Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doura
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa.
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa, Poesia, Planeta DeAgostini, S.A., Lisboa, 2006
1 comentário:
ai, que prazer...
foi também um prazer reler.
ps - deitá-lo fora? porquê?
aquele 1º post é como que a capa do blog, se lá voltar faça PgDn.
um abraço
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