até serem sacrificados para satisfação da gula dos donos, assim, tal qual… E quando o bicho dá sinais de fastio ou febre, lá vem o dono a interceder perante o santo: “Se não morrer o porquinho dou um chouriço ao Santo Antoninho”… Claro que o Santo não come chouriços, nem lacões, nem cabritos, nem vitelos, nem deles faz colecção, mas no dia da festa lá está tudo isso, testemunho da fé dos homens, pronto a ser leiloado e depois sim, para fazer as delícias de um cozido ou para alentar uma sopa de saramagos, uma espécie de nabiça selvagem que por lá abundava no tempo em que se cultivava a batata e o centeio e mau grado a escassez ainda consta no cardápio do restaurante que um arrojado empresário ribamourense ali implantou.
A festa era, invariavelmente, a 13 de Junho, o dia de Santo António. Em tempos que já lá vão, havia uma novena que se iniciava uma semana antes e à qual acorriam romeiros de todas as aldeias das redondezas: Riba de Mouro, Tangil, Merufe, Gave, Parada do Monte, Gavieira, Padrão, talvez de lugares ainda mais distantes. No dia 11 era a feira de gado anual.
Agora a festa é realizada no domingo mais próximo e a feira no sábado que o antecede. A novena não sei se ainda se realiza ou não. É provável que sim.
Mas o que torna mais atractivo o local é todo o ambiente envolvente: As cardenhas, as tapadas, os poulos de feno, o tojo, a carqueja, a carrasca, as giestas, as urzes, as fontes de água fresca e cristalina, a frescura do ar, as manadas de cachenas e as récuas de garranos que pastam livremente, o tinir dos chocalhos, o balir das reses, o gorjeio dos pássaros…
Agora até tem electricidade e têm-se cometido atrocidades de bradar aos céus. As tradicionais cardenhas são destruídas e adaptadas a casas de veraneio, é certo que com utilização dos materiais originais mas adaptadas ao conforto e ás dimensões mais consentâneas com as exigências da vida actual. Cada um pode fazer do seu património o que bem entender mas ali não está em causa só o bem-estar dos proprietários, há um testemunho dos nossos antepassados que é preciso salvaguardar e legar aos vindouros.
Os danos ainda não são significativos e espero bem que as entidades competentes consigam travar qualquer tendência especulativa sobre o espaço que é de toda a humanidade e não apenas dos seus titulares.

Imagens Internet
Fotografia do Altar com direitos de autor

10 comentários:

Anónimo disse...

Os estigios dos nossos antepassados são a coisa mais rica que temos e que devemos proteger e lutar contra os que a querem destruir.
Quanto à festa, a novena ainda existe e a de Cavenca é realizada hamanhà,Domingo dia 10.
E no proximo fim de semana é realizada a de Santo Antònio.
Não vai dar um passeio pela montanha Tio?
Respira aqueles ares purus è o que nos fàs falta porque aqui na "mediterrané" morremos de calor e os ares não são tão puros como os da nossa terrinha;sò saudades!!!
beijinhos para toda a familia.

saloia disse...

Não conheço bem esse lado da Peneda mas o meu sonho é de ter uma casa de que falou (neste lado da Peneda)e viver da terra só e mais nada :) è o meu alter ego.

bj
Mary

Anónimo disse...

Entidades competentes? Onde? Onde? ... Deixo os pontinhos a passarem sobre as teclas que os meus dedos não vão usar. Sim, nada melhor que aqueles ares, aquelas águas e ... já agora, que a Saloia realize o seu sonho.
Um abraço,

Anónimo disse...

pois é, estão a destruir tudo. a construir casas enormes. existe um pequeno lugar com um cruzeiro, onde só havia cardenhas. o meu pai foi o único que se esforçou por preservá-la tal como existiu, ficou magnífica, todos os turistas elogiam a forma como foi recuparada.agora vêem-se casas a crecer em todo o seu redor, particularmente uma, mesmo junto as cardenhas que foram recuperadas. e a câmara deixou. tirou-lhe grande parte do seu encanto...

Anónimo disse...

As voltas pela internet descobri hoje o seu blog. E lendo este post não podia deixar de dizer umas palavras de apreço.

