Em Cavenca, o mês de Maio era especial. Era o tempo do cheiro intenso das flores e do estrume, das sementeiras, de trovoadas, do desenvolvimento de muitas actividades que iriam propiciar boas colheitas no Outono e a segurança alimentar no Inverno.
Dessas actividades destaco as lavradas.
Era uma forma colectiva de realização dos trabalhos agrícolas, feita em moldes artesanais. As famílias, normalmente três, organizavam-se em "juntanças", que tinham a ver com o número de juntas de vacas para atrelar ao arado com as respectivas cangas e cambões. As lavradas eram programadas de modo que outras pessoas, chamadas para o efeito, se podessem associar à actividade para "picar" a terra.
Normalmente, três pessoas eram necessárias para conduzir os animais e o arado: o lavrador agarrado às rabiças, o tangedor que de vara em punho animava os animais e obrigava-os a "andar no rego" e outro à frente da primeira parelha da animais, a conduzir.
As outras pessoas espalhavam-se ao longo dos campos e, conforme o arado ia revolvendo a terra em leivas sucessivas, picavam a terra com as enxadas.
A meio da actividade, lá vinha a dona da casa com o cesto da "bucha" à cabeça, coberto com toalha de alvo linho e na mão a cabaça cheia de vinho acre e ordinário.
A "bucha" era, regra geral, um simples naco de broa acabada de fazer, algumas vezes acompanhada com sardinhas fritas e em casos muito excepcionais uma patanisca de bacalhau igualmente frito. A cabaça rodava de boca em boca, cada um procurando retirar do seu interior, à custa de vigorosos chupões, a zurrapa que fazia as delícias do estômago e refrescava os ressequidos gorgomilos.
No final era servido o almoço, uma frugal feijoada servida à pressa, que de seguida havia que retomar a actividade para outros membros da comunidade.
No final do mês, todos os campos estavam de negro, a terra prenhe com as sementes que lá se lançaram, pronta a dar à luz o fruto de todo aquele trabalho, que era apenas o princípio de uma série de actividades a desenvolver pelo verão fora.
2 comentários:
Gosto de ler. Ao mesmo tempo penso na minha mãe a fazer estes trabalho de novinha e mete-me pena...foi duro. Mas ela hoje é uma mulheraça por isso pensar na força que aqula gente tinha!
bom fim de semana
beijinhos
Mary
tempos antigos que nao se esquessem mas que nao voltam mais ,é triste mas è assim a vida que podemos fazer? beijinhos para a familia Eira Velha .
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