"Quem tem amigos não fica na cadeia", não se cansava de repetir o simpático e extremamente optimista cidadão que naquele dia constatou que nem sempre se pode confiar na sabedoria popular.
Aconteceu que, naquele já longínquo dia, um comerciante do ramo automóvel questionou-me, no meu local de trabalho, se não prendíamos um indivíduo sobre quem pendia um mandado de detenção emanado da autoridade judicial competente, relacionado com um processo em que o primeiro tinha sido vítima de fraude, ou burla por emissão de cheque sem provisão... sei lá... por parte do segundo. Sabendo que não existia pendente qualquer mandado de detenção perguntei ao meu interlocutor como sabia que existia tal mandado tendo-me este exibido uma fotocópia do documento, acrescentando que o indivíduo a deter se encontrava em determinado lugar no exercício da sua actividade também relacionada com o comércio de automóveis usados.
Diligenciei saber, no Tribunal onde tinha sido emitido o mandado, se ainda havia interesse na detenção e, caso positivo, que me fosse disponibilizada a ordem competente. Na posse do mandado depressa foi possível deter o delinquente, com a ajuda preciosa de uma equipa da Polícia Judiciária que casualmente se encontrava na zona e, perante uma tentativa de fuga, foi preponderante na sua intercepção, o que seria impossível apenas com os tradicionais meios de locomoção de que dispúnhamos.
A ordem era para prender e conduzir ao estabelecimento prisional o indivíduo identificado no mandado. Contudo, poderia proceder à liquidação da dívida e, assim, evitar a detenção em estabelecimento prisional. Nesta perspectiva, o detido pediu-me para efectuar um telefonema, e outro, e outro, com muita conversa pelo meio, em que, invariavelmente, sempre sorridente e optimista, me "atirava" com o anexim popular com que iniciei este texto.
Só que o tempo avançava e não havia forma de desencantar a situação, isto é, os "cartos" necessários para evitar ir ver nascer o sol aos quadradinhos. Finalmente, esgotadas as esperanças de um $ocorro previdente e oportuno, desistiu e lá seguiu para a Cadeia.
A frase que serve de inspiração para desenvolver este tema é bem reveladora da mentalidade Lusa. Os amigos são para as ocasiões e, como dizia um familiar meu já falecido, "até no Inferno fazem falta para nos achegarem umas brasas para aquecer os pés".
Certamente o nosso Primeiro não vai ser penalizado por ousar fumar num avião, porque "é costume", porque detém o poder, porque tem muitos "amigos". Porque outro qualquer pagaria bem cara essa ousadia. E daqueles lados não se esperem bons exemplos...
Como diz o povo, bem prega Frei Tomás...
1 comentário:
O bacharel Sócrates faz-me lembrar um antigo pároco minhoto que pregava: olha sempre para o que eu digo, nunca olhes para o que faço. Ou afinal, a prova provada de que a lei não é para todos. Uma chacota pegada!
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