terça-feira, 23 de setembro de 2008

Ecos da Guerra Civil

Nessa época (1945), um guarda-civil recebia 14 pesetas diárias. A estas eram acrescidas mais 10 por dia de campanha e 1000 por guerrilheiro morto. Além destes prémios pecuniários havia ainda os de promoção na carreira, a que oficialmente se chamavam "mérito de sangue". Os elementos das contrapartidas ou pseudoguerrilhas, recebiam substancialmente mais. 50 pesetas por dia e 5000 por guerrilheiro morto. Isto equivalia, simplesmente, a um incentivo ao crime. Primeiro, rendia mais matar um guerrilheiro do que prendê-lo. Segundo prestava-se à batota: matavam um pacato cidadão e apresentavam-no como guerrilheiro.
Tanto as autoridades espanholas e portuguesas como os autores de ideologia fascista esfalfam-se a denegrir os guerrilheiros com rótulos de ladrões, bandoleiros, salteadores, atracadores, malfeitores, assassinos, numa palavra: criminosos de delito comum, sujeitos ao Código Penal e aos tribunais ordinários. Mas a verdade é que, sempre que prendiam algum, o julgavam em Conselho de Guerra e segundo o Código de Justiça Militar. Para quem não saiba, acrescento que estes conselhos de guerra eram perfeitas aberrações jurídicas. Os julgadores é que se haviam sublevado contra um governo legitimamente eleito. Agora acusavam de rebelião aqueles que se haviam mantido fiéis à legalidade. Depois, não davam aos acusados qualquer possibilidade de defesa. Numa só audiência tanto podia ser julgado um, como dez, vinte ou trinta. Ninguém saía dali absolvido. Todos apanhavam com uma das penas do código militar que impunha: auxílio à rebelião, de 6 anos e 1 dia, a 12 anos de cadeia; rebelião militar, de 12 anos e 1 dia a 20 anos; adesão à rebelião militar: 20 anos e 1 dia, a 30 anos - ou pena de morte. Tudo dependia do humor dos juízes.

Bento da Cruz, Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os Montes, Âncora Editora, Lisboa, 2005

pág. 81

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá amigo,
quando penso nas barbáries que se comete em nome de poder sinto náuseas...Infelizmente é parte da história e sempre será, porque parece que por mais que a humanidade se diga evoluída, a sede de poder nunca será aplacada.
Abraço