Encontrei-os há dias, quando percorria um mal organizado lote de fotografias. Conhecemo-nos na tropa e nunca mais encontrei nenhum deles.
Gozávamos uns momentos de descontracção, em Tancos, sem sabermos bem porque carga de água ali fomos parar. Os seis cromos eram quase todos tripeiros: Areosa, Vila do Conde, Leça, Vilar do Andorinho, Gaia (2) e eu, o Munçoum, como era conhecido. Ademais, apenas recordo o apelido de dois deles, o Monteiro e o Miranda e, certamente, nenhum deles se lembrará do meu.
Bem no início da Primavera, tínhamos acabado a formação básica e a especialidade, Condutor Auto Rodas (CAR), e de ser colocados na nossa primeira Unidade, a Escola Prática de Engenharia.
Ainda estes dias me perguntavam: mas porquê condutor auto rodas, havia condutores auto sem rodas? Bem, sem rodas não, mas com rodas e patas havia, eram os condutores hipo, que na tropa sempre houve muitas cavalgaduras e, se é certo que esse número tem vindo a diminuir, a verdade é que ainda há por lá muitas bestas...
Mas, adiante, antes que a coesão das Forças Armadas estremeça e me veja a contas com um PD como aconteceu ao Sr. Coronel Alves de Fraga, autor do blog Fio de Prumo.
Mal sabíamos nós que nos estava reservada uma missão muito mais importante, a guerra do ultramar. É verdade, só um escapou, o vilacondense, que tinha a decorrer um processo de "amparo" de pais o qual foi deferido poucos dias depois, não sei se foi para amparar os pais ou se foi para os pais o ampararem a ele.
Senti um aperto enorme no coração quando em finais de Maio de 1975, ao passar em frente à caserna onde estávamos alojados, ao volante da "minha" Morris, regressava do Entroncamente onde íamos frequentemente em serviço de transporte de pessoal. À porta das instalações, com cara de quem "comeu e não gostou", estava o Leça que mal me viu gritou: ó Munçoum, bai arrumar a fragoneta que bamos pra'Angola...
Não acreditei mas ao dar conta do serviço caí na realidade. O sargento encarregado do parque auto mandou-me apresentar na Secretaria para tratar dos assuntos administrativos com vista à marcha para Lisboa.
No mesmo dia recebemos equipamento militar para dois anos de campanha em Angola e uma guia de marcha para nos apresentarmos no Depósito Geral de Adidos, Calçada da Ajuda, Lisboa. Volvidos dois dias, com uma dose cavalar de vacinas contra "tudo", regressamos a casa com a determinação de voltarmos ao DGA uma semana depois.
Aquele regresso a casa de forma tão inesperada causou alegria, naturalmente, mas também estupefacção. Não era normal, algo não encaixava na rotina que se tinha estabelecido. Disse o que se passava mas só quando mostrei o documento onde constava o despacho de mobilização é que se convenceram que era verdade. Afinal, um ano depois do 25 de Abril, a guerra ainda não terminara...
10 comentários:
È quando não contamos que lembranças surgem de qualquer parte !!!
Qual dos militares é o Eira-Velha?
O primeiro a contar da esquerda?
Aguardemos...
Vim do outro blogue, e chegado aqui, vejo já uma alusão ao coronel Alves de Fraga. Sou leigo nestas coisas militares e do Regulamento de Disciplina Militar, na medida em que sou refractário das Forças Armadas, exilado no Brasil em 1970-1974. Estive durante o fim-de-semana em Paredes de Coura r nos Arcos de Valdevez a fim de fazer duas conferências e uma entrevista radiofónica em directo. Boa semana.
Olá eira-velha,
Gostei imenso de ler este 'post'. Por três razões. Desde logo porque fez-me lembrar a minha ideia [... a germinar há já algum tempo] em também escrever acerca da minha 'tropa' e da ida para a Guiné. Depois porque referes que um dos cromos era de Leça, que é a minha segunda terra [onde vivi desde os 12 anos até aos trinta e tantos e onde ainda vivem alguns meus familiares]. E também pela forma escorreita e simples como escreves [...este e tantos outros textos].
E, como a diferença de idades não é de 'metro', às tantas ainda conheço de vista o tal cromo de Leça... Ainda te lembras quem é?
E já agora [a exemplo do anónimo acima], tendo em conta a foto do perfil, arrisco um palpite: és primeiro cromo a contar da direita. Certo ou não?
Para acabar, uma pequena correcção [embora eu entenda o 'âmbito' que usaste na designação]: do grupo de cromos, em boa verdade, apenas o da Areosa se pode designar por tripeiro.
Abraço.
Engraçado como os acasos nos lançam para o poço das memórias. Umas fazem-nos sorrir e outras nem por isso.
É agradável ver as poses despreocupadas e divertidas destes jovens, amigos e companheiros num curto período da vida.
Um abraço
Também eu gostaria de saber qual do jovenzitos é o Eira Velha.Nào vais nos contar,amigo?
Camarada Eira-Velha
Havia ou há condutores auto rodas para diferenciar dos condutores de viaturas de lagartas, vulgo carros de combate. Até breve.Maquiavel
Para emanuela e anônimo...
Gente, não tem com errar...
É só comparar a foto do perfil com a primeira da direita...apenas 30 anos mais jovem...:-)
Mano, como o tempo passa, não?
Beijos.
É bom saber de memorias de pessoas tão distantes do meu mundo.
Pessoas são maravilhosas de serem descobertas.
parabens pelo blog.
Passei para ver o blogue e desejar boa semana.
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