sexta-feira, 18 de julho de 2008

O Tesouro Encantado (IV)

Quem presenciasse aquele quadro não ficava com a mais pequena dúvida de que só poderia ser obra do demónio.
O passo seguinte era também bem conhecido dos membros do grupo. Cada um ocuparia a respectiva posição, de joelhos e sentado nos calcanhares, em cada um dos cinco vértices do pentagrama, de forma que ficassem voltados para o local de onde manava o precioso líquido.
Conforme rezava a lenda, seria ali que se abririam as portas por onde jorraria ouro em abundância tal que nunca mais precisariam trabalhar como mouros no cultivo das terras e na pastorícia. Sabiam também que antes se confrontariam com terríveis monstros que haviam de surgir das profundezas para os atemorizar e perante os quais não poderiam de modo algum vacilar sob pena de se quebrar a magia que havia de desfazer o encantamento.
Com tudo a postos e já nas respectivas posições, os jovens não viam a hora de começar o ritual. Não falavam, não se ouvia qualquer ruído. Apenas um abafado rumorejar da água da nascente e um surdo matraquear dos músculos cardíacos que batiam nos peitos a um ritmo desconcertante.
Era um quadro deveras estranho e macabro o que se desenhava na pacata clareira com os cinco vultos geometricamente dispostos no amplo pentagrama iluminados pelas trémulas luzes das cinco velas e pelo pálido brilho de uma refulgente lua cheia.
Finalmente ia iniciar-se a função. O líder do grupo, que ocupava o vértice apontado à fonte, retirou um velhíssimo alfarrábio de um saco de serapilheira que até ali se mantivera intocável em cima da relva e abriu-o na página previamente marcada. Começou então um ininteligível recital, misto de orações e imprecações, através do qual os temerários jovens evocavam trémula e repetidamente as forças do mal e instavam os demónios para que libertassem o desejado tesouro mas em vão.

1 comentário:

Bocanegra disse...

Estamos quase lá! Estamos prestes a assistir aos efeitos especiais!

Uma sugestão amigo Eira-Velha: - Porque não criar alguns diálogos?

Brrrrr! "Ja" roí as unhas até "ó sabugo"

Força na...narrativa!