A minha cadela é uma cabra. Já o disse antes, está dito. Apesar de tudo é um animal de estimação e como tal considerado, com quase tudo em dia: boletim de vacinas, desparasitante interno e externo, as unhas aparadas, o pelo escovado. Porque se trata de um bicho de estimação tenho-me visto muitas vezes constrangido a adoptar uma "vida de cão" e até passado por vicissitudes várias que se prendem com a intolerância das pessoas e a discriminação que se faz em relação à "proibição" de entrada de cães em estabelecimentos comerciais, especialmente de restauração e bebidas, o que já motivou uma intervenção policial. Digo proibição entre aspas porque realmente não há lei que proíba a entrada de animais de estimação nesses estabelecimentos.
A este respeito refere o Decreto Lei n.º 168/97, de 4 de Julho, com a redacção dada pelo Decreto Lei n.º 57/2002, de 11 de Março, que "... pode ser recusado o acesso às pessoas que se façam acompanhar por animais, desde que essas restrições sejam devidamente publicitadas" (art. 30.º, 3).
Fica assim ao critério do proprietário decidir se podem ou não podem aceder ao local pessoas acompanhadas dos seus animais que deverá, caso adopte a proibição, promover a adequada informação. Informação que procuro descortinar e respeitar sempre que me faço acompanhar da Maisy, apesar de não entender muito bem a atitude dos proprietários os quais, geralmente, colocam à entrada do estabelecimento o famigerado dístico indicativo da proibição de entrada de animais de companhia, mesmo tratando-se de autênticas espeluncas por onde pululam os mais diversos parasitas e até pessoas bem mais nocivas para a saúde pública do que a maioria dos cães e gatos.
Contudo, ela não se sabe comportar e, por isso, o melhor é não tentar aceder a sítios susceptíveis de gerar conflitos. É que ela, apesar dos seus caninos quarenta e nove anos, se considerar-mos que um ano para os humanos corresponde a sete para os cães, não tem um pingo de vergonha. Resmunga com tudo que se mexa mas tem uma predilecção especial por gatos, crianças de colo, velhinhos e, pasme-se, negros. O único indivíduo desta cor que tolera é um rafeiro que mora a cerca de trezentos metros e, sempre que lhe cheira a algo mais que mijo, lá anda ele a rondar para tentar a sua sorte, coisa que felizmente para ela ainda não aconteceu mas se chegarem a vias de facto vai ser um problema bicudo. Ela que se cuide.
Mas agora está na moda criticar as restrições recentemente impostas aos fumadores. Críticas que espelham quase sempre aquilo que se passa na mente de cada um. E é compreensível que assim seja. Cada qual defende o seu ponto de vista o melhor que pode, esgrimindo-se argumentos a favor dos direitos de uns ou de outros, conforme o lado em que se encontram.
Do lado dos fumadores lançam-se impropérios contra os "chibos" e "bufos" e o zelo das polícias sempre omnipresentes mas que não aparecem quando estão a assaltar os bancos e as pessoas ou a roubar o automóvel.
Do lado oposto reclama-se legitimidade para denunciar assente no exercício dos direitos de cidadania.
Como é evidente, para quem me conhece, a minha posição está do lado da cidadania, não querendo com isto dizer que do outro lado não a exerçam de forma exemplar, por várias razões:
- Por razões profissionais, sendo certo que, no meu caso particular, além do exercício consciente de cidadania, é uma imposição legal cumprir e fazer cumprir as leis em vigor;
- Porque há muito decidi que o tabaco nunca poderia sobrepor-se à minha vontade;
- Porque sempre posso optar pela escolha do local que pretendo frequentar;
- Porque os proprietários dos estabelecimentos podem também efectuar as suas opções;
- Porque entendo que nem tudo que restringe as liberdades individuais deverá ser abolido (por exemplo o uso do cinto de segurança ou do capacete de protecção).
1 comentário:
O Ventor diz que só fuma quem quer, mas não onde quer. Mas mesmo assim, também diz que os gajos que fizeram a lei são anedotas, porque se esqueceram de muita coisa e não evitaram as polémicas. Apenas por isso!
Sabes que o Ventor não fuma, mas se fumasse, oferecia-me um charuto Cohiba. O gajo tem aqui! Eu até lhe roubava um para tu ires fumar para junto do vosso chefe "ASAE"! O Ventor achou muito bem que ele fumasse a cigarrilha lá no casino, por razões que tu deves saber. A porca da lei. Obrigou os gajos a trabalhar, mas não sei se clarificaram alguma coisa.
Um abraço meu e outro do Ventor.
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