sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O C(i)erco das Portagens

Posso afirmá-lo com a legitimidade de quem foi fadado pelo destino para nascer, crescer e viver no Alto Minho e obrigado, à semelhança de inúmeros conterrâneos, a fazer-se "à estrada" em busca de uma vida melhor: O Distrito de Viana do Castelo é, desde há muito, a região mais pobre do País  económica e culturalmente.
Assumimos isso como uma fatalidade incontornável e deslumbramo-nos com as festas e foguetes que nos transformam numa espécie de bobos para gáudio de quem passa e deixa rasgados elogios à beleza da paisagem, ao povo manso e alegre e às iguarias gastronómicas que lhes toldam a vista e o cérebro.
Fora do alcance da vista de quem nos tem governado desbarata-se o melhor capital, o único capaz de inverter esta tendência teimosamente colada ao nosso destino, a força de trabalho.
Assim, continuamos a exportar mão de obra, barata e desqualificada, que vai criar riqueza para outras paragens, remetendo para a santa terrinha as migalhas sobrantes mas que criam a ilusão de se estar a viver no paraíso.
No preciso momento em que é apresentado na Assembleia da Republica  o programa de governo para a actual legislatura, deparamo-nos com duas medidas que vão isolar ainda mais o Distrito: o comboio de alta velocidade, vulgo TGV, e o fim da gratuitidade da autoestrada (A28) que liga a cidade de Viana ao Porto.
Relativamente ao primeiro, é sabido que não trará mais valias para a população do Distrito, a qual se limitará a ver passar os comboios e constituirá apenas uma via de passagem para quer tiver poder económico suficiente para custear as despesas de deslocação, o que sucederá apenas com uma pequena franja de residentes, além de implicar grandes deslocações para alcançar as estações.
O segundo caso ainda é mais grave. O cerco está montado e só falta regulamentar o uso obrigatório de chips de identificação dos automóveis para "premir" o botão e começar a facturar...
Mas no meio da mediocridade parece que surgiu alguém que, se não se perder como aconteceu ao morgado de Agra de Freires, pode vir a constituir um sinal de alerta no centro do poder e mobilizar vontades no sentido de inviabilizar tamanho dislate. Só que me parece que o Dr. Defensor Moura acordou tarde para o problema. Que eu saiba, quando se falou com insistência na colocação de portagens naquele percurso, nenhum dos responsáveis pelas autarquias afectadas, muito menos o Dr. Moura, então a presidir aos destinos da autarquia de Viana do Castelo, fez ver aos membros do governo que tal medida era inconcebível dado que a Estrada Nacional 13 foi transformada num labirinto de ruas e praças das localidades que atravessa, nunca se configurando como alternativa válida para quem precisa de se deslocar e deseja evitar os custos das malfadadas portagens que assim se agravam em cerca de 100%.
E disse que será tarde porque, como já referi, o c(i)erco está montado.

Estruturas como a que a imagem, sacada daqui, documenta foram montadas ao longo de todo o percurso e não serão apenas para monitorizar o fluxo ou a segurança do tráfego, que isso pouco importará.
Penso, sempre pensei, que as autoestradas são necessárias, que o princípio a adoptar deverá ser o do utilizador/pagador, mas é preciso alternativas. Isto deverá aplicar-se tanto nas áreas metropolitanas como em Monção, em Pinhel ou no Fundão.

2 comentários:

francisco disse...

O cerco está montado e agora vai apertando a malha para nada escapar. Agora até inventaram uma taxa periódica para os detentores de carta de radioamador, para além da taxa de licença da estação de radioamador.Quererá dizer que em breve teremos de pagar, também, uma mensalidade pela carta de condução,pelo brevet, pelo cartaão de cidadão e outros documentos afins? E para quando o controlo e pagamento do ar que respiramos - se não o pagamos já nas taxas ambientais?!

veloz disse...

E isto tudo a nivel nacional. um pouco por todo o país são construidas auto-estradas não tendo qualquer alternativa viável, o que obriga o contribuinte a ser mais "taxado".
No que diz respeito ao TGV, tenho uma ideia um pouco diferente. Creio que nos vai custar agora um pouco, mas para as gerações futuras vai ser importante. Com a globalização em exponencial, iremos chegar ao ponto de muitos de nós (ou as gerações futuras) terem os seus empregos em países europeus ou mesmo os estudos. Por outro lado, é importante para o transporte de mercadorias de modo a tornar o nosso país mais competitivo e atrativo.
Portugal não se pode isolar em relação ao resto da Europa. Na minha opinião, se isso acontecer é um ponto de partida para que os vizinhos espanhóis iniciem a incursão sobre o poder do nosso país, e tomamconta deste cantinho junto ao mar.