Volta a ser tema, lá pelos meus lados, o encerramento da Extensão de Saúde de Tangil, pelo que se depreende do artigo publicado no blog regionalista Monção Repórter.
A este propósito convém recordar que aquela Unidade de Saúde, construída de raiz e inaugurada em 2003, visava servir uma extensa e populosa franja territorial do concelho de Monção e aliviar o Centro de Saúde da sede concelhia, tendo custado ao erário público a módica quantia de 647.000 euros.
Em 2007 era notícia na comunicação social a constatação de que tal empreendimento estava a ser um fiasco. De facto, dos cerca de 6.000 utentes que se previa poderem usufruir dos cuidados de saúde básicos naquela extensão, apenas havia inscritos menos de um milhar, o que se revelava manifestamente insuficiente para o quadro clínico definido, atendendo a um ratio de 1.500 utentes por cada médico, estabelecido a nível nacional.
O avolumar de "nuvens negras" sobre o futuro dessa infraestrutura levou a autarquia, em 2008, a tomar uma medida importante com vista a revitalizar a Extensão de Tangil e cativar os utentes: foi disponibilizado transporte gratuito para os que ali pretendessem acorrer. Nem mesmo assim. A afluência de utentes manteve-se, se é que não diminuiu. As causas ninguém as conhece. Ou, conhecendo-as, assobiam para o ar.
São conhecidas, de sobra, as ancestrais rivalidades entre as freguesias do Vale do Mouro, especialmente entre Riba de Mouro e Tangil. A primeira é a mais periférica, situa-se no extremo sudoeste do concelho, a cerca de vinte quilómetros da sede. Mas é também uma das mais populosas e caprichosas. Talvez por um qualquer complexo de inferioridade intelectual, os ribamourenses nunca aceitaram muito bem as realizações dos vizinhos de Tangil a quem apelidavam, depreciativamente, de "ceboleiros".
De facto, fosse por se encontrar numa localização privilegiada, dotada de excelente centralidade em relação às freguesias vizinhas, fosse pela capacidade de iniciativa e de influência dos seus habitantes, Tangil sobressaiu sempre como pólo de preponderância regional, de que se destacaram a Estação dos Correios, o Posto da GNR, a Casa do Povo, a Escola de Ensino Básico 2/3 a que se juntou recentemente o primeiro ciclo e a centenária Banda de Música.
Em contrapartida, Riba de Mouro vai perdendo tudo. Perde população, perdeu irremediavelmente a Banda de Música, a Secção dos Bombeiros Voluntários parece que já só funciona a "meio gás", a Escola de Ensino Básico fechou recentemente, o Clube de Futebol penso que também desapareceu... A propósito foi publicado recentemente no quinzenário "A Terra Minhota" um excelente artigo que revela as fragilidades da nossa terra, cujo teor pode ser encontrado aqui.
Assim, é grande o desconforto das minhas gentes. E, como "vingança", passam por Tangil altivamente e dirigem-se aos serviços disponibilizados em Monção, porque aqui, além dos cuidados de saúde, há outras coisas a resolver. Só que esta atitude não beneficia ninguém. Tangil perderá a sua Extensão de Saúde mas os vizinhos não ganharão nada. E se assim são periféricos, mais periféricos continuarão a ser.
Se falo apenas de Riba de Mouro é porque conheço bem esta triste realidade. Do mesmo não posso falar relativamente a Merufe, Podame e Segude mas as motivações não devem estar longe do que foi dito relativamente à minha freguesia.
E digo isto com mágoa. É pena que os ribamourenses não saibam ultrapassar um individualismo arreigado e bacoco que impede a formação de uma autêntica comunidade que tenha em vista o bem colectivo. As rivalidades são benéficas se aproveitadas para gerar uma dinâmica de concorrência que promova desenvolvimento. Não é o caso. Aos sucessos do vizinho responde-se com desdém e imobilismo, uma certa forma de demonstrar "dor de cotovelo".
Não vale a pena argumentar que não temos tido autarcas competentes, ou que se esquecem de nós, ou que a culpa é dos outros. A assumpção das responsabilidades tem de ser repartida por todos.
6 comentários:
Grandes falas! Admiro-te!
Beijinhos
A desertificação, o efeito da interioridade aqui tão perto. Será com obras como o TGV e as autoestradas que se contraria o abandono das aldeias? Não me parece!
Abraço
Desculpem não ter assinado o comentário anterior.
Abraço
Concordo plenamente contigo!
Vai ao meu blog, foste nomeado uma das vítimas eheheh!
É bem verdade meu amigo! Tudo correria melhor se em vez de se atirarem pedras às costas, sempre largas, dos autarcas, o pessoal se mentalizasse de que a prossecução do bem comum exige a partilha de responsabilidades entre todos.
A bem da optimização de recursos e da nacional eficiência. Como se, em saldo final, concluíssemos que os serviços centralizados passam a ser mais eficientes.
Tretas do capitalismo selvagem.
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