terça-feira, 22 de abril de 2008

Residências Geriátricas, Lares ou Abandono?

"Portugal tem 13 mil idosos em lista de espera para os lares apoiados pelo Estado. O número foi avançado ontem pelo padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS), após admitir a possibilidade de algumas destas valências receberem donativos de particulares em troca de vagas." (JN Abril de 2008).
"O envelhecimento da população e o insuficiente investimento em lares estão a deixar milhares de idosos e famílias sem resposta para necessidades, que, por vezes, são urgentes. Em lista de espera para conseguir lugar num lar estão 18 mil pessoas, disse ao DN o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNI), o padre Lino Maia." (DN Julho de 2007).
Os números acima referidos têm a separá-los, além da diferença entre si, o decurso de tempo de dez meses.
Há mais de duas dezenas de anos, compartilhava eu a enfermaria de um Hospital com um veterano militar reformado. E se eu não estava muito bem do ponto de vista físico e mesmo psicológico, aquele homem metia dó, quer pelos inúmeros problemas de saúde que o atormentavam, quer pelo aparente abandono dos familiares.
Ali mantínhamos algumas rotinas como ver televisão numa sala própria e ler os jornais do dia. Era naquela sala que eu permanecia após a última refeição sempre servida muito cedo, que o pessoal que prestava serviço nessa área tinha que ir embora...
Uma noite, ao regressar ao quarto, em silêncio e sem acender a luz para não incomodar o meu vizinho, consegui descortinar que tinha caído da cama e se arrastava pelo chão extremamente agitado. Peguei nele ao colo e coloquei-o na cama. Ficou sossegado por alguns instantes e tentei adormecer mas não consegui porque entretanto o meu vizinho voltou a entrar em agitação atirando-se da cama abaixo. Chamei o "enfermeiro" de serviço, este chamou o médico, lá o sossegaram por mais algum tempo mas foi sol de pouca dura. Passados escassos minutos entrou em convulsões e dali partiu para melhor...
Não foi a morte daquele cidadão, nos setenta e muitos anos e com fraca qualidade de vida, que me fez evocar aqui esse facto mas as circunstâncias em que ocorreu: abandonado. E isso é muito recorrente nos tempos que decorrem.
Se há coisas que me preocupam uma delas é a forma como se vive actualmente a velhice, talvez porque sinto aproximar-se o tempo em que também farei parte desse extenso rol de inutilidades que enchem os lares. Ainda mais me preocupa perceber que por detrás desse universo de pessoas fragilizadas existe um crescente aproveitamento económico, encapotado nas mais diversas roupagens, quais aves de rapina pressentindo o cheiro da preia - misericórdias, ipss's, empresários individuais e grupos económicos poderosos. São os Lares para os de mais parcos recursos, as Residências Geriátricas para os remediados e as Residências Sénior para o segmento médio-alto.
É o que já foi designado por "mercado de ouro", com um potencial de crescimento avassalador dada a desumanização total da sociedade em que vivemos.
Contudo, os designados Lares para idosos são um mal necessário e sempre é preferível morrer debaixo de um tecto a retroceder ao tempo em que se levavam ao monte.
Mas é escandaloso constatar a existência de uma lista de espera com a dimensão acima referida. Mais ainda saber-se que se "compram" vagas à custa de "doações", num absoluto desrespeito e atropelo claro dos direitos dos candidatos a essas mesmas vagas.
À margem ficam ainda os sem-abrigo, os indigentes e aqueles afortunados a quem não falta o cuidado de uma mão carinhosa para lhe fechar os olhos...

2 comentários:

Emanuela disse...

Pois é amigo, infelizmente, envelher esta a ser triste de todas as formas.
Um abraço.

Anónimo disse...

Um sério problema que se põe à nossa sociedade..., e eu para lá caminho, pois já estou à porta da velhice!