terça-feira, 10 de julho de 2007

O Regresso

Acabou o intervalo.
Não foram umas férias propriamente ditas mas apenas uma mudança na rotina, nas tarefas, na fuga aos horários rígidos...
Fui para a Minha Casa.
Ali desfruto de muitas coisas que me proporcionam tudo que necessito para bem viver, uma sensação de libertação do fardo da vida.
Aproveitei para rever familiares e amigos, repisar velhos caminhos, descansar o olhar sobre as paisagens que trago permanentemente na retina ocular. Cavenca continua a ser, para mim, o centro do mundo. Um mundo fisicamente muito pequenino, sim, mas grande no afecto.
Mas as coisas mudam... e muito.
Nada que me surpreendesse mas que causa algum desconforto.
Estacionei o carro em frente da casa da minha madrinha (e irmã, quase mãe) mas, embora as portas estivessem abertas, como sempre estão, a casa estava vazia.
Alguém me disse que andava nos Leiros, a sachar o milho, e fui lá ter com ela, acompanhado pela Maisy, que não recusou a caminhada, mesmo correndo o risco de ficar com o alvo fato cheio de sujidade, e lá andava ela, toda de negro, da cor da terra, enxada na mão, incansável, por entre os viçosos pés de milho, a revolver o solo, suavemente, para não molestar a cultura. Nem deu pela minha chegada... mas mal a chamei terminou o trabalho, regressamos a casa, que já estava cansada.
Pelo caminho observei tudo com atenção e... senti-me deslocado. Aqueles campos não eram os campos do meu tempo. Onde outrora só se viam culturas de milho, batatas, viçosas hortas e tudo que podia servir para a subsistência das pessoas sobressai agora a erva, sem gado capaz de lhe dar fim. Pessoas... algumas, muito poucas, quase todas da geração da minha madrinha, de negro, porque negra é a vida naquele lugar...
Conversamos muito e muito mais havia para conversar mas... maldito tempo que se escoa sem dar por isso.
Mesmo assim, não saí de casa sem matar saudades do antigo chouriço e do ácido carrascão, que de vinho só tem o nome mas que refresca o corpo e a alma.
Obrigado Madrinha. Mesmo com as indisfarçáveis rugas a marcar-lhe o rosto continua muito bonita e eu quero aqui dizer, publicamente, que gosto muito de si.

16 comentários:

saloia disse...

suspiro...(palavras para quê?)

pergunta:

O Boaventura sabe porque a senhoras chamam cachené (lenços)
chineses lá para o Norte?

Minhota Desnaturada :)

Eira-Velha disse...

Resposta:
O português tem palavras com origens distintas e que evoluiram muito através dos tempos. No caso, cachené deriva do francês "cache-nez" que significa, literalmente, "esconde nariz". Pergunta a tua avó, como é que lá, em Vilar de Suente, usavam os lenços...
Certamente ela vai-te responder que, geralmente envolvia a cabeça praticamente na sua totalidade, apenas deixando à vista a testa e os olhos, espécie de burka árabe.
As raparigas mais novas é que promoviam outra forma de uso, muito semelhante ao retrato que postaste no teu blog, para mostrarem os seus atributos...
Vaidades...
Creio ter respondido à tua pergunta.
Um beijinho

saloia disse...

Kind of?

Chineses ou cachené não será que elas adaptaram o cachené e passaram à dizer "cachineses?"

ah e a minha avó é de Paredes do Vale, Freguesia do Vale ...o meu avô materno é que era Soajeiro...de Vilar Suente....:)

bj
Mary

Eira-Velha disse...

Sinceramente acho que não. O facto de se designarem lenços chineses tem a ver com a confecção e o comércio da seda, vinda do extremo oriente.
Mesmo sabendo-se que eram fabricados com lá mas com uma delicadeza tal que pareciam de seda...
Acho eu...

saloia disse...

Ok, sim percebo. Obrigada!

bj

Mary

saloia disse...

Tive à pensar mais um bocadinho no assunto. A senhoras mais ricas de facto usavam os lenços mesmo de seda (da Asia). Então o cachené de lã, sim, eram fininhos, quase como a seda com cores muito fortes e então as menos abastadas começaram a chamar tb estes de lã chineses. Faz sentido. Obrigada

Mary

Eira-Velha disse...

Uma das coisas que valorizo nas raparigas é a capacidade de pensar, muito mais do que os atributos físicos, e o teu raciocínio só demonstra que consegues aliar uma imagem belíssima a uma capacidade de raciocínio acima da média.
Simplesmente brilhante a tua dedução.
Nem eu era capaz de fazer melhor!
Um beijão

saloia disse...

bjs

és demais :DD

Mary

Anónimo disse...

Olá, Eira Velha!
De facto, acho que a nossa geração tem assistido a tudo. A luta permanente pelo trabalho árduo; mesmo assim, nessa labuta infernal, a vontade de viver enorme expressa no cantar e dançar nas miscelânias de alegrias e tristezas e mesmo labutando longe dos nossos burralhos, continuamos a cantar e a dançar, pelo menos, mentalmente. Mas, em cada olhada, pelas nossas aldeias nortenhas, a tristeza permanece, ao vermos que tudo morre, tudo se desfaz. Porém, ainda há réstias de esperança, ao vermos a labuta pela tentativa de manterem de pé os seus ninhos. Uma bandalhice, mas não deixa de ser a fé nos ninhos!
Um abraço,

pin gente disse...

espero que a madrinha possa ter acesso ao blog ou que alguém informe das tuas palavras...
bonita homenagem

Rubia disse...

texto mto bonito! parece q me revi nesses campos de milho!
(tb gostei do "Minha Casa"... é tipico de cá)

Rubia disse...

ahhh... e a burka é persa...(n arabe)
;)

Noz Moscada disse...

carinho é sempre bom.....

Anónimo disse...

Não se preocupe pim gente que para a semana que vem a Madrinha, e minha avò sabe de tudo o que o tio Tura escreve jà le mandei varios textos que eu imprimi e mandei pelo correio,tenho meis aqui pare lhe mostrar e sem duvida que vou-lhe mostrar a homenagem e as palavras bonitas que o tio escreveu.
beijinhos para toda a familia!!!

Anónimo disse...

Virgínia
Eu não encontrei palavras para comentar a bela homenagem que o tio Tura fez à nossa Madrinha. Depois de tudo que ele disse... mesmo que eu acrescentesse alguma coisa...ainda seria pouco...mas ela sabe que eu a amo muito.
Faço minhas as palavras do tio Tura."Muitas vezes o silêncio, fala mais que mil palavras".
Beijos com saudades.

Anónimo disse...

Tia as vezes poucas palavras chegam para descrever os sentimentos que temos pelas pessoas que amamos o importante è que sejam vem ditas e que venhan do fundo do coração!!!
Sem mais para diser ,mondo um grande beijão para voçe e para toda a familia que esta do outro lado do Atlantico a espera de vos ver tres vite!!!
beijihos para a familia que esta por aqui em vreve estarei convosco, as ferias estão à porta e sabado a noite espero dormir à calma e me levantar a hora que quiser,quele chance!!!