sábado, 25 de outubro de 2008

O Pedro Macau

Eu sou o Pedro Macau
Carrego às costas este pau.
Por mim passa muito patego,
Uns de focinho branco,
Outros, de focinho negro.
E nenhum me tira deste degredo.

Francisco Luís Barreiros, de Barbeita, foi o escultor das magníficas estátuas que se podem apreciar na escadaria(1) da Senhora da Peneda, que se designam, no sentido ascendente, por Fé, Esperança, Caridade e Glória.
O contrato de adjudicação consta no livro de actas do Santuário, datado de 7 de Setembro de 1860, e o reconhecido mestre estatuário assinou de cruz o que significa que era analfabeto(2).
Pois segundo refere o Padre Bernardo Pintor (2005, pág. 269) foi ele mesmo o autor do célebre Pedro Macau, estátua que se pode ver do lado esquerdo da Estrada Nacional (antiga) que liga Monção a Melgaço, uns metros antes da Ponte do Mouro. E também lhe é atribuída a construção da ponte sobre o Mouro, no mesmo lugar, em arco abatido, na estrada real de Monção a Melgaço.
Diz mais o Padre Bernardo que a estátua foi construída devido a uns atritos que o mestre Barreiros teve com o chefe dos carabineiros, o que não é de estranhar devido ás relações estreitas que sempre se verificaram entre os habitantes de um lado e do outro do rio, o Minho, claro.
Mas o que meu Pai contava era uma versão diferente e que eu acolho como mais fiável do que a do estudioso Padre.
Dizia meu Pai que o Mestre, sem mencionar o nome, andava empenhado na construção da ponte e passou por lá um caminhante galego, com um pau às costas, que depois de observar por alguns instantes a obra e o respectivo projecto lhe disse que nunca seria capaz de fechar o arco como estava delineado. O Mestre respondeu-lhe que não só seria capaz de concluir a obra conforme estava projectada como ainda o havia de esculpir a ele tal como se apresentava.
O galego foi embora e passados uns anos, ao passar no mesmo local, verificou com espanto que lá estava, em cima de uma das guardas da ponte já concluída, a sua estátua, com um pau às costas. E tal foi a vergonha que morreu de desgosto.
“Pedro Macau/ Que nas costas leva um pau”, dizem os versos à beira do caminho em Viagem ao Princípio do Mundo: a estátua de um homem ajoelhado com uma viga no ombro é a imagem de uma condição corpo-espírito não sacrificial, mas lugar contra-trascendente onde o desafio não é obstáculo mas lugar de sua própria actuação. “Somos todos Pedro Macau” – conclui o personagem”(3).

(1)-É designada, vulgarmente, por escadório.
(2)-Pintor, Padre Manuel António Bernardo, Obra Histórica I, Rotary Club de Monção, 2005
(3)-http://www.contracampo.com.br/50/manoeldeoliveira.htm

3 comentários:

Anónimo disse...

Eu também acho mais fiável a versão do seu Pai. Agrada-me muito mais que a do Padre Bernardo.

Ana Ramon disse...

Não conhecia nada desta história. Quando passar na estrada que liga Monção e Melgaço a ver se descubro a estátua de Pedro Macau.
Curioso como surgiram duas versões sobre a razão que motivou Francisco Barreiros a esculpir a estátua. Entre o chefe dos carabineiros e o galego que até percebia um pouco de arquitectura, é muito mais consolador que veracidade da narrativa pertença à troca de palavras com este último :)))
Um grande beijinho e bom fim de semana

Ricardo disse...

Algumas correcções no verso de cima onde diz patego será galego .
(compreendo se neutralizarem a expressão ) Pois pode ferir susceptibilidades nos dias que correm .
E a hist´ria tem a ver com um convite que foi feito ao mestre para trabalhar na galiza ,ele levou a sua equipa de portugueses para trabalhar com ele mas lá queriam forçá-lo a prescindir da sua equipa e trabalhar com galegos .Ele recusou-se e tentaram fazer-lhe a vida negra sobretudo esse sujeito (guardia civil se nao me engano)
Quando regressou fez a estatua na parte da frente de sua casa dedicada ao pedro macau ,com a trave da latada ao ombro e fe-lo com uma farda de um posto muito baixo da guardia civil .
juntamente com um painel de versos .que foram apagados apos da sua morte.
Conta a historia que a dada altura a sua filha ia casar-se com um galego (Miguel temporão) e o Mestre encontrou miguel a falar com o Alcaide das nieves (conspiravam para apagar os versos)
E Ele já com uma idade avançada lhes terá dito que até uma certa data após a sua morte se eles apagaseem os versos ele voltaria do alem para lhes "dar cabo do canastro"