quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (I)

Estava escrito nos livros de magia mas era um segredo bem guardado. Na Fonte do Seixo existia um tesouro encantado que um Mouro muito rico ali escondera na fuga precipitada dos temíveis heróis da reconquista cristã mas só acessível a quem tivesse a intrepidez e a coragem necessárias para lá ir à meia noite, em plena lua cheia, e realizar o ritual mágico que o havia de libertar dos terríveis e medonhos monstros que o guardaram noite e dia ao longo dos séculos.
A fórmula estava bem explicada no famoso e ultra-secreto Livro de S. Cipriano de que se ouvia falar mas que ninguém conhecia. Bem, ninguém não. Um antigo e perseguido calhamaço sobrevivera e estava, havia muitos anos, secretamente escondido, no fundo de um baú, já meio carcomido da traça. Era um exemplar único que alguém preservou da sanha persecutória que perdurou mesmo depois de ser extinta a Santa Inquisição. De tal forma foi escondido que até o próprio dono lhe perdeu o rasto. Mas o tempo passou, o sigiloso fundo secreto foi devassado e o misterioso livro voltou a ver a luz do dia.
Porém o achado não podia ser divulgado. Mesmo sem Inquisição a censura era apertada e se o Padre da Freguesia ou o Cabo da Guarda suspeitassem da sua existência era certo que seria rapidamente incinerado e o seu detentor alvo de tremenda excomunhão, para não falar em castigo bem pior. Assim, a mensagem foi passando de boca em boca num círculo muito restrito de jovens aventureiros e robustos, a quem nada nem ninguém metia medo que em longos serões e longe da observação de quem quer que fosse iam desfolhando curiosamente todas as páginas do famoso alfarrábio.

2 comentários:

Bocanegra disse...

Venha a continuação pois a primeira parte promete.

Abraços

izilgallu disse...

Adoro seguir teus contos..
Izil