É um dos maiores santuários marianos de Portugal, situado numa vertente da granítica Serra da Peneda.
A sua origem é igual a quase todas as origens dos imensos locais de devoção que existem por todo o mundo: apareceu uma senhora mágica a uma pastorinha que lhe pediu para rezarem muito e para lhe erigirem uma capelinha e a partir dali, como diz o poeta, "Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce...".
Na Peneda realiza-se todos os anos, entre os dias 1 e 8 de Setembro, uma festa em honra da Senhora do mesmo nome.
Nesses dias, a pequena e pacata povoação transforma-se num centro de peregrinação de todo o Alto Minho e também da vizinha Galiza. Uns por devoção, outros para diversão, outros ainda para fins comerciais.
No "meu tempo", a festa da Senhora da Peneda era o culminar de um verão recheado de festejos religiosos, ponto de encontro de gente das diversas aldeias, roupa lavada, raparigas bonitas e alegres, bailaricos e aventuras amorosas...
E na Peneda havia disso tudo em abundância. Ali a noite era de folia. Os grupos de rapazes e raparigas com bombos, pandeiretas e castanholas atrás do tocador de concertina deslocavam-se incessantemente pelo terreiro. Onde houvesse espaço formava a roda e... era um espectáculo. Dezenas de pares formavam um círculo em torno do tocador de concertina, alguém assumia o comando e dançava-se a "chula" até cansar. Era impressionante o sincronismo do imenso grupo que se formava espontâneamente. E a nuvem de pó que envolvia toda a gente, na roda ou fora dela a observar.
Nas tascas improvisadas a música era outra. Também ali se ouvia o estridente som das concertinas mas era para acompanhar os cantadores ao desafio que improvisavam cantigas e bebiam vinho de zurrapa até não poderem mais...
O acesso era quase exclusivamente a pé. Saíamos de casa de madrugada, ainda noite, com o farnel que nos sustentaria pelo menos durante dois dias, pela serra fora, em grupo, que uma pessoa sozinha não se aventurava por aqueles montes de qualquer maneira.
Mas a parte mais importante da viagem era a gloriosa visão do santuário quando chegávamos às curvas da Meadinha. Pelo trilho de pedras abaixo viam-se os pagadores de promessas, quase sempre mulheres, arrastando-se de joelhos, uma forma de agradecerem as graças recebidas, muitas vezes acompanhados de filhos pequenos que eram invariavelmente as causas do desespero e do recurso à intercepção da Senhora.
Agora os procedimentos são diferentes. Vai-se de automóvel e pagam-se as promessas em numerário. É melhor para todos.
13 comentários:
Sou novo nestas lides ...
Aqui deixo o convite para que visitem o meu espaço .
"No escuro nada via perdido fiquei
Seria eu Homem ou apenas menino"
Bom fim de semana .
Gostei deste "post" pareceu-me que através dele partilhava uma memória, como um texto de um conto num livro.
Um beijinho e um bom Domingo
Viajei em espirito por essas veredas da serra, pelo teu descrever dessa romaria minhota...
Obrigada pela bela tela que pintaste nos olhos de quem lê esta postagem...
Como sempre, uma linda viajem.Um abraço!
Bom dia tio :
Jà fasia tempo que não fasia uma visita e que lia as suas "històrias".A Peneda tantas vezes jà fui là de navenas com os meus avòs,e ainda no ano passado fui com aminha mãe.E sem mais para diser a esse respeito mando um beijinho para todo a familia!!!
Por aqui perto, na Nazaré, também há uma grande festa em honra da Senhora da Nazaré.
Dantes as festas religiosas serviam para que familiares, amigos e vizinhos confraternizassem de forma sadia e divertida, agora servem para se comer frango assado e ouvir música pimba!
Abraço
Já há muito tempo que não vinha por aqui. O sítio do Amigo EiraVelha continua uma delícia. Evoca sempre este país que amamos tanto mas parece nos vai fugindo.
Um abraço
esta não conheço. mas fui a outras do género. gosto bem de dançar a chula, com as chinelas é mais difícil mas tb arranho.
beijo
também já fui a pé de Vilar Suente até à Nº Srª da Peneda (um sitio que amo) e também saímos de madrugada. E também quando cheguei a Meadinha e olhei para cim fiquei apaixonada e sempre hei-de ser daquele sitio único e tranquil. Só fui a festa uma vez e lembro-me disso tudo que escreve... ainda me lembro das estradas em terra batida em vez de alcotrão...mas é melhor para todos, não é, Boaventura? ;)
beijinhos
Mary
mais uma pergunta
O Boaventura já ouviu falar de "fateiro" um triangûlo de pardo o xerga que usava em torna da cintura de uma criança ou pelas senhoras de Castro Laboreiro e outras aldeias altas??
bj
Mary
Boaventura!
Está tudo bem?
Tenho saudades...
Mary
Senhor Eira-Velha: Acabei de descobrir por mero acaso o seu blog: pesquisando um poema do João Verde, que se encontra gravado num painel de azulejos em Monção,vim dar aqui a este espaço. Ainda não li tudo quanto tem escrito, mas vou fazê-lo. Deduzo que o senhor será de Cavenca e como tal seremos quase vizinhos: nasci na Gave, concelho de Melgaço, mas resido em Barcelos há mais de vinte anos. Tenho uma prima casada em Cavenca. Pessoalmente só lá passei um vez, todavia, foram inúmeras as vezes que subi da Gave até à Aveleira, passando por Fonte Seca, e daí admirei a bela paisagem, que agora começa a ficar poluída pelo parque eólico. Ainda recentemente por lá andei na Festa de Nossa Senhora da Guia, na branda da Aveleira, que como deve saber se realiza no último domingo de Junho. Também conheço muito bem a Gavieira, S. Bento do Cando, a Senhora da Peneda - que belas recorações tenho de lá! - Santo António de Val de Poldros, etc. isto para não falar nas verandas que por lá existem. Mas não me alongo mais. Aceite os meus sinceros parabéns por tudo quanto li daquilo que escreveu. Continue. E desculpe a maçada... mas a saudade foi mais forte e não resisti a partilhar consigo esse sentimento.
caldasmanuel@hotmail.com
Um agradecimento a todos que se dignaram comentar este post. À minha querida amiga Saloia quero ainda dizer que não tenho resposta para a pergunta que me fez mas pedi ajuda a quem sabe... Aguardo resposta que terei o maior prazer em reencaminhar.
Bem hajam.
Enviar um comentário