sábado, 11 de julho de 2009

O Pote do Caldo

É bom parar um pouco, ver, observar, encontrar amigos de infância, conversar, recordar.
Foi o que me aconteceu uns dias atrás quando passeava descontraidamente pela pacatez e aconchego da histórica e secular vila de Monção. Na esplanada do Escondidinho encontrei dois “velhos” conterrâneos, vizinhos de Modelos e amigos: o Nelo do Púcaro e o Armando do Senso. Ambos fazem parte de uma geração um pouco anterior à minha e experimentaram o sabor amargo da emigração, no tempo em que se ia “a salto” para terras gaulesas por diversas razões mas principalmente devido a enormes carências económicas.
E foi em torno desta problemática que a conversa fluiu, quer em termos de análise da actualidade, quer recordando aqueles tempos e estabelecendo termos de comparação.
Naquele vasculhar e avivar de lembranças de outro tempo, discorremos sobre as lavradas (fiquei a saber que a última, no lugar de Modelos, era a do Jeremias, com direito a lançamento de um foguete e para a qual era feito convite através de uma criteriosa selecção), sobre os incidentes no exercício da pastorícia com as vezeiras que povoavam a serra, a asfixia dos povos da montanha com a política florestal implementada pelo Estado Novo e os proveitos que essa política também levou àqueles confins do mundo, as dificuldades por que passaram as famílias numerosas, nas quais nos integrávamos tanto eu como o Nelo, compostas por agregados familiares a rondar a dezena de elementos…
Aqui, o Armando, talvez porque na família dele, um agregado familiar de reduzida dimensão (seriam três ou quatro irmãos), não se teria feito sentir muita aflição para prover o sustento de todos, exclamou sorridente:
- Eh, pá! Devia ser complicado alimentar aquela gente toda!
Com o conhecimento de causa que a minha memória conserva retorqui:
- Não era nada, era só uma questão de fazer mais ou menos caldo…
Acrescentou o Nelo:
- É verdade, minha mãe tinha dois potes, um de sete e outro de nove tigelas…

4 comentários:

Ivy disse...

Pois é, parece que apesar das dificuldades da época, tinha um entendimento de alegria e pacatez que tornava tudo possível... E sentia-se mais sabor na vida!...

Beijos e bom fim de semana

Ana Ramon disse...

Por vezes dou comigo a pensar que os jovens de hoje, com uma vida facilitada que lhes permite ter carro, passear e não trabalhar, financiados pelos pais ou recebendo subsídios de desempregho, não estão preparados para lutar por uma vida melhor. As pessoas de que falas e que sofreram aquilo que se chama o pão que o diabo amassou, aprenderam que só com trabalho e persistência é que se consegue atingir determinados níveis de vida.
Como acho que não devemos voltar para esse tipo de pobreza (embora tudo indique que vamos cair nela mais cedo ou mais tarde)não faço ideia como é que se vai dar volta á mentalidade de agora.
Vamos ter que esperar para ver.
Um beijinho

francisco disse...

O pote do caldo está agora noutras mãos e quer-me parecer que o caldo não vai chegar para todos.

;)

Sara Fidiró disse...

Gostei do post e blogue. A saudade...bjs