segunda-feira, 21 de julho de 2008

Do Rio Tua ao Rio Pinhão - Operação "CGD"

Soou o alarme no Posto. Era da dependência da Caixa Geral de Depósitos. O seu accionamento por descuido costumava ocorrer ao iniciar os trabalhos ou então após o encerramento, quando a senhora da limpeza passava tudo a panos. Mas àquela hora só podia ser um assalto. Eram quase treze horas, um período do dia propício para uma acção daquelas pois era quando o movimento e afluência do público se tornava mais reduzido. ..
Além disso era uma hora ainda pior para uma acção policial com vista a deter ou pelo menos afugentar os eventuais assaltantes porque os Guardas também almoçam. Mas naquelas circunstâncias não se podia deixar de corresponder com os meios que estivessem disponíveis. Eu próprio, que tinha ficado a ultimar alguns assuntos pendentes, ordenei ao Apoio ao Plantão que fosse buscar a viatura, um "veloz" Jeep Land Rover, peguei a Pistola Metralhadora Stayer M/42 que se encontrava permanentemente pronta a usar por detrás da porta onde permanecia o Plantão e depressa nos metemos a caminho dispostos a tudo.
A PM Stayer M/42 já só existe na memória dos mais velhos. Tratava-se de uma arma ligeira, calibre 9mm, parecida com uma pequena espingarda. Era a arma que o comandante de posto de outros tempos carregava ao ombro nas rondas pelas localidades e na polícia de feiras e romarias.

E impunha respeito... Dizia-se que disparava metralha por todos aqueles buraquinhos de arrefecimento que existiam na manga que protegia o cano em toda a sua extensão... um mito nunca desmentido porque fazia jeito aquela fama terrível!!!
A abordagem ao local onde se situava a dependência não era difícil mas era preciso tomar algumas precauções... Fomo-nos aproximando devagar perscrutando todos os movimentos nas imediações mas verificava-se uma calma estarrecedora. Ao longo de toda a Avenida não se divisava vivalma e também não havia viaturas suspeitas. Estávamos a cerca de cem metros da improvisado barracão onde funcionava a dependência bancária e entre a nossa viatura e aquelas instalações interpunha-se apenas o novo edifício em construção que a iria acolher dentro de pouco tempo. Então, ordenei ao motorista que parasse e que ficasse atento a qualquer movimento suspeito enquanto eu, de Pistola Metralhadora em riste, efectuei uma manobra de envolvimento pelas traseiras do edifício novo, passei igualmente pelas traseiras do barracão e espreitei com todas as cautelas pelo esquina do lado direito da porta de entrada.
Nada. Não se ouvia barulho, não se via ninguém e a porta estava entreaberta. Confirmava-se. Só podia ser um assalto. Olhei em frente e vi o Jeep na rua... pelo menos a rua estava desimpedida e já tinha alguma cobertura... Mas como sair daquele impasse?
Avancei para a porta, sempre colado à parede, pronto para reagir a qualquer acção vinda do interior, espreitei, vi à minha direita o balcão de lés a lés completamente vazio, daquele lado não havia nada mas o ângulo da porta meio fechada não me deixava ver o que se passava à esquerda e era deste lado que ficava o escritório do gerente e o cofre provisório que só servia para guardar os valores durante o horário de funcionamento. Era ali que eles estavam... só podia ser. E tinham os funcionários como reféns enquanto enchiam os sacos com o dinheiro...
Com o cano da arma empurrei a porta devagarinho e a minha suspeita confirmava-se. Ninguém à vista. O que significava que estavam mesmo no escritório.
Foi então que ouvi um sussurro vindo daquele lado. Parecia uma conversa cordial e nada que se assemelhasse àqueles gritos histéricos que se vêm nos filmes. Avancei até ao balcão que me garantia protecção e fui tomando posição para ver quem estava lá dentro... as vozes dirigiam-se para a minha direcção e apontei a arma sobre o balcão pronto para limpar o sebo ao primeiro que resistisse. Contudo, qual não é o meu espanto quando vejo sair lá de dentro, perfeitamente descontraídos, o gerente e o subgerente... O meu e o deles, que ao me verem naquela posição quase se cagaram de medo...
Desfeitas as dúvidas expliquei-lhes o sucedido e o susto que me pregaram com aquela atitude desleixada e o gerente pediu mil desculpas pelo sucedido. Saímos.
Só então verifiquei que, sobre o muro da Escola Secundária, ao lado do barracão da Caixa, uma pequena multidão de alunos tinha estado a observar a operação especial que ali se desenvolvera.
O que eles não se terão divertido...
Só alguns dias mais tarde constatei que aquela maravilhosa arma tinha o mecanismo de retenção do carregador partido e que, provavelmente, apenas me serviria para dar umas cajadadas nos meliantes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Bela crónica!