quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Cancioneiro de Coimbra

Bocage

Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei amores,
Que Inês morreu.

Mísero esposo,
Desata o pranto.
Que o teu encanto
Já não é teu.

Sua pura alma
Nos céus se encerra:
Triste da terra
Porque a perdeu!

Contra a cruenta
Raiva ferina,
Face divina
Não lhe valeu.

Tem roto o seio,
Tesouro oculto;
Bárbaro insulto
Se lhe atreveu.

De dor e espanto
No carro de ouro
O Numen louro
Desfaleceu.

Aves sinistras
Aqui piaram,
Lobos uivaram,
O chão tremeu.

Toldam-se os ares,
Murcham-se as flores:
Morrei amores,
Que Inês morreu.


Afonso Lopes Vieira

1 comentário:

Moura ao Luar disse...

Um beijo para ti...