domingo, 20 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (V)

Mesmo assim não esmoreceram. Repetiram os satânicos rituais duas, três, cinco vezes. Por fim pareceu-lhes pressentir o solo a tremer sob os seus joelhos. Uma negra nuvem ofuscou o luar e uma rajada de vento apagou os frouxos luzeiros das velas. Do cimo do penedo que ficava sobranceiro à fonte elevou-se majestosamente um gigantesco pássaro, lançando no ar um lancinante grito que ecoou por montes e vales, desaparecendo célere nas imensas trevas.
Foi o suficiente para fazer soçobrar a ténue réstia de coragem que ainda retinha ali o fatigado grupo. Instintivamente puseram-se em pé e desataram numa arrebatada corrida pela serra abaixo, cada qual por onde podia e o instinto o orientava, a qual só terminou pouco mais de meia hora depois na localidade de onde tinham partido, secretamente, algumas horas antes.
No dia seguinte, uma súbita e estranha doença reteve no leito quatro dos cinco jovens, ninguém sabia que moléstia os acometera mas parecia coisa má a avaliar pelo aspecto que apresentavam. Do quinto não havia notícia mas poderia ter saído de casa cedo sem dizer nada à família, já não era a primeira vez.
No final do dia um pastor relatou a descoberta de um estranho e macabro espólio junto da Fonte do Seixo mas não se atreveu a mexer no que quer que fosse. Nunca tantos e tão intrigantes casos se tinham verificado na pacata aldeia. Até parecia coisa de bruxas. Depois de falarem com o Padre Bernardino houve quem sugerisse que se denunciassem os factos às autoridades.

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