Tenho 22 anos e nasci e vivi toda a minha infância em Valença, contudo tenho uma "costela" de Riba de Mouro mais concretamente de Quartas, o meu pai é de lá e como tal herdou propriedades duas delas são cardenhas. (Se não me engano as cardenhas que constam na fotografia pertencem a familia, são propriedade de uns primos meus). A uns anos o meu pai teve um proposta de compra de uma das cardenhas, ainda muito jovem e sem saber so me lembro de lhe dizer, "não vendas eu quero aquilo para mim". A cardenha é bastante pequena e resume-se a um monte de pedras mas que certamente tem muitas historias para contar. Sou a 6º geração da minha família que tem esta cardenha e sempre que posso não resisto a ir lá! Mas é com muita pena minha que das ultimas vezes que tenho lá ido me tenho deparado com uma construção exageradamente desordeira, que está a estragar toda a beleza e riqueza da região.

Eira-Velha disse...

Bem vinda, Cláudia. Obrigado pela visita e pelo comentário.
Pela apresentação acho que somos conhecidos e ainda parentes, embora algo afastados. Se não me engano, és filha do Avelino Romano da Pensão Rio Minho, em Valença.
Sobre Santo António de Val de Poldros, disse algumas coisas e muito mais haverá ainda a dizer. É um atentado gravíssimo ao património histórico do Alto Minho o que por lá andam a fazer.
Não tenho lá interesses patrimoniais e não é a inveja de quem os tem que me induz a dizer isto. Se tivesse faria como tu, ficaria tal como está, ainda que se resumisse a um amontoado de pedras.
Creio, porém, que a adaptação das cardenhas para lá passar um fim de semana ou até mais alguns dias poderia fazer-se sem descaracterizar a arquitectura que tanta graça dá à Branda. Mas nunca da forma como tem sido feito na maioria dos casos.
Um beijinho e volta sempre.

Mag. disse...

Tenho visto em alguns sitios a respeito da história de S. António, que se tornou abandonada, desertificada por diversas razões, entre eles a florestação do malvado Salazar, está sempre na baila,serve de papão e que parece que foi uma praga que assolou o país,que na verdade algum desenvolvimento que se virificou e criação de postos de trabalho, que foram os únicos agora não há novamente nada em que trabalhar,a não ser emigrar e apagar fogos,não pelos residentes, mas para manter algumas empresas profissionais no sector ,que sobrevivem disto, que pouco mais apagam que tojo, pinhal só resta algum, mas não que fosse salvo por mérito estes sorvedores de dinheiro, mas sim porque não tinham que arder mesmo porque o terreno não o proporcionou, mas para alguns néscios sabe sempre bem dizer mal das florestas essa peste.

Nelo disse...

Verdadeira praga, autêntica peste, são os pseudo políticos, de todos os quadrantes que sairam na rifa, após o 25 de Abril,que têm posto o país de tanga em toodos os sectores da vida pública, mais preocupados em agradar a clientelas, que com os interesses do país,o qual transformaram numa verdadeira agência de empregos para amigos amiguinhos apaniguados e afins,trabalhadores acaba-se com contratos vitalícios, mas patrões empresários cumplices esses giram em torno do orçamento, competição.. a nível europeu, só se for em colocar os amigos no governo, a fim de defenderam sua quota parte do bolo orçamental

Anónimo disse...

já passei umas férias de sonho numa dessas cardenhas.
está linda, completamente restaurada e decorada à medida.
o local é simplesmente espantoso, e os donos são 5 estrelas.
eu e os meus amigos ainda hoje recordamos esses dias de paz e verdadeiro contacto com a natureza.
e descobri ha uns dias um anuncio em que a dita cardenha aparece, espero que não se importe que eu aqui a coloque;http://monzao.olx.pt/turismo-rural-iid-147256774

Eira-Velha disse...

Este comentário anónimo vem precisamente reforçar a ideia que tentei passar ao abordar o problema: é possível recuperar e adaptar sem ferir ou desvirtuar o que já existia.
Não sei quem são os proprietários mas estão de parabéns. É esse o caminho.
Obrigado ao anónimo.